O jardim secreto (1911)

By ClassicosLP

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Obra da inglesa Frances Hodgson Burnett. More

1. Não resta ninguém
2. Dona Mary, toda ao contrário
3. Pelo pântano
4. Martha
5. O choro no corredor
6. "Havia alguém chorando! Havia!"
7. A chave para o jardim
8. O pintarroxo que mostrou o caminho
9. A mais estranha casa onde qualquer um jamais morou
10. Dickon
11. O ninho do sabiá
12. "Posso ter um pedaço de terra?"
13. "Eu sou Colin"
14. Um jovem Rajá
15. A construção do ninho
16. "Não vou!" Disse Mary
17. Um acesso de raiva
19. "Chegou!"
20. "Eu vou viver para sempre, sempre e sempre!"
21. "Ben Weatherstaff"
22. Quando o sol se pôs
23. Mágica
24. "Deixe-os rir"
25. "A cortina"
26. "É mamãe!"
27. No jardim

18. "Ocê não deve perdê tempo"

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By ClassicosLP

É claro que Mary não acordou cedo na manhã seguinte.

Dormiu tarde, porque estava cansada, e, quando Martha lhe trouxe o café da manhã, foi exatamente sobre isso, que falou com a menininha. Comentou ainda que Colin estava bastante silencioso, mostrando-se doente e febril, como sempre ficava depois que se sentia exausto por um acesso de choro. Mary tomou seu café da manhã vagarosamente, enquanto ouvia.

− Por favô, ele diz que deseja que ocê vá vê-lo assim que pudé. − disse Martha. − É estranha a confiança que um garoto sofisticado, como ele é, lhe depositô. Ocê lhe transmitiu confiança na noite passada, com certeza, não transmitiu? Ninguém mais teria ousado fazê o que fez. Eh! Pobre garoto! Ele tem sido tão mimado que nem sal poderia mais salvá-lo. A mamãe diz que as duas piores coisas que podem acontecê a uma criança é nunca seu próprio caminho... ou sempre tê-lo. Ela não sabe qual é o pió. Ocê também estava de bom humor. Mas ele me disse, quando entrei em seu quarto: "Por favô, pergunte para a Srta. Mary se vai vir conversá comigo." Pense nele dizendo "por favô"! Ocê irá, Srta.?

− Vou me apressar e ver Dickon primeiro. − disse Mary. − Não, vou ver Colin primeiro e falar com ele... sei o que vou lhe dizer. − decidiu, com uma inspiração repentina.

Ela estava usando seu chapéu, quando apareceu no quarto de Colin, e, por um segundo, pareceu desapontada. Ele estava na cama. O rosto estava miseravelmente pálido, e havia círculos escuros em torno dos olhos.

− Estou feliz que veio. − disse ele. − Minha cabeça dói e sinto dores por toda parte, porque estou tão cansado. Está indo para algum lugar?

Mary se adiantou e se inclinou para a cama dele.

− Não vou demorar. − disse ela. − Vou me encontrar com Dickon, mas vou voltar. Colin, é... é algo sobre o jardim.

Seu rosto inteiro brilhou e adquiriu uma leve cor.

− Oh! É? − gritou ele. − sonhei com isso a noite toda, desde que ouvi você dizer algo sobre cinza se transformando em verde.

Sonhei que estava de pé em um lugar todo cheio de pequenas folhas verdes que se agitavam... e havia pássaros nos ninhos por toda parte, tão delicados e silenciosos. Vou me deitar e pensar sobre isso até que você volte.

Em cinco minutos, Mary estava com Dickon no jardim deles. A raposa e o corvo acompanhavam-no novamente, e desta vez ele trouxe dois esquilos domesticados.

− Vim montado no pônei esta manhã. − disse ele. − Eh! É um bom companheirinho... eu o chamo de Pulo. Trouxe estes dois nos bolsos. Este aqui eu chamo de Noz e este outro aqui, Casca.

Quando disse "Noz", um esquilo pulou em seu ombro direito, e, quando disse "Casca", o outro pulou em seu ombro esquerdo.

E, quando se sentaram na grama, com Capitão enroscado nos seus pés, Fuligem ouvindo solenemente de cima uma árvore, e Noz e Casca, farejando por ali, perto deles, fizeram parecer a Mary que seria dificilmente suportável abandonar tal maravilha. Mas, quando começou a contar sua história, algo no rosto engraçado de Dickon fez com que ela, pouco a pouco, mudasse de ideia. Pôde ver que ele sentia mais pena de Colin do que ela. Dickon erguia os olhos para o céu e tudo que havia nele.

− Apenas ouça os pássaros. O mundo parece repleto deles, todos gorjeando e emitindo sons como os da flauta. − disse ele. − Olhe para eles, correndo por toda parte, e ouça-os chamando um ao outro. A chegada da primavera é como se todo o mundo tivesse clamando. As folhas tão se soltando tanto, que ocê pode vê-las... e, palavra de honra, há cheiros agradáveis por toda parte! − disse, sentindo o cheiro com seu alegre nariz arrebitado. − E aquele pobre garoto deitado e calado, viu tão pouco, que começa a pensá coisas quando dispara a gritá. Eh! Palavra de honra! Devemos trazê-lo aqui fora... devemos fazê-lo vê, ouvi e cheirá o ar. Devemos fazê-lo ficá encharcado pelo sol. E devemos fazê isso sem perdê tempo.

Quando estava muito interessado, usava com frequência o sotaque de Yorkshire de um modo muito forte, embora em outras ocasiões tentasse modificá-lo, para que Mary pudesse melhor entender. Mas ela amava seu sotaque e vinha, verdadeiramente, tentando aprender a falá-lo sozinha. Falou um pouco, então, com aquele sotaque naquele momento.

− Sim, devemos! − disse ela. − Vou lhe dizê o que vamos fazê primeiro. − prosseguiu ela, e Dickon deu um largo sorriso, porque, quando a menininha tentava torcer a língua para falar com o sotaque de Yorkshire, isso o divertia muito. − Ele realmente gostô de ocê. Qué vê-lo e também qué vê Fuligem e Capitão. Quando voltá para casa para conversá com ele, sobre ocê ir vê-lo amanhã de manhã, levando essas criaturas consigo... e, então... em pouco tempo, quando mais folhas surgirem, e um ou dois botões aparecerem, vamos fazê-lo saí, e ocê deverá empurrá-lo em sua cadeira, e vamos trazê-lo aqui e lhe mostrar tudo.

Quando parou de falar, estava muito orgulhosa de si mesma.

Nunca tinha feito um longo discurso com o sotaque de Yorkshire antes e se saíra muito bem.

Ocê deve conversá com o Mestre Colin usando um pouco do sotaque de Yorshire como fez agora. − disse Dickon, dando um leve sorriso de satisfação. − Isso vai fazê-lo rir, e não há nada tão bom para uma pessoa doente quanto o riso. Mamãe diz que acredita que ficá dando umas boas risadas por meia hora, todas as manhãs, pode curá um camarada até da febre tifoide.

− Vou conversá com ele hoje mesmo, usando o sotaque de Yorkshire. − disse Mary, sorrindo satisfeita para si mesma.

O jardim tinha alcançado a época em que, todos os dias e todas as noites, parecia como se os magos estivessem passando por ele, desenhando com as varinhas o encanto da terra e dos ramos.

Era difícil ir embora e deixar tudo, particularmente, quando Noz roçava furtivamente seu vestido, e Casca descia pelo tronco da macieira sob a qual os meninos estavam sentados e ficava ali, olhando-a com olhos indagadores. Mas, voltou para casa e, quando se sentou perto da cama de Colin, ele começou a cheirar como Dickon fazia, embora não de um jeito tão experiente.

− Você cheira a flores e... e coisas frescas. − gritou ele muito alegremente. − Que cheiro é esse? É fresco quente e doce, tudo ao mesmo tempo.

− É o vento do pântano. − disse Mary. − O cheiro vem de sentá na grama, sob uma árvore, com Dickon, Capitão, Fuligem, Noz e Casca. É a primavera, tempo de ficá do lado de fora, e do sol quando tem seu cheiro mais forte.

Disse isso, usando um sotaque cerrado, e você não sabe o quão cerrado o dialeto de Yorshire pode parecer, até que se ouça alguém a usá-lo. Colin começou a rir.

− O que você está fazendo? − disse ele. − Nunca a ouvi falar assim antes. Que engraçado!

lhe mostrando um pouco do dialeto de Yorkshire. − respondeu Mary triunfantemente. − Não consigo falá de forma tão cerrada quanto Dickon e Martha, mas como ocê vê, posso uma pequena demonstração. Ocê não entende um pouco do dialeto de Yorkshire quando o ouve? E ocê é um garoto de Yorshire, nascido aqui! Eh! Eu me pergunto se ocê não tá envergonhado de seu rosto.

E, então, ela começou a rir também, e ambos riram, até que não pudessem parar, até que se formasse um eco no quarto, e a Sra. Medlock, abrindo a porta para entrar, recuasse para o corredor e ficasse ouvindo maravilhada.

− Bem, palavra de honra! − disse ela, usando bem largamente o sotaque de Yorkshire, porque não havia ninguém para ouvi-la. E estava tão espantada. Qualquer um que ouvisse gostaria daquilo! Qualquer um na terra teria pensado assim!

Havia muito sobre o que conversar. Parecia como se Colin nunca ficasse cansado de ouvir sobre Dickon, Capitão, Fuligem, Noz, Casca e o pônei, cujo nome era Pulo. Mary correu os olhos pelo bosque, onde estava Dickon, para ver Pulo. Era um minúsculo e peludo pônei do pântano, com espessas cabeleiras pendendo dos olhos, com um rosto bonito e narinas aveludadas para focinhar.

Era bem magro por causa da vida no pântano, mas tão resistente e rijo, como se os músculos das pequenas pernas fossem feitos de molas de aço. Ergueu a cabeça e relinchou baixinho, no momento em que viu Dickon, trotando até ele, colocando a cabeça sobre seu ombro, e então o garoto falou na sua orelha e o animalzinho respondeu com relinchos pequenos e estranhos, baforadas e bufos.

Dickon o fizera dar a pequena pata dianteira para Mary e beijá-la em sua face com seu focinho aveludado.

− Ele realmente entende tudo que Dickon diz? − perguntou Colin.

− Parece que sim. − respondeu Mary. − Dickon diz que qualquer coisa pode ser entendida quando se é amigo do animalzinho, mas vocês têm que se tornar amigos primeiro.

Colin ficou em silêncio por um pouquinho de tempo, e seus estranhos olhos acinzentados pareciam estar olhando para a parede fixamente, mas Mary percebeu que ele estava pensando.

− Queria ser amigo dessas criaturas. − disse ele finalmente.

─ Mas não sou. Nunca fui amigo de nada e não suporto as pessoas.

− Não me suporta? − perguntou Mary.

− Suporto, sim. − respondeu ele. − É engraçado, porque até gosto de você.

− Ben Weatherstaff disse que eu era como ele. − disse Mary. − Disse que poderia garantir que ambos tínhamos o mesmo temperamento desagradável. Acho que você é como ele também.

Nós três somos parecidos, você, eu e Ben Weatherstaff. Disse que nenhum de nós devemos ser muito observados e que éramos tão azedos quanto parecíamos. Mas não me sinto tão azeda quanto costumava sentir, antes de conhecer o pintarroxo e Dickon.

− Você sente como se odiasse as pessoas?

− Sim. − respondeu Mary, sem nenhum fingimento. − Eu o teria detestado, se o tivesse visto antes do pintarroxo e de Dickon.

Collin estendeu a mão frágil e a tocou.

− Mary... − disse ele. − Queria que eu não tivesse dito o que disse sobre expulsar Dickon. Eu a odiei quando disse que ele era como um anjo e até ri de você, mas... mas talvez ele seja.

− Bem, foi muito engraçado você dizer isso. − ela admitiu francamente. − Porque o nariz dele é arrebitado, tem uma boca enorme, há remendos por todas as suas roupas e fala com um pesado sotaque de Yorshire, mas... mas se um anjo viesse a Yorkshire e vivesse no pântano... se houvesse um anjo de Yorkshire... creio que entenderia as coisas verdes, saberia como fazê-las crescer e saberia como conversar com as criaturas selvagens, como Dickon conversa, e elas saberiam com certeza que ele era amigo.

− Não vou me importar com Dickon olhando para mim.

− disse Colin. − Quero vê-lo.

− Estou feliz que tenha dito isso... − respondeu Mary. − ..porque... porque...

Muito repentinamente, veio-lhe à mente que esse era o momento de contar para Colin, pois ele percebeu que algo novo estava vindo.

− Por que, o quê? − gritou ele com ansiedade.

Mary estava tão ansiosa que levantou de seu banco e foi até ele, agarrando suas duas mãos.

− Posso confiar em você? Confiei em Dickon, porque os pássaros confiam nele. Posso confiar em você... posso... posso?

− implorou ela.

O rosto dela estava tão solene, que ele quase sussurrou sua resposta.

− Sim... sim!

− Bem, Dickon vai vir vê-lo amanhã de manhã e vai trazer suas criaturas consigo.

− Oh! Oh! − Colin gritou de prazer.

− Mas isso não é tudo. − Mary continuou, quase pálida com a empolgação solene. − O resto é melhor. Há uma porta para o jardim. Eu a encontrei. Está sob a hera, na parede.

Se Colin fosse um garoto forte e saudável, gritaria provavelmente: − Hurra! Hurra! Hurra! Mas era fraco e muito histérico, então, os olhos se tornaram cada vez maiores, e ele ficou sem fôlego.

− Oh! Mary! − gritou ele, quase soluçando. − Vou vê-lo?

Vou entrar no jardim? Vou viver para entrar nele? − e agarrou as mãos dela e a puxou em sua direção.

− É claro que vai vê-lo! − vociferou Mary com indignação.

− É claro que vai viver para entrar nele. Não seja bobo!

E ela estava tão sem histeria, tão natural e infantil, que o fez cair em si, e ele começou a rir de si mesmo. Depois de alguns minutos, ela estava sentando em seu banco novamente, falando-lhe não do que imaginava que o jardim secreto fosse, mas do que realmente era, e as dores e o cansaço de Colin foram esquecidos, enquanto ele ouvia extasiado.

− O jardim é exatamente o que você pensava que seria. − disse ele finalmente. − Parece exatamente como se você o tivesse visto de verdade. Você sabe que eu disse isso, quando me falou dele pela primeira vez.

Mary hesitou por uns dois minutos e, então, falou a verdade com ousadia.

− Eu o tenho visto... e tenho estado nele. − disse ela. − Encontrei a chave e entrei lá semanas atrás. Mas não ousei lhe dizer... agi assim, porque estava com tanto medo de que não pudesse confiar em você...

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