Quando em Vegas

By MariaFernandaRibeir2

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Julia é uma das advogadas mais requisitadas do estado da Geórgia, e tem uma reputação a zelar pelo bem dos cl... More

Alerta de gatilho+ aviso aos leitores
Dedicatória
Prólogo
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Epílogo
Brianna e Harvey contam sua história
Contato

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By MariaFernandaRibeir2

Julia

O fato de eu não ver a Brianna há tantos anos faz com que eu não entenda muito bem o que faz com que viva em pé de guerra com o chefe. Pela segunda vez na semana, ela foi parar na delegacia, e o xerife me chamou presencialmente lá, como se ela fosse uma criança que cortou o cabelo do amiguinho na escola e eu a mãe. O Dustin não ficou nada feliz por eu ter que voltar a Boston tão cedo, e não quis me deixar vir sozinha, então ele está comigo enquanto leio a mensagem da Brianna no carro de aplicativo, indo em direção à delegacia.

"Pedi demissão. Não aguento mais aquele homem."

— Glória a Deus. — digo, aliviada. Mas leio o resto.

"Se o Harvey apenas pudesse demiti-lo ao invés de ser eu quem tem que se afastar." Espera. Ela não está falando do Harvey? Ignoro as outras mensagens e respondo esta.

"Quem?"

Mais aí leio que é o empresário no resto das mensagens e bufo. Será que algum dia ela pegará uma justa causa? O Dustin me olha, esperando que eu atualize ele.

— Ela está se demitindo por causa do empresário, não do Harvey, e está na delegacia pela enésima vez. — grunho.

— E isso é ruim por quê? É demissão de qualquer forma, não?

— O chefe dela é o Harvey. Ele não vai deixar ela se demitir por isso, vai convencer ela a voltar a trabalhar para ele. A Brianna é uma profissional única, boa de verdade no que faz, e não elogio só por ser a minha irmã, é a verdade. Ele já falou que só se ela ofender a família dele ou coisa pior que demite ela, e olha que eles não se bicam.

— Não é um ambiente meio insalubre para ela? Ele não é quem decide se ela fica ou não, é ela. Já tive relações públicas, e quando eles queriam ir, iam.

— O que está me incomodando nessa situação é este empresário babaca, não o Harvey. Se ela for alegar alguma insalubridade, será por causa do empresário, não do Harvey, e aí a coisa ganha um rumo diferente. O fato dele querer manter ela não implica que está obrigando a ficar lá. — explico.

O motorista estaciona e o Dustin paga enquanto eu vou na frente. Entro, já sabendo o caminho, mas volto ao perceber que o Dustin não sabe. Ele está perdido na porta, então seguro a mão dele e puxo ele para onde sei que a Brianna está. Escuto o Harvey resmungando algo, e aperto a mão do Dustin, entrando. Para o meu completo choque, o homem está com ela, abraçando ela, enquanto ela dorme, uma cena que me faz apertar os olhos para ter certeza de que estou vendo certo. Ele ergue a cabeça e olha para mim. O clima de hostilidade entre nós dois é palpável.

— Julia Rutherford. — ele diz o meu nome com todo o peso do sotaque de Boston, e bem devagar.

— Harvey Hayward. O que você está fazendo aqui?

— Tentando trazer um pouco de calma à minha funcionária. Não é óbvio? — ele aponta ela dormindo no abraço dele. Ele ergue o queixo na direção do Dustin. — Guarda-costas?

Demoro um pouco a lembrar que ele não usa o celular para nada além de joguinhos de caça-palavras, e ligações e mensagens para a família e funcionários. Nenhuma rede social, nenhum site de fofocas, nada. Tudo é por opção própria, menos os sites de fofocas, isso é proibição da Brianna.

— É o meu marido. Dustin, este é o Harvey, rebatedor do Boston Red Sox e chefe da Brianna.

O Dustin acena para ele, que em contrapartida estreita os olhos para mim.

— Marido? A Brianna não foi a nenhum casamento. Você não convidou a sua irmã?

— Não convidamos ninguém porque não sabíamos que estávamos nos casando. — é tudo que explico. — Acabou que foi um bom arranjo, porque ele me ama e eu amo ele. É isso. O que aconteceu, Harvey? Por que ela chorou até dormir no seu colo?

— Para começar, não tem nada errado com o meu colo.

— Tem, é seu. Ela deveria saber melhor que isso.

— Ah, pois bem, porque melhor que isso é ela ir para Atlanta morar com você. Acorda pra vida, Julia, ela já é adulta.

— Eu nunca disse isso, e ela pode até ser adulta, mas ainda tem pessoas que se preocupam com ela. Pessoas que não deixam ela atingir o ponto "chorar até dormir", e você sabe que não estou falando de agora.

Meu marido olha de mim para ele, surpreso com a hostilidade entre nós, e se enfia entre nós.

— Está bem, já chega dessa troca de farpas. Primeiro, o que aconteceu para estarmos todos aqui reunidos neste dia lindo de primavera, que deve ser aproveitado dando às pessoas o mesmo carinho que a natureza está nos dando? — ele pergunta, deixando bem claro o recado ao olhar para mim e para o Harvey com o mesmo olhar.

— O que aquele ser horrível falou pra ela para estarmos aqui? — questiono, ignorando o meu marido. — Ou fez.

— Não sei. O xerife me ligou falando que ela estava aqui para fazer uma denúncia, que parecia apavorada e muito mal, mas não entrou em detalhes sobre o que aconteceu. Disse também que ela mal conseguia falar, estava tremendo, chorando e aí relatou sentir falta de ar, entre outros sintomas típicos da ansiedade. Orientei ele a deitar ela em algum lugar calmo e pedir que ela inspirasse e expirasse contando até três. Ela ainda estava acordada quando cheguei aqui, mas já mais calma, encostou em mim e apagou.

Fecho os olhos e tento encontrar na minha memória o que pode ter causado isso... ah, merda. Abro os olhos e vou atrás do xerife.

Dustin

A Julia simplesmente sai. O Harvey me olha confuso, esperando respostas.

— Não faço ideia do que passa na cabeça dela na maior parte do tempo, cara. Ela faz o que resolve fazer na hora, mas, para ser honesto, dá tudo certo na maioria das vezes.

Ele me observa.

— Já escutei sua voz antes, mas tenho certeza que nunca te vi.

— Eu era cantor. Dustin McReynolds, prazer.

Ele segura a mão que eu estendo.

— Harvey Hayward. Como, exatamente, você acabou casado com o projeto do meu inferno?

Engulo a risada.

— Estávamos em Las Vegas, bebendo, a atração foi imediata e deu no que deu. Não foi fácil o caminho para estarmos bem hoje, mas o que importa é o que estamos.

— É, eu me lembro bem da Brianna desmaiando no canto da sala da entrevista que eu estava dando quando recebeu aquela notícia. Sei que não nos gostamos muito, mas fico feliz e aliviado por ela ter se recuperado.

— Obrigado.

Esperamos a Julia terminar o que quer que esteja fazendo sentados ali. Um pouco depois, a Brianna abre os olhos, e olha em volta confusa.

— Julia? O que está acontecendo? Estou no hospital? — ela senta e esfrega um olho, tateando o braço em busca do acesso que não está ali. — Julia? — ela soa confusa. Aí me vê. — Caralho. — sussurra. — Eu morri? É uma pegadinha? Você é de verdade?

O Harvey revira os olhos e levanta, murmurando que precisa caminhar para as pernas pararem de formigar.

— Hm, não, você está na delegacia, muito viva. Parece que não é uma pegadinha, mas não tenho certeza, e acho que sou de verdade, sim.

— Posso te lamber pra ter certeza se é? — ela faz o Harvey cuspir toda a água que parou pra tomar. — Estou brincando. Só falei isso pra ele cuspir a água. Não lambo as pessoas sem que elas me peçam, e essas pessoas não são casadas com algum dos meus irmãos... bem, elas não são casadas como um todo. Tenho algum senso. É um prazer finalmente te conhecer, Senhor Gostosão. — ela cita o nome que uma revista me deu e faz o Harvey cuspir a água de novo.

— Tem algum senso, hein? — ele diz, limpando a boca.

— Ai Harvey, vê se me dá minha demissão e depois me erra. Agora, a que devo a honra da sua presença? Jake Burley também está aí fora?

— Não, ele não está, que eu saiba. Sou casado com a sua irmã, Julia, por isso estou aqui. Você sabe explicar por que ela acordou às cinco da manhã e veio para cá?

— Hm... acho que não lembro bem. — é óbvio para qualquer um que ela está mentindo. E a forma como olha para o jogador explica o porquê. Ela não quer que ele saiba.

— Sem chances, Brianna. Eu não vou sair depois de você desmaiar na minha frente pela segunda vez em poucos meses, e quero algumas explicações.

— Você sabe a razão da primeira vez, não podia esperar que eu ficasse bem enquanto a minha irmã certamente não estava. Dessa vez foi só... algo.

— Brianna. — ele fala, em um tom que demanda.

A Julia aparece e chama a irmã. Ela pula com toda a altura que tem e a minha mulher não, e vai com ela. Como pode uma pessoa ter duas filhas com uma diferença de trinta centímetros de altura entre elas? A Marnie é do tamanho da Julia, o Harold é mais alto, mas não muito. De onde a Brianna puxou essa altura?

— Ela me deixa louco. — ele murmura. — É de família guardar segredos?

— Não desde que fui até Washington e descobri alguns eu mesmo. Acho que a Julia guarda algumas coisas ainda, mas nada que deixe escapar o bastante para eu ter certeza.

— Ela não tem pesadelos? A Brianna tem vários e murmura coisas horríveis, mas nada sólido. Sempre que pergunto ela desvia o assunto.

Hm.

— Pode ter relação com a família. Quando fomos lá, a Julia disse que estava indo para o inferno e coisas do tipo. Nunca explicou, e depois de conhecê-los não perguntei mais nada. Não são exatamente a escola do Barney, se você quer saber.

— Você não acha estranho pra caralho elas não explicarem? A Brianna conhece minha família toda, até o cara que trabalha com a minha irmã no Egito ela conhece, mas finge que não escuta as perguntas simples que faço sobre a dela. É como se fosse algum tipo de máfia.

Penso sobre isso e percebo que ele tem razão.

— Olhando por este ponto de vista, parece que sim. A questão é que a mãe delas é muito estranha e o pai está preso.

A Julia aparece do nada ao meu lado, me assustando.

Meu pai está preso, o pai da Brianna é o Harold, aquele ser esquisito que habita a sombra da Marnie. O que os senhores estão fofocando aí? — ela ergue o queixo, nos intimidando a responder. O Harvey sorri.

— Nada. Cadê minha funcionária?

— Prestando depoimento. Tem alguém na sua equipe que teria interesse em machucar a Brianna? — ela pergunta sobre o caso que nos trouxe para cá.

Ele pensa.

— Apesar dela não ser exatamente um girassol amoroso com todo mundo sempre, não consigo pensar em ninguém. Machucar fisicamente ou o quê?

Ela foca o olhar em mim, e sei que é porque está pensando. E vejo quando toma uma decisão.

— Certo. Acho que preciso te contar o que aconteceu para que você possa ajudar da melhor forma.

— Seria um bom começo.

Ainda olhando para mim, ela parece sofrer. Fecha os olhos e solta.

— Ela fez uma gravação de um vídeo adulto para pagar as contas no meio da faculdade. — o Harvey engasga. — Não me avisou e nem falou nada para ninguém sobre porque pediu o cancelamento do contrato no dia seguinte e, com isso, a divulgação do vídeo estaria cancelada. Há alguns meses, porém, ela disse que a empresa estava ameaçando ela porque no contrato estava que ela deveria fazer pelo menos dois vídeos, e, pelo que ela mandou, eles criaram um segundo contrato sem ela ter conhecimento dele, esta cláusula é do segundo contrato. Meu sócio está trabalhando com ela nisso.

— Um vídeo adulto? O tipo adulto de vídeo adulto?

A Julia pisca.

— Você não nasceu ontem, Harvey, sabe do que estou falando. Enfim, estamos aqui hoje porque um dos seus funcionários disse a ela que alguém enviou o vídeo para ele, e ela foi pedir a lista de quem trabalhava para você ao seu empresário e ele disse que não podia fornecer esta informação a uma funcionária. Então ela se demitiu e veio fazer a denúncia.

Ele está em choque. Estático e com as feições também congeladas. Demora a voltar a se mover.

— Recebo pelo menos um pedido de demissão dela por semana pelas razões mais bestas possíveis, nem levei a sério quando vi. Ela é contratada diretamente por mim, pedir demissão a qualquer outra pessoa não adianta, eu e o time somos responsáveis pelo contrato dela, apenas. Eu não sabia que era isso que tinha acontecido. Não sabia que ela... quando foi que ela gravou isso?

— Antes de começar a trabalhar para você. Você é o chefe, tem uma lista dos funcionários?

Ele pega o celular e envia para ela.

~~~

De volta em casa, tarde da noite, percebo o silêncio incomodado da Julia. Ela sai do banho quieta, e senta na beirada da cama secando o cabelo. Cutuco ela com o meu pé, e ela pula para longe porque ele está frio.

— Ai, Dustin! Pensei que era um bicho!

— Por que você está tão quietinha?

Ela resmunga mais um pouco, mas responde.

— Queria poder ajudar a Brianna mais. Sei que a vida dela é um caos, mas mal consigo entrar. Ela ficou independente muito cedo, sabe? Cedo demais. Só que ficar independente não significa que ela sabia o que estava fazendo. Quando me ligou para contar do vídeo pela primeira vez, fiquei muito brava, mas não foi brava com ela, foi com a situação, só que eu consegui apoia-la naquele momento. Aprecio que o Harvey se preocupe com ela, de verdade, mas fico com a sensação que eu deveria ser quem está apoiando ela hoje.

Analiso isso como o telespectador externo que sou.

— Julia, você não é mãe dela. Não se sinta mal por não fazer um trabalho que não é seu, a falha é da mãe de vocês, não sua. Nunca sua. Sobre o que está acontecendo agora, ele conhece ela, trabalha com ela, sabe apoiar ela também. Ela não está sozinha.

Ela entra no banheiro para guardar a escova de cabelo e escuto um som esquisito. Ela está chorando?

— Eu sei disso, Dustin. Mas eu queria que ela não sentisse a necessidade de se esconder até de mim. Ela se esconde e esconde problemas grandes, como este de hoje, e não tenho como sequer ajudar na maioria das vezes porque parece que ela nem confia em mim, de tanto que se esconde.

— Vem cá. — bato no travesseiro dela, e ela vem. Abraço ela. — Você tem que confiar nela. Ela é adulta, sabe se cuidar e não está sozinha. O Harvey me pareceu bastante preocupado com ela.

— Ele se preocupa com ela e cuida dela, eu sei disso, mas é que eu...

Você faz o que pode. Não é sua obrigação cuidar dos seus irmãos, mas cuida. Qual é, Juzinha, você acha que eu, uma criança que cresceu em bibliotecas do mundo inteiro, lendo livros de espiões nas mais diversas línguas, não sei o que você faz para ajudar todos eles? Das doações anônimas para pagar os débitos estudantis deles, das caixas de chocolate com mensagens anônimas incentivando eles? Você faz o que pode, mas eles são adultos já. Você deveria saber que, para muitas coisas, não dá para ajudar um adulto sem que ele peça ajuda, já que é este tipo de pessoa. — limpo as lágrimas dela. — Se não pior, já que pede que não contem ao seu marido que você foi baleada.

Ela grunhe.

— Quem te contou isso?

— Tenho minhas fontes.

— Tem suas fontes é o caramba, quem contou? Eu pedi que não te falassem e não apenas falaram, como também falaram que eu pedi para não te falarem?

— Quem ligou para os seus sócios disse que você falou isso, e me falaram quando cheguei no hospital naquela noite. Eu fiquei bem magoado, sabia? Tive até um princípio de infarto de tanta tristeza.

— Você teve um princípio de infarto porque achou que eu ia morrer, não porque eu pedi para não te falarem. É dramático, mas não tanto.

— Não posso discordar. Ah, a polícia te falou algo sobre as investigações deste caso?

— Sim. Por isso sumi por um tempo na delegacia hoje, estavam me passando informações. — espero que me conte o que sabe. — Você sabe que as investigações estão acontecendo em segredo de justiça. Eu não recebi nada grandioso, apenas que a suspeita está presa e que pode ter mais na motivação do que eu estava fazendo ali naquele dia. Nada ligado à Marnie também, ou pelo menos não acharam uma ligação ainda. Não acho que a Marnie faria algo tão sem discrição, não deve ter nada a ver com o caso.

— Isso significa que ela já fez algo com discrição?

— Você está querendo saber mais do que eu posso falar. Posso te pedir uma coisa? Não faça perguntas sobre a Marnie. Nenhuma, para ninguém. A última coisa que quero é ter mais alguém que amo tendo que ser protegido como testemunha.

— Tudo bem. É que... eu nunca vou saber o que é?

— Espero que sim, mas você sabe das implicações se eu te contar agora. Sabe que confio em você também, mas não é sobre confiança, é sobre segurança. Já sobre a mulher que me atacou, a sentença deve demorar algumas semanas para sair ainda, mas ela deve pegar uns bons anos, pelo que a lei manda.

— Como deve ser. — digo, aliviado.

E, pelo pouco que consigo entender, como deveria ser com a Marnie.

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