OITAVO DIA.
Assim que a equipe se ausentou no início do anoitecer, a dupla de participantes imediatamente ficou mais à vontade. Desde o evento no lago, os câmeras ficaram atentos a qualquer interação da dupla, quase esperando por mais toques ou beijos. Sempre seguindo os dois, até mesmo quando precisavam usar o “banheiro”.
Durante a madrugada, após colocar a câmera em um local previamente indicado pela produção, para filmar o interior da caverna durante a ausência da equipe, Jungkook retirou o colar onde continha o microfone para captar o áudio das conversas entre eles, e Jimin fez o mesmo.
Desse modo, eles conseguiram conversar com mais privacidade durante a madrugada do oitavo dia.
— Será que não vão punir ou expulsar a gente? — Jimin indagou preocupado.
— Não tem como eles ficarem sabendo.
Estavam deitados na cama, Jungkook de costas e Jimin de lado, apoiado no peitoral dele. A única fonte de luz eram as chamas da fogueira que iluminava boa parte do interior da caverna.
— Sobre o que aconteceu no lago… — Jimin iniciou sem saber como continuar.
É fato que os lobos se sentem primeiramente atraídos, antes mesmo que um Alfa ou Ômega perceba. Seja pelo aroma, a voz, a cor dos olhos, ou qualquer outra característica, o lobo sempre vai sentir-se atraído primeiro, para depois a pessoa em si.
É como quando seu coração sabe que você está se apaixonando, e você não entende porque pensa naquela pessoa o dia todo. Tudo lembra ela. Até mesmo olhar para um simples objeto faz você sorrir, porque ele está ligado diretamente a uma característica de uma pessoa em especial. Quando você perceber que está apaixonado, será tarde demais…
— Sim? — Jungkook o incentivou.
— Você não tem nada pra me dizer?
— Você que começou.
— Sim, mas… eu não sei o que dizer.
— Então não diga nada.
Jimin riu sem acreditar no quanto Jungkook estava tranquilo. Havia um turbilhão de sentimentos aflorando no interior do Ômega. Eles se beijaram, então, para ele, isso deveria significar alguma coisa.
Mas depois do beijo, o Alfa agiu como se nada tivesse acontecido. Jimin sabia que não estava sentindo aquilo sozinho, pois viu nos olhos de Jungkook o mesmo desejo. Ele sentou para encarar suas expressões.
— Nós estamos convivendo pelados há uma semana, nos beijamos ontem… Isso é comum pra você?
— Beijar um Ômega sem roupa? Sim.
— Hm…
— Por que você quer falar sobre isso? — Jungkook mantinha-se despreocupado, com sua atenção voltada às sombras produzidas pelas chamas no teto da caverna. — Estamos em um programa de sobrevivência, não de relacionamento.
— Então por que me beijou? — Jimin esperou por uma resposta, mas o Alfa apenas olhou para ele, pensando na pergunta. — Tá. Eu vou pegar meu microfone e ligar a câmera.
Jimin se levantou caminhando na direção da saída do abrigo. Estava irritado e pensava em não dormir perto do Alfa esta noite, mas parou quando sentiu uma mão agarrar seu braço.
— Eu beijei você porque eu senti vontade — Jungkook começou. — Você me atrai de um jeito que eu não consigo controlar. Mas eu entrei aqui com um objetivo, e sei que você também. Vencer o desafio. Eu continuo com o mesmo pensamento.
— Ah, cada um com suas prioridades, não é?
Jimin tentou seguir, mas o Alfa impediu novamente, quando o puxou para si e surpreendeu o mais novo com um beijo.
Era certo que Jimin não esperava por isso, mas foi rápido em retribuir. Logo as mãos subiram até a nuca do Alfa, sentindo os braços do mesmo acomodarem-se em um abraço ao redor de sua cintura.
O beijo foi mais intenso que o anterior, como se Jungkook quisesse mostrar para ele qual a sua verdadeira prioridade alí. Havia uma conexão inegável, e mesmo com isso, o comportamento dele ficou ainda mais confuso para o Ômega, quando momentos atrás o próprio Alfa não demonstrou querer falar sobre o ocorrido.
— Você me deixa tão confuso... — Jimin murmurou, olhando-o com uma expressão de receio.
— Não olha assim pra mim... — Jungkook pediu. O Ômega abaixou o olhar o Alfa tocou delicadamente em seu queixo, fazendo-o erguer a cabeça. — Eu só não quero fazer disso um show para eles, entende? Isso vai deixar de ser um programa de sobrevivência, eles vão criar situações para nos obrigar a interagir de modo romântico, só porque esse tipo de coisa aumenta a audiência deles.
— Se essa é a sua preocupação, eu não me importo com isso — o Alfa inclinou a cabeça para o lado, com o cenho franzido. Jimin explicou: — O que eu quero dizer é que não vou omitir meus sentimentos. Não estou fazendo nada de errado pra ficar me escondendo.
— É isso mesmo o que você quer? — Jungkook acariciou a bochecha gordinha.
Jimin assentiu.
— Somos dois adultos que se conheceram em uma situação pouco convencional... — ele sorriu. — Eu entendo e concordo com você. Não quero que meus sentimentos sejam usados de maneira leviana em nome do entretenimento… mas eu sou dono das minhas escolhas, e vou continuar sendo eu mesmo até o final desse programa. Eu quero vencer o desafio, mas isso não é tudo pra mim.
— Agora sou eu que não sei o que dizer…
— Por que não começa dizendo o que você quer?
— O que eu quero? — Jungkook o olhou dos pés à cabeça. As mãos desceram até os quadris e apertaram.
— Vai com calma, soldado — Jimin arquejou, olhando para a região da virilha do Alfa e novamente para cima. — Guarda essa espada...
Jungkook sorriu grande, exibindo seus dentes.
“Ele fica lindo sorrindo desse jeito” — Jimin pensou. O que ele não imaginava é que Jungkook pensava o mesmo dele, quando seus olhos se fechavam quando ele sorria.
— Então vamos fazer assim — Jungkook afirmou —, continuar sendo nós mesmos e ver no que dá.
— De acordo. — O Ômega sorriu. — Agora vamos dormir logo, a gente precisa descansar e amanhece muito rápido nesta região.
— Pega os colares com nossos microfones e me espera na nossa cama, deixa que eu ligo a câmera.
Jimin anuiu e fez como o Alfa indicou.
A câmera foi posicionada entre uma fenda na rocha, logo na entrada da caverna. Estava escuro como o breu, mas os olhos do Alfa já estavam ficando acostumados à escuridão. Ele ligou a câmera e através da lente infravermelho, observou o lado de fora para se certificar de que não havia nenhum animal à espreita.
Satisfeito com a ausência de uma possível ameaça, Jungkook voltou para se juntar ao Ômega na cama e o abraçou para compartilhar o calor corporal.
🔥🔥🔥
Durante todo o restante da madrugada, as chamas da fogueira e o fato de estarem dormindo abraçados deixou os participantes mais relaxados em seu sono. A equipe de filmagem chegou assim que o sol iluminou o dia, e eles nem perceberam.
Jimin estava deitado de lado, com as costas apoiadas no abdômen do Alfa, sendo abraçado pelo mesmo. Ela se assustou ao abrir os olhos e dar de cara com um objeto preto próximo de seu pescoço, que ele segundos depois percebeu se tratar de uma filmadora.
Provavelmente o cinegrafista estava buscando alguma marca. Ele viu que o Ômega havia acordado mas não se incomodou e seguiu com as filmagens. Dessa vez, ele desceu com a câmera até mostrar as mãos da dupla com os dedos entrelaçados.
Jimin se sentiu pouco à vontade com isso, e sussurrou baixinho para acordar o Alfa:
— Jungkook…
Assim que abriu os olhos, ele teve a mesma reação de Jimin ao ver o cinegrafista tão próximo. Quando o profissional percebeu que o Alfa também tinha acordado, pensou em filmar seu rosto para mostrar seu despertar ao lado do Ômega, mas mudou de ideia ao ver o olhar letal que o participante lhe dirigiu.
Jungkook continuou encarando o cinegrafista, até que o mesmo decidiu que seria melhor pegar sua câmera e filmar os peixes do lago.
— Sabia que essa merda ia acontecer.
— Eu me assustei, mas está tudo bem — Jimin se sentou, penteando o cabelo com os dedos. — Meu deus, que cara é essa? Tá parecendo que você vai matar alguém…
Jeon olhava para os Alfas produtores com uma expressão nada amigável, ele girou a atenção para o Ômega e sorriu. Satisfeito, Jimin se levantou para pegar algumas bananas, no mesmo instante, Jungkook voltou a olhar os Alfas com o semblante fechado.
Um dos produtores se aproximou ao ver o sobrevivente mais velho sozinho.
— Contra pra gente, quando vocês pretendem terminar essa porta?
De vez em quando, os produtores faziam perguntas para os participantes, apenas para incentivá-los a falar sobre seus planos e experiências. Mas apenas as vozes dos participantes eram mostradas no programa, salvo em algumas exceções.
— Vamos terminar essa porta hoje mesmo — Jeon respondeu sério. — Para evitar que algum animal decida aparecer durante a madrugada. Odeio visitas indesejadas.
Seu tom de voz indicava que ele não estava falando sobre os predadores da floresta, e sim sobre a equipe de filmagem. Mas o produtor entendeu que o Alfa estava se referindo a onça que sondou o acampamento perto do rio.
O produtor assentiu e se afastou quando Jimin voltou com as bananas, entregando algumas para o Alfa.
— Como estão os arranhões?
Jungkook mostrou os ferimentos causados pelo jacaré. Apesar de serem superficiais, o processo de cicatrização estava lento devido a natureza da lesão.
— As bactérias estão atrasando a cicatrização — Jimin refletiu. — Espera aqui.
O Alfa permaneceu comendo suas bananas enquanto Jimin saiu sozinho, para colher aloe vera. Ele observou quando um cinegrafista foi atrás e filmou o Ômega coletando a planta.
O Beta que segurava a câmera estava sorrindo enquanto filmava o Ômega. Jungkook ficou ligeiramente incomodado com isso, mas entendia, Jimin era realmente encantador.
Jimin voltou trazendo consigo algumas folhas de aloe vera. Retirou o gel interior da planta e aplicou sobre as feridas tomando bastante cuidado. Ele utilizou folhas de bananeira como bandagens para proteger as lesões.
— Pronto — Jimin observou os curativos, satisfeito com seu trabalho. — Agora está mais protegido.
— Obrigado — Jeon sorriu para ele.
Após higienizar a boca com a mistura natural criada pelo Ômega, cada um se pôs a trabalhar em uma função, para confeccionar a porta do abrigo.
Jungkook mediu a largura e altura da entrada da gruta, e depois usou seu facão para cortar vários bambus de tamanho proporcional às dimensões. Jimin separou cipós finos e resistentes para prender os bambus de modo que ficassem como uma grade.
A atividade ocupou boa parte da manhã, eles queriam que a armação ficasse perfeita. Principalmente porque o Ômega estava bastante preocupado com a onça que os espreitava.
— A gente encaixa bem assim… — Jungkook forçou a grade de bambus para que esta se encaixasse nas curvas da entrada da gruta. — Pronto. Agora nenhuma criatura desagradável vai ter a chance de nos espionar enquanto dormimos — ele comunicou, olhando para a produção.
— JUNGKOOK! — Jimin gritou do outro lado da clareira.
O Alfa puxou o facão e correu na direção em que o Ômega estava, sendo seguido por um cinegrafista.
— O que foi?
— Uma serpente! — Jimin apontou para o galho de uma árvore. — Bem ali.
Jungkook procurou pelo animal e o encontrou enrolado no galho mostrado pelo Ômega. Era uma serpente verde, estava camuflada entre algumas folhagens. Ele ergueu o facão para partir a cobra ao meio, mas foi impedido pelo mais novo.
— Não! Eu não te chamei pra matar ela — Jungkook ergueu as sobrancelhas. Jimin manteve o olhar atento entre ele e o bicho, quando explicou: — É uma jararaca.
— Eu sei, o veneno dela é extremamente fatal. É por isso que eu vou matar ela agora mesmo.
— Não! — Jimin insistiu. — Não precisamos matar ela, temos comida suficiente para nós dois. Essa serpente é como uma esmeralda viva da floresta. Ela é muito rara e linda. Não podemos matá-la.
— Claro que podemos, Jimin. É uma cobra, e cobras a gente mata!
— Se fosse pela nossa sobrevivência, tudo bem, eu entenderia. Mas a gente pode pegar ela e colocá-la o mais longe possível do abrigo. Foi por isso que te chamei.
— Pelo meu conhecimento, quando eu vejo uma ameaça, eu elimino antes que se torne um perigo para mim e meus companheiros.
— Você sabe que nós somos os intrusos aqui. Não podemos simplesmente sair matando todos os animais que encontramos, quando não temos a necessidade de fazer isso.
As jararacas-verde são serpentes arborícolas, ou seja, vivem em cima de árvores. Os acidentes com este animal acontecem geralmente no rosto, braços ou qualquer parte superior do corpo. O veneno extraído de uma jararaca tem a capacidade de matar cinco adultos.
No Brasil, as jararacas são responsáveis pela maioria dos acidentes ofídicos. Possui uma toxina potente e proteolítica, que destrói as células do tecido, causando necrose, hemorragia e muita dor.
— Me ajuda a levar ela lá pra dentro da floresta — Jimin prosseguiu. — Se você não me ajudar, eu vou fazer isso sozinho.
— De jeito nenhum eu vou permitir que você vá sozinho com esse bicho floresta adentro — outro cinegrafista se aproximou, agora haviam quatro ao redor da dupla, filmando cada expressão. Jungkook mudou sua postura, sem disfarçar o incômodo. — Eu estive em uma floresta na América Central, várias serpentes chegaram a invadir o acampamento do meu grupo. Eu ajudei a retirar algumas.
— Você vai me ajudar, então?
— Vou. — Jungkook guardou o facão. — Me passa aquele galho, alí.
Satisfeito, o Ômega pegou ramo que se assemelha a um objeto próprio para manipular serpentes.
— Cuidado, o bote dela é longo — Jimin avisou, entregando o ramo.
— Se afasta.
Jimin fez como o Alfa indiciou e deu espaço para ele retirar a cobra da árvore. Jungkook elevou a ponta do galho, de maneira que a serpente subisse em cima para se enroscar. Feito isso, ele recuou devagar trazendo o animal consigo.
— Isso é uma péssima ideia… — Jungkook opinou, observando a serpente se mover devagar, enroscada no galho.
— Isso foi perfeito! — Jimin se aproximou do outro lado, sorrindo. — Vem, precisamos encontrar um local para colocá-la.
Jimin segurou na mão do Alfa e o puxou para dentro da selva. Jungkook afastou o galho que mantinha a serpente longe, enquanto se deixava ser guiado pelo mais novo.
Embora seja uma espécie muito agressiva, as jararacas não costumam atacar sem motivos, sendo um deles, quando se sente ameaçada. É extremamente importante tomar cuidado com o manuseio deste animal.
Os participantes levaram horas caminhando na mata, em busca de um local que o Alfa considerasse longe o suficiente para que a serpente não encontrasse o caminho de volta. Em certa parte do trajeto, os cinegrafistas que os seguiram foram aconselhados pelo diretor a voltarem para o acampamento da produção. Eles entregaram uma câmera para que Jimin filmasse as atividades da dupla.
— Acho que aqui já está perfeito, Jungkook — Jimin olhava para cima, tentando decifrar quantas horas de sol ainda restavam. As altas e densas copas das árvores impediam que eles soubessem exatamente. — Estamos ficando muito longe…
— Só mais um pouco.
Jimin olhou para trás, hesitante, mas decidiu continuar seguindo o Alfa, afinal foi ideia dele levar a serpente para longe do abrigo.
— Fica longe. — Jungkook indicou. Ele subiu o galho que segurava, a serpente deslizou até se encontrar enroscada no galho de uma árvore.
Jimin acompanhou a uma distância segura. Quando o Alfa jogou o galho e virou-se para voltar ao abrigo, foi surpreendido por um abraço.
— Obrigado, Jungkook…
— Não precisa agradecer, você é meu parceiro. Eu vou te apoiar em tudo. — Tirou a franja do caminho e beijou a testa dele. — Vamos voltar.
Aproveitando que estavam sozinhos, eles deram as mãos com os dedos entrelaçados enquanto seguiam o caminho de volta.
Foi fácil encontrar a rota para o acampamento até certo ponto, mas à medida que a luz diminuía, anunciando a chegada da noite, a dupla já não tinha certeza se a direção que estavam tomando era a correta.
— Eu tenho quase certeza que já passamos por aqui — Jungkook ponderou, olhando em volta.
— Vamos olhar o mapa — Jimin deu a ideia olhando para ele, esperando que o mesmo retirasse de sua bolsa. — Cadê o mapa?
Mas Jungkook olhou de volta esperando o mesmo.
— Não está com você?
Jimin o encarou com os olhos arregalados e negou com a cabeça. Alguns mosquitos que atacavam geralmente à noite, começaram a picar os participantes.
— Inferno! — Jungkook rosnou estapeando os mosquitos em seu braço. — Não temos fogo, a pederneira ficou no acampamento. Não temos abrigo e já está escurecendo.
— Precisamos manter a calma — Jimin falou suave. — Entrar em desespero não vai ajudar.
Jungkook respondeu fundo e assentiu.
— Vamos encontrar um abrigo para passar a noite pelo menos. Não dá pra sair andando por aí tentando encontrar o caminho de volta.
A dupla procurou por alguma clareira mas tudo o que encontraram foram árvores frondosas, de copas altas e muito unidas. A mata era extremamente fechada. A melhor opção que conseguiram foi um canto pequeno, entre duas grandes raízes de uma árvore.
Jungkook usou seu facão para cortar alguns galhos e usar como telhado improvisado. Enquanto Jimin limpava o local, em busca de algum animal peçonhento. Ele colocou algumas folhas para cobrir o chão.
O novo abrigo era pequeno, frio e desprotegido. Se chovesse, os galhos que o Alfa encaixou em cima das raízes não impediriam que os participantes ficassem molhados.
A noite chegou tão rápido quanto possível. Já não eram capazes de enxergar nada na escuridão da selva, apenas através da visão da câmera infravermelho que o Ômega carregava.
— Isso é tão assustador… — Jimin sussurrou com medo que sua voz saísse muito alta, e chamasse atenção de algum animal noturno.
Apesar do som da floresta, dos animais e do vento batendo contra as folhas das árvores, o silêncio dava a impressão de que o tempo estava parado. Eles estavam juntos no apertado do abrigo, Jimin envolvido dentro do abraço do Alfa, ambos segurando um facão.
Jungkook estava segurando a câmera também, utilizando-a para enxergar qualquer ameaça. De vez em quando eles viam um par de olhos passando pela lente, mas faziam barulho e o animal corria para fugir.
— Só espero que aquela onça não resolva dar as caras agora. — Jungkook afirmou.
— Não me lembra isso… — Jimin se aninhou contra ele um pouco mais. — Eu tô com muito medo.
— Tenta dormir um pouco.
— Não quero te deixar sozinho.
Jungkook o abraçou com mais intensidade.
— Não se preocupe com isso, descanse. Eu tô acostumado. Já fiquei dias em vigilância durante toda a madrugada.
— Você já esteve em uma situação como essa?
— Já estive em uma pior. Fui largado sozinho em uma floresta, em uma ilha que simulava uma base inimiga, quando era mais jovem, apenas com uma faca. Eu não tinha mapa e não fazia ideia de onde estava. Tudo o que eu sabia era que precisava encontrar o acampamento dos fuzileiros.
— Você conseguiu?
— Sim. A simulação era extremamente real, precisava ser. Eu não dormi um dia sequer, sempre de olhos atentos.
— Poxa, você é bem preparado mesmo. Eu sou apenas um Ômega que lê muitos livros e acampa com o pai de vez em quando… não tenho histórias tão legais quanto às suas.
— De fato, não temos as mesmas habilidades e experiências, mas para sobreviver na selva todo conhecimento conta. Sua mente é forte, e em uma missão desse tipo, noventa por cento é psicológico.
— Somos uma boa dupla.
— Batemos o recorde de sobrevivência nessa selva, e vamos ficar até o final. Juntos.
— Juntos? — Jimin ergueu a cabeça e enxergou o rosto do Alfa com dificuldade.
Jungkook o olhou de volta, e sorriu quando confirmou:
— Juntos.
Jimin apoiou a bochecha no peitoral do Alfa novamente, aproveitando o calor. Jungkook era quente e muito corajoso, mas Jimin não estava disposto a dormir enquanto o mais velho ficava acordado sozinho. Porém, com o carinho que estava recebendo no cabelo, ele adormeceu.
Jungkook ficou acordado, esquentando o Ômega e a si mesmo enquanto o abraçava, olhando atentamente as movimentações captadas pela câmera, através da escuridão. Viu algo se movendo entre as árvores. Jungkook respirou aliviado ao perceber que foi apenas uma coruja.
De repente, Jimin gritou em um sobressalto e engatinhando alguns metros a frente.
— Aaaaah!
— O que foi? — O Alfa indagou alarmado.
— Um bicho! — Respondeu enquanto passava as mãos pelo corpo, para ter certeza de que não havia nada caminhando sobre ele. — Eu senti algo encostando em mim.
Jungkook pegou a câmera e procurou onde o Ômega estava sentado. Havia um escorpião preto andando livremente. Ele o matou e ergue pela cauda.
— Olha aqui o responsável.
— Meu deus! Que medo! Tira ele daqui. — Jimin prontamente ficou com os joelhos e as mãos apoiados no chão, para que o Alfa procurasse por indícios de uma picada. — Vê se eu fui picado.
Jungkook jogou o bicho para longe, e quando virou a câmera para o participante mais novo, viu através da lente o Ômega com a bunda na sua direção.
— Céus… — O Alfa arquejou. Em seguida limpou a garganta. — Deixa eu ver…
Jungkook tocou suavemente no quadril de Jimin, utilizando a câmera para enxergar. As mãos dele deslizaram através da pele quente do Ômega, enquanto se concentrava em não olhar para a intimidade do mais novo. Mas era difícil, estando assim tão exposta…
— Encontrou? — Jimin perguntou com voz preocupada.
O Alfa pareceu ter saído de um transe.
— O quê?!
— A picada.
— Ah, não… Não tem nenhuma marca… — Jeon imaginou como seria deixar a marca da sua mão, mas a visão se desfez da sua mente quando o Ômega voltou a sentar sobre os calcanhares. Ele pigarreou. — Nenhuma marca de picada.
— Ainda bem — Jimin suspirou aliviado. — Mas eu não vou me sentar aí de novo.
— Quer sentar no meu colo?
Mesmo no escuro, Jungkook percebeu o quão embaraçado o Ômega ficou. Ele mesmo se deu conta do tipo de proposta que havia feito. Não tinha conotação sexual naquela pergunta, mas de certa forma soou estranho.
— Não estou… — Ele tentou se explicar, mas Jimin o interrompeu.
— Quero. Se não for incômodo para você…
— Não é. — Jungkook ajeitou o corpo de modo que Jimin pudesse ficar confortável em seu colo. — Pode, hm, se sentar.
Jimin se apoiou nos ombros do Alfa para sentar devagar, de lado. As bolsas estavam no acampamento, logo eles ficaram com pele sobre pele. Jimin encostou a cabeça no ombro de Jungkook, tentando ignorar o órgão dele encostando na sua bunda.
Quanto ao Alfa, a noite dele seria mais longa do que imaginou… Enfim, a de ambos.