Ela não dormiu, não poderia. Logo que chegou em casa foi direto para a cama. O gosto, a sensação a lembrança daquele beijo, das mãos de Nyx em seu corpo, ela em seu colo. Seu corpo formigava, pedia explicações. Explicações que ela não tinha. Ele dissera que foi um erro, ela era um erro? O beijo era um erro? O que era um erro?
Ela se levantou. Na cozinha tentou colocar algo para dentro, mas não deu mais que duas mordidas em um pedaço de pão.
— Bom dia Ca... uou, você tá horrível prima. — Disse Ethan. A garota apenas lançou um gesto vulgar para ele.
— Alguém viu o Nyx? eu não vi ele em lugar nenhum. — Disse Dahrlan.
— Decidiu ir embora ontem ainda. — Catrin disse seca.
— Por que? — Dahrlan indagou.
— Eu não sei Dahrlan, não sei, ele só foi embora. — Catrin falou.
— Você tá bem Catrin? —Dahrlan perguntou.
— Estou, só tive uma noite de sono ruim. — Catrin disse batendo a porta e saindo da cabana.
— Acho que o período dela deve estar chegando. — Disse Ethan.
Catrin chegou cedo no ringue e fez exercícios de respiração Valquíria, precisava relaxar. Mas quanto mais ela tentava, mais ela se lembrava do beijo, do desejo. Ele a beijou, a desejou, ela sentiu isso e então foi embora a deixando ali sem resposta.
Um erro. Ele disse que era um erro.
A respiração não se acalmou. Catrin se aproximou do saco de areia que tinha no ringue e começou a soca-lo.
Soco. Um erro.
Soco. Um erro.
Soco. Um erro.
Uma sequência de movimentos e pensamentos que se repetia.
Para Nyx ela era um erro.
E continuou socando até que a primeira fêmea chegasse para o treino.
— Catrin, tá tudo bem? — Ahryn perguntou.
Catrin parou de socar, a mão já machucada pelo atrito e limpou uma lágrima solitária que descia pelo seu rosto.
— Estou, ontem... só não tive uma boa noite. — Ela respondeu e se afastou.
Durante o treino todo não disse mais que o necessário apenas para orientar ou corrigir as garotas.
— Treinadora, o senhor Nyx virá ver nosos treino hoje? — Uma das garotas perguntou.
— Não, Nyx já voltou para Velaris. — Catrin respondeu seca.
— Uma pena, ele é tão lindo que deixa o treino muito mais interessante. — Ela disse a uma outra fêmea que estava perto.
— Se precisam de um rosto bonito para se animarem para o treino, temo que estão aqui pelos motivos errados. — Catrin disse e foi corrigir Dyana que estava longe delas.
Ela não exigiu muito das meninas aquele dia, não estava com cabeça para corrigir erros.
— Por hoje é isso. — Catrin finalizou, mais cedo que o normal.
As meninas foram embora, exceto Ahryn.
— Catrin, parece que você não dormiu a noite toda. — Disse a garota parecendo preocupada. — Está distante.
— Eu já disse que estou bem, só tive uma noite difícil. — Uma meia verdade dita por Catrin.
— Se você diz... mas eu sei que não está bem, só não vou te forçar a falar. — E antes sequência Catrin pudesse dizer algo, ela saiu do ringue.
Falar... talvez ela precisasse falar, não com seus primos, seria estranho contar sobre isso. Mas para um amigo. Então ela voou.
Catrin sabia que a legião do seu primo treinava entre as montanhas, não demorou muito para ela ver várias figuras voando velozmente enquanto Ethan dava ordens.
Catrin pousou ao lado do primo.
— O que esta fazendo aqui Cat? — Ethan perguntou.
— Preciso falar com um Bryan. — Disse Catrin.
— Ele voltou a treinar hoje e você simplesmente vem tirar ele do treino? — Ele indagou.
— Por favor, eu realmente preciso falar com ele. — Ela pediu.
— Eu odeio o quanto você é convincente. — Ele disse. — Bryan, se apresente. — Gritou.
Bryan voou e pousou frente a Ethan.
— Capitão! — Ele cumprimentou.
— Está dispensado, Catrin disse que precisa falar com você. — Ethan revelou.
Bryan ficou confuso, mas saiu pelos ares juntamente com Catrin. Quando estavam em um lugar tranquilo e afastado eles pousaram.
— Posso saber o motivo da senhorita ter me tirado do treino...— Ele foi impedido de terminar por um abraço de Catrin. Ela chorava.
— Ei, se acalma Catrin, o que houve? — Ele perguntou enquanto abraçava Catrin que ainda chorava encostada em seu peito.
— Eu sou um erro Bryan? Tem alguma coisa errada comigo? — Ela perguntou.
— O quê? Não... Catrin o que aconteceu? — Bryan perguntou se afastando para olhar no rosto da garota.
Ela respirou profundamente e sentou-se no chão. Bryan caiu ao lado dela.
— Você já fez algo que apesar da ideia parecer errada, teve a sensação que foi a coisa mais certa que você já fez na vida? Que se você contar para outras pessoas talvez te julguem por isso, mas foi mais certo que qualquer outra coisa que você já tenha sentido? — Catrin começou a dizer.
— O pior é que já sim. — Ele soltou uma risada rouca, Catrin arqueou a sobrancelha. — Mas ao contrário de você eu não estou chorando e com a aparência de que uma tropa illyriana passou marchando por cima de mim, anda, para de ser enigmática e fala logo o que aconteceu.
— Eu nem sei como te falar isso, não ousei repetir voz alta nem para mim mesma, mas eu e o Nyx, ontem, a gente se beijou. — Catrin revelou olhando para o horizonte.
— Ok, eu não esperava por isso, mas também não vejo o grande problema. — Ele diz.
— Eu acabei de dizer que beijei uma pessoa que foi criado como meu primo e você não vê problema? — Ela disse Incrédula.
— Tá, e daí? Você mesma me disse que não tem nenhuma ligação sanguínea. E por que raios você está dizendo que você é errada? — Ele questiona.
— Por que ele disse que tinha sido um erro. Ele olhou em meus olhos, disse que foi um erro e então foi embora, só... foi. Saiu voando. Mas ao contrário só que ele disse, eu não senti isso. Eu senti algo nascendo em mim, que gritava que aquilo era certo. Eu queria mais Bryan. Eu não queria deixar ele. A sensações que eu tenho é que eu entregaria tudo, tudo o que eu era para ele se ele pedisse naquele momento. E então ele se levantou, disse que foi um erro e partiu. Nenhuma palavra, nada. — Catrin considerou.
— Catrin, já pensou que ele pode ter sentido a mesma coisa e se assustado com isso? — Bryan falou.
— Não, ele disse com todas as letras para mim que foi um erro. — Catrin insistiu.
— Catrin, eu vi o jeito que ele te olha e a reação que ele teve ao nos ver juntos, ele me mataria ali mesmo se eu sequer cogita-se algo com você. Ele olhou minha mente. Eu permiti que ele olhasse, sou filho de um soldado importante aqui, aprendi o básico sobre escudos mentais, sei identificar quando um daemati tenta ver. Deixei que ele visse que eu não tinha intenção alguma além de amizade. Eu também vejo Catrin, o jeito que você ficou feliz ao vê-lo, como correu para abraçar ele. Você não se importou com mais nada, porque ele estava ali. Vocês se olham de um jeito diferente e nem sequer percebem isso. Tem alguma coisa entre vocês que insistem em negar. — Bryan observou.
— O que você acha que eu tenho que fazer? — Questionou Catrin.
— Converse com ele quando puder, quando se sentir pronta. E não deixe que isso afastem vocês dois. — Ele sugeriu.
— Vou para Velaris em uma semana. É aniversário de Adyra, filha dos Grão-Senhores. Ela é uma pessoa muito próxima, irei para a festa. Vou falar com ele. — Catrin disse.
—Ótimo, esclareça isso. Para o bem do seu coração e da sua aparência porque está horrível. — Ele brincou.
— Idiota. Agora me conta, qual seu segredo? — Ela disse.
— Ok, você acabou de me contar que pegou o herdeiro da Corte, talvez eu possa te contar isso. — Catrin fez uma careta para ele. — Mas eu preciso que não conte para ninguém, minha vida pode estar em risco. Meu pai me mataria.
— Você está assustando. — Catrin disse.
— Eu... meus amantes, eu prefiro machos. Desde que comecei a ter relações eu percebi isso. E por isso tenho que esconder, meu pai me mataria se descobrisse. Então entendo o que você quer dizer com mesmo que pareça o errado é mais certo do que qualquer coisa no mundo. — Ele contou.
— Isso, ah Bryan sinto muito por você ter que esconder isso. — Catrin abraçou o amigo.
— Tudo bem, já me acostumei e vivo bem assim. Se ele descobrir não seria um problema só para mim, ele castigaria minha mãe também. Então estou em paz comigo mesmo. Tenhos meus relacionamentos e não é da conta de ninguém. — Ele disse.
— Obrigada. Por confiar em mim e por ser meu amigo. — Ela Agradeceu.
— Eu que agradeço Catrin. Por tanta coisa que você não tem ideia. Só quero que seja feliz. — Ele disse acariciando os cabelos da amiga.
Eles ficaram um bom tempo ali.
........
Nyx voou a noite toda, indo e voltando, em círculos. Respirando, ou não, ele não sabia.
Chegou a Velaris quando o dia já havia amanhecido. Entrou em casa completamente transtornado. Por sorte, encontrou seu pai sozinho no escritório.
— Preciso falar com o senhor. — Nyx disse. Seu rosto estava pálido.
— Nyx, pela Mãe meu filho, o que aconteceu? — Rhys disse preocupado.
— Aqui não, vamos para algum lugar longe, por favor pai. — Disse Nyx.
Rhysand sem dizer nada levantou tomou a mão do filho e atravessou para uma montanha próxima a Velaris, que trazia uma vista incrível da cidade. Sem rodeios Nyx começou.
— Como soube que a mamãe era sua parceira? — Ele perguntou. — Não faça perguntas, não por enquanto.
Rhysand olhava intrigado para o filho que olhava fixamente para a cidade.
— Antes de mais nada, a parceria aparece de formas diferentes, nem sempre é igual. Eu sonhava com sua mãe, uns dois anos de conhece-la. Quando ela atravessou a barreira, se tornaram mais intensos, eu sentia o cheiro dela. Sabe Nyx depois depois eu a conheci, quando ela ainda era humana eu já desconfiava, mas não me deixei reconhecer, eu ainda estava preso sob a montanha. Mas eu me apaixonei por ela antes mesmo de ter certeza sobre a parceria. Eu tive a certeza absoluta, quando Amarantha a matou. Eu senti ela morrer. — Rhys engoliu em seco, as lembranças daquele momento eram cruéis. — E o laço me atingiu com toda a força quando no dia seguinte, quando eu estava indo embora, eu a vi depois que ela foi transformada em Feerica, eu olhei em seus olhos e senti. Senti aquilo preencher em mim. E eu nunca mais consegui parar de pensar em sua mãe. Até o dia em que ela aceitou, aceitou ser minha parceira. — Rhysand contou resumidamente.
— O que você sentia? — Nyx perguntou.
— Eu queria proteger ela. Proteger de qualquer mal, preferia morrer ao ver ela ferida. Também sentia desejo. Eu desejava sua mãe. Queria ela, mas não digo apenas de maneira sexual, mas estar perto dela é eu tinha ciúmes, tentava me controlar, mas tinha, e muito.— Disse Rhysand.
Nyx considerou tudo aquilo. Proteger, ele queria muito, de uma forma descontrolada. Ele a desejava, tentara negar, mas desejava, aquele dia na Corte dos Pesadelos, céus, aquilo tinha o enlouecido, também havia a Queda das Estrelas, ela estava perfeita e o desejo desenfreado quando a beijou naquela montanha, ele precisou de todo o bom senso que tinha para parar e não tomar Catrin para si ali mesmo. E ciúmes, céus, ele sentia, bebeu até cair apenas por Cadewyn estar ali com ela, ele nem sequer queria pensar no que tinham feito, que ele tinha tido Catrin para ele. E ainda aquela sensação, que o puxou, o levou apara aquela montanha. Ele negava, mas estava cada vez mais evidente.
— Duas pessoas próximas, podem ser parceiros? — Nyx perguntou.
— Não há regras para a parceria Nyx, as coisas acontecem das formas mais estranhas e distintas. Pode estar do outro lado de Prythian e pode estar aqui em Velaris. Me responda agora filho, você acha que encontrou sua parceira? — Rhys perguntou.
Nyx pensou um pouco e então revelou.
— Catrin é minha parceira. — Nyx revelou.
Rhys se calou por um momento, seu rosto era assustado quando Nyx o encarou.
— Santa Mãe. — Ele disse Incrédulo. — Desde quando sabe disso?
— Comecei a me sentir diferente em relação a ela desde quando voltei do Rito. E só foi aumentando. Eu me sentia péssimo por... desejar ela, por querer ela, e me afastei disso, mas não conseguia parar de pensar. Eu não consegui ficar com mais nenhuma fêmea desde então. Tentei, mas não consegui. — Ele disse.
— Então é por isso que você encheu a cara na Queda das Estrelas. Ficou com ciúmes dela com o Cadewyn. — Rhys sugeriu, Nyx confirmou com um aceno de cabeça. — E quando se tocou que poderia ser a parceria?
— Depois que eu a beijei ontem a noite. Em illyria. — Nyx respondeu
— Pelo Caldeirão! — Rhysand disse passando a mão pelos cabelos que eram gêmeos aos do filho. — Ela o beijou de volta? O que aconteceu depois?
— Ela... ela me beijou de volta e se... se eu não tivesse parado, eu acho que teríamos ido mais longe, sabe o que quero dizer, eu senti que ela queria também. E então eu me afastei dela, para tomar ar, quando eu olhei nos olhos dela, eu senti uma coisa... é como... eu não sei explicar, me atingiu. Então eu me afastei, assustado com aquilo e a única coisa que eu consegui dizer a ela é que tinha sido um erro. — Disse Nyx.
Rhysand soltou uma risada rouca e tensa.
— Você beijou sua possível parceira e depois disse que era um erro? Você lidou com isso pior do que eu. — Rhysand brincou.
— Acredite pai, eu não tive 500 para pensar no que iria dizer. O que eu faço agora? — Nyx pediu.
— Converse com ela, veja se ela sente algo. Fale o que sente. — Aconselhou Rhys.
— E se eu... não souber o que e como dizer ainda? — Nyx perguntou.
— Então espere a hora certa, mas conte. Uma hora ela vai perceber e, por experiência própria, você vai desejar voltar no tempo e contar. Esconder só vai tornar tudo mais difícil. — Rhysand disse.
— Eu vou. — Nyx expirou profundamente. — Isso é muito louco.
— Eu sei, é confuso. Mas você tem muita sorte meu filho, é tão jovem e já encontrou seu par. Sabe, sua relação com a Catrin sempre foi diferente, vocês sempre se protegeram tanto, de uma forma diferente do que era com seus outros primos. Vocês farão um casal bonito. — Disse Rhys.
— Calma pai, nem sei se ela vai aceitar a parceria ainda. — Nyx disse.
— Não fique pensando nisso. A Mãe juntou vocês por algum motivo. Vocês dois sempre se deram tão bem juntos que não é nem difícil imaginar o motivo. — Rhysand disse. Um sorriso fraco surgiu no rosto de Nyx. — Eu nem acredito que você já encontrou seu par, isso é tão incrível. — Rhys puxou o filho para um abraço.
— Obrigada por conversar comigo pai. — Nyx disse.
— Sempre meu filho, sempre. — Rhys respondeu.
Os dois voaram lado a lado para casa, passeando por Velaris, como faziam quando Nyx era criança.
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