Eu estava nervosa.
Na realidade, nervosa não, era até um elogio. Eu estava a um passo de surtar.
Andando de um lado para o outro no segundo andar daquele salão de beleza que minha mãe alugou, tentei controlar as batidas do meu coração. Meu cabelo já estava pronto, os fios estavam presos em um coque que a cabeleireira deixou de um jeito para o véu encaixar perfeitamente. Até minha maquiagem já estava feita, e com quase tudo pronto, minha pulsação só acelerava.
Eu usava apenas um roupão e daqui a pouco minha mãe vai chegar com meu vestido de noiva.
- Se continuar assim vai acabar abrindo um buraco no chão. - Beatriz disse depois de entrar na sala.
O cômodo tinha dois sofás e um espelho grudado na parede. O lugar era agradável, mas nem isso me acalmou.
- Preciso arrumar algo para fazer ou vou pirar. - confessei, finalmente parando de andar para olhar minha amiga.
- Tenta se acalmar primeiro. - pediu, parecendo preocupada. - Você não estava assim quando te deixamos sozinha.
Suspirei.
- Eu só comecei a pensar em algumas coisas. - falei, e sentei em um dos sofás.
- Conversa comigo. - falou. - Pode te ajudar.
- Não é grande coisa. - exclamei.
- Como não? Você parece que está a um passo de surtar. - insistiu.
- Casamentos são complicados... - comecei. - Tenho medo desse passo mudar minha relação com o Bruno.
Eu estava bem, mas então comecei a pensar no casamento fracassado dos meus pais.
- Helena...
- Olha, pode parecer bobagem, mas esses pensamentos não param. Juro que tô tentando expulsar.
Era até sufocando.
- Já sei, conversa com o Bruno. - Beatriz deu a ideia. - Ele é a melhor pessoa para te entender nesse momento.
- Você acha? - perguntei, não rejeitando a ideia.
Seria bom ouvir a voz dele.
- Claro. - sorriu. - Vou até sair para você se sentir mais á vontade.
Beatriz saiu da sala me fazendo levantar do sofá. Meus pés estavam descalços, e como o tapete era fofo, eu estava confortável.
Peguei meu celular que estava dentro da minha bolsa e digitei o número do meu noivo. Bruno demorou quase um minuto para atender, o que aumentou meu nervosismo.
- Por favor, não me fala que ligou para perguntar da sua bota. - foi a primeira coisa que ele disse.
Dei uma leve risada com sua brincadeira.
- Não. - respondi, e minha voz saiu um pouco estranha, e ele percebeu. - Quero conversar.
- Pode falar.
Só respondi depois de ter voltado a sentar no sofá.
- Não fica assustado com a minha pergunta, mas você tem certeza sobre o casamento?
- Por que eu ficaria assustado? É algo super normal para se perguntar horas antes do nosso casamento.
- Bruno, não quero desistir. - afirmei. - Tenho medo das coisas mudarem entre nós.
- Nós já vivemos como um casal. Casar só vai te tornar minha no papel. - falou. - Se seu medo for por conta dos nossos pais, nós não somos eles.
- Não, não somos.
Repeti aquelas palavras mentalmente querendo acreditar nelas.
- Você lembra o que sentiu da primeira vez que me disse "eu te amo?" - ele perguntou. - Porque eu lembro exatamente da sensação, é essa mesma sensação que eu sinto sempre que você repete essas palavras. Por você fazer tudo sempre parecer como se fosse a primeira vez que eu tenho certeza que casar com você é a melhor decisão que vou tomar na vida.
"Sei que não sou mais o garoto que você conheceu, e nem você é mais a Helena de cinco anos atrás. - continuou. - Nenhum casamento é 100% perfeito, na verdade, se chegar aos 40% ainda é muito. Vamos viver um dia de cada vez, o importante é ficarmos juntos.
Juntos.
Sempre juntos, como prometemos uma vez.
- Engraçado a forma que você sempre consegue me acalmar, mas é também quem mais me tira do sério. - falei, sorrindo.
- É recíproco, meu amor.
Nesse momento, alguém bateu na porta me fazendo olhar em direção a madeira branca.
- Vou desligar agora, te vejo mais tarde. - falei.
- Assim eu espero.
Depois de encerrar a ligação, levantei e abri a porta deixando minha mãe entrar. Em suas mãos estava a caixa que levava meu vestido.
- Não precisa vestir ele agora. - minha mãe disse, colocando a caixa em cima do sofá. - Ainda tem tempo.
Sabendo que ela estava certa, observei quando minha mãe caminhou até a janela.
- Eu convidei a Sophie. - revelei, querendo ter aquela conversa com ela.
Eu até tinha pensado em convidar a Sophie para o meu dia de noiva, mas não queria deixar o clima pesado.
Minha mãe não ia gostar da surpresa.
- É o esperado, Sophie é mãe do noivo. - ela disse, dando de ombros.
- Está bem mesmo com isso? - insisti.
- Filha, não sou mais uma adolescente, sei lidar com esse tipo de situação. - exclamou, em um tom firme. - Damon e eu estamos bem, então Sophie não me preocupa.
Resolvendo acreditar em suas palavras, pedi que ela mandasse Ângela trazer minhas filhas. Queria ter deixado as gêmeas o tempo inteiro comigo, mas como são duas crianças bem bagunceiras, acharam melhor que elas ficassem em outra sala enquanto a cabeleireira arrumava meu cabelo.
Quando minha amiga entrou na sala com minhas filhas, não me importei com mais nada e tentei pegar as duas no colo.
O que não deu muito certo.
- Você não é o Bruno, pega uma de cada vez. - Ângela, aconselhou.
- Só quero dar o mesmo tipo de atenção para as duas. Tenho medo delas crescerem achando que amo uma mais que a outra. - falei.
- Eu te entendo, mas elas são bebês ainda, não entendem isso. - minha mãe disse.
Sim, ela tinha razão. Mas eu não me importei.
Peguei Alexia no colo e depois de passar um tempo balançando ela, foi a vez da Sophie.
Horas mais tarde, eu já estava usando meu vestido e faltava pouco para o carro chegar.
- Você está linda. - minha mãe disse, ao meu lado na frente do espelho.
Pelo espelho encarei seu rosto.
- Obrigado por estar comigo nesse momento. - falei.
- Eu que te peço desculpa por ter demorado tanto. - disse. - Pode não acreditar, mas estou feliz por você.
Vendo sinceramente em suas palavras, passei meus braços pelo seu pescoço abraçando pela primeira minha mãe.
Ela retribuiu o abraço e mesmo que a maquiagem fosse a prova dágua, tentei não chorar.
- Eu te amo. - falei, não mais segurando as lágrimas.
Ela se afastou e limpou minhas lágrimas.
- Eu também te amo, minha filha. - disse, e sorriu. - Tenho orgulho da mulher, e da mãe que você se tornou.
Ouvir aquelas palavras tirou um peso do meu peito.
Por muito tempo achei que ela me odiasse, mas estava enganada.
Minha mãe me ama.
Beatriz entrou na sala naquele momento para avisar que o carro tinha chegado.
Então tinha chegado a hora.