Comum de Dois

By crsalmeiida

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Jude Montoya é uma talentosa roteirista que viu seu mundo virar de cabeça para baixo com o fim de seu longo r... More

Introdução
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IG - COMUM DE DOIS!
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EPÍLOGO
Agradecimentos

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By crsalmeiida

~ jude montoya

Assim que pousei em Edimburgo, me vi completamente empolgada de uma forma estranha, era uma cidade tão linda, mesmo que vista do céu. Assim que o carro da produtora veio me pegar, o caminho para o hotel foi o bastante para eu ver o Castle Rock, onde me coloquei na nota mental de voltar para ver mais. O clima frio na cidade e a arquitetura, deixava tudo com um ar aconchegante de cidade pequena, e isso era reconfortante.

As gravações da série só começavam em uma semana, e eu só tinha amanhã livre para poder dar uma volta na cidade.

Assim que saltei do carro em frente ao enorme hotel que a produção e todo o elenco de "Herdeiros do Rei" estava hospedado, uma citação de Macbeth de William Shakespeare me veio em mente, dos tempos em que o estudei no Belas Artes de Miami, anos antes.

“A Escócia tem recursos para saciar-vos só com o que for vosso”

E eu espero mesmo, que a Escócia possa me dar o que preciso. Mesmo duvidando disso.

Quando terminei de fazer o check-in, resolvi que precisava descansar, era curioso que mesmo ter passado o vôo inteiro sentada, agora eu me sentia exausta. O jet lag havia me pego de jeito.

Subi, e gastei meu tempo tomando um banho quente e me enfiando dentro de um pijama quentinho. Eu amava coisas confortáveis, tudo que remetia a aconchego. Acho que por já ter tido inconstância demais em minha vida. A infância em uma área marginalizada em Cuba, que terminou na morte de meu pai, que descobrimos depois, que fazia repasse para traficantes... Eu nunca vou esquecer do meu tio entrando em nossa pequena casa com o corpo do meu pai que tinha uma bala atravessada na cabeça. Tentaram me tirar rápido dali, mas não foi o suficiente. Eu sempre ia me lembrar disso, principalmente em meus pesadelos.

Minha mãe e eu nos mudamos para Miami quando uma prima dela que lá vivia a anos, conseguiu um emprego de doméstica na casa de um produtor em South Beach. A vida ali foi mais fácil, mas não menos dura. Eu vivi para ser tratada como um cachorro de estimação para os filhos do Reese. Nia e eu crescemos ali, levando a culpa por tudo. Por cada travessura maldosa.

Eles eram um bando de filhos da puta!

Mas vendo Loi Reese trabalhar de longe, eu me vi apaixonada pelo mundo do cinema. Aos dezessete anos e ele me contratou como staff. Aos dezessete anos ele tentou me assediar e levou um belo chute no saco e um soco no olho. Aos dezessete anos ele me colocou a mim e minha mãe pra fora da casa dele.

Minha mãe era conhecida no bairro fino como uma cozinheira impecável pelos jantares na casa dos Reese, e logo algumas madames a capturaram. Quando a vida em Hollywood começou a melhorar pra mim, eu quis trazer minha mãe, mas ela sempre se negou. Era tão orgulhosa. Acho que sei a quem puxei...

Sai de meus devaneios sobre o passado, ao me deitar na cama, peguei meu celular, ainda sem coragem de desfazer as malas.

Haviam mensagens de Nia falando que havia conseguido um novo teste, e é óbvio que desejei toda boa sorte do mundo para minha amiga.

Respondi Kelsey, a roteirista de apoio, o diretor e a direção de núcleo da série rapidamente, nossa reunião estava marcada para segunda as sete horas. Eu tinha o domingo de amanhã para ser uma boa turista e ia aproveitar, pois bem sei como uma produção como essa, consome todo nosso tempo.

E por último, e não menos importante, havia mensagens de Amy Dorney. Que havia com toda certeza colocado o nome em seu próprio contato em meu celular.

Amy Malik Payne

"Jude, Axel disse que você ligou para ele, queria ter falando com você, sabia? Está tudo uma loucura aqui, você já está na Escócia?

Aposto que a série já é um sucesso, meu pai também acha isso, ele disse. Sentimos sua falta. Todos nós, sabe disso não é?

Ps: Sinto saudade de ir ao Shopping com você.

E me desarmou. Ele acreditava em mim. Sempre acreditou. E eu sentia falta deles. Todos eles.
Mas não dava.

Amy era diferente dos irmãos que eram falantes e muito comunicativos, que logo estabelecemos uma boa ligação. Amy era uma garota de personalidade, e bastante geniosa. Mas tinha um coração muito bonito quando se deixava chegar mais perto.

Mas quando comecei a namorar o pai dela... Eu tinha medo dela. Não dela me atropelar com uma retroescavadeira, mas de nunca me aceitar, não como madrasta, mas como alguém que não queria invadir o espaço dela, nem nada do tipo. E nem roubar o pai dela, pois era muito ciumenta. Era a única menina e havia perdido a mãe, eu não queria braços abertos, mas queria abertura pra que um dia pudéssemos conviver bem.

E passo a passo, dia após dia, as coisas se amenizaram, digo, depois dela encher meu suco de morango de pimenta. Que eu sou altamente alérgica e fui parar no hospital. Minha lingua passou a semana inteira inchada.

Mas em uma tarde, ela veio me pedir desculpas no meu apartamento depois da aula, uma menininha de oito anos parada na minha porta, sem que o pai dela soubesse, e eu perdoei. E a levei pra casa no mesmo instante e compramos milk shake no caminho. E desde então, ela me aceita como amiga.

E eu a respondi, falando sobre a Escócia, sobre saudade dela e que quando eu voltasse aos Estados Unidos, iriamos juntas ao shopping como antes. E agradeci. Apenas agradeci.

E assim, deixei meu celular de lado, afastando qualquer pensamento que não tivesse haver com a série (uma zona segura) e logo peguei no sono.

Horas depois quando acordei, eu me sentia totalmente desorientada. Eu havia tido um sonho morno. Uma mistura de memória com subconsciente. Acho que pensar tanto em trabalho, trouxe ele para o que eu queria fugir. As memórias... Elas...

— O senhor Dorney está te chamando no backstage 4. — Ouvi uma voz no meu ponto eletrônico. Isso foi a mais de cinco anos atrás. Eu era só uma garota do take.

Droga! Ele havia achado... Era isso. Que vergonha!

Eu tinha deixado um roteiro meu junto das coisas do produtor Aliester McKinnon, mas eu descobri tarde demais que aquela pasta de couro era nada mais do que do renomado diretor Jack Weiss Dorney, que estava voltando ativa depois de ter vivido seu luto. Por dois anos sem trabalhar.

Jack Dorney estava com meu roteiro sobre A DOR DE UM JOVEM VIÚVO! Por que eu escolhi esse? Por que?

Aquela pasta de couro elegante como a de executivo... Jack Dorney se vestia como um astro do rock ou vez ou outra como quem escolheu o que vestir no escuro. Como eu ia imaginar?

Ele ia me chutar da Warner. Ia falar com os produtores, eu estava no olho da rua! Era isso...

Quando entrei na sala de reuniões onde ele estava. Eu me tremia inteira. Ele maneou a mão, como se dissesse "sente-se". E o fiz.

— Li o seu roteiro. — Disse sem rodeios.

— Senhor Dorney eu... eu....

— É muito bom, Montoya. — Me cortou. Arregalei os olhos como uma coruja. Ele disse que era bom?

— Você é uma viúva muito jovem. — Disse com uma nota de humor. Eu sorri. Sorri mesmo.

— Não sou viúva. — Falei afundando na cadeira.

Ele sorriu largo, projetado o corpo pra frente, apoiando na mesa. Jack tinha um sorriso muito bonito. Ele era um homem muito bonito. O cabelo longo, barba, olhos claros. E roupas estranhas. Acho que ele não tinha mais que 34. Jovem e viúvo. Como o roteiro.

— Mas é uma roteirista. Muito boa. Soube captar o luto muito bem, em diálogos. É genial. — Estalou a língua. — Jogue aquele take fora.

— O que?

— Jogue o take fora. — Disse me olhando sériamente. — Emma Filer, precisa de uma roteirista de apoio para nosso longa.

— Mas já não...

— Tínhamos achado uma roteirista sim, as pressas e ela saiu da produção hoje por problemas com o marido que colocou chifres nela e para se reconciliarem decidiram fazer uma segunda lua de mel por isso. Pois é, decadente. — Meus Deus, mas que babado!
Ele prosseguiu, cortando a fofoca. — E agora Emma ficou na mão, e eu achei uma roteirista muito melhor. E que se quiser, a vaga é dela...

E foi assim, que eu deixei de ser a garota do take.

Afastei as lembranças antes de chorar ao ouvir uma notificação no meu celular, havia uma mensagem de Kelsey me chamando para comermos no restaurante do hotel. Era uma boa, sair do quarto e falar um pouco de trabalho. Digo, para tirar pensamentos da cabeça.

Então me arrumei, e me coloquei para fora do quarto, de cabeça cheia, sequer olhando por onde andava. Até tropeçar em algo perto dos elevadores. Meu pé doeu instantaneamente.

Olhei para meu obstaculo, e havia ali uma bagagem, arranhada com meu sapato, uma bela mala Burberry. Mas também, o que aquilo fazia ali? No meio do corredor!

— Por acaso é cega? Não olha por onde anda? — Ouvi uma voz masculina perguntar, a voz firme, mas ríspida. Ergui os olhos. Ele.

— Não se você não sabe onde deixa suas tralhas. — Revidei. — Não tive a intenção.

— Mesmo assim fez.

Quem Sam Carvert pensava que era?

__________________

OLÁ PESSOAS ❤
Então, mesmo no início, essa história ja tem meu xodó.

E sim, a história se faz em pequenas memórias de Jack Dorney, até que seja a hora de descobrir porque acabou.

E SAM CARVERT APARECEU! Um docinho ele, um docinho.

Então é isso.

beijos

- cris

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