Summer Hall POV
Eu me arrependia de muitas coisas na vida: me arrependia não ter aprendido matemática básica desde cedo, me arrependia de não ligar pra escola quando mais nova, me arrependia de não confiar nas pessoas, me arrependia de achar que as coisas tinham que ser do meu jeito e o principal: Me arrependia de começar a beber tão cedo.
Eu tinha 15 anos, sexta feira, 2:30 AM.
Era uma festa — iguais as inúmeras que íamos aos finais de semana — na casa da Charlotte pra comemorar a nossa passagem para a final da liga de dança teen. A música tocava no último volume, estava sentada no colo de Zack quando algum menino teve a brilhante ideia de jogar beer pong e eu entrei
— Amor, você tá muito bebada e fumou também, para um pouco - Zack alertou mas eu preferi ignorar. Dei um selinho rápido nele e parei ao lado de Charlotte, que seria minha dupla
— Amiga, eu não tô bebendo hoje
— Eu bebo por você - Falei rindo
— Tem certeza? Você tá mal - Assenti e mandei que ela ficasse tranquila, que ganharíamos.
Bom, perdemos.
— Eu falei pra você não beber - Zack disse, me ajudando a andar
— Você é meu herói - Falei arrastada
— Você é o amor da minha vida - Disse me abraçando - Eu sempre vou estar aqui pra cuidar de você
— Eu sei disso - Sorri
— Preciso que fique sentada aqui enquanto eu pego água ok? - Assenti e ele me posicionou ao lado de Theo, meu melhor amigo.
— Theo - Murmurei
— Diga, princesa
— Eu vou vomitar - Não deu nem tempo do garoto se mover e eu comecei a passar mal ali mesmo, no meio da festa.
— Puta que pariu Summer - Ele me pegou colo e Zack veio correndo acompanhado de Lottie
— Leva ela pro banheiro do meu quarto - Falou e eles me levaram
Confesso que não lembro muita coisa que aconteceu a partir, são tudo flash's que confundem minha mente
— Não tem como ela dormir aqui - Escutei Lottie esbravejar, eles achavam que eu estava desmaiada na cama. Bom, em certa parte eu estava, mas conseguia ouvir
— Não tem como ela voltar com a gente - Theo disse - Nós não vamos pra casa
— Precisamos ligar pra mãe dela, qual é, ela tá desacordada e completamente bebada ali. - Meu namorado disse
— A mãe dela vai nos matar - Lottie murmurou. Eu não conseguia a ver, mas conhecendo bem minha amiga eu sabia que ela estaria andando de um lado pro outro tentando achar em outra solução. - Vocês ligam pra ela, vou tentar dar um banho nela pra ficar com uma aparência melhor
— Eu coloco ela na banheira - Zack disse e senti meu corpo ser levantado novamente e ser posicionado com cuidado na banheira
— Oi amiga, você vai ficar bem - Lottie murmurou - Sinto muito te fazer beber naquela brincadeira, eu sabia que você tava mal. - Ela passou a água gelada pela minha testa - Mas amanhã você vai tá bem e vamos rir disso no shopping né? É sempre assim, uma de nós passa mal e ficamos juntas o dia seguinte inteiro rindo da cara de idiota da outra
— A mãe dela tá vindo - Theo disse
Senti meu corpo voltar a ter consciência e consegui abrir os olhos pela primeira vez
— Como você tá? - Zack perguntou fazendo carinho no meu cabelo
— Tô bem - Murmurei - Quero ir pra casa
— Sua mãe tá vindo, amiga. Vem, vamos colocar uma roupa seca - Os três me ajudaram a sair da banheira e me secaram, Lottie ajudou a me vestir e ficou deitada comigo até minha mãe avisar que já estava aí
— Preparada pro castigo? - Theo brincou
— Não mesmo - Murmurei. Desci as escadas e a festa continuava intacta, o cheiro de álcool misturado com maconha, as pessoas dançando e beijando, pessoas se divertindo e tudo que eu queria era vomitar novamente. Saímos os quatro da casa e encontrei minha mãe, preocupada, encostada no carro
— Graças a Deus - Disse me abraçando - Obrigada por me ligarem
— Fica bem tá? - Zack disse me dando beijo na testa. Me despedi dos meus dois melhores amigos e entrei no carro, me preparando pro esporo.
— Você já sabe o que vou falar né? - Mamãe disse, após um tempo, quebrando o silêncio
— Que você tá decepcionada, que você não me criou assim, que não posso sair por aí bebendo até passar mal e que eu tô de castigo. Me poupe - Falei. Essa era mais uma das coisas que eu me arrependia
— "Me poupe"? Eu sou sua mãe. Se eu tiver que repetir esse discurso mais mil vezes significa que você não mudou, então não é me poupe senhorita. Você tem 15 anos porra, o que você tá pensando da sua vida? Você não tem noção não - Esbravejou me olhando - Me diz onde eu errei?
— Então pra você eu sou um erro?
— Você não é um erro, você tá errando, você é esperta que eu sei então não se faz - Disse
— Aí da um tempo, eu não posso beber com uns amigos?
— VOCÊ TAVA DESMAIADA SUMMER - Gritou
Não lembro muita coisa depois disso, veio à luz do caminhão e foi tudo tão rápido — Eu não acreditava nessa frase até realmente vivenciar — Um cara dirigindo um caminhão entrou na pista errada e bateu com tudo no nosso carro, que capotou e eu apaguei
A próxima coisa que me lembro é a voz da mamãe gritando pra eu acordar
— O que aconteceu? - Perguntei atordoada e tossindo
— Aí graças a deus você acordou - Disse - Preciso que você respire com calma, tá me ouvindo!? VOCÊ TEM QUE SAIR DAQUI AGORA - Gritou mamãe, em meio a tosses e gemidos de dor
O carro estava envolvido por fumaças, não conseguia respirar, meu corpo doía, minha cabeça sangrava, minha visão turva. Um terrível zumbido ecoa pelos meus ouvidos
— SUMMER VOCÊ TEM QUE SAIR AGORA - Olho ao redor e vejo que estou de cabeça pra baixo
— O que... o que aconteceu?
— O carro vai explodir, saí AGORA - Falou. Tentei sair mas o cinto estava preso e me fez desesperar, comecei a chorar gritando que queria sair - Você tem que se acalmar, Summie
Olhei pra mamãe que também estava presa, tinha um ferro atravessado por sua coxa mas ela só parecia se preocupar em me ver fora dali. Comecei a chorar mais
— Eu te amo mais que tudo, nunca se esqueça disso - Falou, entre tosses e lágrimas. - SAI SUMMER
Consegui desprender do cinto e cai com força, solto um grunhido de dor que parecia nunca parar
— Isso, meu amor - Disse sorrindo - Agora sai
— Não vou te deixar aqui - Falei chorando
— Filha, eu não sinto mais dor. - Sorriu de lado - Vá e procure ajuda
— Mas mãe...
— VAI PROCURAR AJUDA - Gritou e eu obedeci - Eu te amo - Lágrimas rolavam entre meus olhos
— Eu te amo - Respondi e sai correndo até a estrada, parando o primeiro carro que vi
— Minha mãe te presa no carro - Falei desesperada e o casal sai do carro. Aponto para onde o carro estavam e eles pegam o celular no mesmo instante
Foi quando meu mundo parou, as chamas chegaram na gasolina e o carro inteiro explode. Caio com forças de joelho no chão e começo a gritar, a mulher que estava no carro me envolve em um abraço e insiste em dizer que ficaria tudo bem
Spoiler: não fica
Mas não foi ali que mamãe morreu, não. Ela ficou bastante machucada, havia conseguido sair do carro segundos antes mas estava próxima demais da explosão
Por um milagre ela sobreviveu e ficou internada por mais alguns dias, que foi quando escreveu a carta. Em uma das cirurgias pra tentar tirar os estilhaços que sobraram da explosão que estavam perto do coração deu errado e antes dos médicos conseguirem retirar, o estilhaço pegou no coração e mamãe não sobreviveu — E nem eu, porque eu morri internamente naquele dia.