Desde o Princípio - Livro 1...

By LSOliveira80

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Pode o destino entrelaçar de tal forma três caminhos ao ponto deles se cruzarem, vida após vida, causando int... More

Nota da Autora + Book Trailer e Aesthetics
Epígrafe
Coimbra, junho de 1849
Viarello, agosto de 1849
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Desde o Princípio - Andrógenos do século XXI
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Viarello, novembro de 1847
Coimbra, dezembro de 1847
Capítulo 20
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24

Capítulo 21

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By LSOliveira80

O segundo homem

Já na redação, Cathy permanecia imóvel, diante do computador, lutando contra o desejo de definitivamente confirmar suas suspeitas sobre a soltura de Miguel.

Alguns cliques e com os dados que ela já tinha pesquisado inúmeras vezes, descobriria através do site do Tribunal de Justiça local se ele tinha conseguido a liberdade provisória. Alguns segundos e todos os indícios dos últimos dias — o telefonema, a moto e a silhueta na praia — tudo o que era somente uma suspeita, passaria a ser definitivo.

Então, a afirmação feita anteriormente, num tom tão seguro e falso, seria completamente verdadeira. E o tempo entre o presente e o reencontro começaria a correr numa contagem regressiva angustiante, que lhe roubaria a alegria de viver, sugando-a num vórtice maligno de expectativa e ansiedade.

Expirando lenta e profundamente, ela convenceu-se de que não lhe faria nenhum mal adiar aquela confirmação. Se pudesse pensar que ainda tinha tempo, talvez pudesse começar a considerar a ideia da amiga de não estar sozinha quando o reencontro acontecesse. Talvez pudesse, afinal, existir o tal segundo homem...

"Ótimo, agora estou mesmo querendo acreditar que sair por aí beijando na boca vai me ajudar em alguma coisa!!!", pensou, desanimada. "Catharina Hilário Batista, você é patética, patética, patética!!!"

___ Cathy, você é um gênio!!! — Thomas veio até ela, retirando-lhe de sua "esquizofrenia" para comentar que uma sugestão dada por ela no dia anterior, tinha o ajudado muito em um novo trabalho.

Agradecida — ela realmente adorava ajudar os amigos — ela se voltou para o seu computador quando ele se afastou.

Era incrível como as batalhas mais absurdas eram travadas no interior das pessoas, sem que ninguém mais pudesse suspeitar.

Pensando nisso, ela começou a abrir alguns arquivos, com a mente ainda longe do trabalho. A capa do quinto álbum da Legião Urbana, que estava colocada como papel de parede desktop, fez com que pensasse na noite anterior e logo, a mente trouxe novamente o arrepio sentido quando estava tão próxima de Eros, no carro.

Mais um suspiro. Aquilo era facilmente explicável. Muitos anos de abstinência sexual, ela era humana, afinal. E ele, o deus mitológico do desejo sexual.

Aquele pensamento levou-a a lembrar da irritação que surgiu quando percebeu que Cida estava doida para ser a primeira a "experimentar" o novo vizinho. Maneando a cabeça, Cathy tentou se livrar daquela sensação e fechando os olhos, pousou uma das mãos sobre a testa.

"Êta manhã difícil!"

Ela só podia estar enlouquecendo, essa era a única explicação! Só perdendo a razão a ideia de, não só envolver-se com um "segundo homem", mas envolver-se com Eros, nutrindo qualquer expectativa que não guardasse relação exclusiva com seu desempenho profissional, seria aceitável!

___ Cara, preciso trabalhar... — murmurou, abrindo os olhos — Preciso me concentrar alguma coisa útil antes que a ideia da Linda comece a parecer realmente interessante...

Um sorriso inesperado, no entanto, tomou conta dos lábios de Catharina, logo após aquela tão sensata constatação. E pela mente sabiamente controlada pela razão, emoções tão condenadas como "experimentar" algo novo, penetraram despercebidamente, quase sem querer.

Eros, que havia chegado e acabara de sair do elevador acompanhado por Dre, avistou aquele sorriso e sem suspeitar do que ele significava, deixou-se perder por alguns segundos nos pensamentos causados pela constatação ocular de que seria inevitável criar outras expectativas sobre sua colega de trabalho.

___ Bom dia, Cat cantora, dormiu bem? — Dre a interpelou, assim que parou com Eros em frente a sua mesa.

Como que acordando dos súbitos pensamentos causados pelas emoções que não se renderam a racionalidade, ela ergueu os olhos e deparar-se imediatamente com o personagem principal de seus pensamentos fez-lhe disparar o coração com tanta energia, que ela sem querer, deu um pulinho na cadeira.

___ Nossa, se eu não te conhecesse, diria que você não dormiu muito, tamanha a reação de quem é pega no flagra fazendo alguma coisa muito boa e errada que acaba de ter!!! — Dre disparou, gargalhando em seguida.

Cathy somente suspirou, erguendo as duas mãos aos céus, num gesto de quem estava bastante acostumada a ser saudada daquela forma pelo ex-parceiro:

___ Será que, não sei, como as pessoas normais, talvez, podemos começar o nosso dia com um simples e eficaz "bom dia"? — começou, num tom de bronca bastante brincalhão.

___ Hum, sei não, evasivas, esse comportamento está me parecendo comprometedor demais! — Dre insistiu — Só responda a pergunta e eu esqueço o assunto: dormiu bem, querida Cat?

___ Mas é claro que eu dormi! — afirmou, fazendo um gesto negativo de cabeça em seguida — E a julgar pela sua cara de felicidade, você não!

___ É por isso que eu digo: a Cathy é a única mulher na Baía dos Santos que realmente me conhece!

___ A única que não te conhece no sentido bíblico, você quer dizer, né? — brincou, divertindo Eros, que imediatamente começou a rir — Por um acaso não foi com aquela garota que mora com a...

___ É, aparentemente colegas de quarto ouvem certas coisas que as deixam muito interessadas!

___ Você é doente!

___ Hey, é um mundo livre, eu e as garotas, só estamos usufruindo o nosso livre- arbítrio!

___ Sei... Até alguém engravidar, aí acabou a liberdade! Ah, mas só para mulher na história, né? Porque para o homem é como se nada tivesse acontecido!

___ Nem vem!!! Joga essa praga para lá!

___ Tá vendo? Você só quer o bom da liberdade, nada das responsabilidades que vem com ela!

___Caraca Cat, vai se jogar numa piscina, comer chocolate ou qualquer coisa que você faz para aplacar sua energia sexual não utilizada!

___ Não tem argumentos e resolve apelar!

Ele implorou perdão de joelhos, numa cena típica e hilária, claro.

___ Em minha defesa, só posso dizer: todos sabem que chocolate é viciante! — brincou, passando uma das mãos pelo braço, para o maior divertimento dos outros dois — E já diziam os americanos, baby: "once you go black, you never come back1"!

Cathy gargalhou, levando as duas mãos ao rosto e demonstrando o seu completo inconformismo:

___ OK, acho que já provou o seu ponto de vista, agora será que pode me deixar começar o meu trabalho, por favor!?!

___ Falô para vocês!

Cathy ainda ria, quando se voltou para Eros, que fazia gestos negativos de cabeça:

___ Vê? — ela gesticulou, mostrando Dre — É assim que os dias começam por aqui, então, vá se acostumando!

Eros deu a volta para se sentar na cadeira que ela empurrou na sua direção.

___ O lado bom é que depois que a gente trabalha com o Dre, simplesmente se acostuma com tudo!

___ Acho que se ele continuar andando com o Crau, as coisas tendem a ficar ainda piores!

___ Ah meu Deus, será que isso é possível?!? — ela duvidou, enquanto tirava o blazer branco e colocava-o na guarda da cadeira.

___ Não só é possível como também bastante provável, então...

___ Deus tenha piedade de nós! — ela riu — E por falar em piedade... — abriu o arquivo sobre Bento Ferrari em sua tela — Preparado para ser diferente nas fotos com o "deus" do mundo da moda?

Enquanto Eros arqueava as sobrancelhas, duvidoso, ela prendeu os cabelos com uma presilha, cor-de-rosa como a miniblusa levemente decotada que estava usando.

___ Com certeza não queremos ele ostentando status e riqueza, sentado do que deve ser um trono e dando ordem a plebe, como um imperador! — comentou olhando diretamente para ela, que parecia especialmente bonita naquela manhã.

Cathy achou graça, pois era exatamente assim que ela visualizava o empresário.

___ É, ele me parece representar perfeitamente esse papel, por isso nosso mal fadado trabalho é focar num lado diferente do Ferrari!

___ E seguiremos a linha atual, nada de você, tudo do entrevistado?

___ Sim, por favor! — enfatizou — Não sou repórter, não quero aparecer! Se você quiser filmar tudo, depois editamos.

___ Tudo bem, quem sabe não conseguimos provas para uma ação criminal?

Ele estava impossível.

___ Ele não vai ser tão estúpido! Ou vai? Como é difícil achar qualidades nas pessoas que estamos predispostos a odiar... — suspirou, como quem falava consigo mesma.

Eros vibrava a cada crítica que ela fazia ao arrogante patrão do seu amigo — ele próprio já tinha visto o cara numa festa em Vila Velha do Caminho Real e o julgou um porre! E óbvio, faria tudo para cultivar a crescente implicância, também na sua parceira.

De sua mesa, Nes os observava, enquanto falava ao telefone. Aquele fotógrafo chamava-lhe a atenção, mas sabia que era por algo mais do que simples beleza — ele tinha um certo "q", alguma conexão que o fazia muito familiar e a julgar pela forma como já estava enturmado com Catharina, Agnes não era a única a sentir.

Tal constatação despertou nela um pressentimento ainda muito sutil, que sua consciência ainda não conseguia entender completamente, ou traduzir em palavras.

Por isso, ela anotou esses pensamentos num papel sobre a mesa, utilizando-se somente de figuras e símbolos, para que pudesse se lembrar depois, e não perdesse aqueles ricos insights na correria do dia-a-dia.

Mantinha um bloco sempre a mão quando falava no telefone, e tais "rabiscos", codificados de uma maneira que só ela podia entender, além de sempre serem extremamente úteis, impediam questionamentos por parte da pessoa sobre a qual ela escrevia. Para escrever sobre sua querida amiga Catharina, ela sempre utilizava o símbolo da estrela de cinco pontas. Para seu novo amigo, Eros Vicenzze, desenhou um V, só que de ponta cabeça.

Após desligar o telefone, continuou a observá-los por alguns segundos, rindo e conversando empolgadamente, voltados para a tela do computador de Cathy, antes de baixar os olhos para suas anotações.

Então, ao perceber o símbolo que tinha tão rapidamente escolhido para representar o novo amigo — o símbolo masculino, a metade da tatuagem de Catharina que tinha uma cor diferente — Agnes começou a pensar seriamente, que aquele podia ser o outro homem que aparecera em seus sonhos.

Sim, o segundo homem, porque o primeiro, todos sabiam de quem se tratava!

___ Parece que a Cathy já me superou completamente... — Dre dramatizou, interrompendo as divagações da bruxa — Só por que ele é maior, mais forte...

___ Dre, ele é definitivamente, mais! — riu, voltando os olhos para o carente amigo, que se debruçava sobre a mesa — Não vai me dizer que agora que conseguiu realizar o seu sonho de ir para a parte gráfica, está querendo voltar a ser fotógrafo?

___ Não, mas acho que vou me sentir muito sozinho trabalhando só com computadores. — afirmou, num tom de confidência e seriedade que só utilizava quando falava com Agnes, sua mentora — Vou sentir falta de estar o dia todo com a Cathy, rindo e brigando feito loucos, nos escondendo em favelas e banheiros sujos de bares...

___ Nossa, que romântico! — Nes brincou, mas sabia que ele estava falando sério — Acho que ela gostou do moreno, mas nunca vai esquecer esse negão aqui! – mimou-o.

___ Fiquei feliz quando ele chegou, sabe, mas agora já achando demais! O cara tá aqui há dois dias, já roubou a minha Cat e já tem fã-clube entre a mulherada!

___ Quem é que tem fã-clube? — Mel se interessou, sem fazer a mínima questão de disfarçar que estava de orelha em pé na conversa dos dois.

___ Acho que você é quem deve saber bem. — Nes retrucou — Sempre dá um jeitinho de ficar perto do Eros.

___ Imagine! Eu somente estou tentando reverter uma injustiça: por que Catharina está agindo como se ele estivesse aqui para trabalhar exclusivamente com ela?

___ Ela não está fazendo isso! Apenas tem a atenção dele, pois ambos têm uma entrevista com Bento Ferrari, daqui a pouco!

A baixinha conhecia muito bem o olho-gordo da colunista com relação à Cathy e sabia que não precisava de nada mais do que a verdade para colocar as coisas em pratos limpos.

Bufando, Mel afastou-se reclamando que não se conformava com a "proteção" que Catharina sempre teve naquela redação, mas que um dia, veria aquilo acabar!

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1 Uma brincadeira americana que pode ser traduzida livremente assim: uma vez que você experimenta um negão, não quer outra coisa!

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