A Brand New Day | TAEJIN

By reasontaejin

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[CONCLUÍDA] [FINALISTA DO WATTYS 2021] Seokjin do Leste sempre esteve fora da curva do esperado para alguém c... More

❉ Cast & Avisos
I - A New Place
II - A New Conception
III - A New Confident
IV - A New Feeling
V - A New Euphoria
VI - A New Vision
VII - A New Confession
VIII - A New Ally
IX - A New Despair
X - A New Rage
XI - A New History
XII - A New Shower Of Questions
XIII - A New Adrenaline
XIV - A New Way to Fall in Love
XV - A New Sensation
XVI - A New Revelation
XVII - A New Way to Feel Loved
XVIII - A New Predator
XIX - A New Truth
XX - A New Denial
XXI - A New Possibility
XXII - A New Way of Looking at Someone
XXIII - A New Facet
XXIV - A New Flame
❉Segunda parte do Cast & Mais avisos
XXV - New Rules
XXVI - New Friends
XXVII - New Ways To Be Affected
XXVIII - New Shared Secrets
XXIX - New Plan
XXX - New Pain
XXXI - New Punishments
XXXII - New Past
XXXIII - New Hopes
XXXIV - New Surprises
XXXV - New Souls
XXXVI - New ways to feel you
XXXVII - New Victory
XXXVIII - New Fail
XXXIX - New Victors
XL - New Future
XLI - A Brand New Day
Agradecimentos <3
ESPECIAL 40K - Fui eu quem te ensinou a lutar, não foi?

ESPECIAL 20K - De volta ao Norte

795 92 150
By reasontaejin


E LÁ VAMOS NÓS.

Sei que muita gente vai ver essa notificação aqui e tomar um susto, mas cara... eu PRECISAVA trazer um dos extras, principalmente quando eu bati o olho E A FIC ESTAVA COM 20K, MEU DEUS???? gente, até agora eu to embasbacada de FELIZ por isso aqui, EU NUNCA IMAGINEI QUE ABND PUDESSE CRESCER.

Todo dia, sem exageros, eu recebo notificações de novas leituras e fico UAAAAAAAAU. Dizer "obrigada" é muito simplório pra transmitir toda a gratidão que eu tenho por vocês transformarem essa fic num projeto memorável pra mim.

APROVEITANDO QUE ESTOU AQUI COF COF COF DEIXA EU FAZER UMA PERGUNTINHA AQUI, INSTITUTO ANA DE PESQUISA QUER SABER:

Se assim, por um acaso, uma editora resolvesse pegar ABND pra fazer físico, ces teriam interesse? 

Eu andei procurando algumas e hoje mesmo conversei com uma editora. Olha, seria um sonho realizado pra mim e eu confesso que se der certo eu vou ficar mtmtmtmtmt feliz

mas enfim eu to tão eufórica que to falando demais. Queria agradecer muito pelas views, votos, comentários (apesar de eu não estar mais respondendo os comentários daqui pq fica difícil, eu vejo TODOS ok? saibam que eu respondi mentalmente). Esse especial aqui veio e eu tenho outros pra trazer, mas peço que não esperem pq pode demorar e muito.

Espero que estejam se cuidando nesses tempos difíceis que estamos passando e que todo mundo esteja bem <3

Boa leitura meus amores (QUE NOSTALGIA DIZER ISSO AQUI)

══════⊹⊱≼≽⊰⊹══════

Entre todos os anos que se passaram depois da guerra, eu contabilizei, no máximo, seis voltas ao Norte. Agora a marca do tempo já dizia que haviam passado dezessete primaveras desde a queda de Donggun, mas voltar era sempre algo muito difícil, mesmo que parte de minha família e da família de Taehyung estivesse ali.

Eu sabia que não era o mesmo Norte, não havia a mesma dor de quando eu tinha vinte anos, que a população não padecia mais diante de fome e frio — nem medo —, no entanto era sempre muito estranho retornar, principalmente quando os dias eram nevados e frios. Me lembrava muito daqueles meses de agonia que já haviam ficado para trás.

Mas eu estava, agora, dentro do carro, olhando a paisagem branca das montanhas sinuosas outra vez. Com a tecnologia e a descoberta que fiz em outros continentes, as viagens ficaram cada vez mais práticas e rápidas, me libertando daqueles dias tortuosos dentro de carruagens, ouvindo o galope irritante de cavalos. Mas mesmo num veículo motorizado que nos locomovia com mais velocidade, eu ainda via naquela neve, naquelas montanhas e nas casinhas baixas do vilarejo, meu passado gritando dentro de mim.

Por sorte, Taehyung entrelaçou seus dedos aos meus naquela hora. Eu já deveria ter me acostumado, mesmo depois de tantos anos, a saber que ele sempre esteve ali ao meu lado e nunca fora a lugar algum, mas era sempre como a primeira vez, o primeiro toque reconfortante, garantindo sua presença vital que me fazia sentir confiante e seguro.

Meus olhos saíram de todo o cenário e se voltaram aos dele, encontrando amor, compreensão e palavras silenciosas de que eu não deveria ficar tão nervoso ao estar ali outra vez...

Mesmo sabendo que vivíamos em paz, sem conflitos grandes — apenas entraves irritantes com os Sulistas —, às vezes eu ainda era tomado por pesadelos. Os dias de tortura ainda me atormentavam em meus devaneios, assim como as cenas das nossas perdas significantes naquele dia. Lutamos bravamente para alcançar a paz, mas as cicatrizes da guerra sempre estiveram em nós, para que não esquecêssemos jamais.

Taehyung apertou minhas falanges de forma carinhosa e tocou minha pele com seu dedão, fazendo uma carícia quentinha enquanto me sorria. Seus cabelos estavam grandes, fazia tempo que ele não os aparava e, sinceramente, eu gostava assim... me lembrava de quando éramos mais jovens, pois ele ficava com a aparência quase igual a de seus vinte e três anos de idade. Continuava lindo, continuava a ser o amor da minha vida.

— Uma pena que esteja nevando — ele comentou com sua voz grave, mas suave. — Depois de tudo, os dias ensolarados aqui se tornaram bem mais bonitos.

— Toda vez que neva, eu lembro daquela época. — Suspirei — Mas está tudo bem. Não há como não lembrar, não é?

Ele sorriu pequeno e concordou, em seguida passando seu braço por minha cintura e me levando para mais perto de si, num abraço quentinho. Estranho como anos podem passar, mas seu porto seguro continua sendo a mesma pessoa...

Recostei minha cabeça em seu ombro e soltei mais um suspiro. Não só o fato de estar ali outra vez me preocupava, mas também o que nós havíamos deixado no Leste. Concordamos em não levar nosso filho dessa vez, pois nossa presença no Norte se tratava de uma reunião entre reinos, um adolescente, com certeza, se sentiria completamente entediado ali. O deixamos com Soomin e seus outros primos, assim como Yoongi e Hoseok também sentiram o pesar de não levar seus filhos, foi melhor... Soomin se sentiria completamente devastada de voltar naquele lugar, onde Seokchan havia morrido de forma brutal. Eu sabia que eles estavam bem, mas ainda assim, era preocupante.

— Ei — Taehyung chamou manhoso, tocando meu queixo com seus dedos longos. — Ele está bem, não precisa dar uma de pai coruja agora.

Fiz um bico e balancei a cabeça. Claro que ele havia sentido meus pensamentos e sabia que eu estava preocupado com Sunwoo, nossa marca sempre denunciava quando havia algo a mais.

— Ele reclamou muito por termos o deixado, você sabe. Seu filho é muito teimoso e resmungão.

— Parece com alguém que eu conheço — respondeu rindo e me fez revirar os olhos, contagiando-me com sua risada.

Logo mais, o terreno em que o carro andava foi mudando, passando da neve para uma estrada de concreto. Meus olhos foram de encontro à paisagem em minha frente e, por um segundo, perdi completamente meu ar. Lá estava novamente o castelo, tão grande e imponente como sempre foi, mas diferente em tantos quesitos que eu mal podia contabilizar. Não havia mais uma muralha enorme, cheia de soldados armados e mal encarados, apenas um muro simpático, com menos guaritas posicionadas. Os portões agora eram guardados por dois soldados, que assim que avistaram o nosso veículo, abriram com um sorriso no rosto, sabendo que a comitiva do Leste havia chegado.

Em todas as minhas voltas ao Norte, as últimas foram as em que eu me senti bem-vindo, não como da primeira vez, em que estava ali por pura pressão. Eu sabia que atrás daqueles portões um rei justo e digno nos aguardava, não haveria imposições, ordens abruptas, casamentos arranjados e muito menos tortura. Isso sempre me deixou aliviado.

Logo o motorista estacionou no pátio principal, sendo seguido pelos outros carros que vinham seguindo atrás de nós. Em um deles estavam Yoongi e Hoseok, no outro, Jimin e Taemin. Todos interessados naquela enorme reunião que aconteceria entre as províncias e, além disso, morrendo de saudades das pessoas queridas.

— Quem você acha que chegou primeiro? — Taehyung perguntou divertido.

— Com certeza a gente não foi. Hoseok demorou muito com as bagagens — respondi rindo. — Eu tenho certeza que Hyejin e Soobin já estão aí desde ontem.

— Conhecendo nossa querida rainha do Oeste, você tem toda a razão, meu amor.

Nós sorrimos cúmplices, era sempre incrível como ele me proporcionava o mais leve dos climas, mesmo quando eu estava ansioso ou nervoso. Talvez, não só a marca que ele fizera em mim fosse capaz de traduzir meu estado de espírito, mas também o fato de que Taehyung me conhecia melhor do que qualquer pessoa no mundo. Na mínima mudança de expressão, gesto diferente ou tom de voz distinto, ele conseguia saber que algo não estava certo. E era por isso que eu o amava tanto.

Saímos do veículo, pisando no concreto do grande pátio e eu agradeci por poder esticar minhas pernas depois da longa viagem. Atrás de nós, Hoseok vinha esticando seus braços e exclamando alto a satisfação por finalmente estar de pé, com Yoongi em seu encalço, distribuindo sonolência em seu rosto amassado de quem dormiu a viagem inteira. Por fim, Jimin e Taemin também saíram de seu carro, se juntando a nós enquanto nossos olhos fitavam aquela grande estrutura que um dia já foi nosso lar temporário e também nosso campo de batalha. Certas nostalgias não são tão agradáveis assim.

Logo as grandes portas foram abertas e delas eu vi a silhueta grande e forte do Alpha que saía dali com um sorriso enorme para nos cumprimentar. Namjoon não parecia ter marca alguma do tempo, continuava completamente elegante, mesmo depois de tantos anos. Seus cabelos também haviam crescido bastante e eram contidos pela coroa em sua cabeça — essa que era bem mais bonita que a de seu pai —, e as vestes reais eram grossas, para temporadas de inverno como aquela.

Ele se aproximou de braços abertos e não precisou de muito para Taehyung correr e abraçar o irmão de forma terna, tinha um bom tempo que eles não se encontravam. Hoseok fez o mesmo, nos deixando ter a linda visão dos três irmãos Alpha inseparáveis que conheci há muitos anos naquele mesmo lugar, mas em diferentes circunstâncias.

— Céus, que saudade que eu estava de vocês dois! — ele exclamou enquanto era quase esmagado pelos irmãos mais novos — Que bom que chegaram rápido.

— Você andou tomando banho no formol, irmão? — Hoseok perguntou. — Está tão conservado!

Eles riram juntos e eu não consegui esconder o meu sorriso. Esses três passaram uma vida juntos e estarem longe era, talvez, uma das coisas mais difíceis dentre suas decisões.

— Fofos — a voz suave de Jimin me deu um susto, mas logo então olhei para o Beta ao meu lado, que via a cena com seus olhos brilhantes. — É errado falar que eu senti um pouco de falta do Norte, JinJin?

— Se você tiver sentido falta da parte boa, não.

Depois de conter um pouco as saudades e ainda espalhar sorrisos satisfeitos, os três vieram até nós. Namjoon sempre teve cara de rei, não só cara, mas também trejeitos e competência para tal posição, e isso era algo satisfatório, pois o Norte sempre mereceu alguém como ele à sua frente. Com a mesma amizade e delicadeza de sempre, ele se colocou em minha frente e fez uma breve mesura.

"Ah é, eu também sou rei..." pensei comigo mesmo, esquecendo daquele fato.

— Rei Seokjin do Leste, seja bem-vindo de volta ao Norte — disse gentilmente, mas eu sabia que em sua voz também havia tons de divertimento.

— Pelo lobo, Namjoon do Norte, que história é essa? — indaguei rindo e logo puxei meu cunhado para um abraço apertado. — Onde está Jungkook?

— Lá dentro. Ele ainda odeia o frio, então achou melhor esperar vocês perto de uma lareira quentinha.

Olhei para Yoongi e ele só deu de ombros, errado nosso irmão não estava.

Demorou um certo tempo até que todos pudessem se cumprimentar e Namjoon finalmente dar sinal para que os funcionários — que agora não poderiam mais ser chamados de criados de forma alguma — levassem nossas malas e entrássemos dentro da propriedade, o que eu confesso que me deixava bem mais aliviado, pois eu era um cidadão do Leste e o frio e eu éramos inimigos de longa data.

— Hyejin e Soobin chegaram esta manhã — ele comentava enquanto andávamos juntos. — Estão lá dentro com Jungkook. E parece que nossa rainha do Oeste tem novidades.

— Que novidades? — perguntou Taehyung curioso e o irmão deu um sorriso leve.

— É melhor você ouvir da própria.

O interior do castelo estava completamente diferente do que já foi um dia. Nada, absolutamente nada ali era como há anos atrás, naquela época sombria. Namjoon havia feito questão de remoldar o Norte de dentro para fora, começando pelo tipo de governo, até mesmo também o luxo que era distribuído de forma completamente exagerada para governantes. O local estava mais simplório, agora com a eletricidade, que também foi uma das tecnologias compartilhadas com nosso continente, não havia velas e nem lampiões, mas lâmpadas e lustres. Os móveis ainda eram de madeira, pois os pinheiros seguiam sendo uma das obras primas mais importantes no Norte, mas eles estavam em menor número, como os tapetes e quadros nas paredes.

No topo da escadaria não havia mais mosaico. Foi substituído por uma vidraça lisa e sem desenho de lobo algum. Isso sempre me deixava aliviado.

Perdido na decoração que eu já havia visto algumas vezes, mas sempre me surpreendia, mal percebi que sofri um ataque em forma de abraço apertado, me pegando de surpresa e me fazendo sorrir no mesmo momento. Completamente feliz em me ver, Jungkook exclamava coisas quase sem sentido contra minha pele, mas eu não precisava de muito para entender que ele estava com saudades.

— JinJin, você demorou demais para vir me ver! — resmungou com clareza, finalmente.

— Me desculpe, Jungkook, eu realmente sempre estou muito ocupado lá em casa, fica difícil viajar sempre e—

— E ser o rei do Leste sempre te consome muito tempo, eu sei. Você sempre diz isso — me interrompeu com aquele sorriso fofo no rosto. — Mas eu estou tão feliz que você veio hoje!

— E eu? Você não tem saudades de mim não? — Yoongi resmungou com as mãos na cintura, quase esquecido pelo nosso irmão mais novo, que rapidamente o atacou da mesma forma fofa.

"Esses dois nunca mudam mesmo..." pensei comprimindo meu sorriso.

Mas, para completar a reunião atípica daquele dia, só faltavam aquelas duas figuras do Oeste, que já não fazia tanto tempo assim que eu não via. Apesar de morarmos nos dois extremos do mapa, a distância entre Leste e Oeste sempre foi mais curta do que até o Norte ou o Sul, pois o continente era estreito, tornando nossa distância estreita também. Eu via Hyejin e Soobin com uma frequência maior, mas não queria dizer que também não sentia falta deles.

— E finalmente vocês chegaram. Pensei que o carro tinha atolado nessa maldita neve — a voz dela se fez, aparecendo de repente do outro cômodo.

Aquela mulher era sempre elegante e confiante, ainda mais com a coroa cintilante em seus cabelos, agora curtos. Suas roupas nunca mudavam, o Oeste jamais abandonaria os costumes e sua moda era um desses costumes imortais. Ao lado dela, Soobin sorria com suas covinhas, nos recepcionando com toda a sua jovialidade eterna e a gentileza daquele garoto que eu conheci em uma situação terrível.

Os primeiros amigos que fiz na minha vida.

Dessa vez fui eu que não consegui me conter, então corri até os dois, abraçando-os em conjunto. Hyejin ainda tinha seu aroma de vinho tinto e Soobin o de algodão, e apesar de eu conhecer bem, eu sentia falta daquele conforto.

— Alguém está mais emocional do que o costume, Binnie — ela comentou achando graça, me fazendo revirar os olhos ao desfazer o abraço desajeitado. — Estávamos com saudades, Jin.

— Eu também estava com saudades de vocês. Muita — admiti.

Era sempre bom rever aqueles que estiveram ao meu lado no passado, no presente e estariam no futuro. Confesso que, por alguns momentos, eu me sentia jovem de novo ao olhar para eles, mesmo que minha juventude não tenha sido lá das melhores. Aquelas ocasiões sempre me fizeram perceber que eu nunca estive sozinho, mesmo morando longe dos outros, eu tinha vínculos fortes e consistentes. Dinheiro algum era capaz de comprar satisfações como essas.

Eu queria estender a conversa, poder falar com meus irmãos, meus cunhados e meus amigos, no entanto o cansaço da longa viagem me obrigou a ir logo ao quarto que tínhamos reservado no castelo — o antigo quarto de Taehyung. Depois de uma recepção calorosa, um número exagerado de abraços e sorrisos, Namjoon sugeriu que fossemos descansar antes do jantar.

Nosso propósito no Norte naquela viagem era um, mesmo que não parecesse: reunião entre reinos para discutir as políticas do continente. Era quase um balanço compartilhado, onde indicávamos inconsistências, números, problemas e também boas novidades. Era necessário que as províncias conversassem para que a harmonia fosse mantida e também a ordem.

O Sul, em todos esses anos, nunca participou disso. Na verdade, naquele momento a Província dos Bárbaros se encontrava numa crise gigantesca, tanto política, quanto social. Sem recursos compartilhados, era difícil manter uma população. Fome e miséria eram realidades ali, assim como um governo autoritário. Eu já conhecia essa história bem até demais. A diferença drástica entre o Sul e o Norte do passado, era que o rei não era nem de perto uma ameaça para nós, mas isso também não queria dizer que aquela província não fosse uma preocupação para todos. A guerra do passado não era motivo para que simplesmente fechássemos os olhos para o que estava acontecendo, no entanto, como não havia acordo entre nós, não era possível simplesmente intervir sem conflitos.

E eu não queria mesmo outra guerra. Nunca mais.

Eu pensava nessas questões enquanto sentia a água quente me relaxar, além das mãos suaves do meu Alpha que me acariciavam. A mesma banheira em que compartilhamos o banho diversas vezes permanecia no quarto. Na verdade, os aposentos de Taehyung não haviam sofrido alteração com o tempo, como o castelo. Ainda havia a cama em que me entreguei a ele diversas vezes, os móveis gastos e o mosaico com seu lobo. Mas aquele era diferente, ele não me trazia más lembranças ou pesadelos... me lembrava quem ele sempre foi.

— Você anda bem pensativo hoje, mas não compartilha muito comigo. Eu só consigo sentir que você está preocupado — sussurrou em meu ouvido enquanto me levava para um abraço.

— Um rei que está em paz todo tempo não é rei — respondi no mesmo tom, me deixando recostar o corpo em seu tronco.

— Não é bem assim quando estamos em casa, amor. Você até fica preocupado e estressado... mas sempre me conta as coisas.

Suspirei profundamente, ele tinha toda razão. O Norte me deixava mais tenso do que o normal e eu mesmo sabia que não era bom para mim. Sequelas de um tempo morto ainda corriam pelo meu corpo, como se assim que eu fechasse meus olhos, pudesse reviver tudo aquilo outra vez.

— Tem razão — admiti baixinho, minha mão deslizando até encontrar a sua e entrelaçando nossos dedos. — Me desculpa... é só que eu acho que nunca vou me sentir confortável aqui, mesmo que tudo tenha mudado e tantos anos tenham se passado.

Devagar, ele assentiu silenciosamente e logo pude sentir seus lábios deslizando por meu pescoço, indo de encontro com a marca. Era um maldito jogo sujo de Taehyung, onde ele sabia que ali era meu ponto fraco e me estimulava mais do que devia. No entanto, eu era capaz de sentir que suas intenções não eram aquelas com a carícia feita e o beijo deixado de forma terna em minha pele. Ele queria que eu relaxasse um pouco.

— Ninguém nunca disse que você precisa se sentir em casa aqui, até porque essa não é a nossa casa, amor. Essas visitas que fazemos são por pura obrigação e todos entendem seu desconforto, então não se preocupe, apenas ficaremos três dias e depois voltamos para nosso castelo, nossas praias, nosso filho... — sussurrou suave no pé do meu ouvido enquanto seus dedos distribuíam carícia nos meus.

O corpo dele colado ao meu me trazia a melhor das sensações de paz, mesmo no caos que era minha cabeça. Taehyung sempre foi o remédio, a cura que eu precisava. Me permiti fechar os olhos, apenas sentindo-o ao meu lado, sem precisar me justificar ou falar muito.

— O que eu faria se não tivesse você, hein? — Minha voz saiu quase arrastada enquanto sua outra mão acariciava minha cintura.

— Provavelmente iniciaria outra guerra só para que nós pudéssemos estar juntos outra vez — respondeu, agora voltando a beijar meu pescoço. — Assim como eu seria capaz de derrubar aquelas montanhas, incendiar um continente e arrancar mil cabeças para ter você comigo para sempre, se fosse preciso.

— Como meu Alpha é romântico... — Ri baixinho e eu senti sua respiração quente no meu pescoço. — Por falar em montanhas...

— Sim?

Abri meus olhos e virei minha cabeça para poder olhá-lo melhor. Céus, que homem lindo, ele não cansava de ser o homem mais bonito do mundo o tempo todo?

Me recompus dessa constatação repentina e então disse:

— Nós nunca mais voltamos naquele lugar.

Taehyung franziu o cenho como quem para e pensa por alguns segundos. Em todas as viagens feitas ao Norte, nunca nos ocorreu de voltar lá, naquele lugar especial, onde tudo começou entre nós dois, onde nos escondíamos do mundo e fingíamos que não existia mais nada acontecendo além de nosso amor. Onde ele me ajudou a treinar e me tornar um lutador de verdade, me fazendo mais forte do que eu já sabia que era.

— Você quer ir ao Refúgio do Príncipe? — perguntou pendendo a cabeça para o lado. — Amor, aquele lugar deve estar terrível. Nós não pisamos lá há dezessete anos, Jin.

Certo, ele tinha um ponto. Além da poeira, deveria estar tudo caindo aos pedaços. Mas eu queria poder voltar lá. Em todo o Norte, que me trazia lembranças ácidas de uma época obscura, o Refúgio do Príncipe era o único lugar em que eu não me senti ameaçado. Foi ali que beijei Taehyung pela primeira vez, que nos entregamos um ao outro pela primeira vez e o perdoei pela primeira vez também.

Estarmos juntos por tanto tempo nunca significou que éramos perfeitos. Com o passar dos anos, o casamento também trouxe outras coisas além da felicidade e da cumplicidade e isso queria dizer que brigamos outras vezes, nos magoamos e choramos. Nunca poderia se comparar àquela vez, isso era um fato, mas ainda assim nós éramos apenas duas pessoas suscetíveis a todos os sentimentos que alguém poderia sentir.

Voltar ali, significava para mim poder resgatar as únicas coisas boas daquele lugar nevado, viajar pelo tempo e me sentir mais confortável, relembrando intensos momentos que ajudaram a construir o Seokjin que eu era hoje.

— Vamos lá, por favor? — pedi com jeitinho.

E o que eu não pedia com jeitinho que Taehyung não fizesse com todo amor do mundo, não é mesmo?

Um biquinho e um olhar de lobinho que caiu da mudança eram o bastante para que aquele sorriso retangular surgisse, seus olhos se fechassem e ele assentisse vencido. Nem precisou de muito.

— Tudo bem, amor. Podemos ir lá amanhã. Mas se você reclamar da sujeira e das ratazanas...

— Vai fazer o que? — Ergui a sobrancelha de forma desafiadora — Me bater e me chamar de lobo mau?

Ele virou meu corpo na banheira, me colocando em seu colo e me segurando pela cintura. Com o olhar desafiador e sedutor ao mesmo tempo, eu percebi que minha provocação tinha dado certo, pois era essa a exata reação que eu esperava dele. Seu rosto se aproximou novamente da minha marca e logo sua língua quente se arrastou por ali, arrancando o mais pecaminoso dos gemidos da minha garganta.

— Não. Isso eu vou fazer com você agora mesmo.

"Meu lobo mau..."

E como um tiro certeiro, Taehyung conseguiu, mais uma vez, me deixar nas nuvens. Me beijando e me apertando contra seu corpo, ele cumpriu o que prometeu dentro daquela banheira.

E poderia ser a milésima vez, mas sempre era intensa como a primeira.

══════⊹⊱≼≽⊰⊹══════

Talvez tenhamos demorado mais do que devíamos no quarto, mas nosso atraso não foi comentado e ninguém reclamou também. Ótimo para nós dois.

A noite caiu muito rápido e logo o cheiro delicioso do jantar já passeava pelos corredores do castelo. Eu estava realmente faminto e ansioso para o jantar enquanto nos sentávamos em nossos lugares na grande mesa. Na ponta, rei Namjoon do Norte conversava de forma animada com Hoseok, que estava ao seu lado, enquanto Taehyung estava do outro, falando sem parar com Yoongi sobre algo relacionado a academia de luta, que ficara também sob os cuidados de Soomin em casa. O burburinho era bom e confortante, me fazia ter certeza de que todas as pessoas que eu amava estavam ali.

Ao meu lado, Hyejin me contava sobre como os filhos de Soobin e Yeonjun estavam se tornando duas cópias de Moonbyul, lutadores engraçadinhos e sem muito filtro. A ausência dela ali fez até eu sentir saudades de sua falta de noção.

Assim que os funcionários serviram o jantar, eu quis atacar a comida de pronto, mas foi o ponto de partida para que nosso anfitrião pegasse a taça de vinho e erguesse no alto de seus olhos, nos levando a repetir o movimento.

Eu só queria comer!

— E mais uma vez estamos reunidos aqui, governantes das províncias do nosso continente. Estou imensamente feliz de poder matar a saudade de meus irmãos, cunhados e amigos. No entanto, por mais que seja como um grande jantar em família, sabemos o nosso propósito aqui hoje.

— Negócios, uau, que divertido — ouvi um resmungo irônico e eu tinha certeza que ele partiu de Hoseok.

Namjoon lhe lançou um olhar que lhe dizia silenciosamente "cale a boca ou não tem sobremesa para você", se recompôs e então nos olhou um a um.

Esse evento ocorria de tempos em tempos, às vezes no Oeste, às vezes no Leste e também no Norte. Era sempre a mesma coisa, a mesma nostalgia, mas estar ali, para mim, era outra coisa. Acarretava em todas as preocupações que eu já havia citado, mas eu preferi não deixar ninguém perceber isso.

— Bom, nem todos os cônjuges puderam vir hoje, infelizmente, e meus filhos estão com a avó, o que nos dá espaço para podermos debater com mais liberdade. Podemos começar, então. Hyejin e Soobin, nos dão a honra?

A Ômega e seu irmão Alpha assentiram, baixando suas taças. Ela limpou a garganta e ajeitou a postura, preparada para seu relatório.

— O Oeste, atualmente, está tranquilo. Recentemente, Soobin fechou negócios com um continente mais distante e nós temos trocado bastante obra prima têxtil por novas tecnologias, e pretendemos compartilhar com todos vocês. Além de eletricidade e automóveis motores, nos ofereceram algo para agilizar nossas produções. Máquinas.

— Máquinas? — indaguei curioso.

— Sim, isso mesmo. A colheita do algodão ainda é mais lenta do que deveria porque é feita manualmente, pelos trabalhadores da província. Um dos continentes nos ofereceu esse recurso e, também, ofereceu ensinar a usar, para que pudéssemos fazer a colheita em menos tempo. Os trabalhadores aprenderão a usar essas máquinas colhedoras, assim ninguém fica desfalcado. E, detalhe, não serve só para algodão, mas para outros tipos de colheita também.

Certo, eu nem preciso dizer que minha boca quase foi até meus pés. Ainda era muito estranho que o mundo inteiro estivesse girando numa órbita completamente diferente da nossa e não conhecêssemos tudo o que eles tinham. Donggun foi tão maléfico para aquele pedaço do globo, tão inútil, que ficamos séculos atrasados em comparação ao resto.

— Isso é ótimo! — Taehyung exclamou admirado — Com isso nós vamos conseguir acelerar muito mais a economia do continente.

— Sim, inclusive gerar mais empregos também — Soobin completou contente. — Mais produção exige mais pessoal, então é uma ótima notícia para todos nós. Em breve vamos receber as máquinas e vamos, também, repassar para vocês.

Eu gostava de ver como nosso pequeno pedaço de mundo ia evoluindo depois de tanto retrocesso. Saber que as pessoas tinham chances concretas e reais de poder crescer era o mais satisfatório, pois mostrava os resultados de nossos esforços e que eles valeram à pena.

— Essa era a novidade que você mencionou, Namjoon? — perguntei.

Ele negou com a cabeça e manteve seu sorriso de covinhas.

— Vamos deixar essa para o final. Dando seguimento, você poderia fazer o relatório da situação do Leste, Rei Seokjin.

Rei Seokjin, isso ainda me admirava mesmo depois de tantos anos.

Assenti, cruzei meus dedos sob a madeira da mesa e confesso que senti meu estômago reclamar de fome, mas quanto mais rápido aquilo fosse, mais rápido eu poderia comer, então iniciei de uma vez sem mais delongas.

— O Leste está ótimo também. Desde que Taehyung, Hoseok e Yoongi abriram a academia de luta e começaram a incentivar pessoas de todas as idades, isso trouxe também um aumento grande de pessoas que iniciaram e retomaram seus estudos. Nós temos vivido da pesca, acima de tudo, e recentemente ampliamos o nosso porto, recebendo visitantes e importações de fora do continente. Fizemos um senso nos últimos dois anos e a aprovação dos novos governantes é unânime, absolutamente ninguém sente falta de... de Sangwoo. — Engoli em seco nas últimas palavras. Lembrar do nome do meu pai era sempre um jeito amargo de lembrar que ele havia morrido há alguns anos, e mesmo sozinho naquela cela, não havia aprendido nada.

— Bom, se houvesse alguma alma que sentisse falta daquele tempo, eu realmente ficaria surpreso — Taemin disse coçando seus fios. Dentre todos nós, ele foi um dos que mais sentiu na pele o que era ser escravo, não servo, então com certeza ele estava bem melhor agora.

— Acredite, tem gente no mundo que é capaz disso — Jimin suspirou. Ele tinha toda a razão e eu sabia bem do que ele estava falando.

Sulistas. Esses sempre foram completamente intransigentes, mesmo diante de uma derrota tão grande. Muitos deles bradavam que Ômegas não deveriam estar em posição de poder, que a supremacia Alpha era muito mais benéfica e lógica, o que nunca foi verdade. Se nós nos sentíamos atrasados, eles estavam na idade da pedra ainda.

— Bom, vejo que está tudo certo também. Bom saber que o trabalho de vocês tem gerado mais frutos do que o esperado e isso me deixa feliz. Estamos pensando em fazer o mesmo no Norte, mas ainda procuramos por pessoas dispostas a ensinar — Namjoon disse. — Aproveitando esse gancho, vou finalizar o relatório falando do Norte. Há pouco mais de um ano, nós enfrentamos um dos invernos mais rigorosos, o que abriu margem para que a população ficasse doente em peso. Jungkook teve a gloriosa ideia de juntar todos os curandeiros e abrir um hospital no centro do vilarejo. A ideia brilhante dele chegou nos ouvidos dos outros continentes e eles enviaram médicos para ajudar, e esses resolveram ficar. Com isso, um processo de imigração começou e agora o Norte está recebendo gente de fora... Isso é simplesmente surreal.

Pessoas de fora vindo para a nossa terra e ficando... é, por essa eu realmente não esperava. Ainda não conseguia acreditar que nós estávamos mesmo abertos ao mundo, finalmente. Não vivíamos mais dentro de uma bolha e agora possibilidades eram gigantes, infinitas! Eu também queria receber pessoas no Leste, abrigá-los, conhecer mais gente, transformar nossa casa em seu lar. A ideia me pareceu tão boa que anotei mentalmente para a próxima vez que eu fosse viajar para fora.

No fim das contas, aquela "reunião de balanço" me deixou com melhores expectativas. Ir ao Norte sempre era algo que me incomodava por conta dos traumas, mas eu estava realmente feliz de poder estar ali naquele ano. Nós discutimos mais alguns pontos sobre matéria prima e fizemos alguns combinados, então finalmente liberaram o jantar.

E céus, eu estava prestes a comer um cavalo inteiro se deixassem.

Jiwoo e Woobin estavam bem mais velhas do que quando as conheci, mas ainda trabalhavam arduamente e colocavam amor em todos os alimentos que nos provinham. Estava tudo ótimo, como sempre, e se eu disser que eu não tive vontade de abrir os botões de minhas calças de tanto que eu comi, estaria mentindo.

Quando estávamos todos satisfeitos e levemente alterados por causa do vinho, foi a vez da nossa Rainha do Oeste pedir a palavra novamente. Confesso que eu estava curioso para saber qual era a tal novidade que ela tinha, então fui o primeiro a me calar para que ela falasse.

— Eu sei que vocês querem se embebedar ou no caso de outros — Me deu uma olhada torta — ir para o quarto acasalar, mas antes ouçam isso, é importante.

"Eu só não bato nela agora mesmo porque sou muito educado" pensei revirando os olhos.

— Então diga de uma vez — resmunguei e ela me devolveu o gesto com uma piscadela.

— Certo. Eu deveria ter dito isso mais cedo, na reunião, mas é algo que está fora do balanço. — Ela iniciou e em seguida, levou a mão até um bolso acoplado que havia em seu vestido, tirando dali um pedaço de papel dobrado. — Isso é do interesse de todos, então ouçam com atenção.

Ela limpou a garganta outra vez, desdobrou o papel e logo as palavras escritas saíram de sua boca.

"Majestade Hyejin do Oeste,

Talvez esta carta não chegue até vossa majestade ou a nenhum dos outros reis, porque sei que não usam mais águias como forma de correio, mas eu precisava tentar de alguma forma. Rezo para que possa estar com ela em mãos agora.

Há dezessete anos, o exército do Sul marchou até o Norte, soldados deixaram de dormir para viajar e chegaram tão rapidamente, que puderam fazer um estrago enorme em vidas inocentes naquela guerra. Eu fiz estragos irreparáveis. Mas perdemos, desde aquele dia, os sulistas reconhecem sua derrota, mesmo que tenham permanecido orgulhosos diante do fato.

No entanto, orgulho algum é capaz de salvar uma população doente. Certas enfermidades não afetam somente o físico, mas também a alma. E é por isso que lhe envio essa carta, com sentimentos de arrependimento por todos estes anos e com a vergonha estampada em meu rosto, assim como em minhas palavras.

O Sul está definhando aos poucos. Desde que assumi a coroa, venho pensando em mudar inúmeras coisas, tentando enxergar acima do bárbaro que eu era e moldar nossa província de forma diferente. Mas, mesmo que eu tenha uma coroa pesada em minha cabeça e um título estúpido, as pessoas à minha volta, não permitem. Eles defendem arduamente que o continente tem um destino único, que é o do caos.

Fiz muito mal a vocês, principalmente a alguém em especial, por isso não tive a decência de enviar esta carta ao Leste. Mesmo sabendo que o Rei do Norte é gentil e diplomata, tenho certeza que o Sul é uma lembrança ruim para ele também, pois o tirano que ocupava seu lugar anteriormente veio daqui. No entanto, em minha concepção, a atitude mais digna de alguém é reconhecer os atos e enfrentar as consequências, por isso estou escrevendo.

O Sul precisa da ajuda do resto do continente. Não temos remédios, nossa comida está escassa, as pessoas estão morrendo e as únicas riquezas que temos estão indo direto para a comitiva real e os conselheiros. Tentei impedir isso, reorganizar tudo para que a vida tenha ao menos um pingo de dignidade aqui, mas estou ameaçado de morte por generais do exército. Eles me querem apenas como um símbolo, pois ninguém jamais se atreveria a assumir o posto de rei e ser odiado por todo um continente. Estou sendo usado e a população vem sofrendo por isso.

Clamo por uma intervenção, que talvez não seja nada pacífica, mas seja a melhor das soluções. Já destruí vidas demais no passado, já agi como um animal em prol da guerra e de crenças que vejo não serem as certas. A doença que Donggun espalhou no passado, não pode se alastrar no futuro.

Não deixem isso acontecer novamente. Por favor.

Rei Jooheon do Sul"

Cada palavra daquela carta entrou em minha mente, fazendo meu mundo girar rápido. Jooheon acabou com a vida de inúmeros outros naquele dia fatídico. Eu ainda o odiava e não queria ter que ver seu rosto nunca mais na vida, mas não podia ignorar o que ele clamava com desespero.

Ser rei me fazia pensar e tomar decisões que eu não gostava, era algo que eu ainda precisava trabalhar para entender, mesmo depois de tantos anos na coroa. Eu não queria mais guerras, há muito tempo eu sequer assumia a forma lupina, para mim era demais ter que reviver tudo aquilo outra vez, ver sangue e gente morta.

Mas as pessoas precisavam de nós...

— Seokjin? — ouvi a voz de Soobin me chamar com preocupação.

Eu mal percebi que enquanto absorvia tudo, minhas mãos tremiam enquanto eu segurava a taça de vinho, ao ponto de trincar o vidro dela. Voltei meus olhos assustados para todos e percebi que eu era observado com hesitação.

— Jin... o Leste não precisa se envolver diretamente se você não quiser — Taehyung sussurrou, afagando minha mão.

Seria eu covarde de fugir, sabendo que as pessoas precisavam de nós outra vez, ou deveria reviver aquele trauma pelo bem maior?

Céus, era uma decisão completamente difícil e eu não tinha resposta imediata.

— Precisam de nós — falei simplório, minha voz estava completamente irregular. — Mas eu não sei se consigo de novo... lutar, ver sangue, matar... não...

Namjoon suspirou, obviamente ele já havia pensado naquilo muito mais do que nós, pois já sabia antes da carta. Dentre todos os reis, ele era o mais político e entendia melhor de diplomacia, assim como de estratégia de guerras. Eu confiava no rei do Norte e implorava que ele tivesse uma solução.

— Eu tomei a liberdade de decidir antes de vocês chegarem, para preservar a saúde mental de alguns. Por isso, tratei como uma boa novidade, mesmo que à primeira vista não pareça. O Norte e o Oeste vão intervir diretamente, na verdade, já começamos a planejar isso e vamos tentar não resolver nada com conflitos armados. Se for preciso, não queremos te envolver nisso, pois antes de governantes, nós somos sua família e te entendemos. A intervenção vai ser bem sucedida e não resta dúvida alguma, por isso, a boa novidade é que finalmente iremos unificar todo o continente.

Por mais que fosse um grande sonho de todos nós ver todo o continente unido e em paz, eu não estava pronto para voltar para um campo de batalha e enfrentar pessoas como Donggun outra vez. Fiquei feliz que Namjoon pensou no Leste, pensou em mim e isso me aliviava muito.

Lancei-lhe um olhar grato enquanto sentia a mão de Taehyung na minha, eu sabia que Norte e Oeste fariam um bom trabalho e nossos dias seriam ainda mais brilhantes depois da unificação.

A vida de um governante era sempre essa... ter que lidar com conflitos, pensar na população que dependia de si e trabalhar por dias melhores. No entanto, antes das coroas em nossas cabeças, o coração batia forte em nossos peitos, mostrando que éramos humanos acima de tudo e nem sempre estávamos dispostos a colocar a cara a tapa para tudo. Sempre há uma solução, mesmo que ela doa, mesmo que ela chateie, mesmo que você se sinta impotente.

Minha ajuda para o Sul viria com o tempo, dando o que as pessoas em situação extrema precisavam, demonstrando apoio, abrigando aqueles que necessitavam de um novo lar. Eu não precisava estar lá para participar disso, não é?

O Leste estaria de braços abertos. Assim como eu.

══════⊹⊱≼≽⊰⊹══════

Nossa primeira noite no Norte foi tranquila. Depois do jantar, nos juntamos todos no salão de convivência do castelo e ficamos por horas a fio conversando sobre nossas vidas. Estar mais velho, ter filhos e ser rei ou rainha era complicado, mas ao mesmo tempo, a vida era boa para todos nós.

Mesmo que as marcas do tempo viessem e nos atingissem, sempre parecíamos os mesmos jovens guerreiros que um dia passaram sufoco, com a diferença ótima de que agora estávamos em paz. Nosso vínculo familiar era o melhor de tudo, pois ele não se limitava apenas ao sangue, mas como também ao de alma.

Fiquei bem mais tranquilo, tanto sobre a questão de estar de volta àquele lugar, quanto na questão do Sul. Eu relaxaria mais com o tempo e sabia que a felicidade chegaria a passos mais lentos, mas viria.

Taehyung e eu dormimos tranquilos, mas decidimos acordar bem cedo na manhã seguinte. Iríamos voltar ao Refúgio do Príncipe depois de dezessete anos...

Como se eu tivesse voltado no tempo, coloquei as botas apertadas, uma calça justa, uma camiseta de seda branca de botões e o casaco de pele pesado. Me olhei no espelho antes de finalmente descer as escadas e vi como eu estava parecendo aquele antigo Jin. Confesso que sorri.

De mãos dadas, fomos até o pátio principal, onde o cavalo nos esperava. Claro que havia maneiras mais rápidas de chegar nas montanhas, mas queríamos fazer exatamente como antes, como tudo começou.

— Parece que tenho vinte e três de novo — Taehyung disse divertido enquanto nos ajeitávamos no equino.

— Vai me chamar de Ômega Revolucionário para completar a nostalgia?

Ele riu mais alto e balançou a cabeça. Deu o comando para que o cavalo começasse a galopar e, assim, saímos das propriedades do castelo.

As montanhas eram a única coisa completamente imutável do Norte. Continuavam com sua gigantesca altura e as pontas que lembravam uma coroa. A visão daquela paisagem me transportava pelos anos e meu coração começava a ficar acelerado, como se fosse a primeira vez em que eu fui treinar, ou como no dia em que Taehyung se revelou o mascarado para mim.

Eu sentia a brisa fria lambendo meu rosto e olhava para todos os lados, imaginando mil e um cenários em que já fui protagonista naquele lugar.

Não demoramos tanto para chegar e logo avistamos aquela caverna embaixo da montanha, assim como a grande área em que treinávamos. A cidade fantasma já não existia mais... as casas destruídas e os ruídos do vento agora se transformaram em um lugar vazio, mas não amedrontador. Não sabia quais eram os planos de Namjoon para aquele lugar, mas sabia que eles existiam.

Rapidamente descemos do cavalo e eu não contive o sorriso ao observar o que havia ao meu redor. Os alvos de madeira ainda estavam lá, a tinta gasta e a estrutura mais velha, porém com as mesmas marcas de flechas que outrora deixamos por ali. A neve no chão me lembrava das lutas de espada com Taehyung e em quantas vezes nos derrubamos e transformamos aquilo em momentos de nós dois.

Ele entrelaçou seus dedos nos meus e me lançou um olhar carinhoso, eu sentia a sua nostalgia através da nossa ligação e era bom saber que ele havia ficado feliz de poder voltar ali também.

— Quer entrar lá? — indagou apontando com a cabeça para a entrada da caverna.

— É o que eu mais quero agora.

Me sorriu animado e então finalmente andamos ansiosos. Em minha cabeça, tudo estaria uma bela bagunça de poeira e teias de aranha. Anos e anos a fio e ninguém sabia daquele lugar, pois ele sempre foi só nosso.

No entanto, ao entrarmos ali, nossa surpresa foi completamente diferente, fazendo nossos olhos se arregalarem e nossos corações baterem forte num uníssono.

Tudo estava limpo e exatamente do jeito que sempre foi.

A cama tinha lençóis limpos e estava arrumada. As paredes de pedra ainda seguravam as armas que um dia Seokchan fez para nós, assim como nossa chaleira e as xícaras, em perfeito estado, estavam na mesinha. A lareira estava abastecida com lenha nova e tudo parecia bem cuidado, nada de bichos ou sujeira.

— Mas... como? — ele se perguntou chocado, analisando cada cantinho.

Soltei meus dedos dos seus e comecei a caminhar lentamente, imaginando como aquilo poderia estar tão bem preservado depois de tantos anos. Ao mesmo tempo que eu era consumido pela incrível nostalgia, era também pelo pela surpresa e curiosidade daquilo.

Fui até a parede e toquei aquelas espadas com carinho e admiração, me lembrando daquele doce homem de cabelos brancos que um dia as fez para nós. Seokchan era memorável em nossos corações e não havia um dia sequer que eu não lembrasse de toda a sua bondade.

— Amor, olha isso aqui — Taehyung me chamou, tirando a atenção voltada para as armas e direcionando para si.

Ele estava ao lado da mesinha, um papel em suas mãos marcava o motivo do sorriso em seu rosto. Me aproximei dele cheio de curiosidade e então me mostrou o conteúdo ali escrito.

"Eu sabia que esse lugar era especial para vocês e uma mulher muito forte e determinada me contou sobre ele há muitos anos atrás... Se lembram da Comandante Irene, não é?

Claro que se lembram...

Desde então, venho preservando suas memórias aqui com cuidado, pois sabia que um dia iriam querer retornar. Espero que possam reviver os bons momentos em seu refúgio. Sempre que vocês voltam ao Norte, mando alguém para ajeitar o lugar. Dessa vez acertei.

Espero que tenham gostado da surpresa.

Namjoon

"Esse Alpha realmente não existe..." pensei sorrindo ao terminar de ler. Namjoon sempre demonstrou um afeto por nós dois como casal e isso era nítido em atitudes como aquela. Meu coração nunca esteve tão agradecido como naquele momento.

Taehyung deixou o bilhete onde encontrou e não demorou até passar seus braços em minha cintura, me puxando para perto de si enquanto beijava meu pescoço. Eu podia sentir seu coração batendo enquanto nossos corpos estavam coladinhos, ele estava muito feliz — e eu também.

Seu corpo quentinho e seu aroma igual o da nossa casa fizeram com que eu fechasse os olhos, apenas aproveitando novamente aquele lugar, aquele momento com ele.

Mudei muito com o passar dos anos e isso era um fato, mas ele sempre me fazia sentir o mesmo bobo apaixonado, agora ainda mais, estando onde tudo começou.

— Você lembra da primeira vez que estivemos aqui? — sussurrou lentamente.

— Como eu poderia esquecer? — respondi com um sorriso de canto. — Você me trouxe para treinar, eu estava chateado por conta daquele projeto de beijo que você me deu no castelo. — Senti sua risada contra a minha pele ao comentar isso — Então você me trouxe, me entregou uma espada e me ensinou a manuseá-la... e eu te derrubei na neve.

Devagar, ele foi andando comigo até a cama, sentou-se e me colocou em seu colo. Passei meus braços por seu pescoço e o fitei com o mesmo amor infindável que lhe tinha.

— Me derrubou porque eu te chamei de lento... e então você me chamou de lento também. Mas a verdade, Seokjin do Leste, era a que eu sempre fui muito, mas muito apaixonado por você.

Seu rosto foi se aproximando do meu enquanto meu coração gritava dentro do peito. Em seus braços eu me sentia jovem e forte de novo, dentro da bolha de conforto, me sentia seguro. Ao seu lado, eu era eu mesmo e, por todos esses anos, Taehyung sempre me amou por esse fato.

Ele nunca pediu que eu mudasse algo em mim, nunca quis nada de diferente do que eu conhecia. Aceitava meus defeitos, abraçava-os e transformava-os em qualidades também. Secava as minhas lágrimas e era o motivo dos meus sorrisos, sendo o amor da minha vida. Meu predestinado.

Colou sua testa na minha e aspirou meu aroma com louvor, fechando os olhos brevemente. Suas mãos grandes apertaram a minha cintura e me lembraram de que, assim como ele era um amante incandescente, era um romântico infalível.

— E depois, nas outras vezes que viemos, nós fizemos promessas, selamos acordos para a vida e até mesmo pedimos perdão. Nossa história nunca começou no castelo... ela começou aqui — sussurrou. — Eu e você somos pessoas mais maduras, com responsabilidades e vidas que estão em nossas mãos, Jin... eu sei que você quis vir aqui para se sentir um pouco mais confortável no Norte e, mesmo diante do que foi falado ontem, sobre o Sul, ainda assim precisou ser forte. Foi uma ótima ideia vir ao Refúgio do Príncipe, porque aqui eu vou te prometer mais uma coisa.

— O que?

Antes de responder, ele beijou meus lábios de forma leve, permitindo que eu sentisse seu gosto que eu tanto amava, me aquecendo com seus sentimentos quentes e fazendo aquela bagunça dentro de mim que jamais se desfazia.

— Te prometo que todo dia será um novo dia. Que você não precisa ser forte o tempo todo e se forçar a se sentir bem o tempo todo. Toda vez que a lua der lugar ao sol, o novo dia que você sempre sonhou irá brilhar de uma forma diferente, com novas perspectivas. Você não precisa lutar em todas as guerras para fazer isso acontecer. Eu te prometo que tudo sempre irá ficar bem.

Ele sabia bem quais eram meus sentimentos desde que eu havia chegado ali, até ler a carta enviada do Sul. Taehyung me conhecia o bastante para entender que eu não queria mais entrar em guerras e muito menos conflitar com pessoas de mente pequena, pois a minha vida toda foi resumida a apenas isso. Meu predestinado procurava me confortar e me cuidar, da mesma maneira que eu fazia com ele, mas eu sempre fui mais frágil emocionalmente. Por sorte eu o tinha.

Eu esperava de todo meu coração que a situação no Sul se resolvesse sem sangue derramado e que logo o continente estivesse unificado. Esperava também, poder voltar ao Norte um dia sem lembrar de todo o horror, poder dormir a noite sem ter sonhos ruins e lembranças que me faziam ficar com o coração pesado.

Poderia ser impossível, mas ele havia me prometido que tudo iria ficar sempre bem e eu acreditava nele. Mesmo que essas cicatrizes me acompanhassem até o meu último dia, que eu fosse incapaz de esquecer, iria me curar pouco a pouco, ano por ano, década por década, até nada doer mais.

Eu tinha Taehyung, nosso filho, meus irmãos, meus cunhados e meus amigos, assim como um povo que me ouvia e eu os ouvia de volta. As praias do Leste, as ondas que quebravam na areia e os pássaros que cantavam eram meus aliados, tão como a certeza de que nós conseguimos vencer todos os obstáculos que nos foram impostos.

A promessa que ele me fez era verdadeira e eu acreditava nela por isso.

— Eu também posso te fazer uma nova promessa aqui? — perguntei baixinho e ele assentiu. — Prometo que, não importa quanto tempo passe, eu jamais vou mudar. Mesmo que eu tenha medo, que tenha receios e traumas, vou lutar do meu jeito para que o nosso mundo seja melhor. Você vai ter esse Seokjin do Leste para sempre ao seu lado.

Ele sorriu abertamente ao me ouvir.

— É exatamente ele que eu amo mais do que minha própria vida — sussurrou apaixonado antes de me beijar com intensidade.

O Refúgio do Príncipe não era feito apenas de pedra e paredes, mas de promessas e amor. Nós começamos ali e seguiríamos onde quer que fosse, mas mantendo esses singelos sentimentos conosco, os carregando por todos os cantos enquanto estivéssemos vivos.

Enquanto ele me beijava com devoção e eu me entregava de corpo e alma pela milésima vez a ele, entendi que minha volta ao Norte, daquela vez, tinha mais significado. Ele me fez lembrar disso. Ser rei foi algo que eu aceitei porque sabia que dava conta, mas às vezes era preciso lembrar que nem o mais justo e mais poderoso dos governantes é capaz de aguentar a barra sozinho.

Como um filme, os dias bons foram passando por minha mente, os pequenos fragmentos de uma juventude corrompida, que aos poucos foi sendo consertada. Cada pequeno momento, cada beijo e cada sorriso eram combustíveis para eu ser melhor e não importava se haviam se passado dezessete anos ou setenta. Eu ainda precisava aprender todos os dias e Taehyung estava disposto a me ajudar.

"Não importa quanto tempo passe. Todo dia será o novo dia que eu sempre sonhei"

Ali, no nosso refúgio, Taehyung e eu experimentamos o sentimento da nostalgia. Resgatamos traços bons de quem fomos e decidimos quem iríamos ser daqui para frente.

Minha ida ao Norte, naquele ano, se tornou mais branda e as cicatrizes arderam um pouco menos.

Era impossível retornar ao passado, mas era completamente aceitável procurar reviver momentos bons dele. O terror de outrora não iria voltar porque não permitiríamos, eu não precisava ficar preocupado e nem nervoso.

A única coisa que eu deveria fazer, estando ali, era aproveitar a nossa eterna paz e torcer para que todos os dias, pudéssemos ser um pouco mais vitoriosos, abraçando a tudo e a todos.

Cada dia, um novo dia, e com eles... apenas as coisas boas das quais lutamos para acontecer.

══════⊹⊱≼≽⊰⊹══════

e chegamos ao fim desse capítulo extra

Ele serviu mais pra contar como ta todo mundo depois de tantos anos e pra mostrar que o Jin jamais esqueceu do que aconteceu (até pq é meio difícil, foi tanto perrengue que o coitado passou).

Me deu um calorzinho no coração narrar aos olhos do Jin de ABND outra vez, espero que esse sentimento tb alcance vocês <3

mais uma vez muito obrigada por tudo e por todo amor que essa fic recebe de vocês. Vocês fazem dessa autora sonhadora uma pessoa mais feliz!

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