"Estou de volta ao jogo
Quebrando corações novamente
É melhor tomar cuidado
Porque eu estou de volta ao jogo"
Back In The Game — Airbourne
Tudo parecia uma névoa densa, apenas lampejos da noite anterior vinham à minha mente. Sentei-me na cama, segurando minha cabeça, que latejava terrivelmente.
Ao meu lado, Eli ainda dormia tranquilamente em seu quarto.
Quando olhei para o meu braço, meus olhos se arregalaram e soltei um pequeno grito.
— O que é? — Falcão acordou assustado.
— Isso no meu braço — revelei a tatuagem de Cobra.
— Isso? Você fez ontem a noite enquanto estava bêbada.
— Como me deixou fazer uma tatuagem bêbada? — perguntei incrédula.
— Você insistiu, eu tentei fazer você mudar de ideia, mas nada adiantou — ele respondeu com um suspiro.
— Pelo menos não é feia — eu encarei a tatuagem mais de perto.
Flashbacks da noite anterior invadiram minha mente.
Estávamos a caminho de casa. A essa altura, já não me responsabilizava por meus atos.
— Ei, você acha que seu primo faria um tatuagem em mim? — perguntei abruptamente.
— Agora? — Falcão me encarou, surpreso.
— É, tem que ser agora. Porque se não for agora, não vou ter coragem depois — expliquei, minha voz embargada pelo álcool.
— Não acho que seja uma boa ideia. Você está bêbada, pode se arrepender depois — ele tentou me dissuadir, sua preocupação evidente.
— Nãoo, eu quero fazer isso. Prometo não me arrepender — insisti, determinada.
— Não é uma boa ideia — ele continuou firme.
— Por favor? — supliquei.
Falcão ponderou por alguns segundos enquanto eu a encarava com súplica.
— Tudo bem, eu posso tentar ligar pra ele — ele cedeu, encostando o carro.
— Isso! — exclamei, celebrando minha pequena vitória.
Ele ligou para o primo dele, que concordou em nos encontrar no estúdio.
Quando chegamos lá, eu estava cheia de animação. Comecei a folhear as pastas com todos os desenhos.
— É tão difícil, todas são bonitas — comentei, admirando os desenhos.
— Ei, Rico — Falcão chamou o homem — O que acha daquela arte nova que me mostrou? Acho que ela ia curtir.
— Que arte? — me aproximei dos dois.
Rico pegou seu tablet e mostrou um lindo desenho de uma cobra.
— Acho que ficaria legal — ele pegou meu braço para demonstrar o posicionamento — Começaria aqui, daria a volta pela parte de trás do seu antebraço, e terminaria aqui — ele apontou os pontos.
— Então vai ser essa, está decidido — afirmei com um sorriso radiante.
— É algo exclusivo, nunca fiz em ninguém.
— Melhor ainda — sorri ainda mais.
— Espero que não se arrependa amanhã. Não vou me responsabilizar — Eli já avisou.
Algumas horas depois, a tatuagem já estava pronta. Eu estava brilhando brilhando de felicidade, como uma criança com seu primeiro brinquedo novo.
Minha primeira tatuagem.
Era a última coisa que eu me lembrava.
— Você nem reclamou da dor — Falcão comentou — Apenas ficou tagarelando para Rico. Aliás, ele adorou sua energia.
— Que ótimo, já sou praticamente da família — me gabei, sentindo-me satisfeita.
— Temos que nos aprontar para o torneio. Veste esse meu moletom — jogou em meu colo.
Após vesti-lo, mandei mensagem em nosso grupo.
Cobra Kai Nunca Morre🐍
Scarlett
Pessoal
Que horas vocês vão para o torneio?
Aisha
Daqui a pouco já estou indo
Miguel
Eu também
Bert
Alguém pode me dar uma carona?
Scarlett
Claro
Eu passo aí daqui a pouc
Falcão saiu do banheiro e começou a preparar uma bolsa, organizando o kimono e outros equipamentos lá dentro. Descemos para o café, onde a Sra. Moskowitz nos aguardava.
— Bom dia — cumprimentou ela.
— Bom dia, mãe — Eli se sentou.
— Bom dia, Mônica — o acompanhei, me sentando ao seu lado.
— Estão preparados para o torneio? — perguntou ela, dando um gole de café.
— Bom, eu espero que sim — peguei uma torrada
Após o café, fomos até minha casa para que eu trocasse de roupa. Subi para o quarto e vesti um short, uma regata e, por cima, o moletom de Eli. Ao descer as escadas, encontrei Falcão esperando por mim na sala.
— Vocês já vão para o torneio? — questionou minha mãe assim que entrei na sala.
— Já sim, mãe. Temos que chegar mais cedo para nos inscrevermos e nos preparar — peguei minha bolsa.
— Tudo bem, boa sorte, querida. Assim que começar, seu pai e eu estaremos nas arquibancadas torcendo por você — ela me abraçou — E depois que terminar, venha para casa. Temos algo para conversar.
— Sobre o que? — perguntei, notando seu nervosismo.
— Não se preocupe com isso agora. Éalgo bobo — ela tentou suavizar, mas eu percebi sua inquietação.
— Sei...
Passamos na casa do Bert para buscá-lo e seguimos para o torneio.
Estávamos todos na porta, esperando o Sensei chegar. Miguel treinava, desferindo socos para o ar com uma expressão séria.
— Ei, Miguel, relaxa aí. Guarda para o torneio — Falcão falou, com as mãos nos bolsos.
Miguel apenas o olhou e voltou a socar o ar com determinação.
— Nem se mete nisso. Ele tá bem irritado desde que terminou com a namorada — Aisha explicou.
— Cadê o Sensei? O torneio já vai começar — Eli olhou ao redor.
— Ele já deve estar chegando — respondi.
— Eu não sei não — disse Bert, nos fazendo olhar para ele.
— Que história é essa? — perguntou Aisha.
— Eu vi ele ontem no centro comercial, eu tava... comprando leite — Bert começou a contar.
— Leite, né? — dei um empurrãozinho nele, rindo.
— Eu ouvi ele gritando no estacionamento e fui ver. Ele estava fazendo xixi no próprio carro. E quando perguntei se ele estava bem, ele disse: "Vamos morrer garoto. Todos vamos morrer".
— Por que não contou isso antes, Bert? — o encarei.
— Sei lá. Eu acostumei a ver ele bêbado. Achei que não era nada grave — ele explicou.
— A gente tá aqui, e ele não. Então deve ser grave. E se aconteceu alguma coisa? — Falcão se irritou.
— Tipo o que? — Bert perguntou.
— Sei lá. Ele pode ter se jogado da janela, ou comprado uma arma e estourado a cabeça.
— Não, o Sensei nunca se mataria. Isso é muita covardia — Aisha defendeu.
— Não é covardia Aisha — chamei sua atenção, mas estava com uma certa preguiça de descrever tudo o que leva alguém ao suicido — Logo ele chega.
— Dane-se. A gente tá aqui. Vamos ter que fazer isso sem ele — Falcão decidiu, resignado.
— Fazer o que sem mim? — Johnny chegou logo atrás da nós.
— Sensei — suspirei, aliviada.
— A gente achou que você não vinha — disse Falcão.
— Eu posso não vencer sempre, mas eu nunca desisto.
— Beleza, vamos nos inscrever — Miguel encarou Johnny.
— Ainda não. Tenho que ensinar mais uma lição para vocês.
Todos entramos na arena e o Sensei organizou um círculo, ficando no meio.
— Vocês aprenderam a acertar primeiro, a serem agressivos, e não perdedores. Ensinei a acertar firme, a terem firmeza em todas as atitudes que tomarem. Mas não ensinei a terceira lição do Cobra Kai. Sem compaixão! Quanto mais velhos ficarem, mais vão aprender que a vida não é justa. Um dia vão acordar bem, mas a vida vai te dar um chute no saco, e mostrar que não valem nada. Vão tirar nota baixa. Vão ser suspensos. Vão se apaixonar. E alguém vai roubar essa paixão. Vão botar fogo no seu carro. Quando as coisas estão bem, algo acaba dando errado. A vida é assim. Ela não tem compaixão. E nós também não temos. Fazemos o que for preciso pra sobreviver. Fazemos o que for preciso pra continuar. Fazemos o que for preciso para vencer! Lembrem quem são vocês. Vocês são durões. Vocês não estão nem aí. Vocês arrebentam. São os Cobra Kai!
— Cobra Kai! — gritou Miguel.
Todos repetimos o mesmo.
— É isso aí, pessoal! Vamos lá meter a porrada em todo mundo — exclamou o loiro.
— Isso!
Miguel pegou o kimono na mochila.
— Não. Não vão usar isso. Vão usar estes novos — Sensei tirou novos kimonos de uma bolsa.
— Caramba — segurei o que ele me entregou, impressionada.
— Maneiro — Falcão pegou o dele.
— Vão se trocar, vou inscrever a gente no torneio — Johnny se dirigiu à bancada
Fomos todos para o vestiário nos trocar. Ao sair, avistei um rosto familiar emergindo do vestiário masculino.
— Robby? Você vai competir? — perguntei assim que o vi.
— Vou — ele se aproximou.
— O Sr. LaRusso vai ser o seu Sensei?
— Na verdade vou competir sozinho. Eu e o Sr. LaRusso tivemos um desentendimento ontem à noite — sua expressão era de tristeza.
— Eu sinto muito — tentei confortá-lo, tocando seu ombro.
Por que estou fazendo isso? Mesmo depois dele ter sido um idiota ontem à noite.
Senti alguém se aproximar de mim, e me abraçar por trás. Era Falcão.
— Você ficou gata com... — ele parou de falar ao notar Robby, fixando o olhar na minha mão em seu ombro — O que está acontecendo aqui?
— Nada, só estava perguntando ao Robby se ele ia competir — afastei a mão.
— E eu vou — Robby sorriu de canto.
Olhei para Falcão, que lançava um olhar penetrante em Robby.
— Vamos, o torneio já vai começar — puxei-o para longe dali.
Chegamos perto dos outros e entramos no começo da fila.
— De Reseda, de volta ao torneio, temos o...
Quando ouvimos o apresentador começando a falar sobre o Cobra Kai, começamos a correr em direção à arena, gritando "Cobra Kai!"
Assim que nos aproximamos do tatame, paramos e gritamos.
— Isso que eu chamo de entrada triunfal. É um nome maneiro pra um dojô. Aplausos para o Cobra Kai! — declarou o apresentador.
Todos aplaudiram.
— E finalmente, lutando sem filiação de North Hills, temos o Sr. Robby Keene.
Robby entrou correndo, passando na frente de nós.
— Muito bem, pessoal. Preparem-se, é hora do karatê — o homem deixou o tatame
A primeira luta foi a do Miguel. Enquanto observava-o no tatame, meu coração batia rápido, ansioso pelo desempenho dele. O Sensei sussurrou algo em seu ouvido, um segredo compartilhado entre eles, e então a batalha começou. Cada movimento de Miguel era como uma dança calculada, sua determinação brilhando em seus olhos. Quando ele desferiu o famoso chute da garça, um misto de expectativa e adrenalina percorreu meu corpo, até que o golpe conectou com precisão no rosto do adversário, garantindo uma vitória fácil.
— Parabéns, Miguel! — minha voz saiu em um tom animado, enquanto meus aplausos ecoavam pelo local.
— Valeu.
Em seguida, foi a vez de Robby. Observá-lo trouxe uma enxurrada de emoções conflitantes. Apesar da controvérsia entre nós, uma parte de mim ainda torcia pelo seu sucesso. Ele demonstrava habilidade, mas sua estratégia parecia mais focada na defesa do que no ataque. Fiquei intrigada, tentando decifrar seus movimentos, enquanto o ringue era preenchido com a tensão palpável da competição. No final, ele saiu vitorioso, e um misto de surpresa e admiração preencheu meu peito.
Quando chegou minha vez, uma mistura de nervosismo e determinação tomou conta de mim. Encarei minha adversária com intensidade, sabendo que cada movimento era crucial. Cada golpe trocado era um turbilhão de emoções, até que, finalmente, a vitória foi minha. Um suspiro de alívio escapou de meus lábios, seguido por uma explosão de alegria e gratidão.
Aisha foi a próxima. Sua determinação era palpável, e eu torcia fervorosamente por ela.
— Chega de defesa. Ataca! — o Sensei chamou sua atenção, deixando-a mais focada.
Quando ela finalmente virou o jogo e triunfou sobre seu oponente, um misto de alívio e orgulho inundou meus sentimentos.
— Boa, Aisha! — comemorei quando ela venceu.
Falcão foi o seguinte, e sua luta foi uma montanha-russa de emoções. Cada troca de golpes era como uma montanha-russa de expectativa e tensão.
Quando levou um chute no peito, olhou furiosamente para o adversário. Com isso, ele pulou e deu uma cotovelada no rosto do cara. Aquilo foi incrível.
Sua exibição de agressividade e determinação trouxe uma onda de admiração e respeito de toda a plateia.
Quando ele venceu, foi para frente da plateia e arrancou a parte de cima do seu kimono, exibindo sua enorme tatuagem de Falcão.
Eu apenas observava. Se ele queria aparecer, tudo bem então.
— Desculpe por isso, eu me deixei levar — ele desculpou-se assim que se aproximou.
— Tudo bem, não tem problema. Esse abdômen é muito bem definido para que apenas eu possa ver — passei a ponta do dedo pelos gomos.
Quando meus dedos encontraram sua pele, uma correnteza de sensações percorreu meu corpo, deixando-o arrepiado.
— Parabéns pela vitória, meu amor — murmurei, depositando um beijo terno em sua bochecha
O momento era de tensão e expectativa quando Bert se preparava para a luta. Nossas vozes se uniram em um coro de incentivo, cada palavra carregada de fé no seu potencial.
— Vai lá, Bert! — gritei.
— Sem compaixão! — instruiu o Sensei, sua voz firme ecoando no ar, infundindo-nos com determinação.
— Acaba com ele! — Miguel e Falcão ecoaram, suas vozes vibrando com intensidade.
A batalha se desenrolou, e o oponente de Bert demonstrou uma habilidade impressionante. Um mortal seguido por um chute preciso o derrubou, e um gemido escapou de seus lábios ao impactar o chão.
— Aí! — Bert murmurou, a dor evidente em sua voz.
— E agora vamos às quartas de final — a voz do apresentador ecoou por toda a arena.
Scarlett Tatto: