Existe cinco fases do luto conhecidas que passamos, quando perdemos uma pessoa muito especial para nós. Para algumas pessoas essas fases do luto são pura besteira, mas para pessoas como eu, é muito sofrido.
Talvez a intensidade no qual eu passei e estou passando por elas, seja essa laço que eu tinha com Sasuke. Não seria um laço que quando rompido, seria facilmente esquecido. Era doloroso passar por tudo isso e eu não consegui por um tempo ser forte o suficiente.
Na primeira fase, conhecida como a fase da negação, eu não aceitava tê-lo perdido. Lembro que havia ficado em silêncio durante dias, pois na minha mente, ele somente havia ido fazer uma de suas longas viagens e voltaria em breve. O que realmente não aconteceu.
Na segunda fase, conhecida como a raiva, eu odiei Sasuke. Odeie por todo sofrimento que ele me fez passar durante toda minha vida e agora passava raiva por ele simplesmente me abandonar sozinha com uma filha nos braços. Passei raiva porque na minha cabeça, Sasuke havia sido egoísta e me deixará novamente nesse mundo cruel onde tudo parecia ir contra meus objetivos.
A terceira fase era conhecida como barganha, havia chegado um ponto do meu sofrimento que cheguei abusar da boa vontade de Kakashi sensei, fingindo que queria estudar novos métodos medicinais para o hospital. Mas eu estava o enganando e em vez dos estudos medicinais, era os pergaminhos do jutsu Edo Tensei que eu procurava estudar, a fim de tentar trazer Sasuke de volta. Sim, não me orgulhava disso mas na minha mente, se eu usasse o jutsu talvez acabaria com meu sofrimento e da minha filha. O que seria grande idiotice da minha parte.
Porém eu sabia que havia estagnado na quarta fase a quase dois anos e sendo uma renomada médica, sabia que lidar com a depressão não era fácil. Ainda mais quando a pessoa em si não queria e não tinha vontade. Queria apenas me encontrar dentro daquele meu luto, sofrer sozinha e carregar esse fardo, era como se ninguém mais sofresse no mundo, somente eu. Eu não me permitia ser feliz e dar uma boa risada. Eu achava que mancharia a morte de Sasuke. Mas agora aqui diante dos meus poucos amigos, estava em dúvida. Uma dúvida se realmente Sasuke ficaria feliz em me ver assim, sorrindo e dando pequenas risadas ao ver um Naruto quase embriagado e fazendo todos na mesa rirem.
Me desculpe, Sasuke. Mas eu estava sentindo falta disso.
Após toda emoção que Naruto e eu tivemos, eu me permiti pelo menos uma noite deixar a tristeza de lado e me divertir um pouco com meus amigos. Enquanto bebíamos saquê, relembrávamos todas nossas conquistas do passado, nossas brigas de Infância e havíamos chegado em uma conclusão, nos tornamos adultos melhores.
—Sakura-chan… — A voz arrastada de Naruto me fez rir verdadeiramente, ele era um pouco fraco para bebida e já estava mais feliz que todos na mesa. — Hinata e eu vamos deixar você em casa…
— Acho que você não tem condições de andar até minha casa, eu estou bem, irei sozinha sem problemas.
— Shikamaru pode deixar você em casa, testuda. — Ino sorriu para mim e depois olhou sério para seu ex-companheiro de equipe. — Não é Shikamaru?
O homem a minha frente me olhou e depois olhou de soslaio para Ino.
— Não precisa Ino…
— Se você quiser, podemos ir Sakura.
Shikamaru se levantou coçando de leve a nuca, todos nós resolvemos fazer o mesmo. Eu estava me sentindo um pouco solta por causa das quatro garrafas de saque que havíamos dividido. O dono do bar havia dito que não precisamos pagar, pois era uma honra o Hokage estar em seu estabelecimento.
Assim que chegamos todos na rua, cada um se despediu e foi para um lado, Naruto estava sendo carregado por Hinata que pedia desculpas. Soltei uma pequena risada vendo ele se afastar.
Um vento frio soprou me fazendo encolher o corpo, deveria ter trazido um casaco. Mas achava que não demoraria tão tarde a voltar para casa. Quando olhei em direção de Shikamaru para que pudéssemos começar nossa caminhada, senti o casaco pesado em meus ombros.
—Shikamaru, você não…
— Se você não chegar bem em casa, vai ser problemático porque conheço Ino.
Sorri levemente e concordei caminhando ao seu lado. Vez e outra trocávamos olhares de soslaio mas ninguém se atrevia a trocar uma palavra. Apenas o silêncio, mas era um silêncio que parecia aquecer minha alma, o que era estranho pois eu não permitia que as pessoas tivessem essa preocupação por mim. Talvez eu devesse retribuir o favor.
— Shikamaru, espero que consiga se resolver com os anciões. —Murmurei. — Você é um bom líder.
Paramos em frente a grande casa com o símbolo Uchiha, mirei por alguns segundos até soltar um leve suspiro. Tudo naquela casa fazia lembrar Sasuke, as vezes eu não queria lembrar de certas coisas, não que fosse coisas ruins, mas as vezes as lembranças podiam ser dolorosa.
— Está entregue!
Shikamaru deu um sorriso de leve e eu balancei a cabeça, antes que eu pudesse tirar sua jaqueta para a entregar, ele tocou de leve em meu ombro.
— Pode ficar com ela, pego outra hora com você.
Ele coçou a cabeça e acenou, se virou caminhando com as mãos dentro do bolso.
— Shikamaru! - Virou somente a cabeça. — Muito obrigada pela companhia.
Ele voltou a caminhar para frente e entrei dentro da minha casa. O silêncio que antes alimentava minha alma, nesta noite havia se tornando um incomodo. Talvez fosse as recentes companhias.
Liguei as luzes fazendo o ambiente se tornar claro, meus olhos correram para a pequena estante e lá estavam os retratos. Observei uma foto onde estava eu, Sarada e Sasuke. Estávamos todos de pé, meu sorriso e de sarada iluminava a foto e o pequeno sorriso ladino. Deixei um sorriso triste aparecer em meus lábios, quando deixei o retrato de volta no lugar, meus olhos ficaram presos nas duas cartas que estavam ali.
Desde que eu havia pego com Amy, não tinha lido. Talvez fosse a hora certa, peguei elas e passei meu indicador brevemente em meu nome escrito meio borrado.
Mordi o lábio nervosa, apaguei as luzes da sala e subi para meu quarto. Sentei em minha cama deixando uma das cartas sobre a cama, com minhas mãos trêmulas, abri a primeira.
"Sakura,
É verdade, minhas decisões jamais envolveram você nos meus planos, eu lembro que você só quis paz e por mim se envolveu em caminhos insanos. Eu sei que deixar você em Konoha foi uma decisão que partiu seu coração, mas não consigo ainda me abrir para esse sentimento que você e Naruto tentam me mostrar, acredite, agora eu entendo. Quero ser breve nessa carta, talvez eu esteja escrevendo em algum momento de surto e não sei se realmente ela vai chegar até você. Mas, se um dia ela chegar, talvez já estarei em Konoha ou não.
Talvez você deva estar surpresa de receber uma carta de mim, me conhecendo tão bem, sabe que não faria uma coisa dessas, mas algo em mim mudou e agora eu sinto. Eu sinto o quão difícil é romper nossos laços, por mais que eu tenha tentado, de alguma forma ou outra, eles sempre acabaram nos ligando.
Obrigado, Sakura.
Nos vemos em breve.
Sasuke."
Meu coração acelerava, essa carta deveria ter anos. Como ela nunca havia chegado até seu destino, meus olhos já transbordavam lágrimas e eu não sabia se conseguia ler a outra. Uma lágrima escorreu pela minha face e pingou sobre a carta, borrando a pequena assinatura de Sasuke. Os garranchos pareciam ser improvisado mas tão cheio de sentimentos.
Agarrei a carta e trouxe até meu peito deixando as lágrimas tomarem todo meu rosto, eu não me importava mais em as segurar. Deixei o papel amassado sobre a cama e peguei a outra, essa parecia ser mais recente que a primeira.
"Sakura Uchiha,
Se você estiver lendo essa carta é por que provavelmente eu não estarei mais nessa vida. Sim, provavelmente nessa altura você já saberá da minha doença, a mesma doença que matou Itachi. Talvez esse seja o ponto fraco dos Uchihas. Talvez expor as coisas assim não está no meu habitual, mas talvez eu realmente precise, assim como meu irmão fez comigo em seus últimos segundos de vida. Por mais que você não entenda, eu sempre agradecerei por tudo que se arriscou por mim e por nossa filha, Sarada.
Eu tenho pouco tempo de vida Sakura e eu sinto que talvez eu mereça esse descanso, essa dor que me consome todos os dias quando estou no memorial dos Uchihas.
Por mais que você seja discreta, eu sei que nos últimos dias eu não fui um bom marido, aliás, eu nunca fui o melhor companheiro, mas ao contrário de você, que sempre esteve ao meu lado sem ao menos questionar. Eu só peço Sakura, que na minha partida, não deixe que o rancor e ódio tomem conta do seu coração. Faça isso por Sarada, não quero que nossa filha viva o que eu passei.
Apenas viva da melhor maneira sua vida.
Talvez eu nunca tenha dito isso tão abertamente, mas Eu te amo.
Obrigada, Sakura.
Sasuke."
Sem reação.
Era assim que me encontrava naquele momento encarando aquelas duas cartas em minha frente, minha respiração estava ofegante. Tudo que eu queria era deitar em minha cama e chorar. Mesmo depois de ter partido, Sasuke ainda estava cuidando de mim. Sequei minhas lágrimas e peguei o retrato que estava ao lado da minha cama, nela se encontrava eu e Sasuke na nossa pequena cerimônia de casamento feito as pressas. Eu deixei o choro esvaziar meu interior, talvez Sasuke tivesse razão.
Eu não poderia continuar vivendo como eu estava, eu deveria seguir em frente por Sasuke. Um vento forte soprou a cortina do quarto e deixei um pequeno sorriso aparecer em meus lábios.
Eu faria isso por você Sasuke, eu sinto tanta sua falta. Eu sinto tanto medo de não conseguir, porque eu sei que aquilo que me falta pode me machucar. Eu sei que você não vai voltar, então hoje essa ferida aberta em meu peito, eu vou cicatrizar.
Eu estava pronta para começar a última fase do luto. Eu estava pronta para a aceitação e começaria dar um novo rumo em minha vida.