Dirty Laundry ✅

By ohlulis

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Nina Houston-Löwe tinha uma grande meta para seu semestre na Oak: se tornar a melhor no seu curso e voltar pa... More

intro
google.com/oak
prólogo
1. there's a new girl in town
2. starboy
3. big three
4. cool kids
5. don't call me angel
6. so much that we could've said, so much that we never said
7. i guess i'm lying cause i wanna
8. i got issues, but you got 'em too
9. momma, I'm so sorry, I'm not sober anymore and daddy, please forgive me
10. make it two and we got a deal
11. i say don't let me go and you say why can't we be friends?
12. guess nothing in life's a mistake cause all wrong turns lead to you
13. it's just medicine
14. your right is wrong... but love never leaves a heart where it found it
15. another love
16. dry your smoke-stung eyes so you can see the light
17. if i knew how to hold you i would
18. i'm so into you i can barely breathe
19. are you scared of what's to come?
20. tell me I've been lied to, cryin' isn't like you pt. 1
21. tell me I've been lied to, cryin' isn't like you pt. 2
22. it's like I'm fighting behind these walls and hiding through metaphors
23. are you going to age without mistakes?
24. don't you dare look out your window, darling, everything's on fire
25. where do we go? tell me my fortune, give me your hope
26. oh you're in my veins and i cannot get you out
epílogo

27. and now, it's time to leave and turn to dust

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By ohlulis

Foi durante o terceiro trimestre da última gravidez de Camille Houston-Löwe que Marco Löwe sugeriu que eles deveriam se mudar de Phoenix-See.

A inglesa estava lendo um livro e acariciando sua enorme barriga com os pés apoiados em uma almofada, murmurando um quase imperceptível 'uhum' como resposta apenas para não deixar o marido no silêncio. Não achou que o jogador estivesse realmente falando sério. Eles já tinham três filhos, dois para chegar, um cachorro que já gostava de passar mais tempo deitado do que correndo. Achava que eram coisas suficientes para se preocupar pelos próximos meses — quiçá, anos.

Mas Marco não estava blefando. Phoenix See era um lugar incrível para se viver em Dortmund, em uma área ostentativa próxima ao lago que abrangia boa parte dos amigos que tinham na cidade — incluindo seus companheiros de equipe. A casa que eles tinham comprado alguns anos antes — logo depois de Nina, sua primogênita, nascer — também era incrível. Nunca esqueceriam da primeira arte de Leon na parede da sala — revelando, desde pequeno, que ele seria criativo. Ou dos aniversário de Nina na enorme área de lazer. Ou, ainda, das vezes que se reuniam no gramado para brincar com Herz ou disputar um gol-a-gol enquanto as crianças se divertiam correndo atrás dos pais.

Aquela casa, apesar de perfeita, não fora feita para eles. Não para a família de sete que se tornariam em breve.

Apenas alguns dias antes de Cami dar a luz, Marco encontrou um lugar perfeito: Hohensyburg. Ficava ao sul de Dortmund, próximo de ruínas e colinas que tornavam o terreno ainda mais especial. A inglesa reclamou de dor nas costas durante todo o trajeto, mas assim que chegaram ao lugar escolhido pelo seu marido, seus olhos brilharam. Era ali. Era ali que ela queria envelhecer.

A construção demorou quase dois anos e quando finalmente se mudaram, seus pequenos não eram mais tão pequenos assim. Nina tinha sete anos, estava na fase dos 'porquês' e foi a única que realmente sofreu com a mudança de ambiente, quando precisou deixar os amiguinhos para trás. Lukas prestes a fazer seis, Leo com quatro e os gêmeos com dois, entrando em uma das fases mais complicadas que os seus pais tiveram que passar com as crianças.

Na nova casa, completamente planejada para aquela não-tão-pequena família, tinham tudo o que precisavam. Um grande número de quartos. Uma grande área aberta para que Herz pudesse explorar — com a pouquíssima energia que o sobrava, naquela altura. Um mini campo de futebol para que Marco pudesse praticar nos seus últimos anos de carreira, pouco antes de se aposentar ainda muito novo. A tranquilidade que a vida noturna de Phoenix-See não os permitia ter.

A casa era uma fortaleza, um refúgio de tijolinhos que guardava lembranças ainda mais bonitas que a primeira. O crescimento dos cinco Houston-Löwe, na parede da despensa, sempre poupada de ser pintada. A parede de recordações, preenchidas de fotos que abrangiam desde a primeira foto de Cami e Marco até a mais recente, do natal anterior com a família completa. O azulejo trincado de quando Henrik tentou ensinar aos irmãos mais velhos como arremessar um puck. A tábua de madeira solta da escada do sotão, remanescente do acidente que Leon tivera que o deixara com uma cicatriz no queixo.

Era um lar. Um abrigo. Um lugar que tinha, em suas paredes, a história da família que o construíra. Um lugar onde tinham passado tanto os seus momentos mais bonitos juntos, como também os mais dolorosos. Como a perda de Herz, o Golden Retriever que estava na família há mais tempo do que eles podiam contar. A aposentadoria de Marco, antes da hora, após uma lesão feia. A despedida do alemão da seleção e do seu time do coração. A recuperação de Nina, depois da overdose.

Estar de volta naquela casa, para Nina, despertava sentimentos agridoces, por mais que ela ainda não pudesse compreendê-los claramente. Percebeu, desde o dia que desembarcou no aeroporto, que sentia muita falta de ter todo mundo reunido. E, apesar de ter segurado as lágrimas como pôde, deixou algumas caírem quando notou que toda sua família estava esperando-a de volta no saguão de desembarque.

Sabia, porém, que não era dentro da sua casa que passaria os próximos dias. Na manhã seguinte, próximo das sete da manhã, todos já estavam de pé para se despedir dela novamente. Mais uma vez, Nina deixara tudo para trás. Seu lugar de conforto, sua família barulhenta, todas as obrigações que tinha. A informação que recebera, assim que chegara no centro de tratamento para vícios escolhido pelos seus pais, é que aquele período duraria entre um e três meses. E que sim, ela podia voltar para casa durante os finais de semanas depois das primeiras duas semanas mais difíceis.

Houveram dias ruins durante os dois meses e meio que Nina ficou em reabilitação. A desintoxicação, como ela suspeitava, foi a pior parte. Algumas noites, ela achava que não poderia viver mais um minuto sem o medicamento. Os sinais de abstinência eram claros, seu corpo pedia algo que estava acostumado a receber. Em outras, Nina se sentia bem. Melhor que nunca, perguntando quando poderia voltar para a casa, mesmo que aquele sentimento muitas vezes fosse passageiro.

Teve toda ajuda que precisava dentro do centro e muito apoio na sua casa. Os finais de semanas eram divertidíssimos. Cami costumava fazer sua comida favorita, Marco sentava para assistir episódios repetidos de Brooklyn 99 com ela e seus irmãos na maioria do tempo não estavam sendo um pé no saco. Durante a semana, ela participava de grupos de leitura, fazia terapia cognitivo-comportamental e praticava ioga. O último o ajudava com a respiração e a manter sua mente limpa. Apesar de ser visitada frequentemente por certos olhos escuros toda vez que colocava seu colchonete no chão.

Aquela era sua primeira noite em casa depois da reabilitação. A primeira noite de uma primeira semana que seria apenas o primeiro passo para Nina não cometer os mesmos erros daquele ano. Ela estava limpa.

Mama, eu consigo te ver.

Falou alto assim que notou, pela sombra que se formara debaixo da sua porta, que havia alguém parado no corredor. Seu chute era Camille e Nina não costumava estar errada. Marco era mais direto. Bateria duas vezes na porta para anunciar sua presença e entraria sem muita cerimônia. Era Cami que parecia repensar suas palavras trezentas vezes antes de conversar com a filha mais velha.

Ela era a garotinha do papai. Sempre fora.

— Desculpe, querida — Cami murmurou ao empurrar a porta, esperando um tempo antes de entrar no quarto e caminhar em direção a cama onde Nina estava deitada, com apenas uma luminária acesa. — Eu pensei que você já estivesse dormindo.

Era uma mentira, mas uma leve e que não faria mal a ninguém. Desde que sua pequena estava em casa, Cami queria checá-la a cada cinco minutos, igual fazia quando conseguia carregá-la nos braços. A diferença era que sua Prinzessin não mais cabia em seu colo e insistia que não precisava ser protegida. A semelhança com o pai era vista de longe.

— Está tudo bem, mama — Nina apoiou as mãos na cama para se sentar no momento que Cami ocupou o espaço menor do seu colchão. — Você não precisa explicar.

Camille passou um tempo encarando Nina antes de sorrir em sua direção, pegando a mão da filha com as suas. Nos seus quarenta e poucos anos, Cami ainda era uma mulher muito bonita. Seu sorriso, terno, ainda continuava a característica mais notável do seu rosto anguloso. Sua mãe nunca tinha se disposto a procedimentos estéticos, então agora seus olhos eram marcados por rugas de quem tinha criado cinco filhos. As bochechas, agora menos cheias, eram marcadas por um rubor que parecia provido por maquiagem. Os cabelos castanhos estavam mais curtos do que ela costumava usar quando era mais nova, quase sempre presos em um penteado improvisado.

Ela ainda era muito bonita, Nina pensava sempre que a observava. Por isso ganhava todos os olhares quando entrava em qualquer lugar, acompanhada ou não do seu marido conhecido. Apesar de nascida na Inglaterra, Dortmund tinha se tornado sua casa também e naquela altura Cami já dominava o idioma e conquistava todo mundo que aparecia em sua frente. 'Sua esposa é fora desse mundo, Marco', os amigos mais antigos costumavam falar. O ex-jogador confirmava. Sabia que tinha tirado a sorte grande.

— Eu quero que você saiba que nós confiamos em você, Prinzessin — Cami murmurou, olhando diretamente nos olhos claros da sua filha. Olhos que ela não tinha herdado dela e que, talvez por isso, a assustassem tanto. — Não vamos te proibir de fazer nada. Você pode concluir seu curso no próximo ano, no verão. Nós preferiríamos que você ficasse perto de casa nos próximos meses e depois disso você pode aplicar a prova para a diplomacia. Berlim não é tão longe daqui.

— Você não vai tentar me convencer a ficar por aqui e tentar emprego em alguma multinacional da cidade? — Nina perguntou, desconfiada. Essa costumava ser a conversa sempre que tentava falar de futuro com seus pais.

— Gostaria de poder — Cami confessou, sorrindo mais uma vez antes de apertar os lábios em uma fina linha. — Mas você quer o mundo, querida. Dortmund é pequena para os seus planos.

— Mas e se acontecer de novo, mama? — murmurou baixinho, juntando as sobrancelhas até que elas formassem um vinco na sua testa. — E se eu não conseguir me manter limpa?

— Oh, Nina... — Cami suspirou, assentindo. Naquele momento ela se parecia muito com a Nina de cinco anos que pedia permissão para tudo e pouco com a Nina de vinte e dois que tinha batido o pé para sair do país. — Você sabe o que seu pai me disse na primeira noite que você passou em casa? Quando você era tão pequena que eu conseguiria te enrolar em uma manta minúscula e te segurar em meus braços?

Nina negou, mantendo-se em silêncio para que sua mãe pudesse continuar a falar. Adorava ouvir as histórias da sua infância. Adorava quando todos se sentavam na sala e ela escutava — pela milésima vez — de quando seu pai ganhou a Pokal e ela desfilou no campo com ele, antes mesmo de Lukas nascer.

— Ele disse que você era nossa maior vitória e que era a melhor parte de nós dois. E à medida que você crescia, nós fomos percebendo que você consegue conquistar tudo o que você colocar os olhos, Prinzessin — Cami murmurou, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas. — Você não estava pronta quando foi para Silvermount. Mas, agora... Agora eu acho que você sabe exatamente o que você quer.

Não era só Cami que tinha os olhos cheios de lágrimas, naquela altura. Os olhos verdes de Nina também brilhavam no escuro e ela não queria lutar contra seus sentimentos. Queria deixá-los livres, sentir cada milésimo de sensação que abafara durante tanto tempo da sua vida. Era uma vida inteira de abdicações. Agora, ela se sentia livre.

— Eu quero ficar bem — respondeu, assentindo quando sua mãe fez o mesmo. — Vai ser uma luta diária, mas... Eu quero ganhá-la, mama. Eu estou pronta para ganhá-la.

— Então você vai, querida — Cami concordou, fungando quando a primeira lágrima escorreu pelo seu rosto. — Eu sei que você vai.

Nina não esperou por mais nenhum minuto antes de retirar a coberta de cima do seu corpo para que ela pudesse abraçar sua mãe, escondendo seu rosto na curva do pescoço da mais velha. Cami retribuiu o gesto, acariciando os cabelos claros da filha com carinho. A relação das duas era marcada por uma frieza que não mais tinha espaço na vida delas. Todo segundo importava.

— E eu sei que você me pediu para não te contar, mas ele ligou essa manhã — Cami continuou, separando-se discretamente para que pudesse encarar os olhos úmidos da filha. — Ele queria saber como você estava.

A mais nova engoliu em seco, assentindo em silêncio. Lutou contra a dúvida entre perguntar o que a mãe tinha respondido e a vontade de fingir indiferença com a sua última fala. Como podia, se seu coração pulou só na menção da sua existência?

— Como ele estava, mama? — perguntou, apertando os lábios em uma fina linha. — Ele pareceu estar bem?

— Feliz, Prinzessin — Cami foi sincera, sorrindo sem mostrar os dentes. — Ele parece estar feliz.

Nina assentiu, aliviada. Agora não tinha mais dúvidas que amor, naquela altura, era sentir seu coração pulsar livre com a simples menção de que Leo estava feliz. Era o que desejava para ele. Que fosse muito feliz e conquistasse tudo o que estava a seu alcance. Todos os sonhos que um dia sonharam juntos.

— Sei que vocês combinaram que precisavam de um tempo, mas acho que você deveria ligar para ele, querida. Eu acho que seu coração ficará mais aliviado se ouvir com seus próprios ouvidos.

Mama...

Cami levantou as mãos em rendição com o tom negativo que Nina usou, assentindo na sequência. Talvez Nina ainda precisasse de mais tempo.

— Tudo bem... Se é real, eu sei que você vai saber a hora certa de procurá-lo.

Nina assentiu mais uma vez, recebendo um longo e carinhoso beijo no topo dos seus cabelos antes que Cami levantasse da cama e a deixasse sozinha mais uma vez. Seus pensamentos não eram mais tão altos. Nem o sono parecia uma utopia tão longe de se atingir. Ela puxou o cobertor de volta para que pudesse se cobrir, desbloqueando seu celular e abrindo o contato de Leo em sua agenda.

Sentia falta do sorriso que estampava sua foto. Sentia falta dos abraços, dos beijos, da voz perto do seu ouvido. Sentia falta da sua risada, do toque dele em seu corpo, das mãos entrelaçadas que nunca fizeram seu tipo até o momento que era Leo que a segurava. Sentia falta de cada detalhe dele, de cada minuto que passara ao seu lado.

Quando o status dele mudou para 'online', Nina bloqueou o celular com rapidez, como se tivesse sido pega espionando-o assim como aconteceu nas primeiras aulas que tiveram juntos. Era impossível, pensou. Ele estava muito longe dali. Feliz. Ele estava feliz.

Fechou os olhos, mantendo um sorriso no rosto. Leo estava feliz.

Sua mãe tinha razão. Seu coração ia avisá-la quando estivesse pronto para reencontrá-lo.

— Ok, Nina, eu estou fazendo o que você pediu e gravando tudo... — Liv falou animada, virando a câmera do seu celular para Claire, parada a sua frente. — Dê 'oi' para a Nina, Claire!

A simples menção daquele nome conhecido fez com que Leo se alarmasse, procurando quem o tinha dito em voz alta. Sorriu sem mostrar os dentes assim que percebeu Olivia com o celular na mão apontado para Claire, movendo para Nate e passando rapidamente por Remi e por ele antes de voltar para si própria. Ele abaixou os olhos, encarando os sapatos sociais que calçava.

Já não esperava mais vê-la ao dobrar qualquer esquina ou pelo campus depois que o sinal tocava. Não esperava, como nos primeiros dias, que ela entrasse pela porta do seu quarto e se aninhasse ao corpo dele como era de costume. Não sonhava mais com suas feições ou ouvia sua voz no meio de uma multidão. As memórias de Nina estavam, lentamente, fugindo da sua memória. Desaparecendo, como se tudo tivesse sido um sonho bonito planejado pelo seu subconsciente.

Mas era impossível pausar o filme que passava na sua cabeça toda vez que falavam seu nome. Então em um milésimo de segundo, um suspiro, um instante, tudo estava de volta: os dois patinando, o primeiro beijo, a viagem para Boston, o abraço apertado na praia antes da despedida.

Ia e voltava. Deixando o gosto dela na sua boca. O perfume dela em seu olfato. O toque dela em sua pele.

— Você escutou? — Remi perguntou, tocando no ombro de Leo para que pudesse tirá-lo do transe. — Dez minutos para subirmos no palco. Vão chamar em ordem alfabética.

Leo concordou, erguendo os ombros. O céu estava escuro, predispondo uma chuva que chegaria no instante seguinte. Provavelmente a pessoa responsável pela estrutura da formatura não tinha checado a previsão metereológica pela manhã. O palco, onde os formandos receberiam o diploma, não tinha cobertura. Os convidados, que não eram muitos, também ficavam em arquibancadas sem proteção.

— Não posso acreditar que chegamos até o fim — Remi comentou, ajeitando a manga da beca que parecia amassada toda vez que ele se mexia, chamando atenção de Leo. — Esse é o momento pelo qual eu esperei minha vida inteira.

— Receber um canudo vazio das mãos do seu pai? — Leo provocou, recebendo um rolar de olhos como resposta.

— Me formar e poder dar o fora daqui — respondeu no lugar, descansando as mãos na cintura. — Não vou sentir falta.

— Você vai sentir nossa falta — Nate se intrometeu na conversa, arqueando uma sobrancelha na direção de Vince.

— Sim, mas não se preocupe — Remi murmurou, apontando para o próprio rosto. — Vou lembrar de você sempre que me olhar no espelho. Sua brincadeirinha de dois meses atrás deixou uma cicatriz.

Nate sorriu, mostrando o dedo do meio para Remi. Agora, eles brincavam com a cena que tinham protagonizado antes. Nate, com seu coração gigante, tinha perdoado Remi, mas não perdia uma oportunidade de alfinetá-lo quando se tratava da sua irmã. Dava para perceber, pelos olhares nada contidos de aprovação que Vince endereçava a Claire, que havia fogo ali.

— Quando você vai até Nova Iorque? — Leo perguntou, olhando para Remi. — Arrumar o apartamento, assinar o contrato...

— Próxima semana — respondeu com um sorriso que não cabia em seu rosto, passando a mão pelos cabelos. — Mal posso acreditar. E você, achou algo no mercado?

Leo deu de ombros, mantendo as mãos atrás do corpo. Queria passar um tempo em Boston com seu pai antes de encontrar um emprego, mas algo tinha aparecido em sua frente. Algo grande.

— O treinador me arrumou uma entrevista próximo mês — contou para os dois amigos, revezando o olhar entre eles. — Ele gostou de como eu o ajudei no final da temporada. Ele acha que isso pode ser um caminho para mim.

— Treinador? — Remi murmurou desacreditado, apoiando uma mão no ombro do amigo na sequência. — Porra, Leo. Isso seria incrível! Você seria o melhor, eu tenho certeza. Imagina se você...

— Devagar, Remi — o interrompeu, sorrindo de orelha a orelha. Não queria criar expectativas ainda. Mas era uma possibilidade agradável. — O emprego é para treinar crianças, por enquanto. Treinador assistente. Mas pode se tornar algo melhor, se eu for bem.

— Feliz por você, cara — Nate comemorou, sorrindo em sua direção. — Eu estou orgulhoso de você, na verdade. Você está bem. Posso ver isso de longe.

Leo sorriu, sem jeito. Ainda não tinha aprendido a lidar com elogios. Preferia que o xingassem e socassem sua cara do que receber palavras bonitas de qualquer pessoa que cruzasse seu caminho.

Era verdade. Estava bem, saudável e sem grandes hematomas preenchendo seu corpo. Assim que parara com os treinos de hóquei, sua sintomatologia o deixou em paz. Falava com seu pai quase diariamente, aprendendo aos poucos a perdoá-lo por uma vida inteira de abstenção. Gostava de ver Mozart pela câmera durante as vídeo chamadas, de receber fotos antigas dele sem esperar e de ouvir sobre sua mãe, que agora não parecia mais ter um nome amaldiçoado quando os dois estavam conversando.

Tinha ido muito bem nas provas do último semestre também. Ocupava sua cabeça com os estudos, entre seus turnos no Ivy e as viagens no final de semana para acompanhar o time de hóquei — na arquibancada, dessa vez.

As noites eram as piores. Quando ele chegava em casa, tomava um banho demorado para dormir e o sono não parecia ser seu grande amigo. Naquelas, ele sentia falta da companhia da sua querida namorada que tinha ido embora feito fumaça de Silvermount.

Ninguém costumava falar seu nome. Ou lembrá-la. A presença de Nina era como o mito ou uma fofoca ruim que se espalhou pelo campus. Da mesma forma que tinha aparecido nos corredores, ela tinha sumido. Deixando nada mais que uma caixa de coisas — que estava no canto do quarto de Leo, para um dia devolvê-la — e um coração partido.

Leo parecia ter sido o único atingido pelos destroços do furacão que era Nina Houston-Löwe. Enquanto ele sofria, gritava e juntava os pedaços do que tinha restado de si, todo o resto seguia a vida. Como se ela não tivesse existido. Como se não tivesse revirado a sua vida inteira pelos ares.

Com o tempo, a dor diminuiu. A rotina começou a fazer mais sentido. As noites pararam de ser tão insuportáveis, mesmo que ele continuasse sozinho. Ligava as vezes para a mãe dela, suspirando aliviado sempre que recebia a notícia que ela estava bem. Era o que mais importava, desde que os dois decidiram que seus caminhos já não mais se trilhariam juntos.

Nina não podia gastar todas suas energias para manter um relacionamento a distância. Ela precisava daquela energia para investir em si mesma.

Leo entendia. Não era assim que imaginava que fosse seu futuro com Nina, mas entendia. Ela precisava de tempo. Ele precisava de sua vida de volta.

E, dois meses e meio após o furacão Nina, tudo parecia estar voltando ao seu lugar de origem. Tudo estava bem. Sean estava na arquibancada esperando para assistir seu único filho formar. Leo tinha um emprego em vista. Seus amigos se tornariam estrelas no ano seguinte.

Então por que infernos ele ainda parecia precisar ouvir a voz dela para que seu dia estivesse completo?

— Merda, preciso de um momento — pediu, olhando para Remi. — Me liga se começarem a chamar a turma?

— Porra, Leo — Remi grunhiu, olhando mais uma vez em direção ao palco que continuava vazio. — Certo, vá. Mas não demore muito.

Assentiu, dando alguns passos para longe de onde todos os formandos se acumularam e seguindo para perto das arquibancadas. Tirou seu celular do bolso, encarando a foto de Nina por alguns instantes antes de ter coragem de discar seu número.

Sentiu todo seu corpo estremecer na primeira chamada.

Na segunda, a inquietação já seguia pelas suas terminações nervosas e uma ansiedade crescia pelo seu peito.

Quando o barulho da caixa postal soou, Leo ficou sem ar.

Nem sabia qual era o fuso horário da Alemanha. Sua ideia parecia um pouco estúpida, agora.

— Oi, Nina — murmurou, desnorteado. O que queria falar para ela? O que queria que fossem suas primeiras palavras para a alemã depois de tanto tempo. — Eu sei que não deveria ligar para você, mas... É, eu não paro de pensar nisso desde que marquei no calendário que hoje seria o dia que você iria para a casa. Sua mãe me disse isso, nas outras vezes que liguei...

Deixou sua voz morrer, passando a mão pelo cabelo escuro. Sentiu um pequeno pingo cair no seu ombro, anunciando a chuva que provavelmente estragaria a cerimônia da noite. O pai de Remi certamente ficaria bravo.

— Está chovendo aqui. Na verdade, tem sido meses de muita chuva em Silvermount... Eu não faço ideia porque estou enchendo sua caixa postal com a previsão do tempo — sorriu, nervoso. Queria que ela pudesse vê-lo. — Eu sinto sua falta. Todos os dias. E eu não tenho certeza se isso vai passar em algum momento, mas...

Parou, olhando em direção para onde estava antes. Viu, de longe, que enquanto Remi conversava com um dos caras do time, Claire olhava em sua direção com um sorriso terno nos lábios. Um segundo antes de Vince olhar em sua direção e sorrir de volta, segurando a troca de olhares pelo minuto inteiro seguinte.

— Mas eu acredito que nós ainda podemos nos encontrar. E talvez esse espaço que a gente ocupa um no outro ainda esteja reservado para a gente, quando isso acontecer. E mesmo se isso nunca acontecer, Nina... Nunca vou arrepender de nada. Nunca vou me arrepender de ter te amado.

Sorriu, sozinho. Não era difícil confessar isso. Era mais difícil lidar com o sentimento que talvez nunca encontrasse alguém como Nina em sua vida e com a sensação de que nunca pararia de amá-la. Só aprenderia a seguir em frente.

— Eu estou feliz que você está em casa, Nina. Eu estou feliz que você esteja bem e que...

Caixa postal cheia. Mensagem não enviada.

A voz automática anunciou, interrompendo Leo no meio dos seus pensamentos. A ligação caiu na sequência, mas ele não afastou o celular da orelha. Apenas continuou ali, sentindo os primeiros pingos finos molharem seus fios de cabelo, como se o tempo já não passasse mais e sua visão fosse um erro na Matrix. Nina estava longe demais para que ele pudesse alcançar. Talvez fosse a vez dele parar de tentar se agarrar às lembranças que fugiam das suas mãos.

Leo suspirou, escorregando o celular de volta para o bolso antes de olhar para os céus. Tinha impressão que aquelas nuvens pesadas o seguiam. Tinha impressão que fazia chuva desde que Nina tinha embora da sua vida.

Tinha sido lindo. Tinha sido intenso. Mas não era mais que isso. Frases no passado de momentos passados que não voltariam a acontecer, enquanto ele tinha um futuro inteiro pela frente. Um novo trabalho. Uma nova cidade. Uma nova rotina que com sorte iria animá-lo mais que a antiga.

Estava pronto. Estava pronto para seguir em frente.

E, exatamente como tinha dito a ela na mensagem que Nina não receberia, confiava que um dia eles ainda pudessem se encontrar.

Talvez fosse tarde demais.

Mas talvez ainda houvesse tempo para ele cumprimentá-la e dizer, com o maior dos seus sorrisos, que esperou por aquele dia por toda a sua vida.

NÃO TO ACREDITANDO QUE CHEGAMOS NO PENÚLTIMO CAPÍTULO DE DIRTY LAUNDRY! Estou sentindo um mix de coisas e vou deixar o discurso para o epílogo antes que eu comece a chorar antes da hora. Eu amo esses dois, mas sempre tive na minha cabeça que eles nunca dariam certo nesse momento da vida. A Nina tem planos muito grandes, o Leo precisa organizar sua bagunça... Iria contra minha percepção dos personagens se tudo magicamente voltasse para o lugar.
Ok, vou realmente poupar o discurso para o último capítulo. Espero que vocês tenham gostado desse capítulo, de conhecer um pouco da família da Nina (sou suspeita e muito apaixonada por eles) e da vida Leo pós-Nina. Ainda veremos os dois uma última vez, no epílogo.
Obrigada pelo carinho, pelos comentários e pelos votos! Dirty Laundry está crescendo e eu dedico isso tudo à vocês. Espero conseguir escrever o epílogo para postar ainda essa semana. Já tenho boa parte dele em mente. 
Até a próxima!
(perdoem eventuais erros! a autora que aqui escreve tem um pilha de coisa para estudar, mas tá escrevendo atualização para vocês e revisou tudo rapidinho!)
twitter: ohlulis | instagram: lulisescreve

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