3 horas depois Alya voltou e encontrou Marinette ali, como se fosse um guarda real.
Alya:—Marinette, o que está fazendo?
Marinette:—O senhor Agreste me mandou ficar aqui fora e disse que se precisasse ele chamaria. Como eu fiquei com medo de não ouvi-lo caso ele me chamasse, achei melhor ficar aqui perto.
Alya:—Há quanto tempo está aqui de pé?
Marinette:—Desde que lhe servi o café da manhã.
Alya:—Isso é um absurdo! Eu vou falar com ele e...
Marinette:—Não, por favor. Não quero que ele tenha motivos para me dispensar.
Alya:—Ele não vai, fique tranquila. Eu já volto.
Alya logo entrou no quarto, deixando Marinette do lado de fora.
Adrien:—Não bate mais na porta não?
Alya:—Pra quê? Você sempre me deixa entrar!
Adrien:—A novata já foi embora?
Alya:—Não. Está parada do lado de fora da porta desde que você a mandou sair.
Adrien:—Nossa, por essa eu não esperava.
Alya:—O que você quer, Adrien? Tá achando que é fácil conseguir pessoas para esse cargo? Sem contar todo o trabalho que me dá para conseguir gente que não vá me extorquir depois, por conta do seu segredo.
Adrien:—Você podia ficar comigo e evitar isso tudo - disse debochado
Alya:—Se eu ficar aqui com você, quem cuida de todo o resto? Eu estou me virando em 3, Adrien, tá puxado. Me ajuda a te ajudar pelo menos. Essa moça parece ser boa. Fez 2 anos de medicina, não é uma qualquer. Tem quase a sua idade e precisa do emprego, além de me parecer que realmente quer ajudar. Dá uma chance.
Adrien:—Se ela me aturar por 3 dias, eu pego leve depois. Fechado?
Alya:—Fechado.
Alya saiu e olhou para Marinette, que estava apreensiva, com medo de ser mandada embora.
Alya:—Certo. Se você aturar ele nos próximos 3 dias, o emprego está garantido.
Marinette:—Obrigada Alya - disse aliviada
Adrien:—MARILENE? - gritou
Marinette:—Acho que ele está me chamando - disse rindo para Alya quando entrou no quarto. É Marinette, senhor.
Adrien:—Tanto faz. Preciso tomar banho.
Marinette:—Certo. O que quer que eu faça?
Adrien:—Quero que me guie até o banheiro.
Marinette:—Pois bem. Levante-se.
Adrien se levantou. Céus, ele devia ter mais de 1,85m enquanto Marinette não tinha nem 1,70m. E ainda estava sem camisa, com gesso no braço direito e alguns pontos ao lado da costela. Marinette engoliu seco. Ele tinha um perfume amadeirado que lhe arrepiava os pelos! Ela então pegou-lhe a mão esquerda e colocou em seu ombro.
Adrien:—Como você é baixinha - disse debochado
Marinette:—Sim, é verdade. Como faz com o braço engessado?
Adrien:—Eu desatarraxo antes do banho e depois coloco de volta.
Marinette:—Ah sim. Precisa de alguma ferramenta para isso?
Adrien:—Não acha que estou falando sério, né? - perguntou incrédulo
Marinette riu:—Claro que não. Acho que um saco plástico resolve, certo?
Adrien:—Claro, né? Deve ter um sobre a pia.
Marinette:—Sim, aqui está. Me dê seu braço para eu colocá-lo.
Adrien esticou o braço e Marinette o vestiu com a sacola. Mas ao invés de tapar sua mão, ela rasgou o saco e colocou um elástico no pulso de Adrien e um depois do cotovelo.
Adrien:—O que está fazendo?
Marinette:—Deixando sua mão livre. Assim, facilita para você abrir o shampoo.
Adrien:—Tá, tanto faz.
Marinette:—Precisa de mais alguma coisa?
Adrien:—Não, pode sair. Eu me viro.
Marinette:—A toalha está no gancho. Quer que eu pegue a sua roupa?
Adrien:—Pode ser. Uma calça de moletom verde e uma camisa branca, estão pendurados no meu closet. E uma cueca box, na gaveta.
Marinette:—Sim senhor. Vou deixar a porta entreaberta, caso precise é só chamar.
Adrien:—Tá, agora sai.
A mestiça saiu do banheiro e logo foi buscar a roupa. Deixou-a dobrada sobre a pia e logo ouviu um xingamento vindo do box.
Marinette:—Senhor Agreste, tá tudo bem?
Adrien:—Não, não está.
Marinette:—Precisa de ajuda?
Adrien:—O sabonete caiu no chão e não consigo achar.
Marinette abriu as gavetas do móvel que ficava debaixo da pia e logo encontrou uma caixa com vários sabonetes. Pegou um novo e foi até o box.
Marinette:—Levante sua mão esquerda sobre a divisória de vidro. Agora segure, estou lhe dando um sabonete novo.
Adrien:—É, não é mesmo burra. Enfim alguém que pensa...
Marinette:—De nada - disse e saiu do banheiro. É, vai ser difícil...mas o que que foi fácil na sua vida, né Marinette?
Uns 20 minutos depois Adrien saiu do banheiro. O cheiro do shampoo dele era arrebatador! Marinette ajudou a tirar a sacola do braço engessado e percebeu que ele estava com os cabelos pingando.
Marinette:—Seu cabelo está muito molhado. Você costuma secar com o secador?
Adrien:—Costumava quando enxergava e tinha os dois braços bons.
Marinette:—Eu posso secar pra você. Venha, sente-se aqui - disse o levando até a cadeira que ficava de frente para o computador em seu quarto.
Marinette ligou o secador na tomada e começou a jogar o vento nos fios loiros do Agreste. Tinham um cheiro delicioso, com certeza do shampoo levemente cítrico. E eram macios como cabelos de bebê. Conforme ela ia jogando o vento, ia mexendo nos fios delicadamente, quase como um carinho. Adrien, por alguns segundos, relaxou. Lembrou de quando Emily fazia o mesmo, quando ele cismava de lavar a cabeça tarde da noite e ela não queria que ele dormisse com os cabelos molhados. As lembranças de sua mãe eram confortáveis, mas ao mesmo tempo doíam. Ele logo ergueu a mão, afastando Marinette de si.
Adrien:—Já está bom - disse se levantando da cadeira rapidamente.
Marinette:—Fiz algo errado? Te machuquei?
Adrien:—Não. Mas já chega, não preciso de mais secador.
Marinette:—Tudo bem. Já quer almoçar?
Adrien:—Não.
Marinette:—Quer ver tv?
Adrien:—Sério? Você me perguntou mesmo se eu quero ver tv?
Marinette:—Desculpe, foi modo de dizer. Quer que eu ligue a tv para você ouvir alguma coisa?
Adrien:—Não.
Marinette:—Quer que eu coloque uma música?
Adrien:—Não.
Marinette:—Quer conversar?
Adrien:—Não.
Marinette:—Quer que eu faça alguma coisa pra você?
Adrien:—Sim.
Marinette abriu um sorriso. Ele finalmente estaria abaixando a guarda!
Marinette:—Que bom. O que quer que eu faça?
Adrien:—Saia do meu quarto e me deixe em paz.
Seu sorriso na mesma hora se desfez. Por um instante ela achou que estaria se aproximando daquele homem lindo e maravilhoso, mas que, de lindo, só tinha mesmo a casca.
Marinette:—Sim senhor. Se precisar, é só me chamar.
Sem ouvir nenhuma resposta, novamente saiu e ficou de pé do lado de fora da porta. Nathalie passou pelo corredor e viu a mocinha ali, igual a um dois de paus. Resolveu que seria melhor lhe trazer uma cadeira, pelo menos ela esperaria sentada. Marinette agradeceu e colocou um dos seus fones de ouvido, escolhendo uma playlist bem calma e tranquila, e bem baixinha também, porque caso o patrãozinho a chamasse, ela ouviria na mesma hora.
Mais duas horas se passaram até que ela resolveu bater na porta. Nada de resposta. Achou que ele pudesse estar dormindo e abriu a porta de vagar. Caminhou lentamente até a cama e o olhou. Estava deitado com as mãos cruzadas sobre o abdômen. Como estava de tampão nos olhos, ela não sabia dizer se ele estava dormindo ou não. Era realmente um homem lindo se se admirar, pena que tão amargo.
Adrien:—Cuidado pra não babar em cima de mim.
Marinette:—Só queria saber se já está com fome - perguntou, disfarçando o susto.
Adrien:—Acho que já posso almoçar.
Marinette:—Quer que eu traga aqui ou prefere ir até a sala de jantar?
Adrien:—Pra que? Pra ficarem rindo de mim? Pode trazer aqui mesmo.
Marinette:—Certo. Já volto.
Adrien estava começando a achar que aquela mulher não desistiria facilmente de cuidar dele. Mas ele odiava isso, principalmente por sentir que ela o olhava com pena, como se ele fosse um pobre coitado inválido e isso o deixava ainda mais furioso.
Em minutos Marinette já estava de volta. Colocou a bandeja no colo dele, como fez com o café da manhã.
Marinette:—Tem arroz, brócolis cozidos, carne picada e purê de abóbora. O prato está dividido em 4 partes. Arroz ao norte, carne ao sul. Brócolis ao leste e abóbora ao oeste.
Adrien:—Entendi.
Música: Cheiro de shampoo - Gustavo Lima e Eduardo Costa - ano 2014