De olhos fechados

By Sibilaviana

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Até onde um bom coração aguenta ir para ajudar uma alma que parece estar perdida? Qual é o limite da benevolê... More

1 - Prefácio
2 - A viagem
3 - Dias melhores
4 - A cura
5 - Amigo estou aqui
6 - Mais uma vez
7 - Novo tempo
8 - Falando segredo
10 - Não vou me adaptar
11 - Maltratar não é direito
12 - Azul da cor do mar
13 - Vento Ventania
14 - Sorri
15 - Onde Deus possa me ouvir
16 - Pareço um menino
17 - Quase um segundo
18 - Sutilmente
19 - Paciência
20 - Coração vazio
21 - Sou eu
22 - Devaneios
23 - Sonhos
24 - Velha infância
25 - Epitáfio
26 - Falando sério
27 - Do fundo do meu coração
28 - Só vou gostar de quem gosta de mim
29 - Tudo por nada
30 - Garotos
31 - Sinônimos
32 - Não enche
33 - Dou a vida por um beijo
34 - Um pro outro
35 - Quem de nós dois
36 - Amar é...
37 - Domingo
38 - Oceano
39 - Tenho medo
40 - Amanhã
41 - Traição não é acidente
42 - Sinto sua falta
43 - Orgulho por orgulho
44 - Sinal fechado
45 - Se eu não te amasse tanto assim
46 - Faltando um pedaço
47 - Briga feia
48 - Fico assim sem você
49 - Dois enganados
50 - Sentimentos são

9 - Cheiro de shampoo

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By Sibilaviana

    3 horas depois Alya voltou e encontrou Marinette ali, como se fosse um guarda real.

Alya:—Marinette, o que está fazendo?

Marinette:—O senhor Agreste me mandou ficar aqui fora e disse que se precisasse ele chamaria. Como eu fiquei com medo de não ouvi-lo caso ele me chamasse, achei melhor ficar aqui perto.

Alya:—Há quanto tempo está aqui de pé?

Marinette:—Desde que lhe servi o café da manhã.

Alya:—Isso é um absurdo! Eu vou falar com ele e...

Marinette:—Não, por favor. Não quero que ele tenha motivos para me dispensar.

Alya:—Ele não vai, fique tranquila. Eu já volto.

    Alya logo entrou no quarto, deixando Marinette do lado de fora.

Adrien:—Não bate mais na porta não?

Alya:—Pra quê? Você sempre me deixa entrar!

Adrien:—A novata já foi embora?

Alya:—Não. Está parada do lado de fora da porta desde que você a mandou sair.

Adrien:—Nossa, por essa eu não esperava.

Alya:—O que você quer, Adrien? Tá achando que é fácil conseguir pessoas para esse cargo? Sem contar todo o trabalho que me dá para conseguir gente que não vá me extorquir depois, por conta do seu segredo.

Adrien:—Você podia ficar comigo e evitar isso tudo - disse debochado

Alya:—Se eu ficar aqui com você, quem cuida de todo o resto? Eu estou me virando em 3, Adrien, tá puxado. Me ajuda a te ajudar pelo menos. Essa moça parece ser boa. Fez 2 anos de medicina, não é uma qualquer. Tem quase a sua idade e precisa do emprego, além de me parecer que realmente quer ajudar. Dá uma chance.

Adrien:—Se ela me aturar por 3 dias, eu pego leve depois. Fechado?

Alya:—Fechado.

    Alya saiu e olhou para Marinette, que estava apreensiva, com medo de ser mandada embora.

Alya:—Certo. Se você aturar ele nos próximos 3 dias, o emprego está garantido.

Marinette:—Obrigada Alya - disse aliviada

Adrien:—MARILENE? - gritou

Marinette:—Acho que ele está me chamando - disse rindo para Alya quando entrou no quarto. É Marinette, senhor.

Adrien:—Tanto faz. Preciso tomar banho.

Marinette:—Certo. O que quer que eu faça?

Adrien:—Quero que me guie até o banheiro.

Marinette:—Pois bem. Levante-se.

    Adrien se levantou. Céus, ele devia ter mais de 1,85m enquanto Marinette não tinha nem 1,70m. E ainda estava sem camisa, com gesso no braço direito e alguns pontos ao lado da costela. Marinette engoliu seco. Ele tinha um perfume amadeirado que lhe arrepiava os pelos! Ela então pegou-lhe a mão esquerda e colocou em seu ombro.

Adrien:—Como você é baixinha - disse debochado

Marinette:—Sim, é verdade. Como faz com o braço engessado?

Adrien:—Eu desatarraxo antes do banho e depois coloco de volta.

Marinette:—Ah sim. Precisa de alguma ferramenta para isso?

Adrien:—Não acha que estou falando sério, né? - perguntou incrédulo

Marinette riu:—Claro que não. Acho que um saco plástico resolve, certo?

Adrien:—Claro, né? Deve ter um sobre a pia.

Marinette:—Sim, aqui está. Me dê seu braço para eu colocá-lo.

    Adrien esticou o braço e Marinette o vestiu com a sacola. Mas ao invés de tapar sua mão, ela rasgou o saco e colocou um elástico no pulso de Adrien e um depois do cotovelo.

Adrien:—O que está fazendo?

Marinette:—Deixando sua mão livre. Assim, facilita para você abrir o shampoo.

Adrien:—Tá, tanto faz.

Marinette:—Precisa de mais alguma coisa?

Adrien:—Não, pode sair. Eu me viro.

Marinette:—A toalha está no gancho. Quer que eu pegue a sua roupa?

Adrien:—Pode ser. Uma calça de moletom verde e uma camisa branca, estão pendurados no meu closet. E uma cueca box, na gaveta.

Marinette:—Sim senhor. Vou deixar a porta entreaberta, caso precise é só chamar.

Adrien:—Tá, agora sai.

    A mestiça saiu do banheiro e logo foi buscar a roupa. Deixou-a dobrada sobre a pia e logo ouviu um xingamento vindo do box.

Marinette:—Senhor Agreste, tá tudo bem?

Adrien:—Não, não está.

Marinette:—Precisa de ajuda?

Adrien:—O sabonete caiu no chão e não consigo achar.

    Marinette abriu as gavetas do móvel que ficava debaixo da pia e logo encontrou uma caixa com vários sabonetes. Pegou um novo e foi até o box.

Marinette:—Levante sua mão esquerda sobre a divisória de vidro. Agora segure, estou lhe dando um sabonete novo.

Adrien:—É, não é mesmo burra. Enfim alguém que pensa...

Marinette:—De nada - disse e saiu do banheiro. É, vai ser difícil...mas o que que foi fácil na sua vida, né Marinette? 

    Uns 20 minutos depois Adrien saiu do banheiro. O cheiro do shampoo dele era arrebatador! Marinette ajudou a tirar a sacola do braço engessado e percebeu que ele estava com os cabelos pingando.

Marinette:—Seu cabelo está muito molhado. Você costuma secar com o secador?

Adrien:—Costumava quando enxergava e tinha os dois braços bons.

Marinette:—Eu posso secar pra você. Venha, sente-se aqui - disse o levando até a cadeira que ficava de frente para o computador em seu quarto.

    Marinette ligou o secador na tomada e começou a jogar o vento nos fios loiros do Agreste. Tinham um cheiro delicioso, com certeza do shampoo levemente cítrico. E eram macios como cabelos de bebê. Conforme ela ia jogando o vento, ia mexendo nos fios delicadamente, quase como um carinho. Adrien, por alguns segundos, relaxou. Lembrou de quando Emily fazia o mesmo, quando ele cismava de lavar a cabeça tarde da noite e ela não queria que ele dormisse com os cabelos molhados. As lembranças de sua mãe eram confortáveis, mas ao mesmo tempo doíam. Ele logo ergueu a mão, afastando Marinette de si.

Adrien:—Já está bom - disse se levantando da cadeira rapidamente.

Marinette:—Fiz algo errado? Te machuquei?

Adrien:—Não. Mas já chega, não preciso de mais secador.

Marinette:—Tudo bem. Já quer almoçar?

Adrien:—Não.

Marinette:—Quer ver tv?

Adrien:—Sério? Você me perguntou mesmo se eu quero ver tv? 

Marinette:—Desculpe, foi modo de dizer. Quer que eu ligue a tv para você ouvir alguma coisa?

Adrien:—Não.

Marinette:—Quer que eu coloque uma música?

Adrien:—Não.

Marinette:—Quer conversar?

Adrien:—Não.

Marinette:—Quer que eu faça alguma coisa pra você?

Adrien:—Sim.

    Marinette abriu um sorriso. Ele finalmente estaria abaixando a guarda!

Marinette:—Que bom. O que quer que eu faça?

Adrien:—Saia do meu quarto e me deixe em paz.

    Seu sorriso na mesma hora se desfez. Por um instante ela achou que estaria se aproximando daquele homem lindo e maravilhoso, mas que, de lindo, só tinha mesmo a casca.

Marinette:—Sim senhor. Se precisar, é só me chamar.

     Sem ouvir nenhuma resposta,  novamente saiu e ficou de pé do lado de fora da porta. Nathalie passou pelo corredor e viu a mocinha ali, igual a um dois de paus. Resolveu que seria melhor lhe trazer uma cadeira, pelo menos ela esperaria sentada. Marinette agradeceu e colocou um dos seus fones de ouvido, escolhendo uma playlist bem calma e tranquila, e bem baixinha também, porque caso o patrãozinho a chamasse, ela ouviria na mesma hora.

    Mais duas horas se passaram até que ela resolveu bater na porta. Nada de resposta. Achou que ele pudesse estar dormindo e abriu a porta de vagar. Caminhou lentamente até a cama e o olhou. Estava deitado com as mãos cruzadas sobre o abdômen. Como estava de tampão nos olhos, ela não sabia dizer se ele estava dormindo ou não. Era realmente um homem lindo se se admirar, pena que tão amargo.

Adrien:—Cuidado pra não babar em cima de mim.

Marinette:—Só queria saber se já está com fome - perguntou, disfarçando o susto.

Adrien:—Acho que já posso almoçar.

Marinette:—Quer que eu traga aqui ou prefere ir até a sala de jantar?

Adrien:—Pra que? Pra ficarem rindo de mim? Pode trazer aqui mesmo.

Marinette:—Certo. Já volto.

    Adrien estava começando a achar que aquela mulher não desistiria facilmente de cuidar dele. Mas ele odiava isso, principalmente por sentir que ela o olhava com pena, como se ele fosse um pobre coitado inválido e isso o deixava ainda mais furioso.

    Em minutos Marinette já estava de volta. Colocou a bandeja no colo dele, como fez com o café da manhã.

Marinette:—Tem arroz, brócolis cozidos, carne picada e purê de abóbora. O prato está dividido em 4 partes. Arroz ao norte, carne ao sul. Brócolis ao leste e abóbora ao oeste. 

Adrien:—Entendi.


  Música: Cheiro de shampoo - Gustavo Lima e Eduardo Costa - ano 2014  





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