RHOE
Eu estava há cinco dias em Velaris. Há cinco dias eu me perco toda manhã na hora de voltar para o apartamento.
Sim, mesmo de cima, na minha forma animal — uma águia — eu conseguia me confundir nas milhares de praças iguais e prédios do mesmo tamanho. Aquela cidade era um labirinto. Não como Orynth, que tem uma praça central onde fica a maioria dos mercados e o teatro; e apenas quatro avenidas ligando os quatro portões da cidade à tal praça.
Velaris tem milhares de pontes cortando o Sidra, milhares de pequenas praças com fontes e luminárias, milhares de lojas do mesmo tamanho. Uma misericórdia era que a joalheria de Celeste era a única com a fachada vermelha na praça e que consegui descobrir que o galpão fica ao sul da Casa do Vento. Mesmo assim, haviam tantas praças ao sul.
Nunca me dei bem com sensos de direção. Isso é para papai e Sam e Gale. Talvez até Nehemia. Minha cabeça simplesmente não funciona nesse quesito.
— Porque está cheia de fatos desnecessários — Nehemia reclamou uma vez.
— História e conhecimento não é desnecessário, Nehemia. E não é como se eu fosse precisar disso um dia.
Eu precisei. Semanas depois daquela conversa e agora, sentindo o vento da manhã bater nas minhas penas.
Estalo o bico em irritação planando mais uma vez na mesma ruela. Eu já passei por aqui três vezes se minha memória não me falha.
Se eu tivesse a memória de Seren me lembraria de onde estou dormindo há cinco dias.
O pensamento dela me encurralou mais cedo que o normal, e nem mesmo minha mudança de forma e a súbita calçada sob meus pés a tiraram da mente. Fui em algumas reuniões pela promessa de Rhey para me auxiliar no estudo sobre Prythian, Seren estava em todas. Ela disse que gostava disso, mas eu não imaginava que era tanto. A fêmea tem o mesmo domínio que minha mãe, foi no mínimo impressionante.
Tirando isso, não entendi metade sobre o que eles falavam. Eram sempre pautas já iniciadas. Se o risinho de Seren em algumas vezes fosse um indicativo, estava muito bem estampado em mim a completa ignorância. Fora isso, não trocamos nenhuma palavra desde aquele dia no apartamento; a impressão que eu tinha era que ela fugia de mim.
Viro uma esquina apenas para dar de cara com um beco. A loja de incenso aberta enche o lugar estreito com um cheiro exageradamente doce, mas ao seu lado está... graças ao Caldeirão ou quem quer que ajuda os espíritos perdidos. Preciso piscar de novo para ter certeza de que estou vendo mesmo uma loja de mapas.
O sininho encima da porta soa. Paro para dar tempo dos meus olhos se acostumarem com o ambiente escuro.
— Feche logo antes que esse cheiro insuportável entre! — Alguém, uma fêmea, grita no interior da loja. Meu susto faz com que eu bata a porta e a voz bufa. — Bom, não precisava quebrar, era só ter fechado rápido.
— Desculpe — peço olhando a redor.
Há mapas na parede, de Prythian, do continente, de vários outros países. Mesas de vidro exibem mais mapas do tamanho de seus tampos. No balcão de vidro estão versões menores, de bolso. Dobrados diversas vezes ou apenas para decoração.
— A maioria faz isso — a fêmea diz, fazendo com que meu corpo se vire automaticamente em sua direção.
Ela é uma feérica bonita, é o meu primeiro pensamento obrigando minhas pernas a funcionarem.
Seu cabelo é preto, os olhos castanhos brilhante, a pele negra. Lábios fartos, nariz fino, corpo esguio. Linda mas...
Interrompo meu raciocínio antes de conseguir concluí-lo. Não é justo comigo mesmo, lembro. Pare de pensar nisso.
— O que deseja? — A feérica diz piscando os cílios. Apesar da reprimenda, há um pequeno sorriso em seus lábios.
— Um mapa da cidade — peço. — O mais completo que você tiver, por favor.
— É novo em Velaris? — Ela pergunta se abaixando para procurar o que eu pedi.
Assinto embora ela não possa ver.
— Como soube?
— Você tem sotaque. E eu me lembraria se já tivesse visto seu rosto por aí — a feérica se levanta subitamente. — Pela Mãe, isso soou muito como um flerte. Não foi um flerte, apesar de você ser um dos machos mais lindos que eu já vi. Sua beleza é apenas... diferente e seus olhos são muito bonitos, eu definitivamente teria me lembrado.
Eu mentiria se dissesse que meu ego não foi às alturas. Sou filho de Aelin Galathynius, por Wyrd. Sou bonito, sei disso tanto quanto sei que um elogio reforçando isso é capaz de tirar todo o meu mal humor por ter me perdido dos ombros.
A feérica retribui meu sorriso com outro, mas o dela é totalmente envergonhado.
Batuco meus dedos no balcão com a melodia da música que ouvi ontem a noite enquanto jantava. Meus sentidos para esse tipo de coisa pareceram se aguçar e a música de Velaris... é incrível. Cada uma delas é, e ainda são capazes de ficar na minha cabeça por dias a fio.
— Aqui está — a feérica diz abrindo um mapa.
Um alívio inexplicável percorre meu peito.
— Ótimo — digo. — Pode me mostrar onde fica a Celestial Jóias?
— Certo — ela apanha uma caneta e leva alguns segundo para circular um quadrado indicando o prédio da joalheria. — Está hospedado perto?
— Tão perto que parece ser no mesmo prédio.
— Dizem que o príncipe e a princesa moram nas redondezas quando vêem visitar do reino no continente.
Certo, Sam e Rhey são príncipe e princesa de Velaris agora que Seren é a herdeira da Corte. Eles precisam ser cuidadosos cada vez que visitam a cidade, a viagem do continente dura em média uma semana não é como se eles pudessem fazer aparições a cada dois dias sem que o povo estranhe.
A fêmea faz outro círculo a alguns quarteirões da joalheria.
— E aqui é onde você está — ela murmura. — Para o caso de precisar de... mais mapas.
Um nome acompanha a sinalização. Cerys.
— Isso me pareceu muito com um flerte — encaro Cerys nos olhos, ela não hesita um segundo.
— Porque foi — suas mãos dobram o mapa até ele caber na palma da minha mão e me entrega. — Custa uma moeda de bronze. — Remexo meus bolsos até encontrar a moeda e descansá-la no balcão. — Caso queira conhecer a cidade, sou uma ótima guia.
Rio baixinho.
— Guardarei essa informação. — Vejo Cerys sorrir conforme me viro com uma breve mesura. — Nos vemos por aí.
— Feche a porta rápido!
O cheiro de incenso faz meus olhos arderem até encontrar um lugar fresco e abrir o mapa mais uma vez.
⋆
Eu sabia que o apartamento tinha a biometria de todos os amigos e familiares de Sam e Rhey. Quero dizer, eles vão pouco ali, precisam que alguém cuide das coisas caso algo aconteça. É impossível atravessar diretamento para dentro como a Casa no rio e a Casa do Vento, então você precisa encarar a porta de ferro cheia dos feitiços e encantamentos complexos, a escada estreita e a porta deslizante que sequer tem uma fechadura.
Ouvi as vozes deles logo quando abri a porta na lateral do prédio. A primeira era Gale, já grossa pela idade; Taran rindo de provavelmente agora que meu irmão fizera e...
— Parabéns, Rhoe, nunca vi esse lugar tão arrumado — Gale gritou do sofá no momento em que deslizo a porta.
— Não é só porque você é um porco que vive na própria sujeira que as outras pessoas precisam ser — Taran murmura da cozinha. Ele tem uma frigideira na mão com o cheiro que parece omelete.
Seren está sentada no balcão, vendo o omelete fritar. Ela se vira para mim balançando a trança nas costas, os olhos azuis brilhando na luz que entra pelas janelas, e um sorriso pequeno curva os lábios.
— O que estão fazendo aqui? — Pergunto, por fim.
— Gale vai voltar pras estepes com Cassian e quis vim te ver — Seren responde. — Ele encontrou eu e Taran treinando em casa e nos chamou para vir junto.
Certo. Não me permiti olhar bem para o que Seren usava até aquele momento. Eu já vi minha irmã usar um couro illyriano, e não era nada como aquilo. Seren tinha curvas, e mais volume que minha irmã; as asas que agora despontavam de suas costas também davam um outro ar à toda aquela roupa.
Seren é a fêmea mais linda que eu conheço lembrando que vivo com quatro irmãs e uma mãe estonteantes. Mas a beleza dela, os olhos azuis grandes, a boca grossa, o rosto perfeito, a pele bronzeada; é diferente.
— Mamãe mandou mais roupas para você — meu irmão interrompe meus pensamentos e quase o agradeço por isso.
— Por que? — pergunto indo até ele, me sentando no sofá ao seu lado. Não demora para Seren se juntar a nós com o grande omelete no prato em sua mão.
— Porque você é o bebêzinho da mamãe, Rhoe. Não é óbvio? — Ela zomba.
— Muito engraçada.
— É um dos meus muitos dons, Alteza. — Tento ignorar o embrulho no estômago que a piscadela de Seren provocou em mim. Ela morde o omelete e completa: — Minha mãe fazia isso com Rhey até ele parar de aceitar as roupas extras e todo o resto. É o preço que se paga por ser o filho preferido.
— Eu sou o filho preferido — Gale protesta.
— Nos seus sonhos — rebato.
Os passos pesado de Taran faz com que eu me vire para olhá-lo. Faz alguns meses que ele deixara realmente a barba crescer, não estava grande mas era fechada e muito bem aparada; ele parecia mais velho do que realmente era. Parecia o pai que se tornou alguns anos atrás.
— Preciso ir — o illyriano diz mais para Seren do que eu e meu irmão. — Vocês vão para Terrasen no fim de semana?
— O que tem em Terrasen? — Gale pergunta.
— É o aniversário de Cardan. Você é um péssimo tio — respondo.
— Não vai ser junto com Kalon? Como foi todos os anos?
— Ah, não. Os dois imploraram para mudarem isso — Seren murmura. — Você tinha que ver Kalon usou as lágrimas da autopiedade para mamãe e Sam desistirem do aniversário duplo, então teremos duas festas, uma em Terrasen e outra aqui.
Dou de ombros.
— Cardan odeia festas, ele só aceitou isso para encher a cara de novo.
— Você tinha alguma duvida? — Ela pergunta, e passa uns bons segundos olhando em meus olhos. Sei que a lembrança da última vez que Cardan encheu a cara também passou em sua mente. Seren desvia rapidamente, fitando Taran. — Isso é culpa sua, aliás.
— Sim, sim. Já ouvi o suficiente de Rhey e Sam por ter ensino o garoto a esconder bebida embaixo do colchão.
Seren dá de ombros.
— De qualquer forma, eu devo ir em três dias com meus pais.
O illyriano estala a língua.
— Astrid e Freya querem ir antes, pensei em mandá-las com você.
— Elas podem ir comigo — falo prontamente. — Vou depois de amanhã.
— Você sempre foi meu Galathynius preferido — Taran murmura.
Ele não olha para trás a fim de ouvir os protestos de Gale, desce as escadas e demora bons minutos para meu irmão parar de reclamar.
Seren ainda está comendo o omelete quando me direciono a ela.
— Não tem reuniões hoje?
— Depois da bagunça que foi ontem meus pais me deram o dia de folga. Ainda estou com enxaquecas.
— Sequer entendi o que aconteceu ontem e estou com enxaquecas, imagino que foi três vezes pior para você.
Ela apenas assente e um rubor discreto mancha as bochechas. Eu riria como Seren fizera comigo até adicionar aquilo às coisas que estou aprendendo sobre a fêmea. Ela pode ser a herdeira da Corte Noturna com toda a voz autoritária e comandos nas reuniões, e a garota confiante e um pouco arrogante na frente de quem tem intimidade — ou se sente confortável — mas parece que isso some em algumas horas do dia. Acho que ela se cansa das máscaras e se permite descansar por poucos minutos, vi isso em algumas reuniões. Um aperto de mão do pai, ou um sorriso da mãe a animam; mas Seren se cansa de verdade.
Não estou dizendo que sua personalidade é uma máscara. Seren é confiante, é mandona, é engraçada; mas como qualquer um ter essa expectativa dos outros nas costas cansa. Sou bom em ler pessoas embora sequer tenha precisado de atenção para lê-la, as vezes é necessário apenas olhar em seus olhos. Eles transparecem mais do que acho que Seren queira.
A reunião de ontem foi uma bagunça. Muitas discussões acaloradas que Rhysand e Feyre deixaram a filha tomar frente como meus pais faziam quando... Sam foi apagada de nossas mentes e eu fingi ser herdeiro. Sequer menti ao dizer que não entendi o que aconteceu, a completa ignorância da minha mente para com o governo da Corte Noturna ajudou nisso tudo.
Eu precisava que alguém me ensinasse mas não tenho culhões para pedir à Rhysand e Feyre, eles têm mais o que fazer. Rhey poderia me ajudar mas voltar para Terrasen seria um empecilho e Seren...
Pode funcionar, não foi papai nem mamãe que sussurrou dessa vez mas minha própria voz interior.
Posso retribuir esse favor. Ela teve uma crise por não saber quem é e provavelmente esteja trabalhando nisso. Eu posso ajudá-la a fazer isso, e ela pode me ajudar sobre a Corte. Sem expectativas, apenas uma troca de favores.
Era para ela estar fora do seu sistema, de novo, minha própria voz diz.
Vai se lascar, respondo.
— Por que ele está com essa cara? — Ouço Seren perguntar ao meu irmão em algum lugar fora da minha mente.
— Merda, ele está pensando.
— Pensando?
— Ele é o inteligente da família, provavelmente está resolvendo uma equação ou descobrindo os segredos do universo, eu não sei.
O sofá se mexe.
— Aonde você vai? — Seren exaspera.
— A vida me ensinou a não incomodar um Galathynius quando ele usa essa cara, princesa — Gale se inclina para beijar a testa dela. — Te vejo em alguns dias e... boa sorte.
O som da porta se fechando é o suficiente para eu sair daquele lugar escuro no fundo da minha mente e ver que Seren me encara, o cenho franzido. Ela desvia ao perceber minha atenção e preciso de muito autocontrole para não tirar os fios de cabelo que soltaram da trança do seu rosto.
Me arrasto para a ponta do sofá. Ela percebe minha proximidade colocando as mãos no meio das pernas.
— Eu tive uma ideia — anuncio.
— Deuses, você estava mesmo pensando — seu tom de voz sugere algo que não pude decifrar. Ela engole em seco, então. — Qual a sua ideia?
— Aquele dia você disse que não sabe quem é, certo? — Um assentir hesitante é tudo o que eu percebo. — Eu acho que não é verdade mas estou disposto a te ajudar a mudar isso.
Seren ergue as sobrancelhas, quase como se não esperasse aquilo vindo de mim.
— O que quer em troca?
Não posso evitar o sorriso.
— Nunca disse que queria algo em troca.
— Menos, Rhoe, somos feéricos e eu não sou burra, tem que haver algo em que esteja pensando. — Outra vez, o sorriso é inevitável. — Não concordei com nada ainda, só estou curiosa para saber o motivo que o fez estar disposto a passar um tempo comigo.
Perguntei-me se Seren acha que eu não gosto dela. Que eu fui tão idiota quando conversamos depois do baile para fazê-la pensar isso.
Tiro isso da mente colocando em um canto. Posso analisar depois.
— Quero aulas. — Outro erguer de sobrancelhas. — Estou aqui para aprender sobre sua Corte mas não consigo apenas indo em reuniões que sequer sei o assunto. Preciso saber mais a fundo, e acho que pode me ensinar. Você disse que gosta do seu trabalho, e pelo o que vi tem muito domínio no que faz.
Seren ri, meu estômago embrulha mais uma vez. Pareço um adolescente.
— Acho que nunca ouvi você falar tanto — minhas bochechas queimam, pelo risinho dela sei que estou corando. — Então você quer aulas em troca de me ajudar a descobrir quem eu sou? Coisas que gosto e tudo mais? — Assinto. — Porquê acha que preciso da sua ajuda?
— Porque eu sei que você sabe quem é, só precisa de um empurrãozinho. — Ela não está convencida. Para alguém que teve aquela crise, não imaginei que sua reação seria outra. — Tudo bem, vamos começar pelo básico: quem são as pessoas que você mais ama?
— Meus pais e irmãos — ela sequer hesita.
— Quem você mais odeia?
— Tamlin, Amarantha, o rei de Hybern. Maisie.
A cicatriz nas minhas costas ardeu com o nome dela. Ignoro isso.
— Viu? Se você não se conhecesse sequer saberia isso. São pequenos detalhes, Seren. Descobrimos coisas sobre nós mesmos todos os dias, você apenas... não teve tempo de fazer isso, ou se importou em fazer até aquele dia.
— Você não é nenhum terapeuta, Rhoe.
— Mas eu já precisei enfrentar esse processo, Seren. Precisei conhecer a mim mesmo e era um pouco mais velho que você — resisto ao impulso de pegar suas mãos porque interpretei que elas estavam nas pernas por alguma razão. — Foi difícil mas acho que pelo motivo de eu não ter alguém para me ajudar. Acredite quando eu digo que a vida é bem mais fácil quando você se conhece; aprende seus lados bons, ruins, os aceita e vê a beleza em cada um.
Nunca falei aquilo em voz alta. Não falei que foi quando entrei naquele navio mas ela deve estar ligando os pontos. Foi difícil, doloroso, horrível de todas as formas. Eu estava no fundo do poço. Fodi, bebi, e apanhei o quanto pude em cada país que visitei. Então, um dia parei e comecei a me curar e me encontrar. Sozinho.
— Todos os meus lados são bonitos — embora suas palavras dizem que ela mesma não acredite nisso, há um sorriso convencido naqueles lábios. Sorrio de volta.
— Tenho certeza que sim.
Seren então suspira.
— Teremos que passar muito tempo juntos, Rhoe. Um tempo livre que eu não tenho abundantemente.
— Eu sei — aquele era um dos obstáculos. — Quando você puder será quando eu puder. Aulas, algumas atividades para te ajudar e será tudo. Você vai para a sua casa, eu venho para cá e pronto.
— Será tudo? Mesmo depois do baile, de termos dito que foi um erro? Eu vejo você, e preciso que seja sincero.
Será tudo? Eu não sabia. Queria que sim, como queria. Mas essa garota... Ela é diferente de tudo o que me aconteceu. Ela me atinge como um furacão. Preciso de cada pingo de auto-controle quando estou perto dela.
Terá que ser tudo. Seremos amigos e apenas isso.
— Será tudo, Seren. Apenas duas pessoas ajudando uma a outra.
— Prometa.
— Eu prometo — torço para que ela não tenha percebido que hesitei. Seren dá um risinho. — O quê?
— Estou pensando se fazemos um acordo. Minha família adora essas coisas — sim, ninguém poderia negar isso. — E eu sempre quis uma tatuagem. — Ela dá de ombros. — Esqueça.
Suas asas se encolhem atrás de si, é o único sinal de emoção que vejo quando ela tira os olhos de mim para o oceno janela afora.
Estico meus sentidos e ouço a música na praça. Meu corpo inteiro se arrepia com a melodia, o alaúde, a harpa, as flautas, tambores. O tipo de música que é capaz de acordar meu corpo, de tirar de mim cada pensamento ruim.
Cresci aprendendo a amar música. Cantando, tocando, ouvindo o tempo todo. Aquela cidade era um sonho para alguém como eu. A cada esquina uma batida diferente enchendo o ar.
Terrasen igualmente. Meu reino é o melhor lugar do mundo, um sonho Humanos e feéricos convivendo juntos, uma nação de união e igualdade e todas as coisas boas que se pode pensar.
— Me encontre amanhã na Casa do Vento às dez — Seren diz, por fim, arrancando-me dos meus pensamentos.
Era uma ordem, claramente.
— Você é uma professora exigente? — Pergunto com um meio-sorriso.
— Sou exigente com absolutamente tudo, meus padrões são bem altos.
— Agradeça aos deuses que sou um ótimo aluno, então, Senhora.
— Não, Alteza, vou agradecer por você ter esse rostinho bonito e isso tornar difícil que eu enjoe da sua cara.
26.03.21
Sei que eu prometi parar de dar avisos, mas isso é importante. Antes que venham xingar a Cerys (porque eu sei que é isso que muitos vão fazer) lembrem-se de duas coisas, ok? Primeiro é que a Seren e o Rhoe não têm absolutamente nada, ambos são solteiros. Segundo que nenhum dos dois sabe o que o outro pensa, então na cabeça de cada um está a grande possibilidade de que o Rhoe não quer nada com a Seren e vice-versa. Tenho para mim que alguns personagens são criados para serem odiados (Maisie em FS, Berach e Mikel em SW) mas esse não é o caso da Cerys; por favor não forcem uma "rivalidade" que NÃO EXISTE.