❝ Você está se apaixonando?
Tenho a sensação de que você está ❞
Moment — Lildeath
𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟓
𝐛𝐞𝐢𝐣𝐨 𝐩𝐨𝐫 𝐜𝐨𝐧𝐯𝐞𝐧𝐢𝐞̂𝐧𝐜𝐢𝐚
No domingo, o clima em casa estava pesado. Sentados à mesa para o café da manhã, um silêncio tenso pairava sobre nós, como se estivéssemos evitando tocar em assuntos delicados. Lilian estava visivelmente mais tensa do que o habitual, enquanto Charles parecia estar em seu mundo distante, como de costume.
Durante o resto do dia, não houve nenhum evento notável. Aproveitei meu tempo livre para mergulhar em vídeos no YouTube sobre karatê, tentando preencher o vazio deixado pela ausência do treino. No entanto, por mais informativos que fossem os vídeos, nada se comparava à sensação de aprender na prática. A frustração crescente por não poder praticar era palpável.
Na segunda-feira, após assistir algumas aulas, aproveitei o horário vago para encontrar Miguel.
— E quando vamos treinar de novo? — perguntei, mal conseguindo conter minha ansiedade pela próxima aula.
— Nós não vamos — disse ele, em um tom sombrio — Depois do que aconteceu minha mãe surtou e me proibiu. O Sensei Lawrence teve um tipo de ataque de culpa e disse que não tem mais dojô.
Aquilo foi um balde de água fria.
— Serio? Que péssimo. Eu estava animada com a ideia.
Por que toda vez que começo a gostar de algo, tudo dá errado? É como se o universo conspirasse contra mim.
— Posso tentar falar com o Sensei Lawrence de novo. Se você quiser, pode vir junto — ofereceu Miguel — Talvez se nós dois insistirmos, ele cede.
— Tudo bem. Quando quiser ir, me avisa — respondi, tentando não deixar transparecer minha desilusão.
Fomos juntos para biblioteca estudar, Demetri e Eli também estavam lá.
Miguel compartilhou a notícia sobre o fim do karatê, e Demetri pareceu quase animado com a ideia.
— Então acabou? Não tem mais karatê? — questionou Demetri, parecendo intrigado.
— Acho que não — respondeu Miguel, concentrado em seus livros.
— Não é justo. Eu mal havia começado — comentei, cruzando os braços em frustração.
— É melhor assim. Estava começando a aumentar sua confiança — comentou Demetri.
— Isso não é bom? — Miguel franziu o cenho.
— Não. O que a confiança já deu a alguém além de um olho roxo e a mochila jogada no lixo?
Eli, em seu jeito tranquilo, interveio.
— Eu achei legal como você enfrentou o Kyler — ele disse baixo, quase murmurando.
— Sim, foi bem corajoso — concordei.
— Vocês piraram? — Demetri questionou, incrédulo — Me diz uma coisa, qual é o melhor super poder que alguém pode ter? — indagou.
— Super força — respondeu Miguel, sem hesitar.
— Nada disso — Demetri negou com a cabeça — Invisibilidade, e em segundo lugar super velocidade, pra fugir bem rapidinho.
Nesse momento, Kyler chegou, entrelaçando os braços ao redor de Eli.
— Fugir de que? — perguntou Kyler, com deboche.
— Quem! — seu amigo loiro o corrigiu — É o objeto de uma preposição. Lembra da aula de inglês?
Rapidamente, os meninos começaram a guardar suas coisas, e eu fiz o mesmo.
— A gente já tava de saída, tá? — Miguel se levantou.
Antes que pudéssemos sair, Kyler agarrou Eli pela nuca.
— Ué, estão indo pra onde? — indagou Kyler, segurando o rosto de Eli — Olha essa aberração — zombou do lábio dele — Que merda em, que garota beijaria essa coisa aqui?
Naquele momento, vendo-o falar daquele jeito com Eli, meu sangue ferveu. Esse babaca não pode fazer e falar tudo que quer sem ter consequências.
— Deixe ele em paz, idiota! — minha voz saiu firme e áspera.
Por alguns segundos, Kyler pareceu desacreditado com a ideia de alguém enfrentá-lo. Ele deu um sorriso de canto muito nojento e veio em minha direção.
— Virou a defensora dos nerds agora, gatinha? — ele aproximou sua mão do meu rosto, como se fosse acariciá-lo.
Assim que percebi seu movimento, agarrei seu braço e o torci. Ele caiu de joelhos no chão, gemendo de dor.
— Não toque em mim, seu escroto! — disse, torcendo com um pouco mais de força.
— Me solta, sua maluca! — Kyler implorou.
— Com prazer — empurrei-o, e ele caiu no chão.
— Vamos embora — Miguel chamou, aproveitando que Kyler estava se levantando.
Pensei em sairmos dali, mas a frase que Kyler disse me veio à cabeça. "Que garota beijaria essa coisa aqui?". Posso oferecer uma pequena punição provando que ele está errado.
— Eli! — o chamei, fazendo todos voltarem sua atenção para mim.
Ele me encarou, e pude sentir sua incerteza e vulnerabilidade. Seus olhos azuis revelavam um turbilhão de emoções. Antes que pudesse hesitar, aproximei-me e, num gesto impulsivo, o beijei.
Não foi um beijo de verdade, apenas um selinho rápido, mas carregado de significado. Senti a pele de Eli aquecer sob meus lábios, e por um instante, tudo ao redor pareceu desaparecer, exceto o calor daquele momento.
— Argh, que nojo! — Kyler fez careta — Agora já não é mais tão gatinha assim.
Ignorei o comentário insensível de Kyler, focada apenas no pulsar do meu coração e na expressão surpresa de Eli.
— Vamos?
Todos ainda estavam atônitos com o que acabara de acontecer, e eu mal conseguia acreditar na audácia do meu próprio gesto. Miguel soltou uma risada discreta enquanto nos afastávamos.
Caminhávamos pelo corredor quando percebi que Eli havia saído às pressas, sem sequer se despedir.
— Ué — franzi o cenho — Bom, já que somos só nós três...
— Só vocês dois. Tenho aula agora. Vejo vocês depois — Miguel também sumiu por outro corredor.
— Parece que só sobrou a gente. Não tem mais aulas? — perguntei a Demetri.
— Não.
— Se quiser, podemos estudar em casa. A biblioteca está muita mal frequentada nesse momento.
— Na sua casa? — ele arqueou uma sobrancelha, surpreso.
— É, na minha casa Demetri. O que é que tem?
— Nada... Claro, vamos sim.
— Deixe-me adivinhar. Nunca foi na casa de uma amiga?
— Eu nunca tive amigas.
— É, sua popularidade está bem em baixa no colégio — brinquei.
— Haha, engraçadinha — ele fingiu rir.
— Agora você tem a mim. Vamos?
Ele ajeitou a mochila nas costas e me seguiu até a saída.
Assim que chegamos, fomos recebidos por minha mãe, que nos olhou com uma expressão curiosa.
— Olá filha... e... quem é esse? — ela examinou Demetri de cima a baixo, deixando-o um tanto desconfortável.
— Um amigo da escola. Demetri, esse é minha mãe. Mãe, esse é o Demetri — fiz as apresentações, tentando aliviar a tensão no ar.
— É um prazer, Senhora Blake — Demetri estendeu a mão, mas de uma forma um tanto desajeitada.
— O prazer é meu — Minha mãe aceitou o cumprimento, mas parecia ainda mais intrigada.
— Vamos para o quarto estudar um pouco agora — tentei conduzir Demetri em direção às escadas, ansiosa para escapar daquele olhar curioso de minha mãe.
— Scar, quero a porta aberta — ela exclamou quando estávamos quase subindo.
— Meu Deus, mãe! Credo! Nós só vamos estudar — resmunguei, um pouco irritada com sua insistência.
— Está bem.
— Por que ela quer a porta aberta? Não entendi — Demetri perguntou, demonstrando sua inocência.
— Um dia você vai entender. Vamos lá.
Assim que entramos, Demetri examinou cada detalhe do quarto com curiosidade palpável.
— Você é a porra de uma princesa, Scar? — perguntou ele, com um misto de espanto e humor.
— Ah, não exagera — ri, tentando desviar da observação — É só o meu quarto.
— "É só o meu quarto" — imitou minha voz, arrancando uma risada minha — Sério, você mora em uma mansão e tem um quarto que parece saído de um conto de fadas.
— Tudo bem, admito que a decoração é um pouco... exagerada — concordei, olhando em volta. Realmente, o rosa predominante e os detalhes em branco e dourado podiam dar essa impressão — É assim desde que eu era criança.
— Você foi uma criança que amava rosa, posso ver — ele observou, pegando seu caderno na mochila e se acomodando no sofá.
Peguei meu próprio caderno e me sentei ao lado dele, sorrindo com a lembrança das brincadeiras de criança em meio àquelas paredes cor-de-rosa.
Um silêncio confortável pairou entre nós enquanto folheávamos os livros em busca das matérias para estudar.
— Me conta, que beijo foi aquele no Eli hoje na biblioteca? Ele foi real, né? Ou foi só minha imaginação? — Demetri quebrou o silêncio, sua curiosidade transparecendo em cada palavra.
— Foi bem real sim — respondi, cruzando as pernas.
— E o que passou pela sua cabeça para beijar ele assim, do nada? Justo na biblioteca?
— Aquele beijo foi só para ajudar ele — expliquei sinceramente — Kyler estava humilhando ele, dizendo que nenhuma garota iria querer beijá-lo, então fui lá e provei o contrário.
— Então admite que queria beijar ele? — soltou uma risada nasal.
Ele parecia estar dividido entre ter uma explosão de emoções pelo beijo e rir do mesmo.
Peguei uma das almofadas e acertei sua cara.
— Não enche o saco, Demetri.
Ele deu uma risada e me acertou de volta.
— É uma situação estranha, ainda mais você e Eli.
— O que tem de tão errado?
— Sei lá... Você é você. Ele é ele. Nunca imaginei isso.
— Está desmerecendo seu amigo?
— Não é isso. Você me entendeu.
— Algo que você deveria saber sobre mim é que eu gosto de enxergar além da aparência. Já me decepcionei ao escolher alguém apenas pela beleza exterior. E além do mais, por que tanta surpresa? Aos meus olhos, Eli é uma graça.
— Ok, agora você passou dos limites. Não quero mais ouvir sobre como meu melhor amigo é uma graça — ele fez um gesto com as mãos enquanto sorria.
— Tudo bem então — dei uma risada curta — Vamos estudar.
Espero que gostem! 🫶