E lá estava você mais uma vez. Seguindo com Feyre para dentro da prisão. Odiava aquele lugar, com todas suas forças. As energias que te passava, tão pesadas.
Das duas últimas vezes que vinhera, não entrará na cela que ela queria. Ficando um pouco afastada. Mas o suficiente perto para ouvir e agir caso preciso, não conseguia entrar em uma cela novamente.
Dessa vez, teria de entrar, para agir como interrogadora também.
A escuridão dominava tudo ao seu redor. Era tão estranho isso. Já que parcialmente, você é um ser de luz, pelo senso comum.
Era uma espécie desconhecida ali. A única da sua. Não lembrava de nada de sua vida passada. Isso a matava aos poucos.
Você não sabia seu nome, então, criou um novo para si.
Lagertha.
Tinha a idade de Amren. Mais temida que ela. A mesma, era sua melhor amiga. A única que te entendia e você a única que entendia ela.
Você sabia o que era provavelmente, maldade espreitava sua pele, assim como a bondade dominava seu coração e mente.
Criação, caos e destruição. Misturado e condimentado em um corpo pequeno. Tudo isso tão antigo. Sabia que carregava consigo desde o princípio.
Não me pergunte
O que você sabe é verdade
Voltou para a realidade quando Feyre a chamou, baixinho.
Estavam a frente da cela do Entalhador. A mais bonitas de todas. Aquela de onde vinham todas as emoções emitidas, sensações estranhar. Ela, com certeza te puxava demais.
A Grã-Senhora entrou primeiro. Você a seguindo, a porta não fechou com você lá dentro e agradeceu por isso. Não aguentaria mais milênios aqui.
"Vejo que trouxe aquela sua bichinha de estimação novamente, Grã-Senhora. Dessa vez, ela quis aparecer." A voz carregada de névoas soou. Atraindo seu olhar. O homem que apareceu para você era grande, talvez 1,95. Cabelos medianos e negros como a noite. Olhos acincentados e atraentes. Corpo relativamente forte, um pouco magro. "Como...?"
"Não sei o quer saber, mas não estou aqui para ser perguntada. Mas sim para você me dar respostas." Lagertha falou pela primeira vez ali.
Sua voz se fez como canção para o Entalhador. Ele quis sair daquele lugar pela primeira vez. Ver como o mundo reagia a você, um ser tão perfeito. Que ele agora estava encantado e entrelaçado.
"Com uma condição." Você riu, já sabendo disso. Aquela sensação negativa emitiu de ti.
"Já sabemos disso." Feyre respondeu por você. Caminhando para perto dele. "Então diga logo qual é?"
"Ela. Lagertha. Um nome tão lindo, tão antigo..." O homem se aproximou de você. Extremamente próximo. Mas você não se mexeu. Feyre, no entanto, empalideceu. "Quero a ver. Pelo menos duas vezes na semana"
A Archeron me olhou. A escolha seria minha. Ela me daria direito de escolha no meio da guerra. Sabia o que tanto eu quanto Amren passamos aqui, eu a contei os meus pesadelos.
"Farei isso, minha Grã-Senhora. Pelo bem de todos."
Você respondeu, diretamente a ela.
Sentindo o fungar mais próximo de seu pescoço. O Entalhador sugou seu cheiro, registrou seu rosto e sorriu. Começando a falar tudo o que perguntavamos.
Porém, negou quando lhe foi pedido lutar na Guerra conosco. Disse que iria aceitar quando outra decisão fosse aceita. Deixando as duas entrigadas.
Não tenho que te dizer
Eu amo seu coração precioso
Você fez o que foi combinado. Duas vezes na semana indo o ver. Terça e quinta estando lá. Fazendo companhia para ele.
No início, Amren surtou quando descobriu. Culpando Feyre por fazer você se arriscar.
Você a acalmou, falando que sabia se cuidar tanto quanto ela. E que era mais velha, então tinha razão. Ela riu e saiu, irritada.
Cassian te desejou sorte junto com Azriel e Mor.
Rhysand preferiu não comentar.
Contudo, as coisas estavam indo bem.
Conversavam sobre coisas aleatórias. Ele queria conhecer você mais. Você respondeu todas as questões, retribuindo os questionamentos e também tendo suas respostas.
Ele não era dali, isso era óbvio. Era de outra realidade, outra fenda, assim como você. E isso era legal de se saber.
Incrível na verdade.
Mais um igual você.
Porém com ele, somente com ele, sentia uma conexão mais forte. Com o passar dos dias isso se tornou intenso e você não negou mas também não aceitou.
Alguns dias, ficava calada. Vinha cansada e ele percebia. Se encostava na "cama". Com os cabelos brancos como neve caindo sobre os ombros. Seus olhos vermelhos como sangue fechados. Pele pálida como marfim brilhava mesmo na escuridão. Ele amava te ver assim. E registrou tudo com os ossos que ainda tinha ali.
Eu estava de pé
Você estava lá
Quando você contou a Rhysand o que estava acontecendo. Os sentimentos que estavam sentindo.
Como se encaixavam como a casa um do outro.
Mesmo com tudo desabando por anos, estavam lá um para o outro. E era incrível.
Rhys a entendeu, não aprovando, isso era óbvio.
Mas ele te viu chorar. Pela primeira vez nos quinhentos anos que te conhecia.
Você se sentia em casa. Iria para casa com o Entalhador de Ossos e sentia que aguentaria apenas por ele. Durante a guerra pelo menos.
Dois mundos colidiram
E eles nunca poderiam nos separar
E lá estava você, mais uma vez. Quinta-feira.
Não estava bem.
Depois de anos, havia discutido com Rhysand e Amren.
Rhys contou a Amren o que você contou a ele. Sobre como se sentia.
Ela, te humilhou. Nem ao mesmo tentou te entender.
Ignorou quaisquer coisa que você sentia. Como se você fosse uma idiota.
Não conseguiu controlar suas poderes. O ódio escapou por sua pele. Sua mente sendo dominada pela raiva intensa. Uma fumaça negra saiu por seus dedos, voando em direção a ela. Enrolando o corpo de Amren. Seus olhos estavam totalmente negros. E sua amiga não conseguia se mexer. Apenas se lembra do que falou antes de fugir: "Não me trate como inferior a você. Sou por igual ou superior a você, Amren. Não tolero humilhações. Se não se dispõe a entender. Não se ponha a arriscar nada para me contrariar. Não agora."
Você despertou de seu transe quando percebeu que já estava na porta do homem que a andava fazendo bem.
Sua palma fez com que abrisse a mesma.
Estranhou quando não o viu em lugar nenhum.
A escuridão estava dominando sua visão mais que o normal.
Se sentia presa novamente quando não exergou nada. Desesperando e criando pânico na mesma hora.
Estava começando a hiperventilar quando sentiu braços fortes a envolver.
Nós poderíamos viver
Por mil anos
O par de olhos cinzas entrou a sua frente e você se sentiu estremecer.
"Lagertha, meu amor. Se acalme. Estou aqui. Estava aqui." A voz baixa dominou seu interior, aquecendo tudo.
"Perdão" Pediu, não precisava explicar nada. Ele com certeza já sabia. Descobriu a pouco tempo que nunca precisou contar nada pra ele. O Entalhador sempre sabe de toda a verdade. Com um olhar consegue ver tudo. Então, ele apenas a abraçou, com força. Não soltando quando disse.
"Me deixa alegre saber que lhe deixo bem. Assim, posso te perguntar o que tanto queria. Desde que lhe vi."
"Não enrole tanto, sabe que odeio isso."
Ele riu, você revirou os olhos e se afastou, cruzando os braços para o ver.
Você, Lagertha, era a única que poderia ver a verdadeira face dele. E como este homem era lindo...
"Seja minha"
"Hm?" Você perguntou, confusa. Dele. Ser dele.
"Seja minha, Lagertha. Minha igual. Minha mulher... É como dizem né?" Questionou, dando de ombros. Sua feição era despreocupada. Mas seus músculos do torso estavam eretos e suas mãos se mexiam mais que o normal. Estava nervoso.
"Ah...deixe-me pensar" Se afastou um pouco, dando voltas no pequeno quarto. O olhando novamente, percebendo a cara de 'não me torture, por favor'. "Claro que...sim."
Sorriu, genuinamente. Vendo ele fazer o mesmo pela primeira vez.
O Entalhador, seu Entalhador, se aproximou. Te beijando pela primeira vez. Mesmo com anos dentro de uma cela, ainda sabia como beijar perfeitamente. Com delicadeza mas ainda assim, pegando mais forte com o passar do tempo. E você amou aceitar aquilo.
Mas se eu machucar você
Eu faria vinho de suas lágrimas
Acabou descobrindo mais tarde que esta era a última condição para que o mesmo aceitasse lutar ao lado de Prythian na Guerra. Feyre riu quando soube também.
A outra condição era poder ser livre, ao seu lado. Seria isso, sobre juramento.
No momento atual, você, ele, Tecelã e Bryaxis estavam na linha de frente. Decidiu libertar tudo aquilo que espreitava em você. Distraindo o suficiente para que Feyre, Nestha e Amren passassem e destruissem o Caldeirão.
Já sabia o verdadeiro plano de sua amiga, mesmo que não estivesse falando tanto com ela.
Você sofreu com a decisão dela, mas apoiou. Acima de tudo. Sabia que ela seria mais feliz se fosse livre. Você amava Amren e a felicidade dela, era a sua.
Eu te disse
Que poderíamos voar
Porque todos nós temos asas
Mas alguns de nós não sabem porque
As coisas aconteceram mais rápido que o normal. Muitos já haviam caído quando você sentiu. Seu corpo arrepiar e estrecemer. Olhou para o Caldeirão, o vendo se mover. O vendo se mover para seu homem, que estava distraído demais para perceber. Mas você o fez.
Seu coração pareceu explodir nessa hora.
A hora que você criou asas, sem perceber.
Enormes asas, duas vezes a de Azriel. Peludas e brancas como sua pele.
Você voou, voou para ele. Caindo a frente dele, envolvendo o corpo do mesmo em um abraço, com as asas envolta dele. O protegendo do "laser"
Você preferiria que ele vivesse. Você já passou muito tempo aqui fora. Ele não.
"Eu já disse que te amo?" Sussurrou no pé do ouvido do seu Entalhador. Sentiu suas costas queimarem e gritou. Não queria morrer. Não diferente dele que se interessava pela morte. Pela primeira vez, você o viu com medo. "Não se preocupe, querido. Eu estou no meu caminho, eu vou voltar pra casa. Sabe disso não é?" Disse com a voz falhando.
O raio do caldeirão não a matou na hora. Você não sabia o que houve. A dor existia.
E era enorme
Mas você sugava aquele poder. Dividindo-o com seu homem, abraçado ao seu corpo com força. Ele tentou trocar de lugar, mas suas asas o firmaram no lugar.
Você ouviu o grito de Amren quando o Caldeirão parou de mirar.
Suas pernas falharam. Costas queimadas. Se regenerando. O poder em seu corpo pequeno era tanto. Será que poderia explodir?
Eu estava de pé
Você estava lá
Dois mundos colidiram
E eles nunca poderiam nos separar
"Não, Lagertha. Você não vai me deixar, ouviu?" Ele segurou seu corpo com tanta força. Não observando a guerra ao redor. Suas asas eram fortes como aço. Tóxicas como mercúrio. Exalando a morte que uma vez criou caos em sua mente.
Lagertha ouvia mas não conseguia responder. Os gritos de Amren eram de dor. Ela viu o que aconteceu com a amiga. Todos viram o sacrifício.
Amren não pode se desculpar antes de te perder.
"Me desculpe por não ter mais tempo com você. Por favor me perdoe" Ela gemeu quando sua mão rachou. Emitindo luz, igual aquela que a atingiu. Logo sendo oculta pela luz.
"Dívida comigo." O Entalhador segurou sua mão. Olhando para você e esperando que você o ensinasse a sugar o poder. Concentração, você falou. Basicamente concentrar no que quer. E assim ele fez.
Ele retirou um pouco de seus poderes para que seu corpo aguentasse por um tempo. Se tivesse o tempo determinado, com a "ajuda" do Caldeirão, você seria curada e seu corpo seria adaptável para a quantidade de poder que tinha.
Quando o processo terminou, você desmaiou. Suas asas foram sumindo.
Ele a segurou no colo. Usando daquilo que adquiriu, mesmo que pouco, para explodir pelo menos mil soldados hybernianos a sua volta. Viraram névoa cinza, que voou com o vento.
O Entalhador te levou para um lugar mais seguro. O Chalé de sua irmã. Lhe deixaria ali por um tempo, era o lugar mais próximo e mais relativamente bom.
Voltaria mais tarde, ajudaria na Guerra primeiro, como prometido.
Vocês se encontraram. Nessa vida e já se conheciam na passada. Mundos destinados não se perdem e não se separam. E isso nunca iria acontecer. Não com vocês.