Bem vindo à
Bem vindo à
Bem vindo à
Bem vindo à
Mais uma vez lá estava ela, encostada na porta principal do próprio apartamento, puxando os joelhos contra o peito, chorando sem parar enquanto observava tudo em meio a escuridão. Havia acabado de correr para longe de Cassian. Uma breve discussão entre os dois. Ele estava tentando a convencer a voltar para a vida. Deixar de ignorar tudo e todos a todo tempo. Como se fosse fácil para ela depois de tanto que viu.
Os soluços invadiram o espaço, havia apenas uma janela iluminando particularmente uma parte. A porta do banheiro. O estômago da Archeron embrulhou com o pensamento do que havia ali dentro. Soltou um grito do fundo de sua garganta. Não se importando se receberia reclamações dos vizinhos depois.
Inferno se erguendo, cabelo arrepiando
Estou pronta para o pior
Tão assustador, rosto empalidecendo
Medo que você não pode reverter
Ela se levantou, cambaleando por alguns segundos, com a visão escurecida pela rapidez que fez os movimentos. Gemeu quando bateu o pé contra o sofá. Quase caindo. Respirou fundo caminhando até lá. Abrindo a porta com temor. Passou uma mão para os próprios cabelos. Um grunido de dor escapou de si.
Enquanto olhava para a banheira.
Puxou de trás de sua nuca um tufo de cabelo, fazia coisas assim no meio da ansiedade que tanto dominada seu corpo. Que a fazia parar de pensar decentemente e a tomava seus movimentos um pouco.
Enguliu em seco enquanto se aproximada, ascendendo uma luz. Apenas aquela do cômodo onde estava.
Caiu de joelhos a frente da torneira que enchia aquilo que tanto temia.
Meu telefone não tem sinal
Está fazendo minha pele rastejar
O silêncio é tão alto
As luzes acendem e piscam
Com monstros muito maiores
Do que posso controlar agora
Podia sentir tudo girando quando apertou a mão entorno dali, movimentando lentamente para a esquerda, ouvindo o som da água cair e bater contra o mármore branco. Umideceu os lábios estremamente secos. Virando-se bruscamente para a porta, sentindo uma presença atrás de si. Mas nada havia.
Estava alucinando mais uma vez. Nunca conseguia se controlar perante aquilo. Perante aos seus medos que a matam aos poucos. Tiram sua sanidade e a envolvem em um casulo de dor infinita. Fazendo com que a viva temendo a cada momento.
Ela fechou a porta, trancando, certificando-se de dar várias voltas.
Bem-vindo ao quarto do pânico
Onde todos os seus medos mais sombrios vão
Vir até você, vir até você
Bem-vindo ao quarto do pânico
Você saberá que eu não estava brincando
Quando você os ver também, os ver também
A água mais do que já metade da banheira agora, não percebeu quando havia passado do que normalmente usava. Desligou rapidamente quando viu isso. Começando a chorar mais ainda. Não iria jogar a água fora. Tentaria entrar. E assim fez.
Despia seu próprio corpo, se olhando no espelho, notando a diferença.
Aquele magnífico corpo que já foi muito invejado e desejado quando era humana, agora estava esquelético. Nestha não comia direito. Se autonegligenciando nesse quesito.
Suas costelas estavam visíveis. Braços e pernas finas. Maçãs do rosto mais marcadas, coxas mais ralas.
Feyre havia lutado tanto para a manter bem, ainda lutava pela a irmã a todo momento. Porque fazia aquilo consigo mesma? Nestha pensava.
Era um caso perdido depois da guerra. Assim se imaginava. Feyre lutava pela irmã. Cassian lutava pela mulher que estava apaixonado.
Bem-vindo ao quarto do pânico
Bem vindo ao
Bem vindo ao
Bem vindo ao
Bem vindo ao
A Archeron começou a hiperventilar quando pós uma perna totalmente dentro da água. Segurando as bordas com tanta força que o material se despedaçou um pouco.
Metade do corpo dentro quando ela começou a chorar em prantos. Deixando que as memórias ruins a invadissem.
A primeira foi ele. O homem que quase a molestou. Aquele que havia confiado. Ele a prendeu na parede. Segurando seus seios com força, machucando e deixando a marca dos dedos ali, para que ela se lembrasse quem a segurou mais tarde da noite. Ele rasgou o vestido que ela tanto amava. Fazendo com que o frio entrasse em contato com sua pele e o medo tomasse conta de cada centímetro de sua pessoa. Ela lutou ali. Conseguindo fugir, com nojo de si mesma por ter sido tocada daquela maneira e chorando com dor em seu busto. Sentido ainda as mãos entrando em sua vestimenta e caminhando para sua roupa intima. As pernas da mulher tremiam quando ela voltou para casa, apenas trocou de roupa e se deitou, indo dormir chorando.
Ainda esperando, mãos tremendo
Talvez a costa desapareça
Mas essas vozes, esses ruídos estranhos
Eles me seguiram aqui
A segunda foi a porta de sua casa quebrando. Feyre correndo para a frente, colocando o pai um pouco atrás de si, pegando a faca e ficando na defensiva enquanto ela e Elain se forçaram contra a parede ao lado da lareira com medo e já chorando. O feerico entrando. O Grão-Senhor que levou a sua irmã mais nova de si. A fazendo sofrer com tarefas mais tarde, naquele lado. Fazendo com que ela morresse por aquele povo. Ela imaginou sua irmã morrendo. E doeu.
Mesmo já sendo feerica, Nestha tinha medo de portas fracas como a do antigo chalé. Ainda achava que poderiam entrar e a levar ou tirar Elain de si dessa vez.
Meu telefone não tem sinal
Está fazendo minha pele rastejar
O silêncio é tão alto
As luzes acendem e piscam
Com monstros muito maiores
Do que posso controlar agora
O corpo dela se chocou contra o gélido mármore, a água subiu, chegando a um pouco mais de seus busto. Ar escapou de seus pulmões, ela quase gritou quando sentiu-se afogando novamente.
A terceira lembrança. O fragmento de ver Elain sendo agarrada, machucada enquanto era levada até o caldeirão, se debatendo e chorando. Sua irmã mais nova gritando, amarrada com magia. Ela, com mordaças.
Elain sendo Feita.
Ela sendo a próxima.
O temor crescendo dentro dela, mesmo que as lágrimas caíssem, ela temia tudo em dobro por Elain. O ódio consumiu Nestha naquele momento junto com o medo. Ela mordeu, gritou, se puxou mas nada foi efetivo quando afundou.
Pés presos, boca amarrada e braços levemente soltos. A água entrando em seu pulmão, ela se afogando enquanto era refeita. Não conseguia fugir. Não tinha como sair. Apenas engolir. Quase vomitando novamente, aquela água escura entrava por ela, a transformava e mudava seu ser real.
Bem-vindo ao quarto do pânico
Onde todos os seus medos mais sombrios vão
Vir até você, vir até você
Bem-vindo ao quarto do pânico
Você saberá que eu não estava brincando
Quando você os ver também, os ver também
Ela se debateu novamente, achando que estava lá dentro, os olhos fechados de medo. A água da banheira caindo no chão com os movimentos bruscos. Não conseguia pensar. Não conseguia respirar. Não conseguia se soltar das amarras. Não conseguia ajudar Elain, nem Feyre.
Ajudar. Não conseguia ajudar. Não conseguiu ajudar seu pai.
Não quando Hybern quebrou seu pescoço, o estalo a assustava, ela via o corpo dele cair no chão, sem vida nos olhos. As palavras se repetindo na sua mente. A culpa a consumindo.
Ela nunca teve tempo pra nada de útil. Queria ter ajudado. Socorrer até mesmo Cassian quando ele por duas vezes se sacrificou por ela, sem pensar tanto.
Bem-vindo ao quarto do pânico
Bem vindo ao
Bem vindo ao
Nestha se tacou no chão, machucando o próprio corpo com o choque. Ela gritava de pavor. Mas já não saia mais som. Se encolheu ali mesmo, no chão de seu banheiro. Posição fetal. Grunidos, choros e soluços de tudo que havia sentido.
Não há alarmes falsos agora
Porque a verdade se instalou
Escondido sob uma pena de ganso
Para o seu pesadelo começar
Não há alarmes falsos agora
Bem vindo ao
Bem vindo ao
Porque a verdade se instalou
Bem vindo ao
Bem vindo ao
Escondido sob uma pena de ganso
Bem vindo ao
Bem vindo ao
Para o seu pesadelo começar
Bem vindo ao
Bem vindo ao
Ela sentia cada momento passando por si novamente. Apenas bastava esconder o próprio rosto de vergonha, machucando suas próprias mãos com as unhas grandes. Ela sabia que teria ainda mais pesadelos quando pousasse sobre a cama. Nem se cobria mais.
Com medo de sufocar durante uma crise nos lençóis grossos.
A maior verdade daquele momento era que não aguentava mais a rotina de sua vida. Miserável, era como descreveria.
Acordar suando de terror. Andar pelas ruas perdida, na própria mente desgovernada. Ir para um bar, beber até não aguentar mais. Ficar brevemente com um homem, nenhum que valhesse ela realmente.
Mas a Nestha Archeron estava se matando. Aos poucos morrendo dentro de si mesma. Dentro do remorso.
Bem-vindo ao quarto do pânico
Onde todos os seus medos mais sombrios vão
Vir até você, vir até você
Bem-vindo ao quarto do pânico
Você saberá que eu não estava brincando
Quando você os ver também, os ver também
Conseguiu se levantar apenas alguns longos minutos depois. Talvez quarenta ou mais. Não tinha como contar. Ela caminhou, ainda nua e chorando pela casa. Fechando aquela janela que iluminava o banheiro. Ela deixou a água ainda dentro da bacia de mármore. Não conseguiria tirar hoje.
A porta do quarto nunca estava fechada, era para caso precisasse correr e fugir de alguma besta que esteja atrás de sua pessoa. Acreditava em karma. Talvez o deus dele vinhesse em pessoa a pegar em algum momento.
Bem-vindo ao quarto do pânico
Bem vindo ao
Bem vindo ao
Nestha se deitou. Apenas puxando um lençol leve e fino sobre si esta noite. Para compensar o frio que passaria pela pele sem nada em meio a falta de coragem de abrir o armário e se dar ao trabalho de olhar no espelho dele também. A vergonha sobre seu carácter já era o suficiente. Não iria quebrar mais um espelho por ódio de sua aparência pela segunda vez.
Inferno se erguendo, cabelo arrepiando
Estou pronta para o pior
Mirando somente o teto branco e se perdendo ali, recriando cenas na própria mente. Querendo que tudo fosse diferente. Moldando a realidade a sua própria forma de querer que tudo fosse. Excluindo fatos, adicionando outros. Vivendo sua própria realidade.
Criando seu mundo das maravilhas.
Foi ali que ela adormeceu. Mais um dia de crises. Pelo menos apenas arrancou um tufo de cabelo hoje. Seu coro cabeludo já estava avermelhado de tantos que foram retirados. Mas seu corpo feerico iria regenerar na manhã seguinte, tanto os machucados quanto um pouco do cabelo. Ninguém iria reparar em seu corpo quando usasse glamour para em si mesma.
Todo dia para ela. Era um dia de mentiras e fantasias. Onde no final, voltaria para o seu quarto branco do Pânico.
Acabado com tudo ali e descansando apenas quando fechasse os olhos. Gostaria de fazer isso pela eternidade...