Quando saí das portas da cabana, vi Sakarol caminhando em minha direção com Rhine, que estava com uma expressão complexa que me assustou, bem atrás dela. Ele olhou para mim atentamente, o contorno de sua mandíbula projetando-se ligeiramente de suas bochechas, como se ele estivesse com raiva ao limite de sua paciência. Do jeito que as coisas pareciam ser, se Sakarol não estivesse aqui, ele teria se transformado em um leão e me comido inteira.
Embora obviamente eles estivessem monitorando tudo agora, eu ainda me sentia inevitavelmente envergonhado, apesar de ter me preparado psicologicamente desde o início. Baixei a cabeça para evitar seus olhares intensos enquanto tirava a seringa do bolso e, com as sobrancelhas franzidas, gradualmente a entreguei ao Sakarol que se aproximava.
Seus olhos varreram meu rosto com uma expressão que poderia fazer alguém se contorcer. Com uma pequena risada desdenhosa, ela pegou a seringa e inspecionou o líquido cor de malva - meu sangue. A ação me deixou um pouco nervoso, mas eu mantive firmemente uma frente calma, minha expressão não vacilou nem um pouco. Você deve saber que os espiões internacionais são proficientes em disfarces e têm uma habilidade de quebrar a fachada das pessoas, eu não devo deixá-los captar nada com minha expressão de forma alguma, sem suor ou qualquer outra pequena mudança.
Para não revelar nenhuma falha, fingi estar impaciente e cruzei os braços, revirei os olhos e cuspi friamente: “Ei, você já tem o sangue, então devo poder encontrar meus amigos agora! “E não pensem que vocês podem simplesmente me dar ordens sem confirmar que suas vidas estão seguras e que eles não morrerão de fome!”
Sakarol franziu a testa, me ignorando. Ela apenas pegou um tubo de ensaio e transferiu cuidadosamente o sangue da seringa antes de sacudi-la algumas vezes. O canto dos lábios dela se ergueu somente depois que a cor e a consistência não foram detectadas como anormais, dando uma olhada em Rhine e disse: “Oh, claro meu pequeno estudioso. Rhine o levará até lá.”
“Sim, Coronel. Vou levá-lo lá agora.” O rosto tenso de Rhine de repente ficou relaxado como se ele mal tivesse escapado da punição antes de agarrar meu braço e tentar me arrastar para fora, mas foi impedido por Sakarol, "Não se esqueça, algema as mãos dele." Com isso dito, ela tirou um objeto brilhante do bolso e jogou-o para Rhine, que estava atrás de mim.
Quando senti o metal gelado girando em volta do meu pulso, lutei para retrair minhas mãos inconscientemente, olhando para o pescoço aparentemente ultramacio de Sakarol.
Eu sabia que com o poder escondido dentro do meu corpo, não seria um problema me separar de Rhine e usar as algemas como uma arma para ameaçar Sakarol agora, no entanto, eu rapidamente descartei essa ideia no segundo que ela passou pela minha mente.
Mesmo se eu pudesse intimidar Sakarol para libertar meus amigos, Agares, e o resto dos tritões, eles não seriam capazes de suportar a chuva de balas que as tropas iriam desencadear. Tive que ser paciente e esperar o momento certo para um ataque furtivo e afundar seus navios um por um.
Eu cavei na palma da minha mão enquanto me permitia ser algemado, e fui arrastado escada acima por Reno até o andar de cima. Enquanto me movia, observei os tritões presos em ambos os lados de mim, e fiquei surpreso ao descobrir que muitos deles estavam olhando para mim. A emoção em seus olhos era muito diferente daquela vez na Ilha Merfolk, não me fez sentir nem um pouco apavorado, ao invés disso, até fez a esperança crescer no meu coração, porque a maneira como eles olharam para mim era a mesma que pareciam em sua própria espécie.
Atrevo-me a dizer que senti uma sensação de reverência - a maneira como baixavam a cabeça com as sobrancelhas e os olhos voltados para baixo era como os humanos demonstram cortesia formal.
Isso sem dúvida foi por causa da 'cerimônia de marcação' de Agares - eles reconheceram minha condição de ser sua esposa. Tipo... o papel de uma rainha?
Ah, pro inferno com isso!
Como homem, eu era considerado a rainha da raça mística dos tritões. Que tipo de piada Deus está brincando comigo ?!
Eu franzi minhas sobrancelhas, estalei minha língua com um 'tsk' e mudei minha cabeça para longe, mas então fui inesperadamente empurrado por Rhine. Meus pés acabaram tropeçando na soleira da porta da cabana , quase me fazendo cair de cabeça no convés externo. Rhine me agarrou por trás, ergueu meu corpo e, antes que eu percebesse, minhas costas bateram na parede com sua grande mão pressionando com força minha cabeça contra ela. A força era tão forte que tive que virar minha cabeça para o lado e até meus lábios foram pressionados a ponto de se deformar. Eu olhei para ele, "Porra, o que diabos você está fazendo?!"
Rhine me olhou de perto. Uma veia azulada pulsava fracamente em sua testa, seu queixo estava coberto de barba por fazer, seu hálito cheirando fortemente a álcool me atingiu no rosto, como um sem-teto sofrendo de ressaca. Perceber que ele bebeu muito álcool me deixou muito inquieto. Eu tinha certeza de que ele estava olhando para os meus lábios, e talvez fosse por causa do incidente em que eu lambi a grande coisa de Agares que ele estava prestes a explodir. O sangue correu para minhas bochechas enquanto vergonha e irritação borbulhavam em mim, então eu rapidamente mudei de assunto.
"Rhine, eu não me importo com quais problemas você tem, mas você tem que me trazer para Lafarre e os outros primeiro!"
Rhine ficou em silêncio o tempo todo, mas antes que eu pudesse terminar o fim da frase, ele me interrompeu com uma risada repentina e disse em voz baixa: "Desharow, estou pensando em como é sentir sua beijo. Mas talvez eu saiba esta noite. Sakarol colocou você sob meus cuidados, você sabe o que isso significa?" Ele parou um pouco e se aproximou de mim com certa veemência e continuou: "Eu vou... fazer as coisas que aquele tritão fez com você, só fazendo uma vez comigo, vou torná-lo incapaz de ficar em pé no dia seguinte… ”
“Foda-se! Seu filho da puta", Eu gritei rudemente, sentindo meu couro cabeludo ficar dormente. Dobrei meu joelho pensando em acertá-lo na virilha para lhe dar um gostinho da minha mente, mas não consegui, pois suas grandes mãos deslizaram até minha nuca, e então me empurraram com força para andar para frente em grandes passadas.
“Mas fique tranquilo, vou cumprir seu pequeno desejo de encontrar seus amigos. Depois de conhecê-los, você perceberá que ganhar meu favor e me agradar seria o que você mais precisava.”
"Ganhando seu favor?" Eu ri com desdém, "Um filho da puta como você é apenas o cachorrinho daquela vadia!"
Depois de cuspir essas palavras, dobramos uma esquina até onde Rhine parou em frente a outra cabana. Então, ele agarrou duramente a parte de trás da gola da minha camisa e com força virou minha cabeça da frente para o meu ombro com suas mãos ásperas. Seus lábios estavam praticamente colados na minha orelha, o vapor nojento que veio quando ele exalou, parecia água fervente escorrendo pelas costuras das minhas roupas.
"Ah, sim Desharow, sou um cachorro, mas já te mordi com firmeza, o que você pode fazer a respeito? Vá ter uma boa reunião com seus amigos! ”
A porta da cabana diante de mim abriu ruidosamente quando ele terminou de falar e eu fui empurrada para dentro de uma vez, antes que ela se fechasse novamente. A pequena cabine era mantida acesa por uma pequena lamparina a óleo, mas ainda estava extremamente escura. Ao lado da parede da cabana, havia uma cama simples com sombras vagas e indistinguíveis de pessoas amontoadas. Eu vi alguém se levantar e uma voz familiar ressoou dentro da sala, “Desharow. Oh Deus, você ainda está vivo! "
“Lafarre!” Pisquei por alguns segundos antes que um rosto familiar aparecesse à minha vista e me fizesse sentir animado. Meus pés tropeçaram para frente, mas fui bloqueado por Eva, que se levantou na minha frente. Sua mão esguia agarrou meu ombro e gentilmente soltou um “Shhh” enquanto apontava para a cama ao mesmo tempo.
Fiquei surpreso imediatamente com o que estava diante dos meus olhos.
Davis, que estava desaparecido por um tempo, estava deitado na cama. Ele estava se enrolando como um animal pequeno e terrivelmente devastado e sua respiração não estava calma, como se ele estivesse preso em um pesadelo. O casaco de Lafarre estava jogado sobre seu corpo, mas não foi capaz de cobrir os hematomas e cicatrizes que estavam espalhados por toda a parte inferior do corpo, especialmente os ombros e tornozelo que estavam cobertos com algumas mordidas profundas e marcas de arranhões. Os lençóis também estavam manchados com o sangue já escurecido de sua metade inferior de seu corpo. Seu corpo inteiro estava definhando em algo irreconhecível. Se não fosse por aquele rosto, eu não teria sido capaz de reconhecer que a pessoa antes de mim era o veterano com quem eu me dava bem todos os dias.
"O que há de errado com ele?" Murmurei rigidamente, embora soubesse que estava perguntando algo realmente idiota.
Parecia que uma esponja embebida em água estava alojada na minha garganta, tornando-me incapaz de chorar ou chorar, mesmo que quisesse. Minha cabeça ficava repetindo de volta para o pirata que anteriormente conspirou contra mim - Henry, e seu terrível encontro na caverna tritão. Imaginei seu rosto se transformando no rosto de Davis e isso quase me deixou louco. Eles tiveram o mesmo destino.
Oh Deus não! Eu me agachei, meu coração sofrendo, querendo estender a mão e tocar o rosto de Davis, mas não consegui com minhas mãos ainda algemadas. Eva me apoiou, eu podia ver suas lágrimas brilharem à luz das velas, seus lábios tremendo quando ela disse: “Não sei o que fazer com as feridas dele. Desharow, estou com medo! A casa dele lá... quero dizer... o pênis dele está quebrado! Precisa ser costurado e desinfetado, mas aqueles nazistas nos trancaram naquele lugar, a tempo, senão, em poucos dias, ele morreria de infecção! Eu não sei que maldito pervertido fez isso com ele, talvez sejam aqueles nazistas— ”
“Não fale mais! Não fale mais, Eva! ” Gritei com ela sem fôlego, meu coração girando em uma bola e minha voz trêmula, "Vou pensar em uma maneira... eu juro, vou pensar em uma maneira de salvá-lo..."
Eu recitei minha frase incoerentemente, Lafarre deu um tapinha de leve nas minhas costas e soltou um suspiro pesado. Eva, por outro lado, cobriu a boca, sufocando um soluço.
"Fiquem quietos, vocês dois." Lafarre puxou Eva e eu para um lado, deu um tapinha em nossos ombros e começou a falar em voz baixa: “Não é como se tivéssemos perdido todas as esperanças. Antes de sermos capturados por aqueles nazistas, consegui emitir um sinal sem fio pedindo ajuda à divisão da Marinha. Assim que receberem o sinal, eles correrão para cá o mais rápido possível. Por enquanto, temos que tentar sobreviver por nós mesmos. Desharow, eles não vão nos matar porque temos o que eles mais querem em nossas cabeças. Você também, Desharow.”
"O que é isso?"
"Você já conheceu o professor Vinogreider antes?" Lafarre me olhou nos olhos, sua voz cheia de mistério.
"Sim." Meu coração bateu forte, "Suponho que você também tenha falado com ele antes?"
“Você se lembra da vez em que ele lhe mostrou uma foto? Era aquele com um monte de quadrados pretos longos e curtos incomuns.”
“Isso mesmo,” meus nervos saltaram. “Era algo semelhante aos códigos morse. Naquela época, eu estava perguntando a ele sobre a comunicação entre tritões, mas ele estranhamente me mostrou aquela foto e me disse para escrevê-la. Eu não entendi o que ele quis dizer naquela hora, e realmente pensei que ele tinha enlouquecido. O quê, você também viu a foto? ”
Lafarre olhou em volta com cautela, antes de abaixar a voz para que apenas eu e Eva pudéssemos ouvir, ele até usou consoantes coronais, uma forma especial de articular, a cada palavra e falou em um ritmo rápido: "Esse conjunto de código morse era o número PIN para acessar um disco mais importante do Professor Vinogreider. O segredo que os nazistas mais queriam descobrir estava armazenado no disco. Isso os levaria à área mais preciosa e valiosa desta ilha - o Portal Espacial. Eu sei que parece um tanto absurdo. Mas não é um mito, esse 'portão' realmente existe. É como o Triângulo das Bermudas, quem entrava voltava a uma certa época do passado, ou talvez entrasse em uma realidade totalmente nova, até em um mundo paralelo, e esse também foi o segredo do misterioso desaparecimento de Alantis. Ouço,
Ele parou um pouco, calmamente olhando para minha expressão de espanto, dizendo as palavras lentamente para dissipar minha descrença. “Tenho muita certeza disso porque o subordinado do professor Vinogreider, o tripulante que foi levado por uma sereia, voltou. Desharow, acredite você ou não, aquele tripulante era seu avô."
Fiquei tão chocado que meu queixo caiu. "Não não não. Como isso é possível?! O professor Vinogreider disse claramente que seu membro da tripulação havia desaparecido há décadas sem nenhuma notícia e que ele o procurava desde então. Ele até publicou um aviso de pessoa desaparecida nos jornais, e eles foram enviados a todas as partes do mundo. Como pode ser meu avô? Ele esteve comigo desde que eu era uma criança até que encontrou um fim infeliz em um naufrágio na Islândia ... ”
A cena daquela época da minha infância de repente passou diante dos meus olhos e mais uma vez vi uma silhueta escura dentro da névoa da noite e um par de olhos penetrantes, serenos e brilhantes. Foi a primeira vez que encontrei Agares, e a cena dele me resgatando era clara como o dia. Naquele momento, parecia que uma camada de névoa havia coberto meu coração e algumas conjecturas surgiram, enquanto eu esperava desesperadamente que Lafarre continuasse.
“O professor Vinogreider uma vez tocou uma gravação de voz e nessa gravação seu avô mencionou o que aconteceu com ele depois que ele entrou no portal do tempo. Ele disse que era um espaço diferente de tudo que ele tinha visto na Terra. No entanto, algum tipo de corrente elétrica tornou sua voz difícil de ser transmitida e eu não conseguia entender tudo. Eu só sabia que ele voltaria depois de fazer um certo compromisso, ou para ser exato, foi como uma transação comercial. Ele havia prometido que no futuro haveria algum tipo de preço a pagar. Um preço enorme, enorme. ”
"Sou eu?" Eu engoli secamente e espremi aquelas poucas palavras de meus lábios trêmulos, meu corpo parecia frio.