Ela permitiu-se sorrir ao lembrar do dia anterior, a forma como o mesmo começou. O café sendo servido na cama acompanhado de algumas horas de pura enrolação e conversa aleatória, mas ainda assim satisfatória para os dois corpos cansados sobre o colchão. Ela sentia que o dia havia começado mais cedo do que o de costume, havia começado de uma forma estranha... Ou ela se sentia estranha. Não demorou muito para que o dia começasse a ficar agitado. As roupas estavam sendo jogadas sobre a cama na esperança de achar uma aceitável para o dia programado e então logo estavam andando pelas ruas.
Os cabelos curtos sendo bagunçados pelo vento, que ela não escutava a outra, mas dava um charme a mais para seu rosto. Deixava-o moldado da melhor forma que conseguia. O casaco preto sobre o corpo e um sorriso fácil em seus lábios, talvez ainda não tivesse confessado, mas ela havia se tornado o motivo para a outra manter acordada todas as noites, havia se tornado a pessoa que lhe acalma quando ninguém mais consegue chegar perto. Ela havia se tornado a melhor parte de Hermione Jean Granger. E quando essa pessoa pede apenas um dia mais, ela simplesmente concorda com um sorriso simples e fácil.
No atual momento as duas estavam passeando por Londres. Não entenda a menina mal, mas ela não fazia ideia do porquê desse pedido inusitado da outra. Elas estavam bem em relação a tudo, então não conseguia pensar em um motivo certo, mas não se impediria de sentir o que sentia. Sorriu mais ao correr de encontro a outra e pular em seus braços, rodando em meio a praça. O rosto escondido no pescoço da de cabelos negros e os braços firmemente agarrados ao corpo da outra, assim como sentia ela apertando o abraço.
Os anéis frios entrando em contato com a pele quente de Hermione fez com que arrepiasse um pouco e se aproximasse mais da outra. Se sentia feliz. Leve. Sentia-se livre. Não havia nada que pudesse atrapalhar seu humor naquele momento, não havia nada que pudesse colocá-la para baixo, sentia-se nas nuvens. Dançavam enquanto andavam pela cidade, atraiam a atenção de algumas pessoas. Alguns elogiavam de longe, elas podiam ouvir, outros simplesmente falavam mal, mas falariam de qualquer modo, então apenas deixavam para lá.
O almoço foi em um restaurante familiar. Havia um ar acolhedor no local, a menina falou que era seu favorito e Hermione simplesmente colocou na cabeça como um lembrete, para que pudesse usufruir mais dele com a menina. O almoço não foi totalmente romântico, mas havia um certo conforto nas trocas de olhares e nas mãos juntas de vez em quando. Havia uma certa mágica nas palavras não ditas. Nas juras não trocadas. Algo que elas não poderiam entender, mas que não precisavam entender, o sentimento só precisava existir.
A tarde passou voando de uma forma que desagradava as duas. Entre perseguições nas calçadas e fotos em máquinas antigas, tanto cabines quanto Polaroid, as duas ainda arrumaram tempo para tomar café juntas e a outra não se limitou a mostrar o que sentia, mas dessa vez com ações no lugar de palavras. Desde o simples fato de dar as mãos até abraçar e, em alguns momentos não tão raros durante o dia, permitir-se roubar alguns beijos. Tudo parecia simplesmente fluir bem. Mas então a noite caiu.
A noite veio acompanhada de um frio incomum para a época. Lembra-se de ter se esquentado nos braços da outra menina, de ter se mantido acordada a maior parte da noite, foi dormir com o sol já raiando e sentindo os braços da outra lhe apertando contra o corpo dela. E então a sensação de vazio lhe trouxe de volta a realidade. A sensação de vazio foi a primeira a lhe abraçar. Vazio pela falta de aperto. Vazio pela falta do corpo. Simplesmente vazio.
Sobre o travesseiro que outrora fora usado pela amada, havia a foto das duas no dia anterior. As lágrimas já desciam sem nem mesmo saber o motivo. O cheiro dela ainda estava ali, não havia dúvida, era único. A foto apenas lhe fez derramar mais lágrimas. O sorriso por alguma piada besta contada enquanto uma se perdia na outra e se tornavam uma. Talvez ela não tenha percebido, mas havia uma frase atrás da foto. Talvez a dor tenha sido tamanha para que deixasse passar por hora, mas ela estava ali.
"Apenas mais um dia... Eu não pude, mas viva por mim. P.P"