Desde o Princípio - Livro 1...

By LSOliveira80

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Pode o destino entrelaçar de tal forma três caminhos ao ponto deles se cruzarem, vida após vida, causando int... More

Nota da Autora + Book Trailer e Aesthetics
Epígrafe
Coimbra, junho de 1849
Viarello, agosto de 1849
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Desde o Princípio - Andrógenos do século XXI
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Viarello, novembro de 1847
Coimbra, dezembro de 1847
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24

Capítulo 19

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By LSOliveira80

Boa noite, fã da Legião Urbana

___ E então, não vai me dizer que esse é só mais um boato sobre você? — ele a provocou, quando entraram no elevador.

___ Não, esse é bem pior do que dizerem que eu sou gay! — ela riu, conformando-se em ter que explicar ao novo amigo as atitudes loucas de Linda — Porque, por mais louco que pareça, tem um fundinho de realidade...

Ele arqueou uma das sobrancelhas, pra lá de curioso.

___ Não tem nada a ver com religiosidade, claro! — ela demonstrou não ser a mais religiosa das pessoas — Nem com uma opção perpétua minha, tão séria quanto um voto, mas... — não sabia bem como explicar — Digamos que eu... Bem, não sou de morrer de amores.

A porta do elevador se abriu e ele a seguiu, com um suspiro. Começava a desejar que não tivesse levado aquela curiosidade a tona.

___ Sendo assim, fica bem mais fácil entender o motivo daquele primeiro boato. — ele se dirigiu para a caminhonete branca, abrindo as portas com um aperto de botão no controle do alarme, que tinha numa das mãos — Não deve passar de uma consequência da rejeição.

Ela o acompanhou, adentrando o automóvel, e pensando no que ele havia dito, consolou-se:

___ É, até que seria mesmo consolador, se fosse assim... Mas, acho que é muito mais complicado do que isso: estamos lidando com um esteriótipo criado pela sociedade patriarcalista, que não admite que uma mulher seja exceção no meio de tantas que não sabem viver sem ser completamente dependente de um homem!

Ele ligou o carro, realmente pensando no que ela tinha acabado de dizer.

___ Nossa!!! Eu fui fundo agora!!! — ela acabou rindo, o que também o causou diversão — Vamos deixar as minhas filosofias malucas de lado e nos preocupar com coisas mais urgentes e corriqueiras: cerveja e onde encontrá-la.

___ Você é mesmo intrigante, Cathy Batista, mais do que eu tinha pensando! — ele a encarou por alguns instantes, enquanto percebia a reação positiva dela, ao que tinha acabado de dizer.

Então, perguntando para onde se dirigiriam para abastecer o freezer dos descasados, descontraiu completamente o assunto novamente, assegurando-se que não devia se arrepender, como já estava começando antes, de tê-la questionado tão diretamente sobre sua dita "castidade".

Ao mesmo tempo que as declarações dela podiam ter deixado bem claro que ela não admitiria que ele nem ninguém se aproximasse, a reação dela ao seu último comentário, foi a de um mulher que tinha realmente gostado do que tinha ouvido. E isso era um sinal de que Cathy, por mais especial e peculiar que fosse, tinha uma sensibilidade extremamente feminina.

E, mais uma vez, Crau estava certo e aquilo estava se tornando tão frequente que beirava o absurdo: todas as mulheres gostavam de um elogio sincero.

Ela, por sua vez, passou a concentrar-se em guiá-lo até o depósito de bebidas do bar do Carter, impedindo-se de pensar nos motivos da curiosidade dele, a seu respeito. Linda era louca, então, ela não tinha que ficar imaginando se a amiga tinha algum motivo para querer que ela se interessasse pelo fotógrafo, que não fosse a beleza física dele.

Cathy ainda estava pensando nisso, quando o observava pegar as caixas pesadas do depósito, e carregá-las para a caçamba da caminhonete, sendo impedida por ele de ajudar.

___ Tem certeza que não quer que eu te ajude? É muita coisa! — ela perguntou, seguindo a ele que ia e voltava rapidamente, carregando o carro — E eu consigo carregar peso, viu? Não sou daquelas dondocas que só fazem esforço na academia!

___ Eu não duvido disso, Cathy, mas você está de branco e vai se sujar toda e eu já estou quase terminando! — ele recusou a ajuda dela, cavalheiro — E, pelo amor de Deus, não vá achar que eu sou mais um entusiasta da sociedade patriarcalista, mas, uma mulher de vestido é pra ser admirada, não explorada! — enviou-lhe uma piscadela, agarrando mais uma das caixas.

Cathy apenas sorriu, sentindo-se, sim, provocada, ainda que de uma forma tão natural e divertida, que não a permitisse desgostar do olhar, levemente malicioso, que ele lhe enviou com aquela piscadela.

Então, ela apenas esperou, parada próxima a parede, que ele carregasse o carro, como quem parecia não estar fazendo esforço nenhum, pra carregar todo aquele peso.

Os "motivos" da amiga ainda pairavam no seu pensamento, e ela observou, sorrateiramente, os músculos bem definidos dele, aparentes na camiseta regata que ele vestia e que, naquele momento, haviam terminado seu trabalho.

___ Vamos, então?

___ Claro se deixarmos a cerveja esquentar estaremos cometendo o pior dos crimes contra o Cenourão! — ela exclamou, indo entrar na caminhonete mais uma vez.

Retornaram ao prédio pela orla da praia, um CD da Legião Urbana tocando no rádio do carro, um dos últimos shows ao vivo da banda, e eles se sentiam muito animados, comentando sobre como ambos tinham desejado ir aquele show, feito naquela cidade, mas, por motivos diversos, nenhum dos dois tinha conseguido.

___ Então, você só tem vinte e três anos? – Eros perguntou, quando ela disse que ainda era menor de idade quando o tal show tinha acontecido.

___ Quase vinte e quatro, faço aniversário em menos de um mês.

Ele sorriu, sem dizer nada e com isso, despertou a aguçada curiosidade dela.

___ Que houve? Por que você disse "só vinte e três"? Será que eu estou aparentando tanta idade assim?

Eros percebeu que ela estava brincando, então, começou a rir.

___ Não, claro que não! — esclareceu — Mas é que lendo as suas matérias, percebendo sua maturidade profissional, eu julgava que a tal Cathy Batista que derrubou o prefeito de Baía dos Santos fosse um pouco mais velha.

Ela sorriu, sabia que tinha ganhado fama com sua primeira matéria investigativa, publicada há pouco mais de um ano.

___ Se safando de uma gafe com um elogio, que coisa feia! — ela continuou brincando e sentindo-se bastante a vontade, decidiu perguntar — O Martim disse que você é um fotógrafo bastante experiente, mas olhando pra você, não vejo como pode ter assim tantos anos de experiência!

___ Eu comecei a trabalhar bem cedo. — ele esclareceu — Mas como freelancer, claro, emprego mesmo só consegui quando tinha a sua idade. Trabalhei quatro anos com ele na Player, cobrindo eventos esportivos.

Foi a vez de Cathy fazer as contas mentalmente. Ele devia ter uns vinte e nove, trinta anos.

___ Nossa, quatro anos aguentando o Martim, sério? — ela riu — Não, sério agora, acho que nós somos privilegiados, isso sim! Ter o Martim como chefe no primeiro emprego é tudo, não é mesmo? — perguntou, cúmplice dele em mais aquela coincidência.

___ Ele é bastante exigente é verdade, mas com sua extroversão maluca, acaba fazendo a gente se sentir muito a vontade, e sempre consegue nos estimular da forma certa! — ele perguntou, vendo-a encostar a cabeça no banco, os olhos se fechando, como se estivesse refletindo profundamente sobre alguma coisa.

___ É, acho que não há outro editor na cidade que consiga publicar tantos assuntos diversos, sob a mesma ótica inteligente e bem humorada! — ela respondeu, sem abrir os olhos.

___ O que houve? — ele perguntou, curioso.

___ Ah, nada, desculpe, minha lente saiu fora do lugar! — ela levou uma das mãos ao olho esquerdo, depois de piscar por muitas vezes — Sou totalmente cega a distância, vários graus de miopia, então, sem elas eu não sou ninguém!

Ele sentiu-se mais íntimo com aquela revelação, como se cada novidade que descobrisse sobre ela, a aproximasse dele ainda mais.

Cantarolando uma música feita no início da carreira da Legião, chamada "Teorema", ela tentou observar a praia quase deserta aquele horário, mas como sua vista ainda estava embaçada, ia desistindo, quando, depois de avançarem mais alguns metros, ela viu uma moto muito familiar, parada num local proibido.

Sentindo o coração disparar, ela imediatamente olhou em volta, procurando o proprietário do veículo, mas não havia ninguém no calçadão, ninguém por perto.

Então, olhando para a areia da praia ela viu a silhueta de um homem perto do mar, e apertando os olhos para enxergar melhor, viu a lente pular, caindo onde ela não conseguiu acompanhar.

___ Ai que droga! — lamentou, mais por querer olhar para o homem na praia, que ia ficando pra trás, conforme Eros avançava, do que pela lente em si — Minha lente caiu!

___ Não se mexe, a gente já está chegando, eu procuro pra você!

Cathy ainda tentou olhar atrás, tapando um dos olhos, mas aí já era tarde demais.

Quando adentraram novamente o estacionamento do edifício laranja, Cathy esperava com os olhos irritados fechados e não conseguia parar de pensar na motocicleta vista. Sim, ela não podia negar, o veículo era mais um sinal de que o passado estava de volta.

Ringo os viu chegar e avisou os rapazes que desceram correndo pra buscar mais cerveja.

Percebendo que haviam muitos braços para fazer o trabalho que ele havia feito sozinho, Eros foi abrir a porta onde Catharina estava, afim de ajuda-la.

___ De que lado caiu?

___ Perto da porta — Cathy voltou a abrir os olhos, apagando o passado da mente — Será que não ficou grudada nela ou caiu no chão? — ela perguntou, vendo-o passar uma das mãos pelo veludo cinza escuro.

___ Não, não está aqui e eu não vi nada cair.

Cathy afastou os cabelos para o outro lado e vendo-o se aproximar, percebeu que os olhos dele correram do seu colo até a parte do vestido que estava cobrindo as suas pernas, muito atentos.

Aquela proximidade, o olhar aguçado na sua direção, causaram em Catharina um tipo de calor, há muito não sentido. Então, desviando os olhos do rosto que parecia ter sido esculpido por Michelangelo, dos olhos verdes mais profundos e perturbadores que ela já tinha visto, e que continuavam a percorrer as dobras do tecido amassado do vestido, ela prendeu o fôlego, como se com isso, se impedisse de pensar outra coisa que não fosse: "que bobagem, claro que ele só está querendo me ajudar a procurar a lente, não há mais nada nesse olhar pra me fazer pensar que aquela louca da Linda tem razão!!!"

O que a jornalista não sabia era que Eros já tinha percebido a pequenina lente gelatinosa presa na parte lateral do vestido, sobre a perna dela e estava, sim, aproveitando-se da oportunidade para ficar bem perto, sentir o exalar de seu delicioso perfume de flores e observá-la sem qualquer discrição.

Quando Eros levou uma das mãos até a lateral da coxa dela, sobre o vestido, Cathy sentiu um arrepio lhe percorrer o corpo inteiro. Sua primeira reação foi se retrair e ela estava certa que a segunda seria correr, se ele não tivesse se manifestado tão rápido:

___ Eu achei, não se mexe senão ela vai cair! — ele sorriu, passando o dedo com delicadeza sobre o tecido e pegando o objeto em seguida.

Erguendo a mão com a palma pra cima até a direção do rosto dela, Eros contemplou seu sorriso aliviado e agradecido, adorando aquele momento. E claro que ele não imaginou a fuga desesperada que se passava pela cabeça dela, afinal, que mulher já tinha reagido à ele, assim?

___ Está aqui! Você pode voltar a ver o mundo agora!

Ela agradeceu, abrindo a mão para que ele pousasse o objeto sobre ela, ainda podendo sentir os ecos do arrepio que o toque suave dele a causou.

Encantando-se com o agradecimento mais belo que ele já tinha visto, Eros temeu que tivesse se aproveitado demais da oportunidade e com isso, tivesse caído no já famoso radar ligado da jornalista, e pensando nisso, ele sentiu o coração disparar quando Dre berrou, vindo dos lados do elevador:

___ Hey, não vão subir, não?

___ É que a minha lente caiu e o Eros estava me ajudando a procurar! — Cathy anunciou, aproveitando o afastamento dele para sair do carro.

___ É, isso sempre acontece! — Dre riu, tomando um gole da sua cerveja — Acho que você deveria ou comprar lentes novas, ou se render aos óculos como qualquer pessoa normal!

Cathy, que já tinha descido na caminhonete nesse meio tempo, estapeou o amigo como sempre fazia.

___ Você se esqueceu de um detalhe: se eu admitir que não enxergotão bem e que preciso de óculos, vou permitir que a minha mãe esteja certa!

___ E nós não queremos isso, não é? — Dre abriu um dos braços para que ela enganchasse nele.

___ Nunca! — ela riu, voltando-se novamente para o novo parceiro — Vê só como intimidade é uma droga?

Ele riu, sabia que ela tinha razão.

___ Daqui a pouco vamos ser vocês dois, então, liga não se ela te estapear de vez em quando, viu Eros? Essa é a forma da Cathy demonstrar carinho!

___ Cala a boca, Dre!!!

Depois de recolocar a lente, Cathy tomou mais algumas cervejas, divertindo-se com os amigos enquanto uma descasada mais assanhada monopolizava a atenção de Eros e já começava a dar em cima do mais novo descasado para quem quisesse ver.

A jornalista, inicialmente irritada em perceber o quanto algumas mulheres não tinham orgulho próprio: "precisava ser tããão óbvia assim???" Agora que já tinha se xingado mentalmente por saber que a irritação não era nada mais que um ciuminho infantil do novo colega.

"Que absurdo!"

Desviando os olhos deles, sem perceber por isso que Eros não retribuía a atenção recebida na mesma moeda, Cathy passou a ouvir uma conversa de Agnes com Thomas e distraindo-se, voltou a mente para a pessoa que tinha visto na praia e que ela sabia, por causa da moto, que se tratava da mesma que tinha ligado, no dia anterior, causando-a temores muito profundamente enraizados para serem esquecidos.

Então, olhando no relógio, ela percebeu que já estava bem tarde e antes de surtar por causa daquela visão ou por causa do sentimento de propriedade que tinha, não se sabe quando, desenvolvido pelo novo parceiro, ela decidiu ir saindo a francesa, a fim de subir para o seu apartamento, pois sabia que se ela se denunciasse, não permitiriam que ela os deixasse.

Percebendo que ela faria isso, Eros deixou falando sozinha a assanhada e a seguiu, conseguindo também a façanha de passar despercebido pelos radares dos descasados, que talvez já estivessem bêbados demais ou envolvidos demais com as próprias conquistas, para notar.

___ Pode segurar o elevador pra mim? — pediu, adentrando o hall e vendo que ela já adentrara o transporte.

Estendendo rapidamente a mão, Cathy manteve a porta aberta, vendo o colega adentrar, apressado.

____ Obrigado! — ele agradeceu, se perguntando se ela estava mesmo se recolhendo.

___ Que houve, o excesso de receptividade da Cida te assustou? - ela provocou, arrependendo-se completamente em seguida.

"Droga de boca que não sabe ficar fechada!!!", se repreendeu.

___ Não, acho que só estou realmente cansado! — ele mentiu.

___ Então é bom descansar, parceiro, porque se depender de mim, você vai ralar até umas horas amanhã! — ela viu-o sorrir, chegando ao primeiro andar em seguida — Eu fico por aqui, bons sonhos fã da legião urbana! — ela se aproximou dele e aplicando-lhe um beijo de boa noite no rosto.

___ Boa noite Cathy, até amanhã! — ele sorriu, e maneou a cabeça assim que a porta se fechou.

Ela tinha sido bastante natural naquele gesto, provavelmente tinha feito isso com os outros amigos também, ele pensou, tentando controlar a reação causada pelo gesto singelo. Porém, pensando melhor, ele percebeu que ela não tinha feito nada daquilo, que ela havia saído quase as escondidas da beira da piscina e que ele só percebeu isso porque estava o tempo todo de olho nas atitudes dela, sem saber como desviar-se da conversa desinteressante de Aparecida, sem parecer interessado demais em Catharina.

Não, ela não tinha dado um beijo de boa noite em mais ninguém. Será que aquilo queria dizer alguma coisa?

Pensando nisso, Eros suspirou. Sim, depois que tinha conhecido Catharina, soube que existiam mais coisas que estavam totalmente fora do seu controle, inclusive os sentimentos que sabia, já começavam afloravam e em breve, lutariam para chegar a superfície.

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