Uma questão de Confiança

By lilithemaid

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Foi nos prometido dragões pelos nossos antepassados mas quando eles chegaram, e como a humanidade não tinha c... More

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By lilithemaid

           Hoje começou como um dia normal. Levantei-me, tomei banho, vesti um dos meus vestidos, escovei o cabelo (ruivo, como era o da minha mãe), saiu do meu quarto para o corredor da mansão do meu pai, desço a escadaria em espiral, caminho outro corredor até á terceira porta á minha direita, entro nessa sala, sento-me na terceira cadeira da esquerda, a contar do topo da mesa e pego numa maçã.

Segundo o que o meu pai acabou de me contar, hoje é o funeral do rei Aidel Bergarian. Penso que ele tinha filhos. O meu pai diz-me sempre para não me preocupar com este tipo de informações.

            - Vou em breve para a cerimónia, Cíntia. Tu ficas aqui e confere que tudo corre como eu te ordenei.

            - Sim, pai.

            Esta foi a maior conversa que eu tive com ele esta semana. De facto, a minha relação com o meu pai é assim: ele diz-me o que fazer, eu faço-o e fazemos de conta que está tudo bem. Se fizermos as coisas assim eu não tenho que pensar muito. Ele sempre me disse que uma boa rapariga deve sempre fazer o que o pai lhe manda, ele sempre quer o que é melhor para mim. Eu quero muito ser uma boa filha para o meu pai, por isso, não vou contrariar o que o meu pai me diz. Faço o que ele me diz. Assim não tenho de pensar. Cansa-me ter de estar sempre a pensar em tudo, no que estou a sentir, se estou melhor do que quando estava ontem ou se amanhã vou ficar pior.

            Desculpo-me da mesa, caminho um corredor e duas divisões e chego á cozinha. Pego no tabuleiro, com uma taça de papas de aveia e uma peça de fruta, que se encontra em cima da mesa. Saio para o corredor e desço uma escada que vão dar á cave da mansão, aceno com a cabeça aos guardas que estão á porta enquanto espero que eles a abram, caminho cerca de vinte metros, abro uma portinhola que está na porta desta cela, introduzo o tabuleiro e saio de lá de baixo. Nunca percebi o porque de haver um fio vermelho, que atravessa a frincha da porta, e procura-me. Não sei quem está lá dentro, mas tenho bastante medo daquele fio vermelho… só não me consigo lembrar a razão. É melhor não pensar muito.

            Hoje está a ser um dia normal. O meu papel está cumprido, até o meu pai ordenar-me fazer mais alguma coisa. Caso ele queira que eu mate mais alguém é isso que eu tenho de fazer. Porque é isso que eu sei fazer melhor. Matar pessoas. É isso que o meu pai me diz para fazer. Eu quero ser uma boa filha.

            Vou buscar um livro á biblioteca. Não olho para o livro, não olho para o autor, não quero saber dessas coisas para nada. Todos estes livros foram escolhidos pela minha mãe, se o que o meu pai me contou é verdade, quando ela se casou com ele. Ela sempre gostou de fantasia e de romances por isso o meu livro deve ter algo a ver com um desses dois assuntos. O pai sempre me deixou ler estes livros, por isso não faz mal.

            Saio fora da mansão do meu pai e dirijo-me para a floresta sagrada. Existe uma entrada com um enorme arco feito por ramos da floresta por onde as pessoas entram. Esse arco é bastante grande e contém imensas flores e trepadeira de diferentes tipos de folhas e diferentes tipos flores. A minha mãe escolheu montes delas, porque antes o arco era feito de ferro, ferrugento e feio. A minha mãe era uma boa pessoa, sempre perfeita e preocupada com tudo e todos. Acho que o pai deve querer que eu seja igual á mãe.

Existe uma baixa cerca, que tem um pequeno portão, que separa a mansão do meu pai e a floresta sagrada de Navíria. Abro o pequeno portão e entro na floresta sem olhar para trás. Dou uma trinca na maçã.

            Aqui eu sinto-me bem. As aves a cantarem, os esquilos a correrem de um lado para o outro em busca de frutos secos para darem às crias, e uma das minhas melhores amigas, uma pequena corça, chega perto de mim e aninha a cabeça dela no meu colo.

             -Como é que te encontras, minha querida? - Ela roça a cabeça dela na minha barriga em resposta.

            - Bem, Cíntia, obrigado.

            É normal para mim conseguir falar com os animais. Consigo falar com eles desde que era apenas uma criança de colo. São a única coisa que me consegue fazer feliz neste mundo. Toda esta floresta me faz sentir humana de novo. Fora dela sinto-me como se tivesse houvesse uma força a controlar-me, como se eu não fosse eu, um fragmento de mim desaparece e torno-me mais fraca, mais pequena e parece que existe algo no meu peito que está sempre a magoar-me. Tudo muda de sentido, o tempo corre mais devagar e a noite corre demasiado depressa. É como se… como se eu estivesse a viver uma história ou um sonho que não é real, mas ao mesmo tempo sei que isso não é verdade. Este mundo é o real. Dói-me tanto pensar nisto que evito pensa-lo de todo.

            Mas aqui… aqui eu sinto que consigo sorrir! Aqui nada dói e eu consigo me sentir “eu” de novo!

            Levanto-me do chão e sacudo o meu vestido verde esmeralda e aventuro-me mais dentro da floresta, a pequena corsa atrás de mim. Sinto que atrás de mim deixo um rasto de flores acabadas de nascer. É como se algo em mim saísse e conseguisse criar vida. Consigo fazer flores e plantas aparecer do nada. Tenho absoluto controlo sobre qualquer vida e planta. Basicamente controlo a terra e não podia ser mais feliz!

            Começo a correr floresta dentro esquivando-me de árvores, mergulhando nesta pequena felicidade. Ao passar por uma árvore enorme e com uma pequena abertura, paro e olho para dentro do buraco. Lá dentro encontrava-se uma camisola, justa, verde e sem costas, umas calças castanhas desbotadas e uns sapatos velhos. Depois de despir o vestido e colocar a indumentária que estava escondida na árvore, olho ao meu redor e vejo que toda a espécie de animais se tinha reunido perto de mim.

            - Bom dia a todos. Espero que estejam todos bem e que a chuva de ontem não vos tenha incomodado.

            Julgo que os que estavam ali estavam todos bem mas mesmo assim, pelo sim ou pelo não, peço que façam uma fila e toco na testa de todos. Quando faço isso, uma luz verde e ténue surge na palma das minhas mãos, e, depois de ter feito isso com todos, reparo que estão de facto, todos de boa saúde. Uma das lebres estava grávida, como também uma dos esquilos fêmea.

            Continuo a caminhar pela floresta, desta vez com mais calma e vejo uma das águias reais da floresta.

            - Bom dia, Gard. - Gard significa “pequeno” em eliaten.

            - Oi! Já te disse que o meu nome é Gardénio!

            - Desculpa, desculpa. Gardénio. Como é que estás? - Eu digo depois dele pousar no meu braço estendido.

            - Aborrecido… neste momento não á nada para fazer por aqui.

            - Eu trouxe um livro para lermos. – eu digo, abanando o dito livro.

            - TAS Á ESPERA DO QUE? COMEÇA LER! - Ele sempre adorou que eu lhe lesse histórias e contos.

            Encontrei o Gardénio aos sete anos, quando ele era uma pequena cria, depois do meu pai ter cassado os pais dele. Pedi ao meu pai para o levar e ele disse que sim. Tomei conta dele até ele ter aprendido a voar e depois soltei-o na floresta. Sabia que era um mito o famoso mito que os outros pássaros não o iriam aceitar por causa do cheiro, mas mesmo assim tive receio de que ele não se soubesse integrar, por isso seguiu durante algum tempo. Quando dei por mim eu estava a falar com ele a dar-lhe conselhos quando me apercebi que podia ele me respondia.

            Abro o livro e começo a leitura. Quando reparo, já ia a meio da teceria folha e mais alguns animais se juntaram a nós para ouvir a história.

            Não me enganei a respeito do livro, era um romance entre um rapaz e uma rapariga cujas famílias detestavam-se á já bastante tempo, mas esses dois apaixonaram-se mesmo assim. Nunca entendi o porque de todas as histórias serem sempre as mesmas: um rapaz e uma rapariga apaixonam-se, a rapariga tenta capturar a atenção do rapaz, o rapaz apaixona-se por ela, eles casam e têm filhos. O fim… é sempre entre um rapaz e uma rapariga… existem mais formas de amor! Existe entre mãe e filha, entre a família, entre melhores amigos… um rapaz e uma rapariga podem ser só amigos! Os animais muitas vezes comportam-se assim… gostava de perceber este lado do ser humano que pensam que quando um rapaz e uma rapariga estão juntos então é porque estão apaixonados. É tão estúpido!

            Já ia a meio do livro quando senti uma picada no ombro.

           

- Deve já ser horas de almoçar, tens de regressar, querida. O sol já vai alto.

            Era a Alio, uma pomba já com alguma idade que sempre via se não permanecia demasiado tempo na floresta. O meu pai não gosta de atrasos.

            - Certo. Eu volto depois do almoço, meus queridos. Posso deixar o livro com vocês?

            - Eu tomo conta do livro. Despacha-te porque a história esta a ficar boa!

            - Vou e venho numa passo, Grad.

            - É Gardénio!

            Despeço-me de todos e começo a correr pela floresta fora. Depois de ter corrido durante uns dois minutos, chego a uma clareira e concentro-me. Sinto umas asas a aparecerem nas minha costas, as minha unhas aumentam uns centímetros em comprimento e os meus sentidos ficam aguçados.

            - É melhor despachar-me.

            Sigo a voar entre as arvores, a esquivar-me e a contornando-as, sempre atenta á arvore onde deixei o meu vestido. Quando chego á tal oliveira faço as minhas asas desaparecer e dispo-me. Visto o vestido, o mais rapidamente que posso, e troco os sapatos.

            Contínuo a correr floresta fora até chegar á orla. Tento regular a respiração, enquanto ajeito o cabelo com os dedos e tirar as folhas pequenos ramos que tenham ficado presos enquanto voava.

            Entro pela cozinha dentro, percorro mais uns corredores e chego á sala de jantar e sento-me no mesmo lugar que me sentei nesta manhã. Agora á cabeceira da mesa sentasse o Senhor Comandante, um homem de cabelo brancos, sem um olho, alto e de expressões frias.

            Durante toda a refeição ele não se prenuncia e eu também não. Só quero sair daqui. O meu pai diz que eu devo fazer as vontades ao Senhor Comandante, porque ele é um bom senhor. Não se deve julgar as pessoas pelo aspeto. Eu faço o que o meu pai quer que eu faça. Também quer voltar para a floresta. O pai deixa-me lá ir.

            - Já sabes do plano do teu pai?

            - Sim senhor.

            - Então sabes que vou ser o futuro Senhor Governador de Navíria e teu futuro marido.

            - Sim senhor.

            - Então é bom que comeces a comer mais, tens de ter mais peso quando começares a parir os meus herdeiros.

            - S-Sim… senhor.

            Eu podia mata-lo agora. Podia fazer com que se parece-se com um ataque cardíaco. Pessoas da idade dele estão mais sujeitas a ataques cardíacos. Mas isso ia deixar o pai zangado. Eu não sei o porque mas eu não posso mesmo deixar o pai zangado. Sempre que tento pensar numa altura em que o vi furioso, tremores e suores frios percorrem-me o corpo, por isso evito pensar nisso. Não me importa se me caso com ele ou não. Parece que não me vai acontecer a mim, parece que continuo num sonho. Eu sei que ele se vai casar comigo… mas não é comigo…

            Eu não quero pensar mais nisto… a única coisa que quero é voltar para a floresta… quero abraçar todos os animais e chorar nos ombros deles…

            - Com sua licença eu… tenho uns recados do meu pai para fazer…

            - Vai então. Quero jantar contigo depois e vê se começas a comer melhor. Tens os peitos demasiado pequenos nem os consigo ver.

           

Hoje foi um dia normal… um dia que eu não queria mas tive de o viver porque o pai quer.

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