Contos de Lucem - Ressurgir S...

By leticce_soares

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A queda de uma estrela em um continente infértil dá origem a cinco reinos abundantes de vida. Contudo, o impa... More

ZERO | A QUEDA
UM | HALINA SMARAGDINE
DOIS | SKADI ANTERIC
TRÊS | ZAIRE TERRAM
CINCO | A JORNADA
SEIS | KALE
SETE | ARDEN SMARAGDINE
OITO | O MAGO
NOVE | VIVIDAE
DEZ | O AFANADOR
ONZE | ONIRIUM SOMBRIA
DOZE | O REI
TREZE | A MURALHA
CATORZE | OS EKSILER
QUINZE | INFERNO ALBUM
DEZESSEIS | MAR ASIRI
DEZESSETE | PALLADIAN
DEZOITO | BOSQUE WERAU
DEZENOVE | DOLENT
VINTE | O VALE DAS BRUXAS
VINTE E UM | LABIRINTO ENTREMONTES
VINTE E DOIS | A DAMA ALABASTRINA
VINTE E TRÊS | A TRAVESSIA
VINTE E QUATRO | ANTIGOS INIMIGOS
VINTE E CINCO | O RETORNO DO ALGOZ
VINTE E SEIS | A INSURREIÇÃO
VINTE E SETE | KELAYA VIMONAR
VINTE E OITO | O PÁRAMO E TENEBRIS
VINTE E NOVE | A VERDADE
TRINTA | FRONTEIRA MORTEM
TRINTA E UM | A ESTRELA
TRINTA E DOIS | O DESFECHO DA BATALHA

QUATRO | MALYA BASMAH

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By leticce_soares

       O clima árido fazia a garganta arder, inclusive daqueles que sempre viviram em Celosia. Era cada vez mais difícil respirar com a umidade do ar ainda em declínio, o preço da água aumentava todos os dias e a comida ficava escassa até nos grandes centros.

      Celosia nunca fora um paraíso, as condições naturais dificultavam tal amenidade. Contudo, as coisas pioraram significativamente com a queda da dinastia Badriyyah. A linhagem Badriyyah unira Celosia há cem anos, estabeleceu distritos e melhorou parcialmente a qualidade de vida. Ao menos, existiam reservas de comida e água, não permitindo que as pessoas caíssem completamente na miséria.

      No entanto, quanto mais Celosia se desenvolvia, mais incômoda ela se transformava para os outros reinos. Se os celosianos tivessem acesso à dignidade em sua própria terra, quem ocuparia os trabalhos mais abjetos em Ivory? Como floresceriam as gangues de mercenários para fazer os trabalhos desonroso do interesse smaragdino, se em Celosia houvesse casa, comida e tranquilidade? Quem transportaria o alimento amaranto sob condições de escravidão, se Celosia tivesse água suficiente para irrigação?

     Todos os irmãos pisavam em Celosia, exceto Palladian, que sempre se matinha neutro. Entretanto, o povo do deserto sabia qual era o parente mais perverso: Smaragdine. Sempre que uma produção de algum distrito não obedecia os critérios smaragdino, ocorria uma intervenção. Smaragdine era o mais ambicioso de todos os reinos, nada parava seus desejos.

     — Finalmente! Finalmente! – Pashan disse feliz. – Finalmente, aqueles smaragdinos desgraçados tomaram na cara.

     — Do que está falando? – Malya perguntou, curiosa.

     Já estavam na linha de produção, ficavam no distrito dos tecidos. Lá, desde o linho mais nobre ao pano de chão eram confeccionados. A matéria prima vinha principalmente de Amaranto, a tecnologia de Ivory, mas o lucro das vendas ficava majoritariamente em Smaragdine.

       — Ainda não soube, Malya?! – o rapaz baixo e troncudo, franziu um cenho.

      — Não, Pashan. Não tenho tempo para ficar fofocando em bares como você. – devolveu, enquanto misturava a tinta no tambor de tingimento.

      — Smaragdine foi atacada. Demônios entraram no palácio. – falou entusiasmado. – Dizem que muitos soldados morreram, e até um alto escalão foi levado para Tenebris.

       — Inferos invadiram o palácio de Nesta? – agora estava subitamente curiosa, e talvez assustada.

     — Não, só contaminados. Um daqueles que vemos de vez em quando por aqui. – Pashan desenrolava as fibras de algodão.

     — Cassete! – a moça caiu na gargalhada. – O poderoso exército smaragdino não conseguiu lidar com uma dúzia de contaminados!

      — Você acha que é só isso? – o jovem tinha um sorriso prazeroso nos lábios. – Os boatos dizem que o tal alto escalão que foi carregado para Tenebris é o noivinho da princesa Halina.

       — Oh! – fingiu um espanto teatral. – Como será que está o coração da pobre princesinha do reino das esmeraldas? – colocou a mão na clavícula, dramaticamente.

      — Espero que morra desidratada de tanto chorar. – os dois riram.

      Malya Basmah tinha vinte e um anos, diferente de seus conterrâneos mantinha um cabelo levemente ondulado no queixo, ao invés da cabeça raspada típica dos desertos. As feiticeiras do deserto haviam lhe ensinado como manter o cabelo limpo, mesmo com a restrição de água. Os fios possuíam a cor de amêndoas com alguns reflexos mais claros, que combinava com um dos olhos. Sua íris esquerda era preta como a asa de um corvo, possuía heterocromia, ainda assim seu olhar era oblíquo e audaz. A pele da jovem eram caramelada como a dos outros celosianos.

      — Basmah, vamos beber! Comemorar a desgraça dos smaragdinos, não é todo dia que podemos fazer isso. – Pashan convidou, estufando o peito.

      — Hoje não. – disse decidida.

      — Tá bem, quem perde é você. – brincou.

      O dia de trabalho havia acabado, os operários enchiam as ruas do distrito industrial. Com os lenços cobrindos os narizes e óculos de proteção, não sabiam se um tornado surgiria no caminho para casa. Todo cuidado era pouco para viver em Celosia, principalmente agora que uma listra cinzenta brotava do Almirante Rubro. Para Malya, o maior perigo eram os mercenários de Lappam que circulava no distrito.

       Na queda da dinastia Badriyyah, muitos inocentes morreram em nome da resistência. Dentre eles, os pais de Malya, quando ela ainda era uma bebê. Passou a maior parte da vida num abrigo, até que fora vendida como escrava para uma das gangues de mercenários que prestavam serviços a quem lhes pagassem mais. Os mercenários de Lappam eram de longe os mais temidos do reino, conhecidos como os usurpadores memória, visto que não deixavam nenhum sobrevivente em suas missões.

     Malya vira a crueldade humana inúmeras vezes, inclusive com a magia sombria, uma vez que Lappam se utilizava de artifícios místicos para alcançar seus objetivos. Até que as Feiticeiras do deserto surgiram, Lappam tinha uma dívida com elas, que exigiram a menina como moeda de pagamento. A moça pensou que só seria um mudança de senhor, mas no clã das dunas foi bem recebida. Não precisava mais ser escrava, tinha casa e comida, trabalhava porque não queria ser um peso morto. Além disso, sua nova família lhe ensinou a se defender habilmente. Ainda assim, o passado ao lado do mercenário ainda lhe assombrava, especialmente os lapsos de memória que tinha dos anos em que vivera com Lappam. A perda de algumas lembranças não fora o suficiente para acalentar a aflição de seu peito, ela sabia que tinha pecados.

     — Psiu! – um dos mercenários de Lappam assobiou, no momento em que Malya saiu do distrito. – Ei, você! Não me escutou? – insistiu.

     A moça continuou andando, alargando os passos o máximo que podia. Devia ter ficado em casa naquele dia, mas a tolice a fez contar com a sorte, uma fortuna que ela nunca tivera.

      — Você é surda, por acaso? – agarrou o cotovelo dela.

      Era um homem de meia idade, cabeça raspada e roupa da cor de centeio. Na lateral da cabeça, os três círculos tangentes atestavam sua participação em gangue. Com toda certeza trabalhava para Lappam, aquela era a marca de seus homens.

      — Desculpe, estou atrasada. – baixou os olhos, antes de parar.

     — Não se preocupe docinho, posso levá-la para onde quiser. Não haverá atrasos se estiver comigo. – tocou no queixo dela, que se afastou imediatamente.

     — Não preciso de companhia. – tentou se desvencilhar das mãos do homem, enquanto rezava para que ele não a reconhecesse.

      Lappam não cedera Malya de bom grado no passado, era um homem usurento, não gostava de perder seus bens. Principalmente, uma escrava tão jovem quanto à garota, objeto de seus experimentos por longos anos.

      — Olhe para mim, menina. Eu te conheço? – arrancou o lenço surrado do rosto da jovem. – Ah, veja só! É a Malya! Então é aqui que vive agora. Sabia que meu mestre fala de você sempre? A pequena jóia dele, era em você que ele testava a magia sombria, não era? A ladrazinha do deserto.

      — Não pertenço mais a Lappam. – retorquiu, apalpando a lâmina em seu bolso, com a mão livre.

      — Está sozinha aqui, acho que não pertence a ninguém. – o homem se aproximou perigosamente dela.

     Antes que ele pudesse reagir, Malya riscou a lâmina no ar, atingindo a maçã do rosto do mercenário. O homem urrou de dor, mas foi atingido outra vez. Sendo o segundo golpe, uma joelhada no estômago. Caiu de dor. A moça se preparou para correr, mas o servo de Lappam segurou seu tornozelo, derrubando-a.

      Malya lhe deu um chute no rosto, machucando o corte ainda mais. Colocou-se de pé outra vez e correu em disparada, até as panturrilhas queimarem. Olhou para trás em busca de ver se estava sendo perseguida, não encontrando ninguém. Quando retornou os olhos para frente, sentiu o golpe no rosto partindo seu nariz.

     — Pensou que ia fugir, vadiazinha. – o homem estava na sua frente.

     O sangue escorria pelas narinas da celosiana, a qual caíra sentada devido o impacto. Ainda estava com a lâmina em uma das mãos, mas respirava com dificuldade.

     — Vou levar você de volta para Lappam, receberei uma recompensa gorda por isso. – o mercenário se aproximava mais uma vez. – Largue a lâmina.

    Ela não obedeceu.

     — Largue a porra da faca! – gritou, chutando a face da mulher.

    O sangue espirrou no solo arenoso. Malya jogou a faca para perto dos pés do homem, sua visão estava turva. Provavelmente, o golpe lhe rendera uma concussão.

      — Agora se levante devagar que vamos voltar para a base. – ordenou.

      Malya juntou areia numa das mãos e lançou nos olhos do careca, cegando-lhe. Aproveitou-se da vantagem para socar o esôfago do oponente, que arfou de dor. Com dois chutes certeiros nos joelhos, o homem caiu prostrado. A moça então, aplicou-lhe um mata-leão.

      O homem grunhia, tentando se libertar. Arranhava o braço de sua sufocadora, a qual permanecia estática.

      Mate-o! Mate-o! Alimente sua raiva.– a voz dizia provocativa, na mente de Malya.

     Quando o mercenário perdeu a consciência, Malya resistiu ao impulso e o largou no chão. Pegou a lâmina, colocou o lenço de volta no rosto ensanguentado e saiu cambaleando na direção de sua caverna. Forçou as pernas a andarem o mais rápido que podia.

      A caminhada até a rocha foi difícil, os uivos de canidaes preocuparam a moça ferida mais de uma vez. Tudo o que não precisava era enfrentar os coiotes gigantes do deserto. Ao chegar na rocha, uniu os dedos anelares e fez o movimento que correspondia a chave de entrada na caverna das feiticeiras. Sabia que seus ferimentos agitariam as mulheres que lhe esperavam.

      — Oh, deuses! – Samosh gritou, assim que viu a jovem.

     — O que houve? – Ramla surgiu preocupada. – Malya! – correu em direção à jovem.

    Em poucos minutos, a menina ferida estava cercada pelas feiticeiras do Clã das Dunas. Seu nariz foi consertado, vestiram-lhe com roupas limpas depois do banho, apesar dos protestos. Só deixaram a jovem depois das ordens da líder.

     — O que aconteceu? – Hayat, a líder do clã, inquiriu.

    Estavam apenas as duas dentro do quarto, do lado de fora era possível escutar os passos das outras quatro feiticeiras.

      — Se não me contar, posso ler sua mente. – ameaçou, amarrando os cabelos prateados num coque alto.

    — Prometeu que nunca mais faria isso. – Malya respondeu.

     — Existem casos excepcionais para quebras de promessas. – argumentou, sorrindo fraco.

     — Lappam. Um de seus homens me reconheceu. Lutei e escapei. – falou, pausadamente.

     — Irei falar com ele. – Hayat se levantou.

     — Hayat, por favor não vá! – implorou. – Não quero que se machuque por minha causa. Escutou os boatos, estão dizendo que ele nunca esteve tão forte.

     — Tem medo que eu perca para ele? – seu semblante era tranquilo. – Sabe que ele não desistirá de encontrá-la, aquele homem não tem palavra. E agora que está de posse de um poder maior, não respeitará nosso acordo.

      — Faremos ele respeitar! – Samosh entrou de supetão, fazendo seus cabelos vermelhos fervilharem.

     — Quem ele pensa que é para se meter com o Clã das Dunas? Aquele bastardo patético. – Safi alargou a porta, revelando todas as bruxas.

     —  Agradeço todos os cuidados, mas acho que devemos pensar sobre isso amanhã. – pediu a moça.
   
    Houve pequenos protestos, mas a líder acenou para as outras feiticeiras, fazendo-as se calarem.

    — É claro. Tem toda razão, amanhã pensaremos em alguma coisa com a mente limpa. – Hayat concordou, expulsando suas irmãs. – Boa noite, Malya. – despediu-se, olhando firmemente nos olhos da outra.

◭◭◭

       Malya se levantou com cuidado, a estrutura acústica da caverna aumentava a amplitude até dos sons mais baixos. Pegou a mochila e colocou seus pertences, sentou-se na cama macia, depois de amarrar os sapatos. Empurrou as lágrimas que se aproximavam de sua garganta, não poderia chorar. Sabia que estava tomando a atitude correta, ainda que fosse a mais dolorosa.

      Passou seis anos com o Clã das Dunas, tempo necessário para se apegar àquelas mulheres. Tempo suficiente para sofrer com a partida. Mas não podia colocá-las em risco, fazê-las lutar com Lappam estava fora de questão. Já tinham lhe dado muito, bem mais do que merecia. Apertou o pingente nos dedos, um presente de suas companheiras.

      — Vai partir sem se despedir? – Hayat estava na sala principal, arrumando uma sacola de sarja.

     — Leu minha mente ontem à noite. – falou frustrada.

      — Eu disse, sempre há exceções para certas promessas. – seu olhar era calmo.

     — Contou para as outras? – questionou preocupada, sabia que não aceitariam tão facilmente.

     — Não, sabe como elas ficariam. – devolveu amena.

    — Eu preciso ir. Não posso ficar. – explicou, sentindo o estômago embrulhar. Não queria deixar o ninho confortável.

    — Tudo bem. Não irei proibir sua partida, Malya. Você está pronta. – disse, como se soubesse de algo mais. – Você tem um propósito. Não é uma mera celosiana.

     — Do que está falando? Se refere à voz...

     — Não, Malya. Estou falando só de você. Eu vejo apenas você, minha querida. Lembre-se, você não é seu passado. – interrompeu, entregando a sacola. – Agora vá, não torne isso mais difícil para mim. – era primeira vez que Malya viu tristeza nos olhos da líder do clã.

      — Nos veremos outra vez algum dia? – perguntou com a voz embargada.

       — É tudo que mais desejo. – Hayat lhe deu um abraço apertado, sentido o cheiro de sua protegida uma última vez. – Vá. – empurrou a moça para longe.

      Malya abandonou a caverna com o peito esmagado, as lágrimas romperam o bloqueio da garganta e caíam em cascata pelo rosto bronzeado. Parou depois de algumas horas de caminhadas para ver o que Hayat tinha lhe dado, já estava longe de casa.

    Dentro da sacola, jaziam pedras e cristais para encantamentos, além de outros materiais que poderiam ser úteis para sua proteção. Aprendera magia com as feiticeiras, não era capaz de grandes feitos, mas era boa o suficiente para oferecer certa vantagem. Principalmente, ao considerar sua condição.

     O que mais chamou atenção da jovem foram as lâminas afiadas, a empunhadura dupla com qual treinara tantas vezes e agora lhe pertencia. As duas espadas khopesh eram feitas do raro metal de Vividae, com cabos de material das dunas sagradas. Uma relíquia poderosa e indestrutível. Mal conseguia compreender o porquê de um presente tão valioso, mas o aceitou contente.

     Voltou a caminhar até chegar nos limites do deserto, encontrando uma cidade. Certificou-se de que estava bem coberta. Iria utilizar a oportunidade para obter informações sobre o bando de Lappam, para que assim seguisse o rumo contrário.

     O comércio estava fervoroso, provavelmente novas mercadorias tinham chegado. As pessoas estavam fazendo reservas de mantimentos, devido o medo da recente invasão à Smaragdine. Malya percebeu que estava sendo seguida, um homem alto que se alternava entre olhar para um objeto que carregava nas mãos e os passos dela.

    Era um forasteiro, obviamente. Percebeu isso pelas botas, roupas de boa qualidade e o modo dele andar. Já faziam duas esquinas que ele a seguia. Desse modo, ela se escondeu entre as barracas de pote e esperou para pegá-lo. Ele era bom rastreador, mas não era páreo para as habilidades dela.

     — Quem é você? – inquiriu, após encurralar o homem num beco pouco movimentado. Puxou o homem de supetão, quando vira ele procurar por ela.

     Pressionava a lâmina em seu pescoço, o que era um pouco difícil, já que o forasteiro era bem mais alto que ela. Ainda assim, conseguia manter o poder na situação.

     — Responda. – pressionou a lâmina com mais força.

      Só podia ver os olhos azuis cristalinos do homem, o resto de seu rosto estava oculto sob um lenço e capuz. Ele tinha o cheiro fresco, o qual sinalizava acesso à água. Era impossível que fosse um dos mercenários de Lappam.

     — Eu sou...

     Antes que ele pudesse completar a frase, a jovem mulher sentiu um frio lhe percorrer a espinha. Seus batimentos cardíacos estavam tão acelerados e intensos, que poderiam romper seu peito.

     Ele está aqui. – pensou.

     O forasteiro já não era mais interessante, precisava sair dali o mais rápido possível. Lappam estava em seu encalço. Largou o homem desconhecido e correu em disparada, desviando das muitas bancas.

      — Espere! – escutou o homem rico, mas ela não olhou para atrás.
    
      Meia hora depois, havia retornado ao deserto. Ainda conseguia ver atrás de si a cidade, mas a aflição da presença do bruxo não diminuía. Continuou a correr, mesmo com o fôlego faltando. Até que sentiu seus músculos serem contidos por uma força invisível, era como se suas fibras tivessem sido congeladas. Só possuía a mobilidade das órbitas, as quais se moviam angustiadas.

       — Achei você, cordeirinho. – era ele, a voz de Lappam soava eufórica. – Pensou que ficaria para sempre longe de mim?

      A cabeça nua e o rosto estreito, combinados com os olhos encapuzados davam um ar amedrontador ao chefe dos mercenários. Lágrimas de medo escorreram dos olhos assustados de Malya.

     — Não chore. Vou levar você de volta para casa. – tocou no rosto dela, outros três mercenários observavam a cena, montados em elephas.

     Os dedos dele eram frios, despertando todas as lembranças dolorosas que Malya lutava diariamente para afogentar. Os experimentos dolorosos, os rituais sombrios, as surras e abusos... E a falta de algumas partes de seu passado, o que não sabia ser uma benção ou maldição.

      A pele de Lappam gélida contrastou com o calor que crescia no braços de Malya, uma chama ardente percorria ambos os membros. Ela viu que os mercenários olhavam assustados para ela, já seu antigo senhor parecia curioso. Subitamente, o grupo de pessoas se viu numa sombra. Som de asas gigantesca alagaram o lugar, uma criatura enorme descia dos céus como uma flecha imbatível. Os algozes arregalaram os olhos vislumbrando a imagem, trêmulos com a proximidade.

    — Não há tempo. – Lappam falou decepcionado. – Você será minha. – concluiu, montando no elephas e fugindo da besta alada.

     Quando as patas do animal que afogentara os mercenários chegou ao solo, Malya perdeu a consciência, embora seu corpo já estivesse descongelado.

       
    

    

    

      
    

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