Dirty Laundry ✅

Od ohlulis

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Nina Houston-Löwe tinha uma grande meta para seu semestre na Oak: se tornar a melhor no seu curso e voltar pa... Více

intro
google.com/oak
prólogo
1. there's a new girl in town
2. starboy
3. big three
4. cool kids
5. don't call me angel
6. so much that we could've said, so much that we never said
7. i guess i'm lying cause i wanna
8. i got issues, but you got 'em too
9. momma, I'm so sorry, I'm not sober anymore and daddy, please forgive me
10. make it two and we got a deal
11. i say don't let me go and you say why can't we be friends?
12. guess nothing in life's a mistake cause all wrong turns lead to you
13. it's just medicine
14. your right is wrong... but love never leaves a heart where it found it
15. another love
16. dry your smoke-stung eyes so you can see the light
17. if i knew how to hold you i would
18. i'm so into you i can barely breathe
19. are you scared of what's to come?
20. tell me I've been lied to, cryin' isn't like you pt. 1
21. tell me I've been lied to, cryin' isn't like you pt. 2
22. it's like I'm fighting behind these walls and hiding through metaphors
24. don't you dare look out your window, darling, everything's on fire
25. where do we go? tell me my fortune, give me your hope
26. oh you're in my veins and i cannot get you out
27. and now, it's time to leave and turn to dust
epílogo

23. are you going to age without mistakes?

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Od ohlulis

— Ah, droga...

Nina praguejou para si mesma assim que fez força nas palmas das mãos para se levantar, apoiando-se na barra de proteção da pista de gelo. Não tinha dúvidas que tinha ganhado um belo roxo na bunda depois daquela queda amadora na tentativa de concluir um lutz — salto que ela já tinha conseguido fazer incontáveis vezes na semana anterior.

— Você está bem? — Anna, uma das veteranas do clube de patinação, perguntou, indo em sua direção. — Eu acho que você se antecipou. Seu corpo estava muito para frente quando você voltou ao chão.

A alemã concordou com um murmúrio, esfregando as mãos pela legging escura que tinha ficado com raspas de gelo. Sabia exatamente onde tinha errado, mas sua cabeça — lotada, caótica, preocupada — não parecia estar muito empenhada para ajudá-la a acertar todos os saltos que praticava no treino daquela quarta-feira. Nenhum, na verdade. Sentia-se novamente como a criança que não conseguia dar dois passos no gelo sem agarrar o corpo da pessoa mais próxima.

Sem agarrar o braço, a perna, o tórax de Leo, em específico.

— Só preciso de um tempo — pediu, balançando a cabeça de uma lado para o outro para retirar aqueles pensamentos da sua vista. Não era hora. — Volto em um instante.

Voltou a se apoiar na barreira de segurança, colocando a proteção nas lâminas dos seus patins antes de desabar na arquibancada vazia. Naquela altura, seu corpo não parecia acompanhar a velocidade da sua mente: ela estava elétrica, ansiosa para patinar pelas próximas duas horas e se sentindo capaz de atravessar o campus inteiro da Oak em uma corrida sem pausa. Mas suas articulações doíam, seus pés latejavam e seus músculos queimavam graças aos grandes esforços dos últimos dias e à inexistência de um tempo de descanso.

Desde o fim de semana, estava ficando na república dos garotos. O clima tinha ficado mais agradável entre Remi e Nate — que já eram capazes de se entreolhar por mais de um segundo —, mas toda a atmosfera ao redor dos três era asfixiante. Todos estavam preocupados com Leo — e com sua saúde mental —, e não faziam questão de esconder isso. Remi entrava no quarto dele pelo menos quatro vezes por turno, todas sem bater. Nate, ao mínimo, batia para avisar sua entrada, oferecendo qualquer coisa que ele estivesse preparando na cozinha mesmo que tivessem acabado de comer.

Era o jeito deles de se preocuparem. Remi, sendo inconveniente. Nate, enchendo a geladeira de uma forma que não havia mais lugar para uma nova torta ou receita que ele resolvera experimentar. O de Nina era não dormir.

Não por não achar uma posição confortável, já que adormecer nos braços de Leo outrora era a canção de ninar mais efetiva que ela conhecia, mas pela incapacidade de desligar suas preocupações. Cochilava e acordava — no susto — após um sonho ruim. Virava de um lado para o outro na cama macia, cuidadosa para não acordar Hawkins nas poucas horas de sono que ele tinha. Apertava os olhos, esperando que isso funcionasse. Contava carneirinhos, porquinhos, cavalinhos, até não existir mais nenhum animal na fazenda que conhecesse para incorporar aos seus sonhos.

Desistia sempre perto das quatro da manhã quando percebia que nada funcionaria. Levantava para tomar um banho, ler alguma matéria atrasada — todas elas estavam, naquela altura — ou descia para tomar um ar, não mais se assustando quando encontrava Remi também acordado na sala.

A notícia parece ter invadido suas entranhas sem pedir licença. Não trocavam uma palavra, mas Nina se ocupava em contar quantos cigarros ele fumava em um curto espaço de tempo, até amanhecer. Nem sabia que Remi fumava até passar tanto tempo em sua companhia.

A falta de sono também tinha um motivo óbvio: Nina estava começando a racionar o número de comprimidos que tomava por dia. Não restava muito depois da semana anterior, mas aquele estimulante começava a fazer falta no seu sistema. Abriu a bolsa, retirando metade de um comprimido de dentro do frasco, suspirando ao ver que só restavam mais dois ali dentro. Engoliu sem precisar de água, estalando seu pescoço de um lado para o outro antes de voltar a atenção ao treino que acontecia bem na frente dos seus olhos.

— Desculpe, tive que fazer negócios do outro lado do campus.

A voz quase desconhecida a assustou, mas Nina não fez muito além de levar o olhar em direção à caloura que já tinha visto outras poucas vezes em sua vida. Sara — por trás de óculos de armação escura e um vestido de marca — sentou-se ao lado da alemã, oferecendo um sorriso em sua direção antes de desviar seus olhos até a pista de gelo.

Desde a primeira vez que a viu, Nina se perguntou qual o motivo que fazia com que Sara se colocasse naquela posição dentro do campus. A caloura de cabelos claros que fazia uma major que a alemã desconhecia parecia ter dinheiro — o que ficava claro pelas suas roupas e bolsas de marca, penduradas em seu quarto. Duvidava que ela usava alguma das coisas que vendia também. A única opção — viável em sua cabeça — era status. Era isso que Sara ganhava toda vez que alguém ia até o dormitório seis, trocar notas empilhadas por frascos sem rótulo.

— Fiquei surpresa de ouvir de você tão cedo — Sara continuou, sorrindo sem mostrar os dentes de uma forma que não se parecia nem um pouco simpática. Ela era boa, Nina pensou. — O que exatamente posso fazer por você?

— Como Remi Vince sabe dos comprimidos? — Nina perguntou sem rodeios, deixando de lado a falsa simpatia. Não era preciso. — Ele me perguntou sobre eles no fim de semana e eu sei que isso veio de você.

Sara sorriu, mas havia um lampejo de desespero por trás dos seus olhos escuros. Já tinha escutado boatos demais sobre Nina Houston-Löwe. Se a alemã tinha colocado Remi no seu lugar na primeira festa do ano, Sara não queria criar confusão com ela. Sabia reconhecer uma batalha perdida quando se deparava com uma.

— Remi Vince sabe sobre tudo o que acontece no campus, Nina — fingiu tranquilidade, dando de ombros. — Nós duas somos novas aqui, mas acho que isso é a primeira coisa que aprendemos quando cruzamos o portão da Oak.

Era um fato. Mas Sara Gellard era a mais nova vendedora de medicamentos por baixo dos panos dentro da Oak então Nina imaginou — erroneamente — que ela seria ao menos um pouco mais discreta com quem parava em sua porta. Ou em sua cama.

— Mas ele não está em todo lugar, querida — Nina continuou, juntando suas sobrancelhas enquanto encarava a caloura sem desviar dos seus olhos. Podia sentir, de longe, como ela estava tensa com suas palavras. — A primeira vez eu fui até o alojamento. Ok, meu erro. Mas na segunda você deixou os comprimidos no meu armário. Remi não tinha como saber ao menos que... Você tenha contado para ele.

Nina conseguiu ver o momento exato que a caloura engoliu em seco. Era óbvio que ela tinha contado para ele. Boatos corriam pelos corredores — e a alemã sabia que eles eram verdadeiros — que Remi tinha dormido com Sara. Mais de uma vez. Imaginou que deveria ter sido fácil como tirar doce de criança para Vince retirar aquela informação da caloura entre um beijo e outro. Não restavam dúvidas que o garoto mais conhecido dos corredores tinha traçado a vida dela inteira desde que tinha pisado o pé em Silvermount e continuava a fazer isso até agora por conta do Leo.

A ameaça de Remi ainda reverberava em seus ouvidos no silêncio, mas Nina se esforçava para afastá-la para longe de si. Sabia que precisava seguir o conselho dele, sabia que precisava contar para Leo antes que outra pessoa o fizesse e sabia que precisava, de vez por todas, parar com os comprimidos. Era isso que dizia a si mesma ao se olhar no espelho pela manhã, um segundo antes de sentir os braços de Leo a abraçando por trás e sentir os beijos carinhosos que o jogador depositava por toda a extensão do seu pescoço, olhando para ela como se fosse a coisa mais bonita em que ele já tinha colocado os olhos.

Aquela pessoa. Ela precisava ser aquela pessoa para Leo.

Não conseguiria ser aquela pessoa sem os comprimidos lidando com tantas coisas ao mesmo tempo.

— Eu não...

— Eu quero mais — Nina a interrompeu, mantendo seu tom duro. As coisas pareciam funcionar melhor assim com Sara e ela não tinha tempo para jogos ou arrodeios. Precisava voltar para o gelo. Seu corpo já começava a esfriar e ela sentia, à medida que a adrenalina ia embora, que o cansaço queria tomar o seu lugar de direito. — Eu posso pagar. Não importa o seu preço.

— Oh, devagar loirinha — Sara murmurou em resposta, juntando as sobrancelhas em curiosidade, formando um vinco em sua testa. — Eu te entreguei trinta semana passada.

— Eu quero um frasco inteiro. Cem comprimidos. Dê seu preço.

Sara parecia surpresa, mas não voltou a retrucar à fala de Nina. Pouco se importava. Nina tinha dinheiro, a caloura tinha contatos que conseguiam receitas. Era preciso só um esforço a mais para que ela pudesse colocar as mãos em um frasco laranja novo para a alemã.

— Posso te entregar no final de semana — Sara respondeu, arqueando as sobrancelhas neste momento, colocando um sorriso meticuloso nos seus lábios pintados de rosa. — Pelo dobro do preço da semana passada. Desculpe, demanda alta.

Nina rolou os olhos, certa de que estava sendo enganada. Não havia, porém, nada que pudesse fazer. Já estava em Silvermount há quase quatro meses, mas ainda não conhecia alguém que dividisse mercado com Sara Gellard.

— Te entrego amanhã, mas dessa vez eu espero que você mantenha nosso acordo longe dos ouvidos de Remi Vince — Nina ameaçou, sorrindo em sua direção ao dar de ombros. — Eu realmente acho que o pai dele vai adorar saber que você anda extorquindo estudantes no dormitório seis.

— Você não teria coragem...

— Você pode pagar para ver — murmurou baixo, levantando-se em um pulo, tirando as lâminas de proteção dos patins. — Ou você pode jogar meu jogo.

— Eu acho que você tem mais a perder do que eu, querida — Sara aumentou a voz, usando o belo sorriso sem defeitos que tinha para encurralar Nina e aquela foi sua decisão errada.

Ao invés do efeito desejado com sua fala potencialmente ameaçadora, Nina sorriu. Dando de ombros, a alemã fechou a porta de proteção da pista de gelo e olhou diretamente para onde Sara ainda estava sentada, apertando a bolsa de grife com força e com os olhos presos na alemã, esperando por uma resposta que não parecia ter pressa para chegar.

— Bem, como eu disse — Nina deu de ombros, piscando demoradamente para Sara. — Você pode pagar para ver.

A alemã sabia, antes mesmo de virar as costas, que Sara não correria o risco.

Talvez esse fosse um ponto positivo de ter uma reputação dentro da Oak, afinal.

A Silvermount Arena estava tão silenciosa naquela tarde que era difícil acreditar que ela abrigava o time completo de hóquei da Oak.

Quando Leo chegou, achou que tinha se perdido no horário. Ou talvez todo mundo estivesse no auditório, revendo vídeos da última partida ou levando bronca do treinador que sempre guardava uma dentro da manga.

À medida que descia as escadas, com a mochila de treino em uma das mãos, Leo percebia que todo mundo parecia estar dentro do gelo. Todos os caras com quem tinha jogado nos três anos de Oak, o treinador Patron — encostado na mureta perto da penalty box — e, no meio de todos eles, Remi. Sem o capacete, sem a proteção para seus dentes, sem o stick.

— Estou perdendo alguma coisa importante? — Leo perguntou em tom de brincadeira, oferecendo um pequeno sorriso em direção aos seus companheiros. — Vocês não me avisaram que teríamos uma comemoração.

— Eu só espero que você tenha trazido seus patins, seu babaca — Remi respondeu, apontando com o queixo para a pista. — Nós estamos esperando por você.

A notícia já tinha sido dada na segunda-feira. Em um primeiro momento, Leo sentou apenas com o treinador, explicando para ele o que tinha acontecido no fim de semana e o motivo da sua abstenção do treino nas primeiras horas daquele dia. O choque inicial foi bem parecido com o seu e, apesar de Patron não ser muito de expressar sentimentos, o abraço apertado que ele deu em Hawkins e as batidinhas encorajadoras que o jogador recebeu nas costas dizia mais do que qualquer frase que o mais velho podia pronunciar.

Pediu que o treinador Patron conversasse com o time e, em poucas horas, a notícia já tinha se espalhado pelo campus feito uma gota de corante em um copo d'água. Todo mundo o endereçava segundos, terceiros ou quartos olhares. Algumas pessoas até se sentiram à vontade para cumprimentá-lo, oferecendo um olhar de pena como se ele tivesse acabado de perder alguém importante na sua vida.

Perdeu todas as aulas da terça-feira depois do fiasco da segunda. Não queria receber aqueles olhares que o prendiam em uma gaiola que não o permitia ser auto indulgente. Voltou ao campus apenas naquela quarta-feira, depois que Remi pedira a ele — como capitão da equipe de hóquei — para passar na Arena nas primeiras horas do treino da tarde.

Sentiu uma imensidão de coisas ao sair do vestiário e entrar no gelo uma última vez com seu time completo.

Quantos sentimentos diferentes já tinha vivido naquela Arena...

Se olhasse para o lado, conseguia se lembrar perfeitamente de quando fizera uma das jogadas mais lindas da sua carreira no gelo, aproveitando um Power Play que dava vantagem para o time da casa. Ali também tinha passado por momentos agridoces, como quando perderam a classificação para o Frozen Four nos últimos instantes do terceiro período, por estarem em desvantagem após uma punição em cima de Remi depois de um choque mal intencionado com um adversário. Era impossível esquecer o jogo contra Harvard no ano anterior, quando tudo foi decidido no overtime. Leo marcou o último ponto. Os lobos da Oak levaram a vitória para casa.

Lembrou-se do empurrão no primeiro jogo daquela temporada. Da dor, do machucado, da adrenalina que o deixou seguir até o final. Não podia esquecer o sentimento que o preencheu quando percebera que era sua foto que estava estampada no telão como jogador da semana, agradecendo timidamente e aceitando todos os tapinhas que recebia nas costas.

Leo Hawkins nunca fora arrogante, mas em algum lugar dentro de si ele sempre acreditou que seria uma estrela. Acreditou que chegaria até a NHL. Acreditou que, um dia, ergueria a taça brilhante mais pesada que já tinha colocado as mãos.

Agora todas essas lembranças eram apenas sonhos e expectativas que em breve virariam pó. Com sorte, seriam varridas do seu pensamento nos próximos meses, deixando rastro nenhum para trás.

— Nós queríamos fazer uma homenagem com confetes, vídeos bonitos no telão, uma arquibancada cheia de faixas emocionantes para você chorar e qualquer coisa do tipo — Remi falou, dando de ombros. Era fácil para qualquer um presente ver o quanto o capitão estava lutando para não desabar. Ninguém nunca tinha visto ele assim antes. — Mas nós provavelmente choraríamos também e esse não é o objetivo aqui.

Todos acompanharam na risada, ansiosos pela reação do último a chegar. Leo sorriu, passando o olho por todos que ali estavam presentes. Era estranho, mas passava tanto tempo na companhia dos garotos que estava acostumado em tê-los como uma família. Sua família em Silvermount, pronta para ampará-lo em momentos difíceis como aquele.

— Então nós decidimos, como time, aposentar a camisa doze em sua homenagem — Remi continuou, engolindo em seco. Seus olhos já brilhavam nessa altura, assim como os de Leo. — Porque ninguém nunca vai ser bom o suficiente como você para vesti-la.

Foi estranhamente reconfortante escutar as palavras sinceras de Remi. Podia dizer, apenas de olhar em seus olhos pequenos, que ele não fazia aquilo apenas pela amizade e pelo vínculo que criaram nos anos que passaram juntos. Era uma decisão em equipe. Uma decisão que, muito provavelmente, tivesse passado pelo treinador e pelo diretor de esportes da Oak.

— Eu vou pensar em você toda vez que eu entrar no gelo — Remi murmurou, apertando os lábios em uma fina linha. — E toda vez que alguém me elogiar, eu vou estar pensando 'você só acha que eu sou bom porque nunca viu o meu melhor amigo jogar. Ele era o melhor nisso'.

— Cale a porra da boca — Leo pediu, sorrindo. Não existia mais barreira emocional nesse momento. Ele chorava, pouco preocupado em limpar as lágrimas do seu rosto. Os mais discretos do time fingiam coçar os olhos, levando para longe as gotas que queriam cair. O treinador, sempre tão na dele, se esforçava muito para permanecer sério. — Você nem vai lembrar de mim quando levantar seu primeiro troféu.

— Eu posso ser um idiota ás vezes, Leo, mas eu não sou um mentiroso. Eu vou levar seu sonho comigo para qualquer lugar que eu for.

Nesse momento, Hawkins se aproximou de Remi, abraçando-o como talvez nunca fizera em outra oportunidade. Fechou os olhos, impedindo que seus canais lacrimais voltassem a perder o controle e murmurou, baixinho, um obrigado que doeu em Vince.

Não era exatamente assim que esperava finalizar a temporada. Imaginou champagne ao comemorar um contrato profissional para Leo, tequila, cachaça e tudo mais o que eles tivessem direito. Imaginou risadas altas, sorrisos e brincadeiras que só fariam sentido se eles estivessem muito bêbados. O silêncio da Arena, bem contrastante com todos seus sonhos, era diferente disso.

Remi se afastou, dando um tapinha nas costas de Leo antes que o time inteiro seguisse seu exemplo e se aproximasse para deixar uma palavra de consolo ou um abraço apertado em Hawkins. Era diferente,quando eram eles. Libertador, quiçá, ser reconfortado por tantas pessoas que ele apreciava.

No tumulto, o capitão precisou de um tempo sozinho. Se esgueirou pela saída do gelo sem que ninguém além do treinador Patron percebesse, escolhendo por deixá-lo sozinho por uns minutos. Aquela figura arrogante, metida e pouco modesta de Remi dentro e fora do gelo apenas escondia alguém que sofria — muito — pelas pessoas que gostava.

O restante do tempo não funcionou como um treino tradicional, muito menos como um jogo sério. O espaço estava liberado e o treinador Patron — apesar de ter o apito preso no pescoço — não tentava colocar ordem. Apenas observava de braços cruzados os seus meninos gargalharem, disputarem o puck e se arriscarem em arremessos longínquos que não dariam em nada.

Ninguém chegava muito perto de Leo, ele percebeu. Desistiam da disputa assim que ele estava com o puck, deixando o ombro-a-ombro para outra hora, assistindo-o investir em direção ao goleiro e marcar um ponto com tranquilidade. Em outro momento, Leo odiaria ser café com leite. Naquele momento, não podia ser mais grato aos seus amigos por dá-lo essa última oportunidade.

Quando o treino se encerrou e todos seguiram para o vestiário, Leo foi até a arquibancada. Remi pensou em segui-lo mas percebeu, pelo olhar do melhor amigo, que aquela era a hora de deixá-lo sozinho. Era a hora da sua despedida do gelo. Era a hora que a ficha ia cair.

Leo ficou em silêncio durante todo o tempo, com o olhar perdido no nada e os braços ao redor das suas pernas.

Quando fechava os olhos, jurava que podia ouvir tudo: os gritos do treinador, a torcida de casa, o apito irritante, as músicas que tocavam durante o intervalo. Mas, quando abria os olhos, não havia nada além de um ringue de gelo vazio, marcado pelas lâminas dos patins que vestia até aquele momento. Era um contraste bonito, o piscar de olhos.

Era uma mudança dura, a da sua vida. Agora tinha um futuro incerto nas mãos, sem ter ideia de qual seria o próximo passo. Iria trabalhar com o pai após a formatura? Era Boston que estava em seu mapa e não mais Nova Iorque como em seus sonhos de menino?

Não tinha certeza ainda, mas sabia exatamente o que iria fazer no dia seguinte. Iria se levantar, aproveitar as panquecas de Nate, enfrentar as aulas do primeiro turno e sair para almoçar com seus amigos — e Nina, óbvio. Ligaria para Sean pela noite e o diria, de uma vez por todas, que o perdoava. Pediria, em troca, que ele contasse histórias sobre Emma. Aquelas histórias que por muito tempo seu pai guardara por achar que seria um fardo pesado demais para Leo lidar.

Aposentaria os patins, mas iria assistir todos os treinos de Nina no clube de patinação. Cobraria todos os movimentos que a ensinara. Olharia para ela com o semblante mais bobo do mundo, explodindo de orgulho do seu verdadeiro evento estelar do ano. Sua epifania. Sua Nina.

Aprenderia a lidar com a frustração, com a dor e com os momentos de raiva que certamente apareceriam nos seus piores dias. Seria difícil, mas não impossível.

Levantou-se quando as luzes começaram a se apagar, deixando claro que em breve as portas seriam trancadas e a pista polida para o dia seguinte. Não para ele.

Nunca mais para ele.

— Você está pronto para ir para casa?

A voz de Remi, vinda do nada assim que ele atravessou os portões da Arena, o assustou. Quando percebeu o amigo sair do escuro respirou aliviado, oferecendo um sorriso pequeno em sua direção. O treino já tinha acabado há duas horas. Mesmo assim, Remi tinha permanecido.

Leo assentiu, imensamente grato por não fazer aquele trajeto sozinho.

Ele finalmente estava pronto para ir para casa.

E para todos os dias que viessem em seguida.

Tenho que confessar para vocês: esse capítulo me deixa com um sentimento agridoce. Eu amo esse final, amo a reconstrução do Leo, amo a forma que ele resolve (depois de tudo) começar um novo dia e amo (MUITO) a relação que ele construiu com o Remi. E ao mesmo tempo eu sofro (de verdade) com as escolhas da Nina, por mais irracionais que elas sejam. Nesses capítulos finais, os dois irão colher os frutos das suas escolhas e acho que é tudo o que eu posso dizer para não falar demais!!!!!!
Espero que vocês tenham gostado! Tenho que agradecer todo o carinho, comentários e votos que vocês deixam aqui. Dirty Laundry está crescendo e eu não podia estar mais feliz com isso. Tudo isso graças a vocês!
Até a próxima! Espero que consiga ser tão rapidinha quando essa aqui ❤
Vou deixar minhas redes sociais aqui, para caso vocês queiram me acompanhar (eu costumo não calar a boca sobre minhas histórias rsrsrsrs).
instagram: lulisescreve | twitter: ohlulis

E ah, só um aviso. Para quem curte F1, eu acabei de finalizar uma fanfic com o Carlos Sainz aqui na plataforma (chama Paralaje Estelar). Eu pretendo retirá-la no dia 10/02, então quem quiser e tiver interesse de ler, corre no meu perfil que ainda dá tempo!

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