"Todas as noites em que nos acabamos
Tentando encontrar esses lugares perfeitos
Mas que porra são lugares perfeitos, de qualquer forma?"
Tento sair silenciosamente pela porta do quarto. São duas horas da manhã e ambas as meninas estão dormindo. Decidi sair um pouco, não do quarto, e sim da escola.
Tranco a porta cuidadosamente e olho para o corredor tentando ver algum sinal de vida. Nada. A não ser os espíritos de freiras que já morreram nesse local horrível. Espero que elas não me entreguem.
Desço as escadas do segundo andar bem devagar, me segurando no corrimão para evitar de cair no escuro. No térreo, me encaminho para o saguão e, meticulosamente, abro a gaveta da recepção, pegando a chave do conversível da diretora. Bingo.
Organizo tudo para não deixar rastro. Quem é o idiota que deixa a chave de um carro em um local fácil assim? Enfim, ninguém precisa saber o que eu vou fazer, apenas vou pegar emprestado, colocarei a gasolina que usar e, antes de amanhecer, já estarei de volta. Tudo certo.
Viro o corredor e passo pela galeria enfrente ao jardim quando de repente escuto passos, olho para a esquerda e vejo um casal se pegando encostados em uma das paredes do muro. Tento passar despercebida, mas eles logo me veem.
A garota se desencosta da parede e aponta com a cabeça para mim, agora ele se vira.
— Ei, novata, pra onde vai? — ela fala. Logo percebo que é a minha colega de quarto, devia ter prestado atenção nas camas.
— Não importa. Deixem eu ir e eu deixo vocês em paz pra continuarem de onde pararam.
— O que é isso na sua mão? — ela se aproxima, deixando o rapaz revirando os olhos, agora ele está encostado na parede. — Uma chave? Você tem carro aqui?
— Sim, espertinha, é uma chave. E não, o carro não é meu. Será que você pode deixar eu ir logo, Monalisa?
— Pra onde você vai? Vamos com você. Estamos entediados. Ou você nos leva ou eu digo que você roubou a chave do carro da diretora. Sim, conheço essa chave. Eles não costumam olhar as filmagens da noite das câmeras de segurança. Mas aposto que se eu soltar um palpite vão conferir.
— Você estava quase transando com aquele garoto aqui no jardim, literalmente. Você acha que não posso usar isso contra você?
— Com que provas? Não tem câmera nessa parte da escola, sabidinha. Mas na recepção tem, e várias.
— Tá bom, chama o seu carrapato logo. Não vejo a hora de sair daqui. Se apressem.
Passamos pelo jardim e nos direcionamos para a garagem do internato. Pego a chave do portão da garagem, que também estava na gaveta. Os quartos das freiras ficam no terceiro andar do prédio, então não vão nos escutar.
Também não temos seguranças nesse lado da escola, porque para eles é totalmente seguro (idiotas).