𖤍 T a l i s s a 𖤍
Eu estava em completo silêncio. Não sabia como começar à conversar com Loki após um mês quase sem vê-lo. Nem sabia se queria conversar e talvez acabasse falando demais, ou sendo arrogante. Comi, sentindo minhas forças voltarem aos poucos, mas o corte ainda estava aberto. Diferente do de Loki. Sim, ele ainda estava sem a parte superior das vestes, mas o corte já havia sumido completamente.
— Já sabe quando lutará com Sif e Thor? — Ouço a voz de Loki quebrando o silêncio e olho em sua direção.
— Sif ainda não sei. Com Thor, nunca.
— Como não? Achei que o Pai de Todos queria testar suas habilidades.
— E ele quer, mas Thor é mais forte que eu. Mesmo que eu seja mais hábil com uma espada, ou use minha velocidade e estratégia. Um raio dele e estou paralisada.
— Eu acho que deveria tentar. Se quer testar realmente sua força, deveria lutar com alguém do seu nível.
— Alguém como você e seu irmão?
— Talvez?! Vamos ser sinceros, você acabou com os três guerreiros fácil demais, e eles são os melhores guerreiros de Asgard. Não duvido também que irá derrotar Sif.
— Não estou no seu nível ou de Thor ainda.
— Como não? Passou anos somente treinando! Não só acho que está no nosso nível como também imagino que nos derrote facilmente. — Ele diz, vestindo sua blusa verde musgo.
— Loki, porque toda essa preocupação comigo e meus poderes agora? — Questiono, deixando minha comida sobre o prato. — Seja sincero, não finja que se importa comigo. Não depois de tudo aquilo que disse.
— Não vai esquecer disso nunca?
— Esquecer? Você sequer me pediu desculpas e quer que eu simplesmente esqueça?
O príncipe então se calou e encolheu os ombros. Sorri, em choque e desacreditada das suas ações e palavras e me retirei do grande salão, indo direto para o meu quarto. Havia perdido toda a fome que eu quase já não tinha. Tirei minha armadura e pus meu escudo e espada próximos dela. Tirei a roupa que vestia, junto com as botas e deixei de canto. Entrei na banheira e relaxei.
Minha mente e corpo estavam gastos e bem distantes um do outro. Eu estava instável psicológica e emocionalmente, estava à ponto de surtar. Todos os sentimentos vinham como uma bomba de uma vez só. A saudade de casa, de Ártemis, de Atena, do Olimpo. A raiva que ainda sentia de Zeus, Hades e Ares. O medo de estar em um lugar completamente novo, quase desconhecido por mim. A alegria em me sentir confortável aqui. E a mistura de sensações que Loki trouxe para a minha vida em apenas dois meses de convivência.
Eu nunca tive amantes ou sequer vivi um romance no Olimpo. Não tinha essa intenção e nem pretendentes. O mais próximo disso fora Hércules. Batalhavamos e treinavamos juntos, o que nos deixou bastante próximos, mas eu percebi suas intenções e acabamos nos afastando. Desde então, não permiti que nenhum outro homem ou mulher se aproximasse como ele. Nunca mais deixei nenhuma brecha. Até conhecer Loki.
Eu senti uma gratidão imensa por ele ter salvo minha vida e quis retribuir com gentileza e companhia. Gostava do tempo que passávamos juntos, mesmo que fosse cada um em um lado, lendo um livro qualquer. Estar com ele me deixava bem. Frigga parecia gostar de nos ver juntos. Eu gostava de estar com ele. E percebia que ele gostava de estar comigo. Não sabia que Loki tinha as mesmas intenções que Hércules até ele me beijar, mas ao contrário do que pensei, não fiquei com raiva dele. Na verdade, eu gostei.
Pretendia conversar com ele na manhã seguinte. Apenas para pedir que ele não repetisse o ato. Sim, eu havia gostado, mas queria manter nossa amizade acima de tudo. Mas percebi que Loki me evitava, e no fim do dia, tudo aconteceu, me deixando ainda mais decepcionada. Me fazendo acreditar que tudo o que pensei era verdade. Que ele tinha uma intenção comigo e uma apenas. Isso me quebrou por completo.
E ainda assim eu sinto falta dele. Das tardes juntos. Das idas ao Jardim de Frigga. Das conversas sobre seres mitológicos. Sinto falta de tudo. Mas ele não parece querer consertar seu próprio erro e eu não posso o obrigar.
Parando meus pensamentos, senti um queimor forte na bochecha, como se meu corte estivesse pegando fogo, e me levantei, mesmo ainda molhada, e fui até o espelho mais próximo. O corte havia sumido e no local onde ele estava, agora predominava uma marca de pó cinza. Limpei, vendo a pele agora sem nenhuma marca e o resquício de pó sumiu, me fazendo unir as sobrancelhas em desconfiança. Não era a forma que meus ferimentos costumavam se curar, mas ao menos meu fator biológico acelerado ainda estava funcionando.
Terminei o banho e vesti um dos vestidos que a servente das costureiras trouxe pra mim. Frigga iria fazer um banquete em comemoração à volta de Odin e seus companheiros, e embora eu não tivesse ânimo para socializar, tinha que prestar respeito ao rei e deus. O vestido tinha um fundo verde e estampa floral. Pouco decotado e bastante detalhado, de mangas longas e sem transparência. Após vesti-lo, prendi o cabelo para trás e limpei bem o rosto. Vendo meu reflexo ainda cansado.
Saí do quarto antes que desistisse de tudo e caminhei sem pressa até o grande salão. Cumprimentei calorosamente Hogun e ouvi suas congratulações à mim por ter vencido mais um dos guerreiros de Asgard. Agradeci e me direcionei à um assento vago ao lado de Sif. Infelizmente de frente para Loki.
Após um bom tempo de conversas e atualizações sobre o tal Vanaheim, foi dado o início para o banquete e as comidas foram servidas na mesa, logo após, os copos e bebidas foram distribuídos. Comi, mesmo sem fome, lembrando das reclamações de Frigga sobre eu estar adoecendo e não curando minhas feridas. Eu sabia que ela estava certa, por isso apenas obedecia.
— Se sente melhor? Vi que o corte curou... — Frigga pergunta, do outro lado da mesa, ao lado do filho.
— Estou bem melhor sim. Não precisa se preocupar. — Digo, com um sorriso gentil.
— Ah, meu amor. Não tem como não me preocupar. Vocês três são iguaizinhos. Meu coração de mãe se aperta tanto...
— Minha mãe, deixe disso. — Thor chama a atenção dela, com seu vozeirão já um pouco carregado de embriaguez. — Não vai beber, Tali?
— Ahm, eu não bebo tanto...
— Isso significa que bebe algo. Vamos, apenas um copo. Sim?
— Tudo bem. Um copo.
Se tem algo que eu não me arrependia nem um pouco é ter aprendido à beber com Dionísio. Não havia no mundo alguém melhor que o próprio deus do vinho para me ensinar isso. O problema é que os asgardianos misturavam cerveja de malte puro e um vinho fortíssimo, e bebiam como se fosse água. Eu não tinha estômago pra isso, e em poucas horas logo comecei à me sentir tonta.
Saí de fininho, andando até a varanda e finalmente respirando um ar puro. A música alta e as histórias de antigas batalhas já haviam me enchido os ouvidos, e o silêncio e calmaria da noite agora me abraçavam. A cidade dourada parecia calma demais durante a noite. Poucas luzes podiam ser vistas pelas casas, e o brilho intenso da Bifrost contrastava com as estrelas e a lua, dando um toque mágico à noite.
— A vista daqui é linda. — Ouço a voz irritante de Fandral e suspiro, já querendo sair dali.
— É sim...
— Gosta de apreciar as estrelas? — Ele pergunta, se aproximando.
— Gosto. Astros celestes me chamam muito a atenção. — Explico, vendo o loiro assentir.
— Eu nunca entendi as constelações muito bem. Não consigo ler mapas celestes. — Admite, sorrindo.
— Eu também não sabia até os meus quinze anos. Minha tia ensinou tudo o que sei sobre esse assunto.
— Teve sorte de ter alguém pra te ajudar... É a mesma que te ensinou à lutar?
— É sim.
— Sente falta deles, não é? — Perguntou, se aproximando calmamente e eu assenti. — Nem imagino como deve ser.
— É... Decepcionante. Eu sei que precisam de mim. Eu preciso deles, mas não posso voltar. Corro risco de ser morta em qualquer lugar da Terra.
— Isso é só uma questão de tempo. Com certeza seu avô vai largar dessa briga e em algum momento você vai voltar pra casa.
— Eu espero que sim.
— Acho que Asgard não te fez tão bem... — Fandral diz sugestivo e eu nego, maneando a cabeça.
— Me fez sim. Está sendo uma experiência incrível, mas a saudade de casa, de minha mãe é maior que tudo. — Admito.
Passamos algum tempo em silêncio, o que é um milagre, e eu o vi se virar de frente pra mim. Parecia tomar coragem para falar algo.
— Sinto muito pelo corte. Odin conversou comigo, me repreendeu e contou que você teve uns problemas com seu fator de cura. Me desculpe.
— Tudo bem. Já passou. E eu tive o melhor consolo que um guerreiro poderia querer.
— Qual?
— Eu te venci, ora! — Digo, vendo-o rir.
— Venceu sim. Infelizmente, princesinha.
— Não precisa ficar com vergonha. Eu não vou contar pra ninguém, mas não me responsabilizo pelos guerreiros do castelo e suas bocas grandes.
— Você é engraçadinha, não é?! Onde foi que eu me meti?!
— Você me adora. Pena que é um chato. — Admito, talvez por conta da bebida.
— Então você gosta de mim?
— Nosso duelo foi legal. Se não tivesse me cortado, eu gostaria mais.
— Posso me redimir?
— Como? Eu não aceito uma revanche.
— Eu não quero uma.
Antes que eu sequer tivesse tempo para retrucar, Fandral me beijou. E eu até cheguei à pensar que seria bom, mas não foi. Eu não senti vontade de retribuir. Não senti seu toque queimar. Não senti sua mão em minha perna e muito menos a fácil dominância sobre mim. Não foi como eu queria. Não foi como Loki.
Um bater de asas me assustou, me fazendo virar para trás com o coração acelerado. Era apenas Muninn, um dos corvos companheiros de Odin. Mas este parecia diferente. parecia menor e de penugem esverdeada. Sendo a cor que fosse, não era o momento de reparar em corvos.
O que, pelo amor de Gaia, tinha acabado de acontecer?
— Eu... Eu não...
— Não era o momento? Me desculpa!
— Está tudo bem, Fandral. Eu só.. Não acho certo continuar.
— Oh... Tudo bem.
— Ahm.. Não tente isso novamente, certo? — Peço, vendo o loiro assentir. — Até o treino.
— Hm, Talissa! Eu... Eu posso te fazer uma pergunta?
— Faça.
— Você gosta dele, não é? De Loki? — Questiona, me deixando atônita. — Eu percebo os olhares que trocam. Ou trocavam. Não parecem estar se falando.
— Está tudo bem entre mim e Loki. — Minto, recobrando minha postura. — Eu o tenho como um amigo, assim como você, Thor e os outros. — Digo, vendo-o assentir calado. — Se me dá licença.
Saio dali o mais rápido que posso, subindo direto para o meu quarto, desviando de todos que me ofereciam mais uma taça ou xícara, seja ele um servente do castelo ou o próprio Odin, que à essa altura já estava tão bêbado que andava com um de seus lobos nas costas, onde deveria estar um corvo.
Fechei a porta do cômodo, indo diretamente para a minha cama e suspirei, sentindo o ar frio e pesado me invadir. Eu definitivamente não havia gostado do beijo. Não gostava de Fandral, e quando finalmente estava apreciando um momento único com o guerreiro, ele estragou tudo. Eu queria Loki em seu lugar, mas não para me beijar. Queria ouvir suas desculpas. Queria conversar sobre cosmos e estrelas com ele. Queria falar sobre a saudade que sentia de casa com ele. Queria estar com ele.
Eu sentia muita falta de sua companhia, muita. Esse último mês apenas treinando com Thor me fez perceber o quanto eu apreciava estar numa sala vazia com seu irmão. Lendo, conversando, olhando um para o outro... Até mesmo as minhas visitas ao Jardim de Frigga se extinguiram. Eu sentia falta daquele lugar, mas uma parte de mim agradecia por não ir lá. Tudo ali me lembrava o deus de grandes cabelos negros e vestes verdes.
E assim, eu dormi. Com o coração cheio de angústia e saudade. Com os olhos afogados nas próprias lágrimas. Com a mente cansada de tanto pensar e lembrar. Com o corpo pedindo um único calor. Um único ser ali comigo. Era ele e apenas ele. Como amigo, confidente, ajudante, companheiro de caminhadas... Como qualquer coisa. Queria apenas que estivesse aqui.
Ah, Loki, o que você está fazendo comigo?
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SURPRISE SHAWTY!
Meus amores, MIL desculpas por estar atualizando depois de uma semana. O watt não tá facilitando pra mim, dando problema no salvamento dos capítulos, na postagem, tá tudo despirocado. Se eu conseguir postar esse, talvez o problema tenha se resolvido e aí eu volte a frequência normal. Oremos ✋🏽😔
O que acharam desse capítulo em? Querem me matar né? Imagino. Mas vocês vão entender a necessidade dele daqui dois ou três caps.
Pra alegrar minhas deusas, já trago a info de que o próximo vai ser no POV do Loki. Finalmente vamos entender o que aquela cabecinha tanto pensa, e como ele realmente está se sentindo com essa briga.
Ansiosas? Eu sim.
Nos vemos lá, nenens! Um beijo e um queijo 💚