A Irmã da Noiva

By MandyVas

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Evangeline nunca entendeu como sua irmã mais velha, Polly, poderia se sentir, não só tranquila, como animada... More

Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII

Capítulo IV

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By MandyVas

Quando não estava participando dos eventos que a família organizava ou comparecia, desde que terminou os estudos, Evangeline passava o tempo em casa, estudando piano, ou pintando.

Quando tocava piano ou pintava uma nova tela era como se nada mais no mundo existisse. Sentia como se sua alma sobrevoasse os céus, livre e desimpedida.

Sua mãe e irmã não entendiam muito bem como ela podia gostar de passar tanto tempo praticando, mas ela não se importava. Era um sentimento único que só ela compreendia.

Um dia, quando estava lendo o jornal que sempre roubava escondido do escritório do seu pai, ela leu um anúncio que a deixou em êxtase. Dizia:

"Academia de Artes Londrina aceita novos estudantes

A Escola de Arte Londrina, que tem se tornado uma referência no ensino de artes plásticas, música, ballet e literatura, está aberta para a matrícula de novos estudantes.

Para se candidatar os interessados devem enviar uma demonstração da sua expressão artística, seja uma tela de pintura, —para os estudantes de artes plásticas, —, um poema ou texto não maior que duas páginas — para os aspirantes da literatura, —, uma composição musical original — para os musicistas, —, todos estes sob o pagamento de uma taxa de 200$ libras e para os dançarinos de ballet, será necessária uma audição, à qual os estudantes deverão se candidatar, mediante pagamento de uma taxa de inscrição de 300$ libras.

O processo se estenderá até o mês de janeiro do ano posterior, (1854), e as cartas de aprovação ou rejeição serão encaminhadas pelo correio.

Abaixo encontra-se o formulário para preenchimento.".

Havia na página seguinte uma folha que deveria ser recortada e enviada junto com a obra de inscrição. No mesmo momento, Evangeline se enche de esperança. Era aquilo que ela vinha esperando há tanto tempo: uma chance de estudar artes e se tornar uma grande compositora. Já tinha diversas composições no piano, só precisava encaminhar a melhor delas (restava escolher qual era).

Mas de qualquer modo, a noite de natal era no dia seguinte, e a oportunidade de se candidatar era como um presente chegado em hora certa.

Depois disso, ela espera ansiosíssima para que seu pai chegue em casa. Ele entra pela porta à noite, com um olhar exausto e a pisada densa.

Ao passar pela porta, desata sua gravata e retira o paletó, respirando aliviado. Sua esposa Célia se aproxima dele e pega o seu paletó e gravata, eficiente, e entrega à criada dando ordens para que os guardasse.

— Sente-se, querido. Como foi o dia hoje?

Ela convida, mostrando o sofá da sala. Ele desaba, deixando o corpo gordo afundar o acolchoado do móvel.

Polly estava sentada em uma poltrona ali perto, tricotando à luz do abajur. E Evangeline, que estava no seu quarto, aguardando atentamente o som dele passando pela porta, dispara pelo corredor e aparece na sala de estar, com os olhos brilhando de expectativa.

— Boa noite pai, como foi o trabalho hoje?

Ela pergunta, tentando conter a excitação, unindo as mãos detrás dos quadris, onde segurava o jornal com a notícia.

Polly a observa com um pequeno sorrisinho doce, pois já sabia do que a irmã pretendia fazer. Ela contara assim que soubera.

— Cansativo, como sempre — suspira o pai, pesadamente. — mas um homem deve fazer o que é preciso para sustentar sua família.

— Fico feliz que as coisas estejam indo bem, pai. — ela responde, educada — na verdade, tenho algo a tratar com o senhor..

O pai se remexe no sofá, inquieto. Estava desconfortável pelo dia de trabalho e a última coisa que queria era ouvir as tagarelices da filha.

― Diga. ― ele diz, à constragosto.

― A Academia de Artes de Londres está aceitando novos estudantes. Gostaria muito que o senhor permitisse que eu me candidatasse.

― Você? Ora, mas como ficou sabendo disto? ― ele indaga, franzindo o cenho.

Evangeline prontamente o entrega o jornal, aberto na página do anúncio:

― Aqui. Estarão aceitando candidaturas até janeiro.

― Tem lido os meus jornais? ― ele pergunta, espantado.

― Ahm, sim... ― A filha responde, começava a ficar um pouco hesitante com a postura mal-humorada do seu pai. Talvez fosse a hora errada para abordá-lo? ― Gosto de me manter informada sobre as coisas do mundo.

― Por quê? Sua mãe e irmã não se importam em saber as coisas do mundo. ― Ele levanta, com esforço, caminha pela sala irrequieto ― ora, Eva, tem que parar de preencher sua mente com estas coisas, filha... É frágil demais, vai acabar explodindo um dia desses...! O mundo é um lugar muito cruel para sua linda cabeça. Continue fazendo suas músicas e quadros, sim? E lendo aqueles livros que gosta.

Ele meneia, gesticulando com preocupação, e começa a se movimentar na direção do corredor que levava ao quarto.

― Mas pai...! ― ela o chama, antes que houvesse ido embora ― e a Academia?

― O quê? A Academia de Artes de Londres?

― Sim. ― ela assente, num tom mais baixo. Começava a ficar apreensiva com o rumo da conversa.

― Ora filha, está muito jovem para pensar nestas coisas. Deve pensar em coisas mais sólidas, por enquanto. Ainda tem de casar-se, ter filhos... E aí, quem sabe, pode pensar em fazer estas coisas que tanto adora. Agora deixe-me ir, estou cansado.

― Mas pai, ― Ela o detém de novo, inconformada ― não quero pensar em casar ou ter filhos, por enquanto, quero estudar arte.

― Do que está falando, Evangeline? Claro que deve casar e ter filhos, não poderia sustentar-se sozinha!

― Por que não?

― Porque é uma garota, Evangeline! ― ele explica, como se fosse óbvio ― conheço algumas mulheres que tem de buscar o próprio sustento, e acredite em mim, não quer acabar como elas!

― Mas eu só quero poder estudar artes. Não me importo se depois, tiver de casar-me ou ter filhos, não me importo. Mas por favor, deixe me candidatar, e não pedirei ao senhor mais nada.

― Não mandarei minha jovem filha para uma Escola sozinha. E além do mais, custa muito caro mantê-la numa Escola como estas. Nem mesmo sabe se será aprovada!

― Mas deixe-me tentar!

― Não quero mais ouvir sobre isso, ouviu bem? ― ele ralha, impaciente ― agora deixe-me deitar, estou muito cansado!

Ele sai caminhando pelo corredor, resmungando consigo mesmo. Evangeline fica parada na sala de estar, sob o olhar piedoso da irmã, e indecifrável da mãe.

Por um tempo fica nesta mesma posição, sem acreditar em como seus planos tinham dado errado, quando a mãe resolve ir de encontro ao seu pai, e ela fica sozinha com Polly na sala.

Seus olhos produzem lágrimas imbatíveis e quando percebe, estava em prantos. Polly levanta-se da sua poltrona e vem abraçá-la:

― Oh, pobre irmã, não fique assim.

Ela conduz a irmã mais nova até o sofá e sentam-se uma ao lado da outra. Polly pega um lenço para enxugar as lágrimas da irmã.

― Não se preocupe irmã. Deixe-o pensar sobre isto, e quem sabe mais tarde mude de ideia?

Polly sugere. Evangeline não consegue dizer nada. Começa a chorar mais forte e acalenta-se no ombro da irmã.

O Natal estava chegando, mas não tinha recebido o presente que queria.

***

No dia seguinte, na noite de natal, a família Bordeaux, bem como a família Boyce, e uma porção de muitas outras, foram convidadas para uma ceia coletiva na mansão de uma família de barões muito ricos e conhecidos na cidade, os Jamersons.

Celia estava se preparando há semanas. Tinha saído para comprar novos vestidos, para si e as filhas, e uma gravata nova para o marido. Como seria a chance de Edmund ver Polly em uma festa de mais requinte, Celia fez questão de caprichar na sua aparência. Colocou Polly em um corpete e comprou-lhe o vestido mais suntuoso que encontrou.

Evangeline estava nos padrões de costume, embora tenha feito um penteado especial para a festa, com a ajuda da sua mãe e as criadas. Era um coque com tranças e também alguns cachos soltos na parte da frente. Era um penteado tradicional.

Embora a ocasião do natal sempre fora motivo de felicidade, Evangeline não se sentia contente naquele ano. Não quando os planos e sonhos que tinha feito estavam desmoronando, pelo simples fato da teimosia do seu pai!

Como Evangeline odiava ser uma refém da ignorância alheia, ainda que esta específica tenha vindo de ninguém menos que seu próprio pai!

Tinha dificuldades de olhar para ele, desde o acontecido, mas ainda não sabia se tinha desistido. Talvez devesse pensar em um melhor maneira de convencê-lo, mas ao mesmo tempo uma parte sua era pessimista e lhe dizia que nunca conseguiria.

Tudo aquilo deixava uma angústia no seu peito, e a deixa séria pela maior parte do tempo. Celia, percebendo o humor da filha, faz comentários antes de saírem de casa:

― Ora, Evangeline, sei que está chateada com seu pai, mas trate de ser educada e muito receptiva esta noite. É muito importante para sua irmã que estejamos apresentáveis. Nós mulheres temos que deixar nossos interesses de lado nessas horas e colocar um sorriso no rosto. Ninguém gosta de uma garota mal humorada.

― Estou cansada de ouvir como as mulheres devem agir. ― Evangeline desabafa.

― Deveria se orgulhar. Não demonstrar o que sente exige coragem, e por isso somos fortes. ― sua mãe retruca.

Sem energia, Eva apenas revira os olhos, enquanto assiste a sua mãe, com a ajuda de uma criada, puxar os cordões do corpete de Polly, até que seu tronco estivesse praticamente invisível:

― Não consigo respirar...! ― Polly protesta, num fio de voz, apoiando-se numa das estacas da cama para não cair.

― Então este é o ponto certo. ― afirma Celia. ― verá que com um tempo o seu corpo se acostumará.

Ela amarrava as cintas do corpete, resignada.

Minutos depois, a família deixava a casa para chegar ao lar dos Jamersons.

A casa era enorme, com vigas gregas e uma sacada grande e extensa na parte superior. Tinham espalhado pequenas luzes de lampiões à vela pelo local, e o cheiro da comida estava magnífico.

Entrando no salão principal, já encontraram uma porção de pessoas, bebendo ao som de um violino.

Depois das saudações de costume, cada um foi para um espaço do salão. Os Boyce chegaram depois, e foram se juntar aos Bordeaux.

Edmund estava realmente muito elegante naquela noite, de fraque preto, uma gravata borboleta e os cabelos escuros penteados para trás, fixados com gel.

Já havia passado algum tempo desde que Evangeline caiu na lagoa, e esta é uma das primeiras coisas que ele quer saber:

― Boa noite, senhorita Eva, como anda a testa? Se curou facilmente?

― Sim, obrigada. ― ela responde.

― O natal realmente desperta o melhor de nós, não acha?

Evangeline tem dificuldades em parecer alegre após aquele comentário. Isto faz vir à tona os seus sentimentos quanto à atitude do seu pai. Força um sorriso e responde secamente:

― É claro.

Edmund percebe o desânimo por trás da voz de Eva, mas não questiona por ora. Esperaria o momento oportuno.

Conforme as festividades continuavam, Evangeline tenta melhorar seu humor. Por mais que visse pessoas se divertindo e rindo por todos os cantos, não podia negar que não estava condizendo com o que ela sentia por dentro.

Por isso que, quando todos estavam na sala de estar, conversando e bebendo, Evangeline sente a necessidade de se afastar. Caminha pela casa, pelos corredores, explorando o local, e encontra uma porta entreaberta que dava acesso a uma sala cheia de armários com livros e um piano de cauda.

Seduzida pela quietude do local, ela entra. Senta-se ao piano e fica tocando devagar as teclas, absorta em pensamentos. Estava frustrada por não poder fazer o que quiser, e ter de seguir as ordens do seu pai.

Quem foi mesmo que determinou que as mulheres precisam de permissão dos homens para tudo? Essa pessoa deveria estar louca, pensou.

O rosto enrijece, e aperta uma tecla ou outra mais forte, enquanto pensava naquilo, e de repente ouve o som suave de passos de alguém entrando na sala sorrateiramente, atrás dela.

Vira-se com rapidez e depara-se com Edmund. Pego no flagra, mostrou um sorrisinho travesso quando ela olhou para ele. Ela suspira, com impaciência e volta-se para o piano de novo.

— Não posso ir a nenhum lugar sem que venha me perturbar?

Ela pergunta. Edmund ri levemente, e se aproxima dela, ficando de pé ao seu lado. Apóia um braço na parte de cima do piano e diz:

— Achei que podia querer alguma companhia.

Ela bafora, com desdém. Não estava comprando aquela pose de bonzinho.

— Sim, eu com certeza me afastei de todos porque queria companhia. — ironiza — por que não vai ficar com os outros?

— Você está chateada?

Ela lança a ele um vago olhar, e depois o desvia, um tanto cabisbaixa.

— Não acho que se interesse em saber o que é. ― responde.

— Por que não? — ele ri.

— Você não entenderia. É um homem, e é rico e desejado pelas mulheres, não iria compreender o desejo de uma mulher de ser mais do que uma esposa.

Ele reflete sobre isso por um tempo.

— Você se espantaria comigo, Eva. Nem sempre eu sou o que pareço ser. ― com sua licença, ele senta-se ao lado dela no banco de veludo. ― diga-me, o que houve?

Eva hesita a responder. Não tinha certeza se ele responderia a ela o que ela queria ouvir. A maioria dos homens, ao seu ver, compartilhavam o sentimento do seu pai, de que as moças deveriam procurar casamento e filhos antes de qualquer outro objetivo na vida.

― Meu pai não quer que me candidate a estudar na Academia de Artes de Londres. ― ela conta, por fim, abatida.

― Deseja se candidatar?

― Sim, mais do que tudo na vida.

― E por que precisa da autorização dele?

― Teoricamente, não preciso, mas é necessário o pagamento de uma taxa de duzentas libras, que não tenho como pagar se ele não me fornecer.

Edmund para por um tempo, pensando sobre o assunto. Evangeline se ocupa em brincar levemente com as teclas do piano.

― Além desta taxa, o que mais seria preciso...? ― ele quer saber, curioso.

― Teria de enviar uma expressão artística minha, isto é, uma tela de uma das minhas pinturas, ou uma composição do piano.

― E qual dos dois se sentiria mais confiante em enviar?

― Com certeza uma das canções que compus para piano. Meus quadros são bons, mas não enxergo qualquer coisa de original neles. São apenas reproduções bem executadas.

― Então você tem composições no piano? Qual delas acredita ser a melhor?

― Tenho sim, mas não tenho certeza de qual delas enviaria, precisaria da opinião de alguém para isso. ― os dois se entreolham.

― Pois então é o seu dia de sorte...! Mostre-me.

Ela lança-lhe um olhar humorado.

― Eu quis dizer tocar para alguém que entenda de música ou arte, Edmund.

― Ora, deixe de desculpas, Eva. Se não agradar os ouvidos do público leigo como eu, não agradará mais ninguém! Mostre-me.

Ela fica um tanto insegura, e titubeia, enrubescida:

― E-eu não saberia o que tocar... Não tenho minhas partituras aqui.

― Não conhece qualquer uma de cor?

― Talvez uma...

― Pois então toque esta.

Eva encara-o com certa dúvida. Ele parecia muito decidido em ouvi-la tocar, fitava-a com uma expressão resignada, então não quis discutir. Prepara-se, respirando fundo e corrigindo a postura, e gradativamente, vai tocando as teclas da canção de que lembrava de memória.

Era uma melodia um tanto melancólica. Tinha variações e um ritmo lento que se alterava hora ou outra. Evangeline se perdeu ao som do piano e da própria composição, era nestes momentos, quando seu peito transbordava de contentamento, que ela sabia que era exatamente isto que queria fazer para o resto da vida.

Pensar nisto enquanto tocava a emociona um pouco e sente suas pálpebras ficarem levemente molhadas, lembrando-se de suas angústias.

Ao fim da canção, uma lágrima teimosa desce por sua bochecha direita, e um silêncio denso tomou conta da sala. Edmund estava absorto na melodia, e demora a despertar.

Quando a olha ao fim da execução, vê que havia uma lágrima em sua bochecha, e ousa limpá-la com seu polegar esquerdo:

― Bem... Agora já tem sua canção escolhida.

Ele pronuncia, num tom baixo e penetrante. Eva sente seu coração bater mais rápido, e desvia o contato visual:

― Mas nem chegou a ouvir as outras...

― Não é preciso. ― ele responde. ― Aliás... — ele paira — Isto me fez lembrar de uma coisa. Espere um pouco.

Ele mostra o indicador e segue para fora do quarto. Volta pouco depois, segurando uma caixa média, amarrada com uma fita e a entrega.

Evangeline olha a caixa em seu colo, e fica intrigada:

— O que é isso? Comprou um presente para mim?

— Sim. — ele responde, e posiciona as mãos atrás do quadril, assumindo a posição polida de sempre, enquanto a observa. ― É Natal, não é mesmo?

― Por que compraria algo para mim? Não somos parentes.

― Ao ver isto pensei em você. E além do mais, o plano é que futuramente sejamos cunhados, não é?

Ela olha para a caixa em seu colo, sem saber o que pensar.

― Vamos, abra. ― ele encoraja.

Hesitante, ela desata a fita e abre a caixa. Parte dela estava desconfiada que fosse algum tipo de brincadeirinha sem graça. O que quer que estava dentro, estava embrulhado em papel seda, e era razoavelmente pesado.

Ela desembrulha devagar e se vê segurando um espelho. Era lindíssimo. Oval, com um cabo e moldura de prata com arabescos esculpidos. Por um momento, se vê hipnotizada pela beleza do espelho, mas depois, pergunta-se o porquê daquilo:

― Um espelho...? ― indaga ― isto deveria ser um insulto...? ― questiona, incerta.

― Não, ― ele ri, e bafora ― só achei que talvez com isso veria quanto é bela de verdade e deixasse de se importar com minhas brincadeiras ou o que sua mãe diz.

Ela paira. Era o tipo de resposta que não esperava receber. Sente suas bochechas instintivamente queimarem, enquanto ele só a observava com um sorriso despreocupado no rosto.

― Eu não me importo...! ― responde, sem pensar em algo melhor para dizer, e vira-se para o piano novamente, fugindo do contato visual, sentia as bochechas queimarem.

Edmund gargalha mais uma vez, e anda até onde ela pudesse vê-lo de novo:

― Nunca hei de conhecer mulher mais teimosa que você, Eva. ― Sorri. Os dois se encaram por um tempo sem dizer nada, e pouco depois ele preenche o silêncio, dizendo ― bom, eu estou indo. Espero que tenha gostado do presente.

Sai caminhando da sala. Evangeline estava hipnotizada pelo belo objeto em sua mão e mirava seu reflexo nele. Não consegue responder, mas enquanto ele vai embora, pensa "eu gostei... Muito.". Num dia terrível como o que tinha tido, aquele ato de gentileza foi como uma ponta de esperança para ela, e ele não fazia ideia disso.

Por algum motivo, não consegue dizer isso a ele, até que o mesmo já tivesse ido embora. Se sente culpada por não ter sido rápida o suficiente.

Quando volta para a sala, onde o mar de vozes de pessoas conversando a atinge, ela move a cabeça para os lados procurando por ele, e quando o encontra, vê que estava ao lado da sua irmã, Polly.

Os dois estavam conversando. Não pareciam entrosados, miravam um ao outro educadamente. Polly até mesmo disfarçava certa timidez.

Aquela cena deixa uma sensação estranha no estômago de Evangeline, e ela não sabe porquê. Desiste de ir até ele, e resolve encontrar outro alguém com quem pudesse conversar. "Terei outra oportunidade de agradecê-lo", pensa.

Senta-se numa cadeira que encontra vazia, e quando um garçom passa servindo taças de champagne, ela pega uma delas.

***

Edmund e Polly, que conversavam ali perto, resolvem ir até a sacada da casa, tomar um ar e conversar melhor.

A varanda não era tão grande, mas tinha um espaço razoável. O melhor daquele local era que era tranquilo e não havia quase ninguém por ali. Por isso, podiam conversar mais calmamente.

Edmund estava absorto em pensamentos com relação a Eva. Vinha refletindo uma maneira de ajudá-la. Secretamente, ele admirava o seu dom artístico e sua ousadia. Não queria que todo o seu talento se colocasse a perder em razão da ignorância do sr. Bordeaux.

― Polly ― ele começa, enquanto os dois estão caminhando pela sacada silenciosa, sob o céu noturno estrelado.

― Sim. ― ela responde.

― É natal, e por isso senti a necessidade de lhe presentear de alguma maneira, pois quero que saiba que a minha intenção com relação a você e sua família, são legítimas.

Ela sorri minimamente, contendo seu entusiasmo:

― É de muita bondade sua.

Edmund tira do bolso da sua casaca uma caixa de veludo escuro, tamanho médio. Polly percebeu, pelo tamanho, que ainda não se tratava de um anel de noivado, mas alguma jóia.

Ele ergue a caixa, e abrindo-a, revela um belo colar de pérolas.

― Oh, Edmund...! ― ela cobre a boca com as duas mãos, impressionada ― é lindo!

Edmund curva um pequeno sorriso e move-se para colocar o colar no pescoço de Polly. Ela afasta os cabelos louros, ondulados, dando uma passagem livre para que se colocasse o colar.

Edmund, com facilidade, prende a peça ao seu pescoço e ambos se olham, sorrindo.

― Muito obrigada, estou encantada. ― ela diz.

― Fico feliz em saber. ― expressa ― tem, na verdade, um coisa que gostaria de fazer por sua família, e preciso da sua ajuda para isso.

Polly pisca os olhos, com imediato interesse no que ele diria:

― Oh sim, pode me dizer o que deseja. Ajudarei-o, de bom grado. ― ela aproxima-se para ouvir, com certa curiosidade.

― Soube que sua irmã mais nova está cabisbaixa por conta da Academia de Artes, a qual queria se candidatar, mas seu pai não permitiu.

― Sim... ― sua face entristece, de repente, lembrando-se do ocorrido ― pobrezinha... Está arrasada!

― Pois bem. Quero dar-lhe este dinheiro... ― ele tira do bolso esquerdo as duzentas libras que Evangeline mencionara.

― Oh, Edmund! ― Polly espanta-se com o gesto. ― oh, não, por favor, não precisa fazer isso. A nossa família não precisa da sua caridade!

― Não se trata de caridade. ― ele discorda, um tanto áspero ― se trata do meu bem querer quanto a sua irmã poder realizar os sonhos que deseja. Quero que dê a ela o dinheiro, e não diga de onde conseguiu, apenas entregue-a e a encoraje a candidatar-se a uma vaga na Academia.

Polly pega as cédulas em suas mãos, ainda insegura sobre aquele gesto.

― Mas e se ela for aprovada... Como saberei se papai ficará de acordo a pagar as suas custas, e permiti-la que estude?

― Isto é para outro momento. ― Ed toca o ombro de Polly, influenciando-a. ― Por ora, apenas entregue-a este dinheiro, está bem? E não diga de onde ele veio... Posso confiar em você? ― Polly inclina o olhar para baixo, incerta. Para conseguir o que queria ele reforça ― Sabe que é essencial para um homem poder confiar em sua esposa. Sem confiança, não poderemos ir muito longe.

Polly, relutando consigo mesma, não resiste aos seus argumentos e aceita o seu dinheiro:

― Está bem. ― ela força um sorriso, tentando embutir-se de coragem ― sei que ela ficará muito feliz em poder alçar os seus sonhos. Obrigada, Edmund, o seu gesto não será esquecido.

Ele assente para ela, um pouco mais tranquilo.

A noite continua como o esperado. Algumas pessoas cantam canções de natal, e depois é servida a grande ceia.

Edmund e Evangeline, ora ou outra, trocavam alguns olhares, como se houvessem se tornado recém-confidentes, mas nada mais.

Foi muito cansativo, lidar com todas aquelas interações sociais. Rostos, diálogos, apresentações. Ao fim da noite, Evangeline se sentia exausta.

Quando foram para casa, e foi para o quarto, tirou os sapatos e folgou as amarras do espartilhos, sentindo-se aliviada por poder respirar adequadamente de novo. A caixa, que guardava seu espelho, ela colocou por sobre a mesa de cabeceira. Deita-se na cama, num suspiro. Mas seu descanso foi logo interrompido pelo som da porta se abrindo e os passos agitados de alguém passando para dentro.

Eva levanta a cabeça para enxergar quem era e vê que Polly estava lá, com um sorriso entusiasmado. Veio na direção dela e dobrou o corpo sobre a cama, chacoalhou o colchão intencionalmente:

― O que está fazendo, Eva? ― Polly ri ― já vai dormir tão cedo? O seu coração não está cheio de alegria por conta da festa de hoje? Eu mal consigo pensar em dormir de tão contente!

Ela se ergue e passa a rodopiar pelo quarto, como se estivesse dançando a uma música que não existe.

― Ora, Polly, por que está tão contente? Se tem algo que esta festa foi, seria extremamente cansativa! Tantas pessoas para falar, e minhas bochechas doem por ter de sorrir o tempo todo... ― Evangeline resmunga.

― Ora, Eva, você é tão careta! Eu adorei a festa de hoje, achei extremamente agradável. A comida... As pessoas... A música...! ― Ela solta uma gargalhada, não podendo se conter ― Está dizendo que não se sentiu encantada por nenhuma destas coisas?

― Nada demais para mim.

Polly então, inesperadamente silencia-se, e joga-se na cama, como entusiasmo:

― Tem certeza que não está contente...? ― Certifica-se, seu olhar parecia estar tramando alguma coisa ― mesmo se eu te disser que eu te consegui... O MAIOR PRESENTE DE TODOS OS TEMPOS??

Ela roga, de repente, e tira as cédulas do dinheiro do bolso, mostrando-lhe as duzentas libras, muito animada.

― SHHHH! ― Evangeline a censura, com os olhos abertos de surpresa, e assume um tom mais baixo ― o que está fazendo? Onde conseguiu este dinheiro?

Polly movimentava-se na cama, fazendo o colchão balançar. Sem dúvidas o álcool havia feito o seu efeito, àquela altura da noite:

― Não importa, bobinha! ― Agora ela murmura ― O que importa é que consegui o seu dinheiro, e agora você pode se candidatar, e realizar o seu sonho... Fazer tudo que quiser!

Ela envolve a irmã mais nova num abraço apertado, que pega Eva de surpresa.

― Você tem certeza do que está dizendo? ― esta última se certifica, soltando-se do abraço e a fitando, apreensiva. ― tem certeza de que esse dinheiro não veio de fontes ilícitas, Polly? Não se coloque em encrencas por mim, minha irmã...!

― Não, não, acalme-se, Evangeline... Não se preocupe, pense como se o dinheiro tivesse vindo de um anjo dos céus. Agora apenas tome este dinheiro, e faça o que quiser com ele, está bem?

As duas se encaram. Evangeline estava embasbacada com o que tinha acabado de acontecer. Fita o dinheiro em suas mãos e não acredita que é realidade.

A única reação que consegue tomar, foi tomar sua irmã em um abraço apertado. Seus olhos se enchem de lágrimas de alegria. Aquilo era como um milagre de natal.

Quando já haviam se acalmado os ânimos, as duas caem deitadas no colchão da cama, dando risadas gratuitamente, e a conversa envereda por outros canais.

Em meio a um assunto e outro, as duas começam a falar sobre o casamento entre Polly e Edmund e como esta vinha se sentindo com isto tudo.

― Ah Eva, mais ou menos. Achei que sentiria minhas pernas bambas, e o estômago com borboletas perto dele... Mas na verdade é só um rapaz belo e nada mais. ― Polly confessa, suspirando por um minuto ― quero dizer, não quero ser ingrata e dizer que não gosto dele... É um rapaz muito educado e também muito generoso... Mas algo nele me faz pensar que nunca seremos tão próximos quanto mamãe e papai...

Eva havia se interessado pelo assunto, e sente a necessidade de fazer mais perguntas:

― Está me dizendo que não o ama?

― Não é isso... Quer dizer... Creio que ainda não o amo. É que não temos muitos interesses em comum, e sinto que o único motivo por querer estar comigo é porque sou bonita e seus pais o querem.

Evangeline devaneia por um tempo. Percebe que se sentia mais leve com aquela resposta, quando devia estar se solidarizando com a irmã, e horroriza-se consigo mesma.

Ela abraça a irmã pelos ombros e acaricia seu cabelo, corrigindo sua postura.

― Não se preocupe, Polly. Com certeza ele verá a mulher incrível que você é.

Polly inclina sua cabeça e encosta na de Eva. A irmã mais nova percebe que Polly vestia um lindo colar de pérolas que não estava usando antes da festa:

― E este lindo colar de pérolas, ganhou de presente?

― Ah, sim! Edmund me deu. Não é lindo?

― Hm... É sim.

Eva assente a esta informação. Talvez o espelho não tenha sido tão especial quanto havia pensado, mas foi apenas um gesto de educação.

As duas ficam assim, batendo papo, até que aos poucos, pegam no sono juntas.

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