Maratona 4/5
Ainda envolvida na névoa causada pelo sono, Any puxa o cobertor sobre o ombro até então descoberto e se encolhe tentando aproveitar ao máximo o calor agradável da cama.
Virando-se de lado Any estranha ao sentir alguma coisa bloqueando sua liberdade de rolar pelo colchão macio, ela ergue a cabeça e olha o quarto em que está em completa confusão.
Em silêncio ela observa o cômodo espaçoso e a cama com o jogo de lençol de cetim preto que contrasta perfeitamente com seu cabelo espalhado pela fronha.
Lentamente Any se lembra de ter assistido televisão com os irmãos mais novos de Josh e como o loiro estava demorando para chegar ela se deitou no sofá e acabou por dormir.
Então um dos irmãos deve tê-la trazido para este quarto.
Com a cabeça doendo ela se arruma novamente na cama e abraça o travesseiro macio que está usando.
O sono da morena some em questão de segundos assim que sente um abraço envolver sua cintura sob o cobertor, com a respiração presa na garganta Any se vira devagar e arregala os olhos ao ver Josh dormindo pesadamente a sua frente.
Não,de novo não.
Com o lábio inferior preso entre os dentes, a Soares ergue o cobertor e aliviada constata que ambos estão devidamente vestidos.
As orbes caramelos voltam-se para a face adormecida de Joshua e Any solta o ar lentamente, travando uma batalha interna consigo mesma se continua deitada na cama ou simplesmente vai embora.
A segunda idéia é prontamente descartada já que, provavelmente, Bailey a traria a força novamente para que a conversa que ambos - Any e Josh -, aconteça.
Ela permanece mais alguns minutos encarando o amigo adormecido e dando-se por vencida pelo sono, fecha os olhos virando-se de costas para o loiro que ainda têm o braço apoiado na cintura dela.
Eles já dividiram a mesma cama muitas vezes durante os longos anos de amizade, entretanto esta vez era diferente e até estranha para Any.
Era a primeira vez que dividiam a cama desde aquela noite.
A tranquilidade no quarto contribuí para que o sono da morena volte e vagarosamente ela volta ao estado adormecido.
~×~
A primeira coisa que Josh notou ao acordar na manhã seguinte, foi a grande quantidade de cabelo cacheados em seu rosto e a segunda coisa, Any estava segurando a mão dele enquanto dormia de costas para si.
Cuidadosamente ele puxa a mão que Any segurava e se senta na cama coçando os olhos que ardiam depois de ter bocejado.
Ele empurra para trás parte de seu cabelo que tinha caído sobre os olhos e apóia o cotovelo direito sobre o joelho, virando a cabeça para o lado esquerdo Josh observa a morena dormir e sorri quando ela se estica procurando por um travesseiro para abraçar.
Virando-se para olhar o horário em seu celular carregando sobre o criado-mudo, Josh agradece aos céus que é sábado ou estaria muito, muito atrasado para ir a empresa.
Any deitada ao seu lado espirra e resmunga abrindo os olhos, dando de cara com as costas do loiro sentado na cama.
Preguiçosamente ela também se senta e arruma o cobertor em suas pernas antes de tombar a cabeça no ombro do outro.
- Sua cama é muito confortável... - Ela murmura e esconde um bocejo com as mãos - Bom dia.
- Bom dia - Josh responde baixo e assiste de esgelha a morena se jogar de costas puxando-o junto, suas reclamações morrem na garganta quando ele nota a forma séria que as orbes caramelizadas lhe encaram.
- Você não fez nada contra o Lamar, não é?
O loiro grunhe irritado que a primeira pergunta feita pela outra seja a respeito daquele garoto e sem vontade nenhuma de respondê-la ele se vira pronto para sair da cama, porém se surpreende ao ser segurado com força pelo pulso.
- Por favor, Joshua, só... Converse comigo.
- Não, eu não fiz nada contra seu queridinho se acha que eu machuquei ele.
Mas vontade não faltou - O loiro completa mentalmente e se surpreende ao ouvir a morena bufar atrás de si, lhe puxando para deitar de costas enquanto a mesma permanece sentada ao seu lado abraçando as pernas.
- Ele não é meu queridinho - Any comenta enfatizando a palavra usada pelo loiro - Lamar é um garoto esforçado e simpático, gosto dele, mas não o vejo como meu queridinho.
As sobrancelhas loiras juntam-se demonstrando o desagrado de Josh e Any revira os olhos.
- Nós não vamos brigar por causa dele e, sinceramente, nem quero brigar com você. Eu só quero que você aja normalmente com...
- Quantas vezes eu já te fiz chorar?
A pergunta feita por ele pega Any de surpresa e a mesma pisca tentando assimilar o que acabou de ouvir.
- O que?
- Quantas vezes eu já te fiz chorar desde aquela nossa noite, Any?
Ela suspira e apóia o queixo nos joelhos olhando para a cabeceira da cama box onde estão.
Mentalmente ela tenta lembrar de todas as vezes que chorou depois daquela noite. Chorara no banho no mesmo dia em que saiu sem falar com Josh, depois chorara mais duas vezes no dia em que se reencontraram e chorou na manhã passada depois de expulsá-lo de sua sala.
- Quatro vezes - Any responde e desvia o olhar para observar a expressão impassível do outro - você chorou quando descobriu que eu tinha ido embora da cidade, papai me contou. E eu sinto muito por isso, sei que você detesta chorar.
Josh dá de ombros sentindo-se mal em descobrir que ela chorou tantas vezes depois de tudo o que aconteceu.
- Eu me senti sem chão quando você fugiu daquele jeito. É péssimo confiar em uma pessoa por metade da sua vida e de repente não tê-la mais por perto para ajudar.
- Me desculpe.
- Eu não sabia como agir no dia seguinte e como se não bastasse briguei com o Noah quando ele ameaçou chamar o Allan.
Ainda me sinto culpado por ter dito que o único menor de idade era ele e se desse a pouca em nosso tio ele o levaria embora. Ainda me odeio por tê-lo magoado.
Sem saber o que falar Any se limita a afagar o cabelo do loiro, enroscando seus dedos entre os cachos feitos durante a noite.
- E então o Bailey ligou para o Allan e ele veio, principalmente com o intuito de me provocar depois que soube o porquê eu estava agindo daquela forma. Ele queria me trazer para Londres no mesmo dia, mas não era meus planos e eu fiz um acordo com ele, que se em trinta dias eu não conseguisse montar meu negócio próprio, assumiria meu lugar de direito na empresa da família.
Any olha surpresa o amigo.
Então realmente ele não se tornou CEO porque queria e sim por perder um acordo feito com o tio.
A Soares fecha os olhos ao senti-los arder pelas lágrimas que se acumularam.
Metade do que acontecera com Joshua era sua culpa. Ele nunca quis assumir o lugar de seu pai na empresa, seus planos sempre foram outros.
E se não fosse ela ter fugido lhe deixando confuso e sem seu apoio de longos anos, tudo não teria se complicado e Allan não teria feito a aposta com ele. Nada disso teria acontecido se ela não tivesse agido de modo imaturo e precipitado.
Por sua culpa Josh estava fazendo algo contra sua vontade.
Deixando a posição sentada em que estava, Any deita a cabeça no peito do amigo e deixa as primeiras lágrimas fluírem livremente.
- Por que está chorando? - Josh questiona confuso e delicadamente empurra a mecha do cabelo da morena para longe do rosto molhado por lágrimas.
- Foi por minha causa que você brigou com o Noah, foi por minha causa que vive virou CEO - Ela soluça - Você nunca quis isso.
Joshua suspira e levanta a cabeça de Any para conseguir olhá-la nos olhos.
- Não chore, sabe que eu não sei lidar com lágrimas.
- Me deixe chorar por nós dois - Ela grunhe e recebe um revirar de olhos como resposta, confortável ela se aninha nos braços do loiro que sempre transmite segurança e acolhimento pra a mesma
- Joshua?
- Uhm?
- Ainda quer montar a boate?
- Quero.
- Ótimo, vou ajudá-lo, mas Allan e nem meu pai podem saber.
- Tudo bem - Ele sorri e enxuga as bochechas úmidas de Any que se inclina e beija sua bochecha.
- Estamos amigos?
- Nós sempre fomos sua idiota.
No fundo Joshua desejava ardentemente que aquele beijo não fosse em sua bochecha.
~×~
- Bom dia - Any sorri assim que entra na cozinha e encontra os irmãos mais de Joshua sentados a mesa.
- Bom dia.
Tranquilamente ela puxa uma cadeira para se sentar e agradece Josh lhe entrega uma tigela com cereal.
- Vai passar o dia com a gente, Any? - Noah questiona curiosamente e ela nega.
- Josh e eu temos algumas coisas para resolver, mas talvez eu venha a noite e então a gente faz maratona de supernatural.
- Vai ser legal.
- Estou indo - levantando-se da cadeira Any deixa a louça suja na pia e acena para os outros dois rapazes no cômodo enquanto Josh a acompanha até a porta do apartamento
- Eu vou em casa tomar um banho e trocar de roupa e já passo aqui pra te pegar certo?
- Tudo bem, vá com o meu carro - Ele estende a chave do veículo para ela - Quando chegar me liga que eu desço.
- Okay, até logo.
Any se afasta e caminha tranquilamente até o elevador no fim do corredor, sem notar a forma que Josh lhe observa.
Agora ele tinha sua ajuda para conseguir abrir a boate que sempre tanto quis.
~×~
- Temos o local onde será a boate, agora temos que entrar com a parte burocrática, abrir empresa e ter o alvará de funcionamento.
- Vou começar a providenciar isso na segunda - Josh responde e deixa Any passar na sua frente ao sair do elevador, já que ela carrega a caixa de pizza.
Ela agradece e tira a sapatilha seguindo descalça até a sala, onde Bailey e Noah já os esperam.
- Escolheu o filme?
- É de terror.
- Ótimo - Any se senta no sofá e puxa a almofada para o colo, agradecendo ela pega a garrafa de cerveja que Josh oferece e sorve um pouco sem desviar a atenção da televisão que já passa o filme.
Quase duas mais tarde Josh encara desapontado a televisão passando os créditos do filme, que de terror não tinha nada.
Ele vira a cabeça para falar com Any e se surpreende quando ela também se vira e mesmo que seja desproposital, acabam por dar quase dar um selinho
.- Desculpe - Ele murmura constrangido e com as bochechas rubras Any dá de ombros.
- Não foi nada.
Sentado na poltrona um pouco mais afastado Bailey sorri para o irmão e diz sem emitir som.
-De nada por isso também, babaca.