Capítulo 10 - Almoço em família

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- Ele é bem gato hein irmã. – comentou Marina

- Tão se pegando? – a prima indagou

- Informação confidencial. – ri brincando – Bem, sim!

- Tá podendo hein? Como o conheceu?

- A gente se cruzou no prédio. Ele mora no mesmo andar que eu.

- Alias, - minha prima dessa vez – o fotógrafo que tirou as fotos do Contemporânea era Gustavo também e a cara dele não me é estranha...

- É impressão sua, prima!

- Não, olha só! – minha irmã – Eu estava lendo o blog antes de vir e tinha deixado o perfil para ver depois e é o Gustavo mesmo.

- Ele conhece a dona do blog?

- Não sei. Só perguntando a ele. Eu nem sabia que ele tinha tirado fotos dela. – menti na maior cara de pau

Não ia deixar o segredo ser revelado tão fácil, mesmo que para elas não houvesse problema, prefiro me prevenir. E elas foram sondar o pobre, espero que ele consiga mentir tão bem quanto eu.

Ajudei a minha mãe a terminar a comida e logo sentamos à mesa, que estava posta no lado de fora de casa, pois boa parte dos parentes vieram. E pelo visto o assunto do almoço seria o Gustavo e as fotos que ele tirou de mim, porque a minha família conservadora não perde a chance de criticar uma mulher independente e que escreve sobre sexo na internet. Isso porque as duas abençoadas comentaram entre si e as tias fofoqueiras ouviram.

Como sempre, a minha tia mais velha fez a oração agradecendo pela comida e a reunião da família ali. Mal colocamos a comida no prato e uma veio com o assunto de cara:

- Então, Gustavo, soube pelas meninas que você é fotógrafo e que tirou fotos daquela sem vergonha daquele blog que elas adoram ler. É verdade?

- Como disse a elas – ele respondeu – a Echii mora lá no meu prédio. Acabei cruzando com ela sem querer. Como ela já estava procurando um fotógrafo, reunimos o útil ao agradável.

- As fotos ficaram incríveis. – falou Bia – Se eu não tivesse tanta vergonha ia querer umas assim também.

- Nada disso! – repreendeu a mãe dela – Filha minha não tira foto pelada.

- Não é pelada, é de sutiã e calcinha. – respondeu – É bem diferente!

- Tanto faz. É sem vergonhice.

- Essa coisa tinha que ser proibida de existir. Imagina se alguma criança acaba achando.

Eu tentava ao máximo manter a minha boca cheia e fazia questão de mastigar a comida 82 vezes de cada lado da boca, para que ficasse ocupada. Sentia meu sangue ferver com todos os comentários que a família foi falando. Apenas minha irmã e prima me defendendo. Gustavo estava sentando ao meu lado e com certeza notou o quanto eu estava me segurando para não despejar tudo o que eu pensava.

Sabe, não tem problema nenhum eles não gostarem do conteúdo do blog ou até acharem um pouco inapropriado. É só fazer algo bem simples: Não ler, não visitar e não comentar sobre. Bem ou mal, eles estão me dando ibope, porque sem dúvidas, alguns dos meus tios que souberam disso hoje, vão acabar indo lá conferir. Tudo isso gera mais visitas para mim! Então, agradeço de qualquer maneira!

Os comentários foram no mesmo padrão de sempre, o que estou até bem habituada e calejada de ouvir, mas isso não significa que eu fique menos puta com eles. É bem chato e desanimador quando alguém critica seu trabalho assim.

Consegui me manter a refeição inteira quieta. Todos acabaram de comer e eu fui ajudar minha mãe a limpar tudo para esfriar a minha cabeça, só que, é claro, se tratando da minha mãe, estava tremendamente enganada. Porque ela resolveu me atazanar também:

- Filha, quando vai arrumar outro trabalho? Estou ficando preocupada!

- Mãe, eu já trabalho, mas só que é de casa.

- E um namorado? Suas primas estão ai casando e tendo filho. Quando será sua vez?

- Por que você me cobra tanto?! – indaguei nervosa

- Pode tentar voltar com o Pedro, ele era um bom rapaz.

- Não, mãe. – fui incisiva – Ele só parecia. Fez um inferno na minha vida!

- Não use essa palavra. Ele gostava muito de você, filha.

- Talvez sim, mas não de um jeito saudável. Eu não tinha confiança e nem energia para nada quando estava com ele. Me sentia sufocada!

- Se continuar sendo tão exigente, vai acabar é ficando sozinha. Nenhum homem vai te querer!

- Que seja assim, mãe! – bufei – Olha, vamos parar com essa conversa, porque eu sei que não vamos chegar a lugar nenhum. Eu sei o que faço da minha vida!

- Se é assim que você diz... – falou por fim

Acabamos de lavar a louça e arrumar a cozinha, olhei a hora no celular e vi que já tinha ficado tempo bem além do tolerável para a minha saúde mental. Só que, diferente das outras vezes, eu estava com companhia e não sabia se ele queria ficar mais tempo. Eu esperava que não!

Fui até o quintal e vi o quão animadamente ele conversava com todos, parecia explicar algumas coisas sobre fotografia e sobre a carreira dele. Bem, pelo menos uma pessoa aqui recebe apoio. Se bem que ele não é da família e é homem, não precisa de muito para ser elogiado, basta nascer. Só ver o meu irmão!

E por falar nele, aquele traste ficou olhando de cara feia pro Gustavo. Não sei se não gostou dele ou se é porque ainda é um pouco sentido com o meu término com o Pedro, que é amigo de infância dele. Pelo que sei, de vez em quando, ele ainda vem na casa dos meus pais, mas graças que nunca é quando estou.

Chamei o Gustavo num canto, interrompendo a conversa e perguntei:

- Olha, você já quer ir embora? – sem graça – Eu vi que a conversa está boa!

- Por mim, ficava um pouco mais, mas eu já percebi seu desconforto desde mais cedo. Se você quiser ir, nós vamos!

- Obrigada! Eu não aguento ficar um minuto mais. – respondi sorrindo

Despedimo-nos de todos, pegamos nossas coisas, ganhamos quentinha para comer mais tarde e rumamos de volta ao condomínio.

- Eu me diverti muito hoje, Helena. Obrigado pelo convite!

- Eu quem agradeço, por pouco não surto lá.

- Sei bem, é complicado. Almoço de família parece que é clichê acontecer essas coisas.

Contemporânea EróticaWhere stories live. Discover now