Reamar

Mentalmente, Guren agradeceu que fora ele quem tomou a atitude, pois no fundo tinha receio de magoá-lo com a iniciativa de um termino amigável que poderia ser mal interpretado. No entanto, quando o Hiragi passou pela porta, a saudade prematura apertou seu peito, mas seu orgulho fora incapaz de pedir para que o outro ficasse ou que ao menos não havia a necessidade de que terminassem daquela forma. A relação havia esfriado, claro, mas isso não significava que teriam de por um ponto final no que tinham, talvez, só talvez, ele não quisesse que Shinya tivesse ido embora.

Quem sabe um tempo separados faria tudo funcionar novamente?

Porém, não pareceu ser isso que aconteceria.

Não se viram durante duas semanas, isso até que a noticia chegasse aos ouvidos de Goshi, seu melhor amigo e também aquele que cavara sua sepultura. O sub-chefe do local onde trabalhava era extremamente avulso a assuntos aos quais não lhe dizia respeito, e este por sua vez namorava Mito, uma garota esnobe que Guren não havia simpatizado assim que se conheceram e que, por ironia do destino e seu mais completo azar, era uma colega de turma de Shinya no curso do pré-vestibular.

Mito não era de todo mal, afinal, se não fosse por um empurrão daquela teimosa e arrogante garota, Shinya jamais teria tido coragem de se aproximar dele. Segundo a ruiva, Shinya era um cagão quando se tratava de demonstrar interesse em alguém, ainda mais quando esse alguém tinha cara de cu e só fazia afastar as pessoas – palavras dela.

O ponto era que, após descobrir que Guren novamente estava solteiro (coisa que o Norito não somente fez questão somente de descobrir, mas espalhar aos sente ventos) Goshi foi atrás de explicações direto da fonte, encontrando o Ichinose sozinho no apartamento em meio a uma ressaca de dois dias. Com a imagem deplorável, o loiro iniciou uma discussão unilateral onde, como uma mãe, acusou-o de perder o Hiragi e que jamais encontraria alguém como Shinya novamente e um monte de baboseiras sem fundamento, e também fez questão de contar o ocorrido a Mito e claro que apesar de a garota ser, em partes, introvertida, em algo ele tinha de combinar com Goshi.

Quando o telefone tocou uma semana depois com Shinya na linha, Guren soube que Mito havia falado com ele. Foi uma conversa estúpida e sem fundamento, o Hiragi se esforçava para parecer uma ligação corriqueira para saber se estava tudo bem consigo, mas Guren conseguia projetar a imagem de Goshi contando mentiras ao seu ex-namorado ou sobre como ele estava na fossa, com uma pilha de louças na cozinha, um balde de roupas sujas transbordando e com a aparência de quem não dormia direito há mais de uma semana.

Bom, não que a ultima parte fosse mentira. Mas claro que Shinya não tinha mais nada haver com esse tipo de coisa, e se o Ichinose quisesse que ele soubesse desse tipo de detalhe sobre a sua vida ele mesmo se encarregaria de tomar a atitude de ir atrás do rapaz, não com Goshi bancando de garoto de recados.

Ao fim da ligação constrangedora e desnecessária, Guren caçou Goshi nos confins do mercado central conversando com os fornecedores do restaurante e ver o loiro cair sobre os alfaces no caixote após tomar um soco de esquerda não foi o suficiente para que o idiota se mancasse e voltasse a tentar uni-lo com Shinya mais vezes.

Encontros em dupla, festas, almoços em sua casa... Tudo era uma oportunidade para que ele e Shinya se encontrassem. E Guren não mentiria, era bom ver que o seu ex estava bem, vê-lo seguir em frente realmente o deixava aliviado – "Pelo menos um de nós está bem com essa situação" pensava. Até o parabenizou quando soube que ele havia passado na prova para a faculdade de psicologia, afinal, havia se esforçado tanto para aquilo. Nesses raros encontros, trocavam palavras, não se comportavam como completos estranhos, mas nunca houve um remember neste período, eram como amigos... Não, colegas. Conhecidos talvez?