Pretty Paper - Parte II

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Tudo seria tranquilo se não fosse pelo simples fato de que quase na chegada ao nosso destino outro aviso do piloto foi dado, dessa vez sobre uma turbulência. Olhei para Bia e percebi que ela ficou tensa.

Quando sentimos os primeiros movimentos bruscos da turbulência vi que ela fechou os olhos com força se agarrando aos braços da poltrona. Hesitei do meu primeiro pensamento, mas após 20 segundos de coragem adquirida decidi segurar a mão dela para passar um pouco de conforto. Ela, percebendo meu toque, abriu os olhos e encarou a minha mão sob a dela. Depois subiu o olhar e se encontrou com o meu, deu um sorriso doce de agradecimento e entrelaçou nossos dedos.

Mesmo depois da turbulência ter passado eu não soltei a sua mão até fim do voo.

Desembarcamos no aeroporto de Recife e gastamos mais quarenta minutos de carro até Porto de Galinhas, o nosso destino final. Parte do caminho até o resort nos concentramos em uma conversa com a simpática mulher que dirigia o Uber, mas, depois de um tempo, houve silêncio e eu acabei me distraindo com a paisagem tropical. Fui tirada do meu devaneio quando Bia começou a falar aleatoriamente, demonstrando empolgação na voz:

– Você sabia que Pernambuco foi um dos primeiros lugares ocupados pelos portugueses?

– Não sabia – respondi um pouco confusa pela fala repentina dela, mas tentando disfarçar um sorriso porque a animação dela me contagiou um pouco.

– E antes se chamava Porto Rico, por que era um dos locais de grande extração de Pau Brasil e exportação de açúcar. Só que mudaram o nome porque muitos escravos desembarcavam aqui de forma clandestina, vinham escondidos em engradados de galinhas d'angola. Usavam a senha "tem galinha nova no porto" e por isso mudou o nome para Porto de Galinhas - terminou expressando um pouco de lamentação. Eu mal conseguia acompanhar por ela falar tão rápido e tão entusiasmada. Mas eu achava fofo o fato de que ela provavelmente tinha pesquisado tudo aquilo para saber de forma tão decorada.

– Que horror – foi tudo o que eu soube comentar.

– Pois é – ela concordou depois deu um leve sorriso, parecendo estar orgulhosa de si mesma. – Eu vi umas praias maneira pra gente fazer uns passeios – continuou animada.

Sorri genuinamente para ela. Bia era como uma criança empolgada olhando tudo e comentando cada coisa diferente que passava pelo caminho. Essa essência dela era muito leve e uma das coisas que eu mais admirava nela. Acho que ia ser bom conhecer um pouco mais disso.

Em questão de mais alguns minutos chegamos ao resort e nos dirigimos até a recepção para fazer nosso check-in. A atendente foi muito atenciosa e nos entregou as chaves para o nosso quarto. Depois disso, um funcionário nos acompanhou, ajudando a carregar as malas até o quarto, no andar acima daquele.

A vista do lugar era linda e o resort estava todo decorado com enfeites de natal, transmitia paz e eu sentia que finalmente eu poderia descansar.

O funcionário que nos acompanhava fez a gentileza de abrir a porta do nosso quarto para entrarmos com as malas. No entanto, parei assim que percebi algo que não condizia com o que eu imaginava: só havia uma cama de casal na suíte. Acontece que eu e a Bia não somos um casal.

– Moço! – Chamei o homem que já estava quase se retirando do aposento. – Acho que este é o quarto errado, não deveria ser uma suíte para casal - expliquei

– Perdão, mas as chaves e o número do aposento estão corretos. As senhoritas querem ir até a recepção novamente? Posso acompanhá-las – ele disse gentil e formal.

– Tudo bem, Bia você vem? – Perguntei para ela que estava quieta apenas observando a minha conversa com o rapaz.

– Sim, vamos.

Um Beijo Sob O Visco - Contos de NatalWhere stories live. Discover now