Capítulo Cinco - Parte 1

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Ele aponta para o portão por onde entramos.

— Ninguém ouviu nenhuma explosão e isso foi perto dos alojamentos dos cavaleiros — ele começa. — Preciso...

— O agente corrosivo — Nai interrompe. — Ainda tinha um resto de atividade como chegamos.

Augusto assente. E ele conhece Nai o suficiente para não precisar perguntar se ela fez alguma coisa sobre esse "resto de atividade". Se aquilo ainda estivesse lá, ela teria avisado.

Suspiro e me levanto, encarando a imagem do castelo. Não é um espaço pequeno e a projeção já está mostrando os resultados do ataque. Perdemos uma das torres da muralha, outra está quase caindo. O teto do castelo parece que foi atingido com força em alguns pontos e provavelmente algumas salas nos andares mais altos já estão interditadas por causa disso.

Olho para Nai e ela balança a cabeça.

— Nem olharam para os bairros altos — ela conta. — Liguei para minha mãe assim que os wyverns sumiram de vista.

Pelo menos isso. Não que eu ache que vão atacar os bairros altos para valer. Não tão cedo. Mas é bom ter uma confirmação.

E não me esqueci das conversas que ouvi quando os avisos sobre o toque de recolher começaram a ser espalhados. Ou dos gritos, hoje mais cedo.

Cruzo os braços e olho para Augusto.

— Você vai precisar deixar os bairros altos saberem o que está acontecendo para valer.

Ele balança a cabeça devagar.

Iludido. Não é ele que está lá todo dia e... Quer saber?

— Não é você que está lá todo dia. Você pode ter ido lá, ter passado alguns dias escondido, mas não conhece os bairros altos. Quanto tempo você acha que vai demorar até alguém mais "esperto" tentar achar alguma forma de contato com Zeli-Amare e ver o que consegue negociar? Dinheiro fácil em troca de informações. E você sabe o que aconteria depois disso.

Ele balança a cabeça de novo.

— Zeli-Amare não daria nada...

Bato as duas mãos na mesa. As linhas de poder brilham por um instante, mas é tão fraco que tenho quase certeza de que mais ninguém viu.

— Você disse que queria começar a mudança — falo. — A mudança vai ser só para quem nasceu na cidade central?

Augusto se endireita e me encara.

— Eu estou reduzindo as restrições, pouco a pouco. Já estávamos com planos para mudar a forma como o comércio e o fornecimento de serviços dos bairros altos para a cidade central funciona. Se não fosse...

— Planos que ninguém mais sabe sobre e que vai demorar meses para notarem uma diferença — interrompo. — E restrições relaxadas que as pessoas acham que são um descuido. Não é tão simples, Augusto. Não tem como ser, depois de tantos anos com tudo funcionando do mesmo jeito. Ninguém vai ser otimista e pensar um "nossa, que bom, estão tentando fazer as coisas diferentes agora". É muito mais fácil pensar que é descuido. Ou então que é uma armadilha para ver quem vai se aproveitar dessa brecha nas restrições, para fazer uma limpa nos bairros altos depois.

Augusto continua me encarando, sem falar nada. E eu notei que ninguém nem tentou entrar no meio. Ótimo, porque de quem aqui, eu sou a única que consegue ver os dois lados disso.

Ele respira fundo e assente, devagar. Não tenho a menor ilusão de que isso quer dizer que Augusto está concordando comigo. Mas quer dizer que ele vai me ouvir e vai pensar no que falei. É só isso que eu quero.

Marcas de Sangue (Draconem 3) - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now