Único

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Era mais uma quinta-feira, igual a todas as outras.
Pelo menos foi assim que eu, erroneamente, pensei.

Lá estava eu, empurrando as portas duplas de vidro da biblioteca, adentrando o ambiente frio e confortavelmente silencioso apenas para ir atrás de um maldito livro. O Senhor Spencer tinha passado para a turma um daqueles trabalhos impossíveis, e como se não bastasse, não tinha nem um conteúdo completo o suficiente na internet que pudesse me ajudar, me obrigando a ir atrás do antigo método de pesquisa.

Um pouco irritada, eu caminhava pelos corredores, distraidamente, ocupada demais para prestar atenção no mundo ao meu redor, visto que xingamentos e lamentos eram disparados para todos os lados em minha mente. Eu nunca tinha me sentido tão impotente ao fazer um trabalho da faculdade, portanto, estava me sentindo péssima com a nova, mas não excitante experiência.

Esfregando os braços por cima do fino casaco que vestia, entrei em mais um corredor e congelei. Não de frio desta vez. Todos os sentimentos negativos que corriam em minhas veias caíram por terra, dando margem apenas para emoções bonitas, coloridas e iluminadas.

Joshua estava no fim daquele corredor recheado de livros, compenetrado em algum compilado de páginas que estava em suas mãos. Sua cabeça estava inclinada para baixo, os olhos espertos fixados nas miúdas letras pretas, a mão esquerda segurando o livro enquanto a outra mexia em algo na grande instante, meus olhos não conseguiram captar o que era. Ele estava vestindo uma calça cor de vinho, um fino casaco preto, por cima deles um colete da mesma cor. Sua mochila estava no ombro direito, quase deslizando por seu braço.

Tão lindo, eu não conseguia parar de pensar.

Meu coração descompassou ao observar aquela cena, o movimento constante do músculo cardíaco fazendo todo o meu interior esquentar, a sensação subindo de meu peito para o pescoço, chegando até meu rosto. Eu sabia que minhas bochechas estavam rosadas, uma vez que a região estava fervendo.

Eu estava acostumada a ver Josh sempre se movendo, elétrico, cheio de vida e entusiasmo, entretanto, ter a oportunidade de vê-lo num momento tão tranquilo e sereno fez meu encanto por ele aumentar. Eu quis virar uma energia, sem forma e aparência, para adentrar a mente dele e ser capaz de conhecer seus gostos, valores e pensamentos. Ele era tão interessante. E adorável.

Para mim, o termo "adorável" deveria ser substituído pelo nome "Joshua", uma vez que a definição continuaria a ser a mesma: Aquilo ou aquele que tende a encantar; que incita admiração; admirável.

Suspirei profundamente, meus músculos faciais amolecendo até um sorriso apaixonada tomar conta de minha face. Eu queria, eu desejava ser capaz de ter uma conversa normal com ele, no entanto, era demais. Sempre que estávamos na mesma roda de amigos, eu perdia minha dicção, me confundia com meus próprios pensamentos, tamanha era a timidez que aqueles olhos brilhantes me traziam. Josh parecia ficar levemente aprisionado por mim, pondo toda a sua atenção sobre a minha figura. E eu sabia que ele tinha conhecimento dos meus sentimentos. Eu, pateticamente, deixava claro para qualquer pessoa ver. Odiava ser transparente demais. Mas, também, como eu poderia não ficar sem jeito quando ele se aproximava? Como eu poderia não ficar vidrada em cada palavra que ele dizia, desviando o olhar para o chão assim que ele me encarava? Como eu poderia não sorrir exageradamente ao vê-lo fazer graça?

Não sei por quanto tempo exatamente fiquei parada que nem uma idiota "espionando" Josh. Só voltei para a realidade quando vi que ele estava me olhando. Tomada pelo desespero, virei de costas para ele com a mão no peito, sentindo meu coração bater quase em minha garganta. Como sou estranha, me julguei mentalmente, fechando os olhos com força, tentando encontrar uma maneira de fugir daquela situação.

Todos os meus pensamentos foram interrompidos por um som, era o típico ruído de uma garganta sendo "limpa". Todos os meus músculos ficaram rígidos como pedra, quase impossibilitando que eu virasse e o fitasse. Josh estava bem próximo de mim, seus lábios perfeitamente desenhados esticados para o lado num tímido sorriso. Sem saber o que fazer com as mãos, ele passou uma delas pelos seus cabelos, finalmente deixando seus lábios se abrirem e seus dentes se mostrarem; a pele ao redor dos olhos se enrugou com a contração facial, o nariz se arrebitou um pouco, o furo no queixo se tornou mais proeminente.

Dei uma risada baixa.

— Oi, Josh. — cumprimentei, arrumando forças sabe-se lá de onde. Juntei minhas palmas da mão, sentindo-as suadas.

— Oi, Liv. Eu tenho uma coisa pra você. — A voz única de Josh soou em meus ouvidos, sua mão se estendendo em minha direção, possibilitando que eu visse um pequeno bilhete nelas.

Com as sobrancelhas erguidas minimamente, eu peguei o papel. Ele sorriu mais uma vez e saiu, me deixando sozinha, atônita com o seu gesto repentino.

"Amanhã eu e meus irmãos tocaremos naquele gramado, atrás dos vestiários. Eu gostaria de ser presenteado com a sua ilustre presença... acha que pode fazer isso por mim?

ps: se você não curtir nosso som, posso te pagar uma bebida como pedido de desculpas, depois do show :p

Josh M Kiszka. "

Disfarçadamente, olhei por cima dos ombros e vi que Josh não estava mais ali.

— Eu não acredito! — murmurei, atônita, colocando as mãos, inclusive o papel, no rosto. Sem hesitar, dei alguns pulinhos e me balancei, realmente incrédula. — Quem vai ser presenteada com a sua ilustre presença vai ser eu, Josh. — respondi, sorrindo e guardando o papel no bolso traseiro da calça jeans.

Sem dúvidas, não foi uma quinta-feira como todas as outras. Foi melhor, mais bonita e apaixonante.

Love Tune - Josh KiszkaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora