Na lateral da sala, próximo a um arquivo, um homem estava de costas e lembrando-se da discrição nada discreta de Linda, imaginou que devia ser o tal Eros Vicenzze.

Ao ouvir a disparada da garota, ele fez menção de rir e deixando o prêmio que o diretor lhe indicara sobre o móvel, virou-se, de modo a saber quem era aquela maluca. Quando se deparou com seu rosto moreno, ele sentiu o coração disparar, um frio lhe subir pela espinha. Seus olhos percorreram aqueles traços, seus lábios, sua silhueta... Sim, era Sabrina Esposito quem estava a sua frente!

Completamente inerte, ela pousou os olhos sobre ele e ficou ainda mais confusa. Talvez fosse o carnaval que Linda havia feito sobre sua aparência, mas naquele momento, aos seus olhos, ele era o homem mais atraente que ela via, em tempos!

Voltou os olhos para Martim, como que o pedindo uma ajuda para sair daquele desconserto, e o seu riso a fez tomar uma atitude, no mínimo insana: saiu, fechando a porta de vidro atrás si e após respirar fundo, para livrar-se daquela primeira impressão que lhe tirou o fôlego, abriu-a outra vez, com um sorriso polido:

___ Pois não, chefe?

A atitude dela só serviu para levar Martim a mais gargalhadas. Apontando Eros, ele mal conseguia falar:

___ Este é Eros Vicenzze, seu novo parceiro!

Ela caminhou até ele, sem encará-lo dessa vez.

___ Comecemos melhor agora, Catharina Batista, é um prazer conhecê-lo finalmente! — lhe estendeu a mão.

Fazendo de tudo para não parecer tão surpreso, e tentando não pensar que sua esquizofrenia estava agora se transportando para a realidade, ele reagiu, apertando a mão suave que ela lhe estendia.

___ O prazer é todo meu.

Ela o encarou brevemente, todos os comentários da amiga a aumentar gradativamente em seu pensamento, que logo tratou de confirmar que dessa vez, a observadora nada sutil tinha mesmo toda a razão.

Recebeu o aperto de mão firme que ele lhe deu e estremeceu um pouco, ao ter os ouvidos tocados por sua voz, grave e macia.

Então, desviando-se imediatamente, como se temesse que ele descobrisse o efeito imediato que sua aparência causou, Cathy se voltou para as cadeiras e para o editor, que ainda gargalhava, e com isso, fazia com que ela percebesse que era tarde demais para parecer menos desequilibrada:

___ Dá para parar com o surto agora e tentar não me envergonhar ainda mais, se possível? — disparou, sem outra opção diante do divertimento do chefe, e sentando-se em seguida.

Querendo dar continuidade a conversa, não só por cavalheirismo, mas também por temer que suas reações denunciassem o que ele estava sentindo naquele momento, Eros interpelou o editor, que agora, tinha os olhos lacrimejantes e as duas mãos sobre a barriga, dolorida de tanto rir:

___ Então, quando podemos começar?

___ Imediatamente! — Martim estava finalmente conseguindo de conter — Tenho certeza que, com a sua experiência e logo que a Cathy te deixar a par dos novos projetos, você vai sentir como se tivesse feito isso a vida toda!

___ Eu sempre gostei muito de fotografia investigativa! E acompanho as matérias, o que, com certeza, vai ajudar bastante.

___ Isso é ótimo, os novos projetos seguem a linha de reportagem exposta nos últimos meses, então você estar a par vai facilitar demais! — Cathy se interrompeu e desviando os olhos dele para o relógio de pulso, viu que não tinha tempo pra explicar aquele emaranhado de informações — Tenho certeza que vamos nos dar muito bem, você sendo o mais novo descasado e tudo!

Desde o Princípio - Livro 1 - Passado no PresenteWhere stories live. Discover now