Prólogo

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Eu não sei dizer se era a raiva por ter sido tão humilhada ou o meu sol em escorpião, mas vingança era a única saída que eu vi.

Entenda bem, eu era alguém 100% movida por impulso, um furacão, mas com o tempo eu fui sendo obrigada a apagar meu fogo, sendo abafada, podada. À medida que os anos de casada iam passando, eu me tornava mais parecida com o que queriam de mim e mais distante da mulher que eu era quando mais jovem. A minha vida se tornou em uma rotina chata e entediante. Decisões pensadas em casal, sempre com antecedência e organização.

Mas aquela decisão eu precisei tomar em horas.

É o que acontece quando você flagra o seu marido com a cabeça enterrada entre as pernas de uma outra mulher.

Eu deveria ter esperado por isso, já que não era a primeira vez. Eu perdoei um traidor, o que é que me iria acontecer? Mas a gente quer lutar pelo nosso casamento, por algo que a gente acha que merece ser lutado e espera que isso nos torne mulheres mais fortes, como nossas mães e avós que também tiveram que lutar pela família delas.

E naquele momento eu me perguntava, a luta delas em algum momento acabou? Valeu a pena? Alguém venceu ou foi uma luta incessante?

Talvez se tivesse sido em outro momento da minha vida eu teria perdoado de novo, mas logo agora que eu havia cancelado minha viagem dos sonhos para Nova York porque pouco antes do meu aniversário de 30 anos eu perdi meu pai, um mês depois de ter perdido minha mãe, aquela traição era a gota d'água.

Era pesadelo atrás de pesadelo e o desgraçado ainda fez questão de jogar a última pá de cal em cima do meu corpo desolado e cansado.

Nova York era um sonho antigo, de adolescente, eu amava todos os filmes feitos na cidade, de Esqueceram de Mim a De Repente 30. E eu vinha planejando essa viagem com tanta empolgação, pensando em cada detalhe. Seria a minha própria versão da mulher que um dia acorda e não é nenhuma mocinha mais. Por isso foi tão difícil ver esse sonho também morrer.

Não tinha me restado nenhum alento.

Perdi meus pais, meu sonho e agora meu marido.

Mas não era tristeza o que eu estava sentindo, era ódio! Seis anos de casada com um tipo que me traía com a própria secretária, função que eu mesma ocupava há pouquíssimo tempo atrás.

Larguei a função porque queria me dedicar a mim mesma e decidi voltar a estudar, depois de tanto tempo o vendo fotografar, resolvi que queria aprender também e o mandei achar alguém para me substituir.

Pelo visto ele confundiu qual posição eu estava abandonando.

Nós nos conhecemos muito jovens e eu nunca precisei construir uma vida independente. Eu trabalhei fora enquanto ele se profissionalizava como fotógrafo e assim que ele se estabilizou voltei a me dedicar somente a ele. Eu era o esteio que ele precisava.

Parar de trabalhar no estúdio tinha sido uma decisão difícil. Todos aqueles anos à sua sombra me fizeram insegura, eu não sabia me virar sozinha e nem queria. Era confortável tê-lo por perto. Mas quando eu observava mulheres autossuficientes ao meu redor, eu desejava ser como elas e sofria por não ser. Afinal, qual era o segredo?

Quando o avisei que não seria mais sua secretária ele se irritou, disse que teria um gasto a mais com funcionário por egoísmo meu. Não, eu nunca tinha sido paga por ele, mas eu não me importava porque nos via como um time, aquele era o sustento da nossa casa e a verdade é que ele nunca deixava faltar nada. Eu ficava com os cartões e nunca precisei pedir por dinheiro. Me acomodei com isso e quando quis dar um passo para longe dele, meu marido não recebeu de bom grado.

E veja bem, quando cheguei no estúdio e vi o traste bem no ato eu não disse nada, não gritei, não parti para cima deles, apenas virei as costas e fui embora. Não me entenda mal, eu estava espumando, tanto que eu pensei (confesso) em voltar em casa, pegar um facão e ir lá cortar o pinto dele. Porém, quando eu cheguei na minha cozinha a ideia já não fazia sentido, ao invés disso, peguei minha mala, joguei na cama e coloquei todas as minhas roupas lá dentro.

E foi aí que uma ideia me ocorreu.

Corri para ligar meu computador, peguei o cartão do meu marido que ainda estava comigo e em 30 minutos estava tudo resolvido.

Voltei a fazer minha mala, mas agora com roupas bem específicas. Organizei tudo em tempo recorde. Peguei meus documentos, todas as minhas joias, os dólares que eu estava juntando para a viagem e a minha passagem.

Em 10 horas eu ia embarcar rumo ao meu sonho.

Eu ia para Nova York sozinha.

New York, New YorkUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum