O veneno do amor - Merle

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O resumo foi o seguinte. Lenia. A deusa do conhecimento. A única deusa que tem um nome. A primeira que existiu. A mais poderosa e importante. Falou com ele, e o mandou libertar Adenna, pois só assim Atarah continuaria viva... Só que existe algo nessa história que está faltando. A ligação entre tudo.

– Por que Lenia falaria com você? Ela deve ter uma peça, como todos os deuses.

– Porque você mentiu para mim?

– Qual das vezes?

– E ela me fez uma proposta, o conhecimento pela ajuda.

– Que conhecimento ela te deu? Para mim ela só tirou. Já que você libertou a Adenna!

Ficamos andando em silêncio, acho que no fundo nenhum de nós dois queria voltar para o castelo. Ele era um traidor e eu... Uma assassina. Mas não era por isso que não queria voltar. Keir está tão estranho, não está com medo, é algo mais parecido com decepção. E por algum motivo o ladrão estar decepcionado comigo me incomoda.

– Parece incomodada com algo.

– Não é da sua conta.

– Você acha que é fácil te ver com outra pessoa?

Está tão na cara que meu problema tem haver com Keir?

– O que? O que está falando? Foi você que achou melhor terminar tudo. E aproveitou esse momento quando estava me jogando nas masmorras.

– Eu estava com medo, e bravo...

– O guarda e a assassina jamais daria certo, mas nem isso você é. Não tem um pingo de ética. É a assassina e o traidor... De certa forma nós nos merecemos. Dois merdas. Podemos viver em um castelo agora, de novo, podemos usar as melhores roupas, podemos estar ricos, mas ainda somos pobres de alma, e sempre seremos. Seu pai se sentiria descpcionado por ter criado pessoas como nós.

Alastair e eu raramente falávamos sobre seu pai, o homem que de certa forma me criou. Sempre ignora quando tento falar dele, e dessa vez não seria diferente.

– Keres, por mais quanto tempo terei que me desculpar por isso? Foi um... Eu nunca deixei de amar você.

– E acho que então esse foi o seu maior erro. – Caminhei mais rápido. Chega de escutar esse carente. – Pensei que tivesse dito que ama Atarah.

– Atarah não é mãe do meu filho.

Deusa vulgívaga. Mas que ódio dessa desgraçada! Respirei fundo e esperei Alastair me alcançar.

– Ela é minha filha. Não sua... Nem minha é direito, mas...

– Eu quero conhecê-la.

Ri alto, mas o guarda não viu a menor graça. Quando recuperei o ar e me acalmei respondi.

– Uma pena. A mestiça está bem longe daqui. E acha mesmo que ela quer te conhecer?

– Aquele seu tempo no Leste... Você estava grávida.

Lembro do parto com Makayla, aquela dor terrível. Lembro de Ywa e eu indo entregar a criança para uma fada chamada Aurélia. Lembro que ela sorriu e acalmou a criaturinha em seus braços e foi embora junto de seu grupo nômade.

– Estava.

As ruas estavam vazias, mas mesmo assim não gostava da ideia de estar falando sobre aquilo ali, qualquer um poderia ouvir.

– Onde ela está, Keres?

– Há anos atrás disse que nunca mais gostaria de me ter em sua vida. E de bom grado, eu sumi, não temos nada juntos Alastair. Aquela criança tem a vida dela. Não somos a sua família, e nunca seremos.

– Não posso seguir a minha vida sabendo que tenho um filho por ai...

– Filha... Era uma menina.

Isso o deixou ainda mais furioso, mas... Respirei fundo e escutei o resto do seu chilique.

– Ela irá crescer sem família, sem nada. E nós poderíamos dar tudo a ela! Keres. Por que não me contou?

Dei de ombros.

– Ela só está viva, pois era uma vantagem que eu tinha sobre você. Agora não vale mais de nada. E. Que família, Alastair? Você nunca quis uma... Eu a apresentaria a Keir, pois em menos de alguns meses, já tenho total certeza que ele seria um pai melhor que você.

– Cale-se. Diz isso, pois está apaixonada. Você nem o conhece...

– Não. Digo isso, pois é a verdade. Ela está bem, vive bem e com pessoas... Com seres de caráter menos duvidoso do que o de nós dois. – O encarei nos olhos, via sua angustia, mas não me importava. – Somos o pior da sociedade, acha que ela seria o que? Boa? Olhe para nós. Acha que Atarah iria aceitar ter qualquer coisa com você sabendo que é pai? Que possui uma filha bastarda com a amiga dela. A relação de vocês iria acabar antes mesmo de ter começado.

Com um sorriso amargo no rosto me afastei dele e comecei a seguir meu caminho. O guarda ficou para trás, mas antes que eu fosse muito longe ele fez sua última pergunta sobre esse assunto, um que sei que mais cedo ou mais tarde iremos tocar novamente.

– Qual é o nome dela? Ela tem um nome, certo?

– Deve ter, mas eu realmente não me importo. Boa noite, Alastair.

Voltei sozinha para o castelo. Durante todo o caminho só pensava em uma coisa. Por que não matei aquela criança? Quando entrei em meu quarto lá estava Faolan.

– Dia difícil?

– Nem um pouco.

– Pode abaixar essas suas muralhas, criança. Conheço você. Não vou julgá-la. Sabe que essa cidade tem ouvidos, e eu estou te espionando a semana toda. Te vi espionar Alastair, vi com meus próprios olhos ele libertar Adenna. E escutei toda a conversa de vocês.

– Fofoqueiro. – Ele apenas serviu uma taça de vinho e ergueu o copo em forma de concordância.

Estou surpresa que Atarah não o tenha proibido de chegar perto da adega, pois durante essa última semana, sempre que o via andando por aí, estava acompanhado de uma garrafa de vinho.

– Agora comece a contar tudo. Não sabia que era mãe até os vampiros contarem naquele dia. E Ywa e você nunca tocaram nesse assunto.

Ywa e eu nunca tivemos motivos para tocar nesse assunto ridículo perto de ninguém, nem tínhamos tempo para desperdiçar com essa conversa inútil. Nunca quis uma filha, não era a hora de eu ter que me preocupar com uma bastarda. Era o momento de eu fazer minha imagem, os boatos, tudo, estar na boca de todos. Como conseguiria isso com um bebê comigo? Me atrasando...

– Não sou mãe. Tive uma criança, mas não sou mãe dela, não a crio.

– Como se seus pais a tivessem criado. Mesmo assim são seus pais.

– São dois tolos egoístas.

– E você?

– Sou igualzinha a eles... É de sangue.

Servi uma taça para mim e passei o resto da noite contando sobre o meu dia terrível, amigos são para isso não é mesmo? E Faolan por incrível que pareça é meu amigo.

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Where stories live. Discover now