Nada com nada, é um louco que não superou um fora.

-Não vai querer saber o que ela disse - falo e ele suspira.

-Não lembra de nada que tenha acontecido três dias antes de ter ido embora? - ele pergunta bravo, não sabia se era comigo, com Carli ou com ele mesmo.

-Será que dá para desembuchar? Eu quero ir para casa - resmungo e ele me encara.

-A cidade inteira lembra - Adam fala. - Eu não entendo.

-Vai mesmo ficar brincando de mistério? Qual é o problema, Adam!? - xingo e ele bufa coçando a nuca.

-Você deu a luz a nossa filha, Victória! - ele diz no mesmo tom, mas incrédulo, de certa forma.

Talvez eu saiba algo sobre isso... - Carli murmura.

Fale - exijo bufando e voltando a sentar.

Você deveria me agradecer. E nunca deveria tê-la deixado entrar nesse continente. Esse humano nojento só ia nos rebaixar cada vez mais! - ela se defende.

Fale, Carli - rosno novamente.

Era Lua cheia, não dava para ver mas eu sabia - Carli começa. - Você entrou em trabalho de parto mais cedo que o esperado. Estávamos com muita dor, você estava morrendo. Eu assumi o controle para fazer o trabalho de parto para você não morrer, seu corpo em forma humana não ia aguentar, mas o meu ia - ela conta. - Quando ela nasceu... eu entrei em pânico. Ela não nasceu na forma lupina, e eu sabia que seria um fardo ter não só um marido como uma filha humana! Então três dias depois eu assumi o controle novamente, você estava fraca demais para andar ou até mesmo para se manter acordada, e nos levei de volta até Malvon que concordou comigo me ajudando a plantar memórias falsas dos seus últimos dias com essas pessoas. E eu escondi essas memórias de você para que nunca soubesse dessa...desgraça e...

Cale a boca, já falou o suficiente - resmungo.

Apesar de não ter notado, eu começara a chorar. E chorava descontroladamente como eu nunca havia feito em frente à ninguém. Adam apenas me olhava, agora com um pouco de tranquilidade no olhar.

O encaro tentando encontrar palavras com o significado que eu queria mas nada parecia suficiente para tamanha dor que eu sentia.

-Ela escondeu isso de você, não é? - ele pergunta, parecia prestes a chorar também. Apenas assinto com a cabeça. - Sinto muito ter gritado com você, eu não tinha esse direito.

Faço exatamente o mesmo movimento de antes, então desvio o olhar cobrindo a boca com as costas do punho fechado.

-Eu preciso de um tempo - minha voz sai horrível. Rouca e esganiçada, como se eu tivesse gritado por horas. - Sozinha.

Adam assente e sai porta a fora sem dizer nada.

Me deito na cama macia encarando o teto com perguntas as quais eu não sabia se queria a resposta.

Uma filha.

Eu tenho uma filha.

Eu nunca quis filhos.

Como isso aconteceu? - quero dizer, eu sei como... - mas como?

Respiro fundo, uma...duas...três... várias vezes. Mas eu estranhei as coisas que passavam pela minha cabeça.

A Victória de um ano atrás estaria fazendo as malas para fugir de qualquer responsabilidade que poderia vir à tona. 

Mas os meus principais pensamentos e questionamentos só giravam em torno dessa criança: o que ela gosta de comer? Como passa o tempo? Com quem ela fica que não está com Adam? Ela tem alguém que chama de mãe?

Escolhida para lutarWhere stories live. Discover now