Capítulo 1 - Querida

87 9 9
                                    

Londres, 1891

Um dos casarões mais bonitos da cidade estava cheio, com pouco mais de cento e poucos convidados, com uma orquestra animada, composta por meia dúzia de músicos talentosos de Paris. Tocavam uma balada, de composição italiana, causando um certo descontentamento naquele maçante de pessoas agitadas, dispostas a dançar para esquecerem do vento gelado de outono que entrava pelas oito janelas do grande salão de baile.

Os anfitriões estavam em cantos separados. Frederic Jorsden conversava com amigos da sua idade, da faculdade de Direito, debatendo algo não muito interessante sobre política. Logo, o assunto passou a serem cavalos, o que deixou o grupo tão animado chamando a atenção de outra roda de conversa. Nela, estava Camille Jorsden, sua esposa, que olhará com certa desaprovação o motivo de tanto animação ao ser falar sobre animais de quatro patas competindo para chegarem em primeiro lugar. Aquilo, para ela, era crueldade, já para o marido, diversão.

Ignorou-os, bebericando mais e mais da sua taça de cristal, preenchida por champanhe por um criado fiel que ficava ao lado da patroa. O tema ali, entre Camille e outras esposas de nobres importantes, como o marido, era moda. Uma amiga dela estava animada em estar sendo nomeada como inspiração de estilo para as senhoras sociedade, quando outra se vangloriava de ter joias. Em sua opinião, Camille acreditava que ambas eram importantes, mas muito mais importantes eram o conjunto em si.

Bebeu mais até que lhe chamou a atenção para o verdadeiro fenômeno da festa.

— Querida, — Camille falou mais alto que devido, mas só os mais próximos se importam, visto que a música ganhava outro tom. A pista de dança ganhava mais casais e Camille se desviou deles para alcançar sua concunhada. — está gostando da festa?

Melissa virou-se de frente para Camille, forçando um sorriso amarelo na boca.

— Muito, Camie. — respondeu educadamente. Não queria ser rude com a anfitriã e chefe da família na frente de todos. — Muitíssimo obrigada.

— Não há de quê. — ela sorriu de volta, levemente embriagada de champanhe (e sabe-se lá de outra coisa também). Camille voltou ao seu grupo de amigas, satisfeita com a breve conversa que tivera, desviando de garçons e outros da sua frente. Chegou lá, mas não sem antes catar outra coisa para beber e quase bater no moço que levava as bandejas com copos sujos.

Melissa riu com as amigas. Ali, era sincera. Também estava bebendo, mas não ao nível de Camille. Deu-lhe os braços para as duas amigas a sua volta e voltaram lentamente para a mesa reservada aos seus amigos.

— Coitada, Sissa. — Selina começou a dizendo antes mesmo de sentar-se. Ela ajeitou com cuidado para não amassar o cetim delicado do seu vestido azul claro, antes de afundar-se na cadeira com estofado fofo nas costas. — Me diga, é sério que eles não se dão bem?

Melissa olhou para Camille e depois para Frederic. O irmão mais velho do marido era fechado e reservado, sem dar trela para conversas bobas, principalmente aquelas que envolviam assuntos tão íntimos quanto aos do coração. Camille, no que lhe respeita, era adepta a dar aberturas, um tanto desnecessárias sob o olhar crítico e retraído de Melissa — nada que fosse comparado a Frederic, mesmo assim isso nunca teve resultado entre as duas, que pouco convivam, apesar de compartilharem o mesmo sobrenome.

— Acho que sim. — respondeu, encarando as duas amigas. Liliane estava mais distante, distraída ao olhar o canto que um grupo de rapazes jovens conversava. Melissa então se voltou a Selina. — Mas eu nunca tive a chance de me aproximar. Eles são... — Melissa suspirou, sabendo que era pecado julgar pelas aparências. — estranhos.

Selina riu e pegou sua bolsa de mão, tirando dali uma carteira de cigarros e um isqueiro, com um adesivo da própria empresa colado na embalagem.

— E quem não é, Melissa? — ela se levantou, brincando com o isqueiro entre os dedos. — Eu vou fumar ali, rapidinho. Alguém me acompanha?

Uma Dama IntriganteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora