Fuja das sombras - Merle

Start from the beginning
                                    

- Uma vez traidor, sempre traidor.

- Como se o que você fizesse tivesse alguma ética.

- Estou em paz comigo e com minhas escolhas. Pule a história, me fale logo o que precisa e eu falo o valor.

- Preciso que proteja Adenna. O valor que você quiser, eu pago, mas cuide dela. - Havia algo diferente em sua voz agora, algo como preocupação.

- Não. - Precisei de menos de um segundo para dar a minha resposta.

- Não? - Ele parecia indignado. Agora reparei que Alastair está manco, por baixo da calça deve estar com a perna completamente enfaixada, já que uma de suas cochas está maior que a outra.

- Não. Os deuses não abandonaram essas terras. Nunca ajudaria, cuidaria, de uma traidora do divino. Sou abençoada pelos deuses! Jamais faria tal coisa. Principalmente por isso, mas também por eu não acreditar na causa ridícula de vocês. Torço verdadeiramente para que quando Adenna morrer, e ela vai morrer, morra junto essa idéia de vocês desocupados e ignorantes.

- Ridícula? Pessoas morrem de fome todos os dias, e nossa causa ridícula pode mudar isso. Crianças passam frio...

- Nas minhas terras pessoas morrem por muito menos. Bebês são jogados nas ruas, pois apenas os fortes merecem viver. É a lei do mais forte. Lei da sobrevivência. Se fosse assim tão fácil acabar com as coisas ruins do mundo por que ninguém fez nada antes? - Alastair não tinha uma resposta. - Você já traiu muita gente, pessoas que querem a sua cabeça. Pessoas como eu. Fique ao lado de Atarah que nada acontecerá a você. Sabe disso.

O assunto havia acabado. Não tínhamos nada mais para falar. Me virei e fui saindo do beco quando escutei sua voz. Ele ainda estava ali parado. Acho que se o visse de joelhos implorando para mim, eu protegeria Adenna. A humilhação seria um bom preço. O orgulho dele se abalando. Seria maravilhoso.

- Adenna sempre me tratou bem, sempre foi gentil. Doce e sincera. Foi boa. E acho que é isso que está faltando no Norte, pessoas como ela. Pode me achar um traidor, pois eu realmente a traí, mas te tirei depois. Mesmo assim, reconheço que errei e te peço perdão. Atarah fará o mundo se curvar a ela e...

- E por que isso seria tão ruim? Vou te dizer uma coisa... - "Não diga nada." - Calado. - Disse baixinho. - Se Atarah cair, Adenna caí depois. Os deuses... Tudo tem um motivo, e se colocaram aquela menina no trono existe um motivo, poder? Ela fez aquela onda, certo? O clima está mais frio... Pode ser que seja o destino Adenna tirar Atarah do trono, mas, pode ser que não seja. E guarde minhas palavras. Os deuses sabem de tudo, e se você os desafiar. Seu final será o pior. Não se brinca com o divino. Eu apoio Atarah, e sempre apoiarei. Qualquer que seja o fim. Você ainda tem escolha. Pense bem qual mais vale apena. Boa noite, Alastair.

Assim que deixei o beco e andei um pouco, escalei uma pequena construção e dela fui pulando entre os telhados, não apenas pulando normal, mas me teletransportando. Até chegar a um que não tinha mais para onde ir. Vomitei pelo enjoo que sempre tenho por atravessar muitas vezes seguidas, e me sentei na borda da construção e assisti o nascer do sol. Fiquei a noite inteira fazendo aquilo, estou cansada, de todas as formas possíveis. Assim que fechei os olhos à voz do inconveniente apareceu.

- Keres que surpresa ver você! Duas vezes em menos de dezesseis horas. Acho que é o destino. - Disse o garoto de olhos vermelhos. Ele se aproximou, não olhei para trás. Fiquei ali admirando o acordar de Melione. Quando o ladrão se sentou ao meu lado estralei o pescoço, sem nenhum motivo. - Você realmente não sente medo de nada? Absolutamente nada? Nunca conheci nenhum Filho do Caos...

- Qual é o seu nome mesmo? - Algo como decepção apareceu em seus olhos.

- Keir.

- Certo. Keir. Não, eu não sinto absolutamente medo de nada, e raramente sinto remorso. E você nunca conheceu nenhum outro Filho da Noite, pois esse é o nome da nossa raça. Porque toda vez que tentamos cruzar a fronteira de nossos territórios somos mortos. E quando passamos somos perseguidos aqui. Torturados e aí mortos. E jogam nossos corpos nas ruas ou nas sarjetas. Quando se dão ao trabalho. Já que vocês são tão superiores.

A queda das rainhas do norte (Em processo de reescrita) Where stories live. Discover now