As brumas de Avalon - A grande Rainha

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  As brumas de Avalon – A grande rainha

Capítulo 1

Lá longe, no norte, onde Lot era rei, a neve acumulava-se profundamente nos tabuleiros, e mesmo ao meio-dia a luz não passava de uma névoa penumbrosa. Nos raros dias em que o sol brilhava, os homens podiam sair para caçar, mas as mulheres eram prisioneiras do castelo. Morgause, girando vagarosamente o fuso - ela continuava a odiar essa ocupação, mas a sala estava demasiado escura para qualquer trabalho mais delicado -, sentiu uma corrente de vento gelado entrar pela porta e levantou os olhos. Disse, numa leve censura:

- Está muito frio para isso, Morgana, e você queixou-se de frio durante todo o dia.

Agora quer nos transformar a todos em blocos de gelo?

- Eu não me queixei - respondeu Morgana. - Disse alguma coisa? A sala está tão abafada quanto uma privada, e a fumaça cheira mal. Quero respirar, apenas isso! - Fechou a porta e voltou para junto do fogo, esfregando as mãos e tremendo. - Desde o solstício do verão que sinto frio.

- Não tenho dúvidas disso - falou Morgause. - O pequeno passageiro aí rouba todo o calor de seus ossos. Ele está quentinho e confortável, enquanto a mãe treme. É sempre assim.

- Pelo menos já passamos a metade do inverno, pois a luz aparece mais cedo e fica até mais tarde - exclamou uma das criadas de Morga use. - E, talvez, dentro de mais uma quinzena, a senhora já tenha o seu bebê...

Morgana não respondeu e continuou a tremer junto à lareira, esfregando as mãos como se estivessem doendo. Morgause pensou que a moça parecia um espectro do que fora, o rosto emaciado e magro tinha uma aparência cadavérica, e as mãos ossudas, contrastando com a protuberância enorme da barriga grávida, pareciam as de um esqueleto. Havia grandes círculos sob seus olhos, e as pálpebras estavam vermelhas, como que irritadas pelo pranto prolongado, mas durante todas as luas que Morgana passou em sua casa, Morgause nunca a viu verter uma única lágrima.

“Eu a consolaria, mas como, se ela não chora?”

7

Morgana vestia uma velha roupa de Morgause, um camisolão desbotado e puído, azul-escuro, grotescamente grande demais. Parecia desajeitada, quase desmazelada, e Morgause sentia-se exasperada porque a sobrinha não se dera sequer ao trabalho de pegar agulha e linha para encurtar um pouco o vestido. Seus tornozelos estavam inchados e dobravam-se sobre os sapatos; isso era conseqüência de só se ter para comer peixe salgado e legumes silvestres, naquela época do ano. Todos precisavam de alimentos frescos, difíceis de conseguir então. Bem talvez os homens tivessem alguma sorte na caça e ela pudesse convencer Morgana a comer um pouco de carne fresca; depois de quatro gravidezes, Morgause conhecia a fome terrível da fase final. Lembrava-se de que certa vez, quando esperava Gawaine, entrara na sala de laticínios e comera um pouco da argila ali guardada para revestir as paredes. Uma velha parteira lhe dissera que quando uma mulher grávida não consegue controlar a vontade de comer essas coisas estranhas, é porque a criança tem fome e a mãe deve dar- lhe tudo o que ela desejar. Talvez no dia seguinte houvesse verduras frescas junto do regato da montanha - era uma comida pela qual toda mulher grávida ansiava, especialmente no fim do inverno.

O belo cabelo escuro de Morgana estava embaraçado, como se não tivesse sido penteado ou trançado há semanas.

Ela afastou-se do fogo e, apanhando um pente que estava no consolo, tentou alisar os pêlos de um dos cachorrinhos de Morgause. “Seria melhor que você se ocupasse com seu próprio cabelo”, pensou a tia, mas ficou calada; Morgana andava tão irritada ultimamente que preferia não lhe dizer nada. Era natural, estando tão próxima do parto, pensou ela, contemplando as ossudas mãos da moça manejando o pente em meio aos pêlos emaranhados; o cãozinho latiu e ganiu, e Morgana silenciou-o numa voz mais suave do que a usada, naqueles dias, com os seres humanos.

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⏰ Ostatnio Aktualizowane: Jan 26, 2011 ⏰

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