O vizinho parecia concentrado, a cabeça baixa enquanto copiava algo no caderno. Mesmo à distância, Taehyung notou o quanto ele parecia insatisfeito, o semblante apático, sobrancelhas e lábios apertados.

Permaneceu ali por mais tempo do que de costume, a imagem do dia interior vindo à mente, e não conseguia evitar o incômodo que apertava seu estômago quando a cena da agressão se repetia como um looping, não havia justificativas que explicasse aquele comportamento do pai.

Era muito cruel.

Agora, nem de longe eles se pareciam com a família feliz do comercial de margarina.

Foi despertado dos pensamentos quando a porta do quarto do menino se abriu, e, automaticamente, viu Jeongguk se encolher na cadeira e abraçar o próprio corpo, a franja escura caindo sobre os olhos, sem nem mesmo saber quem era pessoa que havia entrado... Ele estava receoso. E traumatizado.

Taehyung pôde reconhecer porque era a mesma mulher que havia aparecido na sua porta; a mãe de Jeongguk. Segurando uma bandeja em mãos, ela deixou o objeto na cama e começou a falar com o filho.

Assoprou a fumaça, um pouco mais expectativo do que deveria ser em relação aos vizinhos.

Munhee estava preocupada com o filho.

Jeongguk se manteve enfurnado no quarto o dia todo e quase não tocou em seu café da manhã e não desceu para o almoço, dando a desculpa de que precisava estudar e não tinha apetite para refeições. Mas ela não poderia deixá-lo sem comer, então preparou o sanduíche favorito dele e um copo de leite quente.

Sorriu ao vê-lo estudando, orgulhosa por ter um filho tão dedicado e obediente.

Era o menininho que havia pedido a Deus.

Ao ouvir o barulho da porta, Jeongguk pôde contemplar aquele medo esfriar a espinha. Desde ontem, não havia um só minuto que não pensasse que a qualquer momento aquilo tornaria acontecer, ainda podia sentir o formigamento na bochecha atingida, o aperto da humilhação, a voz cortante e dura dizendo todas aquelas coisas.

— Filho, está tudo bem? — Jeongguk soltou o ar aliviado quando reconheceu a voz de sua mãe, num tom preocupado e cauteloso.

— Sim, senhora.

— Eu trouxe algo para você comer, meu amor — Ela tocou seus cabelos com carinho maternal, mas Jeongguk não sentiu o conforto que deveria sentir. Não agora. — Você precisa se alimentar e descansar um pouco.

— Não estou com fome e tenho muita coisa pra fazer, mãe.

Não era mentira, o peso no estômago o impossibilitava de comer e tinha tanto o que estudar que estava começando a ficar tonto e angustiado. Todos aqueles livros e apostilas que deveriam ser aprendidos para que conseguisse passar no vestibular só o desestimulava a pensar que conseguiria.

A pressão nas palavras de seu pai, dando a sensação de que ele não tinha outras opções. Passava ou passava.

Seu futuro só depende de você. Então se esforce. Ele dizia.

Esse tipo de coisa só deixava espaço para que a negatividade tomasse conta, deixando-o com medo do próprio futuro. Apavorado só de pensar estar fazendo alguma escolha errada.

A mulher respirou fundo, em busca de palavras sábias que pudessem confortar o filho sem interferir ou que se sobressaísse às do marido.

Jeongguk e Jongwon nunca tiveram o que poderia se chamar de uma relação próxima de pai e filho, não que Jeongguk desse algum motivo e fosse desobediente, era muito longe disso, mas havia um muro frio e impenetrável entre os dois desde sempre que parecia se estender a cada dia mais; uma relação limitada e glacial. Por mais que visse todo desagrado estampado em Jeongguk todas as vezes que ele recebia sermões e todas aquelas repreensões, ele nunca reclamava ou alterava a voz com o pai, engolindo tudo de uma vez, a cabeça sempre baixa, numa posição que fazia Munhee querer se intrometer.

A grama do vizinho nem sempre é mais verde (taekook)Where stories live. Discover now