Capítulo 02 - Os Anjos de Deus

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- "Vocês"? – Estranhou o menino ao ouvir aquela palavra que soava esquisita em seus ouvidos. – Vosmicês estão a falar de modo estranho. Vós não falais como os daqui, nem os de a-la-mar...

- De onde? – Interrogou Nádia pouco antes de largar o garoto sob a ameaça de que seria pior se ele fugisse.

- Eu acho que ele está falando das pessoas que chegam de Portugal. – Comentou Danyel estendendo a mão com as cartas e o dinheiro para entregar ao menino. – Precisamos da sua ajuda, é muito importante.

- Sabe o que estou a achar? – Interrogou o garoto num misto de timidez e medo. – Nenhuma dama poderia vencer um soldado como vosmicê fez! Nem ninguém tem cabelos cor de luz. Nenhum homem branco teria olhado-me como gente e devolvido os contos que eu tomadei de vós, especialmente um alfaqueque cujas missivas foram levadas...

- Nós... nós somos pessoas muito compreensivas. – Disse o cientista procurando focar nas partes da fala de seu interlocutor que ele era capaz de compreender.

- Vosmicês são anjos enviados por Deus. – Disparou o menino para o choque dos dois ouvintes, enquanto abria um largo sorriso com alguns dentes faltando. – Minha mãe já falou que existem, eu sei que é verdade!

- Anjos... – Resmungou Danyel embaraçado com a criatividade do jovem com cerca de dez anos que estava a sua frente. – Bom... precisamos daquela carta, mocinho. É extremamente importante, é tão importante que eu não posso nem explicar como.

- São os desígnios de Deus, eu sei. O padre já nos falou deles. – Assentiu o rapazinho como quem entendia tudo. – Só não sei se posso levar vosmicês onde a bolsa está. Eu e meus amigos não somos alforriados, fugimos por sofrer sevícias e, por isso, vivemos escondidos num bairro de alcoviteiros.

- Não tem problema. – Concordou Nádia mesmo sem compreender completamente aquela fala, mas rapidamente assumindo a personagem como a espiã treinada que era. – A carta que procuramos é mais importante do que qualquer coisa aos olhos de Deus.

- Meu nome é Tomé. – Apresentou-se o jovem com um ar mais inocente, enquanto seus olhos brilhavam maravilhados para a dupla a sua frente. – Vosmicês têm nomes?

 – Vosmicês têm nomes?

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Projeto Ontem, 2020...

Hélio estava na câmara holográfica vendo imagens tridimensionais que representavam o armazém repleto de caixotes no qual seus companheiros estavam escondidos no século XIX, porém, em um instante, tudo se apagou e ele ficou no mais completo breu que durou apenas segundos, sendo a luz límpida daquele recinto completamente branco e vazio, restaurado logo em seguida.

- O que está acontecendo aqui? – Rosnou o Tenente-Coronel do Exército consigo mesmo quando se dirigiu até a porta que se abriu automaticamente.

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