A garota nova

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Bruna pedalava a máxima velocidade que suas pernas e pulmões conseguiam, o vento cortando seu rosto quase a fez se esquecer o gosto de sangue na garganta. Suor acumulava no meio das costas conforme o contato com sua mochila.

Havia algo nas arvores que fiscalizavam o seu trajeto, não entendia o porquê delas ficarem cada vez mais esparsas quando se aproximava mais do seu colégio. Parecia um aviso permanente sobre que tipo de lugar era seu destino.

Após simplesmente jogar sua bicicleta em cima do bicicletário, tentava colocar com dificuldade o casaco do uniforme, já que um monitor a esperava e não a deixaria entrar sem o uniforme completo. Entre tropeços e pulos, conseguiu subir as escadas até o 1° andar, logo após o sinal estourar em seus ouvidos. Talvez ainda tivesse uma chance de chegar a tempo para aula.

Correu para a única porta fechada do corredor, já pressentindo que suas esperanças desmoronaram.

- Senhorita Rodrigues – Disse ranzinza a professora de português, Maria Isabel – Atrasada novamente? – Perguntou esboçando um sorriso maldoso no rosto pálido.

- Mas acabou de tocar o sinal – Bufou Bruna, fechando a porta da sala e procurando os pequenos olhos atrás dos óculos roxo da professora.

- E a senhorita acabou de estabelecer um novo recorde, a aluna mais rápida a conseguir como punição uma lista extra de questões de concursos para entregar no final da aula.

A sala se dividiu em quem riu da resposta da professora, e quem riu dela.

Bruna fechou a cara ao receber o calhamaço e se concentrou para chegar ao seu lugar sem tropeços, o que faria a cena ainda mais vergonhosa. Tomou alguns segundos do seu tempo para suspirar e processar o que aconteceu nos últimos minutos, afastando da mente as questões que a esperavam.

Seu olhar acompanhou os raios de sol que pousaram em sua mesa e mochila, descobriu um céu limpo azul celeste com uma tempestade na espreita. Ficou boba por um momento.

Voltou ao mundo de orações subordinadas com o som de um caderno alheio caindo, reencontrando questões não respondidas na sua frente e tempo demais perdido. Apesar do esforço, as vezes cedia e era absorvida por sua franja ruiva bagunçada caída nos olhos ou qualquer coisa que aparecia pela pequena janela de vidro que tinha ao seu lado.

Estava na 39° pausa quando avistou alguém desembargar de um carro vermelho na frente do prédio. O pequeno esboço de pessoa ficava cada vez mais nítido com sua caminhada em direção do colégio.

A imagem de uma garota de longos cabelos crespos se formou, despertando uma súbita curiosidade em Bruna. A garota já tinha saído do seu campo de visão a muito tempo, mas sua imaginação fértil inundou seus sentidos, a petrificando com uma das mãos segurando o queixo e a outra apertando seu lóbulo direito. Sem saber o que seus pensamentos a iriam levar, esqueceu por completo sua corporeidade e seu ambiente.

Será que era uma estudante nova? Não lembra de ter visto alguém parecido pela escola. Mas se era uma garota nova, por que mudar de escola no meio de abril? O vestibular ainda estava um pouco distante, mas os professores já passaram conteúdo suficiente para montar uma torre de lista de exercícios alta o bastante para bater na cintura...

- Veja só – Ecoando na cabeça de Bruna, percebeu que a professora a encarava junto com os colegas de sala que seguravam o riso – Suspeito que o vazio nos seus olhos declaram que saiba a resposta da questão 7 – Balançando a cabeça pros lados em confusão, a aluna correu os olhos e as mãos pela a lista de exercícios em sua frente em busca da referida questão.

Os barulhos das folhas sendo amassadas e do suor escorrendo na têmpora de Bruna eram os únicos na sala silenciosa. Ao encontrar o que estava procurando, falou em alto e bom som sua resposta.

Mystery of LoveWhere stories live. Discover now