A Profecia da Bruxa

O fogo se aproxima

Lilith

Lilith acordou depois de uma longa noite de pesadelos, já era a décima vez que sonhava com a mesma coisa: homens chegavam incendiando sua vila, matavam crianças, torturam mulheres e decapitavam homens. No entanto, sua avó Circe repetia constantemente que aquilo não passava de um sonho ruim, que não era uma premonição.

Talvez ela tivesse tentando acalmar sua neta, porque ela parecia cada vez mais preocupada durante as reuniões com as mulheres mais velhas do coven. Óbvio que todos dali sabiam sobre a Inquisição que se espalhava pelo mundo e condenada pessoas à morte por serem bruxas. A verdade é que sendo bruxa ou não qualquer pecado perante à igreja era considerado motivo para caírem diante o fogo.

Lilith sentou na cama e clamou aos seus deuses, pediu discernimento e implorou que aqueles sonhos parassem. Era horrível acordar suada como se ela sentisse o fogo que queimava sua família e amigos. E mesmo minutos depois de acordar podia sentir o cheiro de sangue e queimado, como se no momento em que abrisse a porta para fora de casa fosse se deparar com uma cena assustadora.

"Bom dia Lili, decidimos nos reunir hoje no salão para tomarmos café da manhã juntos. Sibila fez aqueles biscoitos que você ama." Mamãe colocou a cabeça para dentro do quarto com um sorriso.

"Eu já vou, só vou trocar de roupa."

Colocou um vestidinho branco, prendeu o cabelo com duas tranças e amarrou fitas por elas. Quando saiu do quarto encontrou Morgana folheando um livro velho, quando ela levantou o olhar e a viu pulou da cadeira e a abraçou forte. Ela era a irmã mais velha, tinha um cabelo ruivo e macio, o rosto coberto por sardinhas e seu corpo era pequeno, porém cheio de curvas. Ela quase não ficava em casa, passava o dia perambulando pela vila, conversando com as pessoas, brincando com as crianças pelo bosque e lendo debaixo de árvores. A mãe delas dizia que ela puxara ao pai, que costumava se esconder na biblioteca da cidade, pesquisando e buscando respostas.

"Você anda tão estranha nos últimos dias, tem certeza que está bem?"

"Tenho sim, só estou com dor de cabeça."

"Deveria falar com a vovó, ela pode fazer um chá ou alguma outra coisa para te ajudar."

"Vou comer agora, se estiver em casa nos falamos depois."

Enquanto caminhava até o salão só conseguia ficar relembrando do pesadelo, do quando as pessoas corriam de um lado para o outro desesperadas. Essa noite havia sido diferente das demais, ela escutou a voz da deusa-mãe dizendo "salve eles", mas como ela poderia salvar alguém?

O salão estava enfeitado de flores da época, a mesa enorme fora coberta por uma toalha branca e uma variedade de comida estava sobre ela. As crianças brincavam no campo do lado de fora, o resto estava reunido conversando e comendo, todos eram como uma família.

A vila fora fundada cinquenta anos antes por bruxos sobreviventes de perseguições, no meio da floresta, entre rochas e montanhas, protegida por feitiços, estava Avalon. E então um lugar de muito amor e segurança foi criado, casas foram construídas, padarias e mercadinhos para alimentar a população, uma escola para ensinar as crianças e os jovens, todos viviam em harmonia.

Quando os boatos sobre a Inquisição chegaram até Avalon a população estremeceu, seus antepassados morreram em nome do Deus cristão, que por mais que pregasse amor, o clero espalhava o terror fazendo justamente o oposto de amar ao próximo.

"Bom dia, Lilith. Coma um pedaço da torta de limão que Merlin fez."

"Ou os biscoitos da Sibila."

"Bom dia, vou me servir."

Depois que comeu, Lili decidiu caminhar pelo bosque para pensar um pouco, sentou na beira de um rio e começou a meditar. Ela clamava em silêncio para que fosse esclarecido o objetivo de sua vida, que era algo que vinha refletindo há meses. E então as folhas começaram a girar em torno dela, os pássaros ficaram agitados de maneira alegre e ela pôde sentir que estava ficando cada vez mais fundo de si mesma, como se estivesse mergulhando dentro de sua própria consciência.

Tudo começou a girar...