Feel Something

677 45 1
                                    

Penélope ouviu o som da campainha tocar a primeira vez. E a quinta, junto ao som do celular. Ao que parecia ele não iria desistir até que abrisse.

Bufou, fugir de Benedict Bridgerton era impossível. Em quase três anos de amizade é claro que ela deveria ter aprendido isso, no entanto, havia uma pequena parte dela que mantinha a esperança de que o desconfiômetro dele estivesse funcionando naquele dia em especial. Bem, não estava. E ela viu-se obrigada a abrir a porta do apartamento para o pintor.

— Penélope Featherington — ele a abraçou, e beijou sua bochecha. — Da próxima vez, atende de primeira. A senhora Danbury estava na porta com a bengala e me ameaçou caso eu não parasse de apertar sua campainha.

Penélope apenas riu. A vizinha (e sua bengala) era uma pérola. Nos primeiros meses, fora difícil manter uma conversa gentil com a mulher; sempre com uma resposta afiada e atravessada na ponta da língua. Mas agora as duas já eram amigas, Penélope fazia as compras para a mais velha uma vez por semana, às sextas, e as duas sentavam-se juntas na sacada tomando chá, lendo livros (com interrupções para os comentários sarcásticos de Agatha).

A senhorinha —e que ela não escutasse Penelope chamá-la assim— tinha uma inteligência sagaz e um humor ácido, que apenas alguém que conhecia muito da vida era capaz de ter. Por esse motivo, Penelope amava as tardes com chá e as provocações de Agatha, seus comentários, muitas vezes cheios de palavrões, e até mesmo suas anedotas sem sentido. Amava quando decidiam abandonar a leitura em prol de ouvir um dos discos na vitrola; sempre um jazz suave que fazia a mais velha fechar os olhos e cantarolar silenciosamente.

— A senhora Danbury é uma mulher sábia. — disse enquanto jogava-se no sofá e observava-o. Benedict carregava um quadro novo e alguns pincéis a tiracolo, e sendo assim, ficava óbvio para Penélope que ele queria pintar ali.

Era um dos melindres de Benedict: ele amava pintar no apartamento apertado de Penélope. Pintava tudo e qualquer coisa. Dizia que ali a inspiração parecia maior para ele e normalmente, as pinturas realmente saiam com algo a mais. Com sentimento. Mas Penélope não entendia o porquê.

— O que pintamos hoje? — perguntou a Bennye, saltitando até o lado dele, concentrado no quadro ainda em branco no cavalete que deixava na sala de Penélope.

Ele levantou-se e deixou o banco livre para ela.

— Hmmm... não sei. O que Penélope Featherigton quer pintar hoje? — ela riu, pensando e pensando. E decidiu pintar o céu estrelado. Benedict ajudou-a, dando detalhes aqui e ali, dicas e um melhor acabamento. E obviamente, pintando Penélope no processo.

No fim, ambos estavam sujos de tinta para todos os lados. Penélope com o nariz vermelho, a tez azul e os braços em uma mistura de aquarela. Benedict estava com o rosto todo pintado em uma bagunça de cores, os braços verde, vermelho e amarelo.

Era sempre assim quando pintavam juntos, afinal, fora assim que começaram: pintando um ao outro.

Penélope estava fazendo sua pós graduação em cinema e Benedict fazia o mestrado em arteterapia quando se conheceram. Ela passeava pela estrutura das novas salas da universidade quando fora atingida por uma enxurrada de tinta azul. O culpado fora Benedict, que se desequilibrara com o balde de tinta quando subia as escadas. Os dois dicurtiram um pouco e logo depois estavam ambos rindo.

Desde então, eram amigos. Penélope entrara muito cedo na faculdade, com 16, já que ultrapassara dois anos na frente dos colegas ainda nos primeiros anos. Sabia demasiado e não podia ser atrasada. Sendo assim, aos 20 já tinha terminado a faculdade de cinema e aos 22 a pós-graduação em roteirização, idade em que conhecera Bennye. Tinha terminado o mestrado em escrita criativa na Oxford University e agora, aos 25, era uma mulher madura com um emprego incrível que lhe pagava bem. Tinha uma apartamento pequeno, mas seu. Estava feliz.

Um ensaio sobre o amor Where stories live. Discover now