Um pastor é um homem solitário. Apenas os animais lhe fazem companhia. Talvez por isso seja convidado a escrever e a pensar na vida. Vida na natureza, vida sem vida humana, um pouco como se vive quando surge o confinamento.
Esta pandemia covidosa, p...
Imaginemos um mundo sem comunicação, telefones, rádios, internet, correios e péssimas estradas, onde só mesmo em último recurso é que a utilizávamos.
Imaginemos que estamos «só». A mãe, o pai, o conjugue ou até os filhos já foram. Uns não voltam, mas outros até há esperança de um regresso mesmo que momentâneo.
Na realidade é estar como um naufrago numa ilha onde esperamos que alguém nos venha buscar.
Mas se ninguém aparecer?
O ser humano é muito resiliente. Só uma pequena parte das suas capacidades são aproveitadas. E a cabeça comanda, mas sob a orientação da vontade ou da motivação.
Neste quadro nada melhor que um cão ou um gato sustentar algum «calor». Mas mesmo assim não existem.
Resta-nos a imaginação. Porque não um «amigo» igual a mim. O meu espelho. Mas pensando melhor talvez «alguém» diferente. Se fosse igual como discutíamos?
Sem dúvida que até «isto» nos dá uma trabalheira.
O melhor mesmo é encontrar alguém no meu interior com hábitos que goste, mas hábitos que também não goste.
Então e se fosse uma «amiga»? Sendo homem imaginar uma mulher que não existe é algo que na realidade não consigo. Não sei porquê. Não sei explicar! Provavelmente temeria apaixonar-me por um «fantasma». E como a seduzia neste contexto tão desformatado?
Prefiro um «amigo» para discutir filosofia, cultura, arte, culinária. Através da memoria vou desenvolvendo «diálogos», conversas, esperando pela resposta. Transformo a mente como um verdadeiro computador onde a cada pergunta vem sempre uma resposta.
Mas temos de sentir emoção: alegria, tristeza, esperança. Tudo como se vivêssemos em comunidade onde este equilíbrio tem de ser preservado.
Sem dúvida que hoje fui longe demais. Mas num futuro tão incerto nada melhor que me ir preparando para o inesperado. E a imaginação é um dom que pode ser o último recurso.
Mas vendo bem as «coisas» talvez até nem seja descabido termos este amigo imaginário que nos tem acompanhado ao longo do tempo.
Se reflectirmos até está dentro de nós.
Ou no meio de nós?
Pastor, 10/04/2020
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