O ídolo do meu filho

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— Mãe... Pode falar mais sobre o papai?
Estava tudo escuro como breu, só o luar entrava pela cortina. Eu deveria ter dito para Guilherme ter ido para seu quarto. Quando ficávamos assistindo filmes até tarde no meu quarto, ele sempre adormecia na minha cama.
Mas eu ainda estava acordada, mesmo sendo quase duas da manhã. E ele sabia disso.
Me remexi na cama e tateei até encontrar o seu tufo de cabelos emaranhados.
— Bem — Comecei. Eu sabia que ele só dormiria depois que eu contasse qualquer coisa sobre seu pai. Parecia que se eu falasse mais sobre ele, meu filho sentia como se o conhecesse. — Ele tem o seu nome. — Falei — E seus olhos. Nossa, são igualzinho aos dele.
Senti seu corpo se relaxar, e mesmo no escuro, sabia que ele tinha fechado os olhinhos.
— Ele era muito engraçado — Continuei — Fazia todo mundo rir. Eu nunca vi seu pai triste ou reclamando de alguma coisa. Ele vivia sempre tão alegre e de bem com a vida.
A respiração de Gui foi ficando mais lenta e pesada. Eu sabia que ele estava pegando no sono.
Beijei sua testa e o abracei. Adormeci pouco tempo depois.
Sonhei que seu pai estava à minha espera, com o uniforme de bombeiro, na porta da minha escola. Eu corri ao seu encontro e o beijei com carinho. Ele estava tão lindo! Os olhos brilhavam mais que uma moeda nova, e o sorriso era contagiante. De repente tudo foi ficando um borrão. Sua mão que tocava minhas costas ficaram quentes e tudo ao redor pegava fogo.
— Fogo!
Acordei assustada, sentindo o cabelo grudar na testa.
aquela última imagem do meu sonho não sairia da minha cabeça tão fácil.
— Gui? — Chamei.
Era quase onze da manhã e Guilherme não estava na cama.
Levantei indisposta e fui procurá-lo. O apartamento era bem pequeno e eu sabia que ele estaria na sala, sentadinho na mesa do computador.
— Bom dia mãe!
Parei em frente a ele com as duas mãos na cintura. Ele parecia um homenzinho. Era impressionante o quanto sabia fazer as coisas sozinho. Parte disso era minha culpa. Fiquei ausente por muito tempo estudando e trabalhando para melhorar nossa vida, e ele aprendeu a se virar sozinho.

 Fiquei ausente por muito tempo estudando e trabalhando para melhorar nossa vida, e ele aprendeu a se virar sozinho

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O cabelo estava penteado, e ele usava uma camiseta bem passada. Uma caneca estava ao seu lado e ele digitava furiosamente no teclado.
— Tão cedo e já está jogando esse jogo maluco? — Me sentei ao seu lado e comecei a lhe fazer cafuné.
— Ai mãe, para! Assim vai me distrair!
Revirei os olhos e bocejei.
— Ai mãe — Ele franziu o nariz e riu — Você está com bafo!
— Você queria o que? — Dei de ombros — Acabei de acordar! E trate te desligar esse jogo ou ficará sem internet por uma semana! — Caminhei lentamente até o banheiro, e ouvi o barulho que o personagem do jogo fazia quando ele se desconectava.
Dei risada.

[...]

Apesar de ter um diploma de administração e finanças, eu fui contratada para trabalhar no clube BR Madrid, um badalado restaurante e bar onde minha amiga trabalhava há meses. Graças à ela, consegui o emprego e a garantia de gorjetas generosas enquanto  não encontrava um emprego na minha área.

O clube era tão badalado que havia entrado para o top 10 dos destinos de Madrid, segundo a revista "Madrid para iniciantes".

Sandy, minha amiga de infância conseguiu reservar o apartamento até que eu chegasse, e me garantiu o emprego. Eu devia muito a ela, e rezava para um dia poder retribuir sua ajuda.

Um Homem de SorteWhere stories live. Discover now