— Foi indescritível, não foi? Nunca senti nada igual.
Lira anuiu, não encontrando encaixe melhor do que "indescritível".
— Descanse e aproveite o banho. — Aram apontou para o banheiro. — O chuveiro aqui é bem melhor do que o do prédio da SIO.
— Se você não falasse, eu nunca suspeitaria. — Ela fez questão de deixar a ironia clara na voz.
Aram riu baixo; a marca das covinhas que surgiram na bochecha a fez morder o lábio inferior.
Seus comunicadores soaram juntos em cima do suporte do carregador. Eles se entreolharam em silêncio. Aram avançou até os aparelhos, apanhando o seu. Vincos surgiram na testa.
— É o Eloy. Ele precisa ir a um lugar da Capital agora à noite, nesse exato momento, e quer os dois guarda-costas o escoltando. Está nos esperando lá embaixo, dentro da nave de transporte. Estranho. Disse para não irmos nem com o uniforme da SIO, nem com o uniforme Kapwa.
— Mas eu ainda queria tomar um banho! — Lira pigarreou, esfregando o rosto.
— Vá. Dá tempo. Vou pegando nossos baltres.
— Ele falou para descermos agora mesmo.
Aram agitou a mão no ar em um gesto de desdém.
— Esses mimados da Capital acham que todo mundo tem que correr no tempo deles. Vai lá, toma seu banho com calma. Eu enrolo o Eloy. — E deu uma piscada para ela. — É o mínimo que posso fazer por você.
************************
Eles desceram quinze minutos depois da chegada da mensagem nos comunicadores. Como de costume, a noite estava fria, úmida, fechada, atravessada pelas infinitas luzes neon. Haviam optado por um conjunto discreto de roupas pretas e um par de coturnos.
O motorista particular de Eloy Matsumura os aguardava do lado de fora da nave de transporte.
— Estão atrasados — o homem ralhou.
— Se o Eloy queria pontualidade, deveria ter nos avisado com um pouco mais de antecedência. Não somos os robozinhos dele.
Lira cutucou Aram, tentando dizer que não era o momento para provocações. Não conseguia imaginar para onde Eloy pretendia ir, mas calculou que seus planos de se deitar mais cedo haviam se dissolvido.
A porta da nave se abriu, e ambos entraram. Eloy estava sentado sobre o estofado branco, os olhos fixados em alguma leitura digital. Lira correu os olhos pelo ambiente. Tudo ali dentro era minimalista, tecnológico e monocromático.
— Finalmente — Eloy suspirou, erguendo os olhos para eles.
Aram se jogou no banco à frente dele assim que a nave entrou em movimento.
— Qual é a urgência?
— Na verdade, quem solicitou a presença de vocês dois foi o general Vicente. Ele entrou em contato comigo, e decidimos usar o fato de vocês serem meus guarda-costas para saírem da Global Octupus sem chamar a atenção da SIO ou da Elite Kapwa.
Lira arqueou as sobrancelhas.
— Por quê?
— Discutiremos os detalhes apenas na presença do general Vicente. É algo confidencial, que não pode se espalhar, agente Lira. A agente Sara vai cuidar de toda a parte burocrática. — Eloy deixou o dispositivo de leitura ao seu lado. — E sua irmã, agente Aram?
YOU ARE READING
Noites de cobras e sonhos | 2 (DEGUSTAÇÃO)
FantasyLIVRO EM DEGUSTAÇÃO. DISPONÍVEL COMPLETO NA AMAZON. LIVRO 2 DA TRILOGIA KAPWA "O espelho está se quebrando. Está aqui. Está muito perto" O ataque do Inanis à Global Octupus fez com que Lira e Aram, de alguma forma misteriosa, se conectassem um ao ou...
5 - Nas profundezas
Start from the beginning