O ancião parecia absorto. Jan resolveu quebrar o seu próprio gelo com algo que estava lhe intrigando desde que chegara na cidade abandonada.
— Senhor. Nenhuma sociedade, por mais conservadora e seguidora da doutrina política do Estado de poucos filhos consegue chegar a um número tão baixo de habitantes. Isso significaria muito mais do que um crescimento vegetativo negativo. Significaria um crescimento negativo ao extremo. Baseado nos dados populacionais que nos é informado, diga-me, se é que há resposta: cadê as pessoas? – falou em tom quase angustiado.
— A resposta existe, caro Jânio. Mas não sei se você gostará de ouvi-la.
Abaixou a cabeça, como se consternado.
Ed teve mais curiosidade sobre aquele senhor. Lembrou-se num estalo. Fez um pequeno gesto com a mão e acessou o banco de íris. Quando o ancião levantou a cabeça para falar novamente, o visor mostrou:
Arnoldo Costa Santos Bervich
Nascimento: 10/07/2000
Nacionalidade: Brasil
Naturalidade: Pernambuco
Identidade: -
Status: REBELDE
Situação atual: MORTO
Imaginara isso. Virou-se para Núbia. Nada. Nenhum registro.
— Depois de tudo o que passaram acho que merecem saber toda a história. Venham.
Seguiram pelo corredor. Sílvia ainda estava intrigada com uma coisa. Puxou Ed para o lado e cochichou.
— Ed! Nossos anfitriões certamente detém uma boa tecnologia de clonagem humana. As replicantes de Celeste são perfeitas. Não tenho a menor ideia de como conseguiram isso. O protocolo do Condão proíbe a clonagem e a classifica como crime gravíssimo. Mas o mais interessante é que só clonaram um indivíduo e o repetem a cada geração, em número de 12. Onde estão os outros clones?
O namorado recebeu aquela informação e também ficou curioso. Naquele momento uma das crianças louras veio correndo ao encontro do Patriarca, que a pegou no colo com surpreendente agilidade e a levantou acima da cabeça, rindo. Ed percebeu o brilho da lágrima no ancião e a gargalhada alta da criança. Passou a rir também daquela cena tão bonita. A criança então voltou-se para Ed. Esquecera o banco de íris ligado. Parou atônito.
— Sílvia, você não vai acreditar. – Falou cochichando. Estava a ponto de contar-lhe o que descobrira quando ouviu uma voz, retumbante e embriagada.
— Ei! Vão fazer barulho a noite inteira? Se querem festa, eu posso proporcionar.
Um homem de cerca de 2 metros apareceu na porta de uma das salas. Parecia notadamente bêbado. Mas o que mais impressionava e até assustava qualquer um que o via era o rosto. Na verdade a pele toda. Era grossa, como se várias peles tivessem nascido umas sobre as outras.
— Ignore seu mau humor. – Disse o Patriarca – O diabo nunca é tão feio quanto se pinta. Senhores, apresento-lhes o Capitão Glauco.
— Glauco! Não sou mais capitão. – Mas o patriarca sabia que apesar do passado tenebroso do nome, e do que significara, havia merecido novamente a alcunha. – Entrem. Como Bervich disse, não sou tão feio como pintam, apesar de que isso é difícil de acreditar olhando para minha cara. – Gargalhou.
— Você não o chama de Patriarca. – reparou Jan – E ele não parece se importar. Isso é inusitado.
— Por que o chamaria assim? Quando o conheci não era mais que um garoto. Sou mais velho que ele cerca de 10 anos.
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Condão (Lista Internacional)
Science FictionA obra de ficção científica “Condão” diferencia-se pela abordagem político-técnica de um futuro onde o controle da informação tornou-se o meio de direcionamento da sociedade. Apesar de, aparentemente, usar o mesmo tema de “Admirável Mundo Novo” (Hux...
Capítulos 12 e 13
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