Capítulos 12 e 13

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— Diga-me, jovem. O que você achou na Central que causou tanto tumulto?

— Os drones mataram 2 garotos e fui testemunha. O acesso à Central foi apenas no intuito de tentar descobrir o motivo, além de verificar se tinham alguma pista para me achar.

— Bem, se não tinham, você as deu. Mas não se culpe. Os três estão sendo perseguidos pelo próprio comandante da região central, o melhor oficial do estado, e pelo drone mais avançado do Brasil, Crasso. Se tivessem deixado na mão de um drone comum ou de um subdelegado, provavelmente vocês ainda estariam incógnitos. Talvez ficassem assim para sempre. Mas me mostre o arquivo. Era alguma ficha pessoal?

— Um boletim de ocorrência. Sabia que não conseguiria baixá-lo localmente. Por isso ativei a câmera de vídeo da minha lente e fiz o download diretamente para a tela. Posso mostrá-lo no projetor holográfico, se estiver em operação. – Apontou para a máquina sobre o balcão.

— Certamente. – Gesticulou em frente à máquina. Ed imediatamente verificou a paridade com seu dispositivo ótico. Enviou o vídeo para a máquina.

O filme passou a ser mostrado no centro da sala em 3D. Todos ficaram em frente à projeção para não assistirem o anverso do vídeo. Ed avançou com um gesto e parou exatamente na imagem do BO. Congelou-a. O patriarca parecia assustado.

— Estão agindo dentro da cidade! Atinge a todos! – Pareceu perturbado. – Protocolo 23!

Ed estava intrigado com esse protocolo, desde que acessara o BO. Parecia ser a chave para o mistério.

— O que sabe deste protocolo, senhor?

— Sei que significa a morte. Até 2 anos atrás, ainda havia habitantes na superfície. A Central os tinha abandonado, relegado ao limbo social, mas ainda tinham acesso à alimentação trazida por drones. Então tudo mudou. Ao invés dos drones de transporte vieram os drones de segurança. Os habitantes idosos que foram buscar os alimentos foram mortos. Houve uma caça aos humanos naqueles dias. Mas não a nós, rebeldes. Nossa história de luta é antiga. Não contavam que tínhamos diversos túneis subterrâneos.

— Isso é impossível. Saberíamos pela mídia, caso ocorresse! – Ed assustou-se, já não tão certo do que afirmara.

— Os moradores da cidade vivem em um estado de alienação constante, voltados para o seu próprio mundo. Fechados para tudo que acontece no exterior. Se contentam apenas com o que veem na mídia. Mas toda ela é manipulada. Os dados importantes são fabricados.

Sílvia se manifestou pela primeira vez.

— Há reportagens sobre as cidades agrícolas, balneários e subúrbios, como este aqui na cidade abandonada. Em todos vemos pessoas, moradores, comércio.

O patriarca apenas deu de ombros.

— Tudo inventado. Diga-me senhorita. Há quanto tempo não sai da cidade?

Sílvia pareceu desconcertada. Havia ido visitar a mãe em São Paulo aos 7 anos, depois fora a um balneário no Espírito Santo com Ed. Saíram do avião robô diretamente para um trem a vácuo, que parou dentro do balneário. Passaram 3 dias maravilhosos, depois fizeram o mesmo caminho de volta. Só 2 vezes em seus 20 anos. E para quê mais? A cidade tinha tudo o que precisava. Diante do silêncio da menina, o Patriarca disse.

— Não existe mais ninguém nas cidades agrícolas, estão tomadas pelas máquinas. Os balneários são uma distração para a população. Mais uma dentre várias, criadas para os deixarem alienados. A cidade abandonada não tem nenhum tipo de comércio há mais de 18 anos. Nós estamos escondidos aqui há 30 anos. Não falta energia em nenhum lugar. Ainda assim a roubamos dos túneis a vácuo para evitar a detecção pela Central. A rede é tão gigantesca que torna praticamente impossível controlar-se o consumo individualmente.

Condão (Lista Internacional)Where stories live. Discover now