Um relato de amor

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"Naquele cemitério que vemos da minha janela, há um túmulo amaldiçoado. Talvez você não esteja familiarizado com a história da mulher de pedra. Deixe-me contá-la para você.
Há muito tempo, viveu nesta cidade uma mulher lindíssima, cortejada por todos os que a conheciam. A bela Agnes, inacessível, distante, silenciosa.
Homens diversos tentaram conquistar seu coração, com presentes de todos os tipos: joias, roupas, peles, promessas de amor eterno...a todos ela sorria e agradecia, mas sem nunca prometer nada mais do que sua amizade.
Aos poucos, ganhou o apelido de mulher de pedra, a quem o coração jamais seria conquistado.
Foi então que chegou na cidade um rapaz  chamado Manuel Mendes. Era um tipo que parecia tímido, buscava ficar alheio às conversas que dominavam as festas e, quando falava, o fazia de forma enigmática, com palavras doces e olhar carente.
E foi justamente esse olhar canino que conquistou Agnes. Finalmente seu coração tinha um dono!
Passaram semanas se comunicando por cartas, sem que ninguém soubesse. Trocaram juras de amor, palavras românticas e imaginavam o futuro juntos.
Mês ele alegava ter um empecilho. Dizia estar atado à um problema legal, havia sido casado, não por amor, mas obrigado pelos pais, em troca do perdão de uma antiga dívida de família.
À época, quis divorciar-se da esposa, uma mulher mais velha, ciumenta e possessiva. Odiava-a profundamente, depois de muitas brigas, conseguiu sair de casa e pedir o divórcio, mas ela negara imediatamente. Ela jamais se divorciaria dele, seriam casados até que a morte levasse um deles.
Assim, ele se mudou para nossa cidade, buscando ficar o mais distante possível da bruxa que atormentava sua vida, mas não contava apaixonar-se por Agnes.
Ela, desesperada de amor, sugeriu a fuga. Ela era rica, poderiam viver em qualquer lugar do mundo, juntos. Não precisariam se casar. Combinaram a fuga, dali a poucos meses.
Ainda secretamente, passaram a se encontrar na calada da noite. O local escolhido era sempre o cemitério, lugar discreto, ideal para que os amantes pudessem trocar carinhos e beijos apaixonados.
E foi em uma dessas noites que Agnes deixou de lado o pudor que sempre trouxera no olhar e entregou-se totalmente ao rapaz, com o corpo e a alma ardendo no fogo do amor.
No dia seguinte ao acontecido, Agnes sentir-se diferente. Percebia-se senhora de si, sorria a toa, lembrava-se dos toques do amado, seus dedos deslizando por sua pele virginal, seus beijos que a incendiaram. Naquela noite ela tiveram sensações que jamais imaginou conhecer e ansiava pelo dia em que fugiriam juntos. Ela poderia viver com ele tudo novamente, todos os dias, pelo restos de suas vidas.
Contudo, sua felicidade durou pouquíssimo tempo.
Naquela mesma tarde, recebeu um recado angustiado de Manuel. Não poderiam se encontrar durante a noite, ele tivera um empecilho qualquer em casa e precisaria faltar ao tão delicioso encontro. Terminou o recado afirmando-lhe mais um vez seu amor.
Nos dias seguintes, esta cena se repetiu, cada vez por uma razão diferente. Agnes a tudo aceitava, sempre aguardado o dia em que poderiam, enfim, estarem juntos.
O dia se aproximava, portanto, a moça preparou-se. Escrevia ao rapaz diariamente, cartas longas e apaixonadas, sempre lembrando o dia da fuga e explicando-lhe seus preparativos.
Ele respondia, dia sim, dia não a estás cartas. Agora não poderia escrever sempre, pois estava desconfiado de que sua esposa mandara alguém segui-lo. Se ela descobrisse algo sobre Agnes, poderia mandar prendê-lo por adultério.
Suas cartas também não eram mais tão apaixonadas e, embora lhe jurasse amor, Agnes não sentia mais que aquelas palavras eram verdadeiras. Mas ela se preparava. No dia marcado para a fuga, ela o esperou em sua casa, sentada em uma poltrona, com sua bagagem ao lado. Seu coração estava disparado no peito, ela encarava o carrilhão que cantava seu tic tac sem parar.
As horas se passaram, chegou a madrugada e ela continuou sentada. Imaginava que algo muito ruim acontecera com ele, teia sido descoberto, preso. Já o via em a cela suja, sozinho e desamparado. Desesperou-se, mas continuou a postos. Ele poderia aparecer, ela queria estar preparada.
A manhã chegou e o sol a surpreendeu no mesmo lugar. Ela já não pensava mais. Sentia-se anestesiada.
Este torpor foi interrompido por sua empregada, a qual jamais esperará encontrar a patroa, totalmente vestida, sentada na sala tão cedo. Mas a pobre criatura nem teve tempo de entender a situação, a campainha tocou e ela correu para atender a porta.
Agnes levantou- se para receber o carta que a empregada trazia, esbaforida.

A mulher de pedraWhere stories live. Discover now